Seria meritocracia se todos os candidatos partissem das mesmas condições iniciais. Se não é o caso, não há mérito. É como disputar uma corrida com alguém que está usando sapatos de chumbo e achar que é grande velocista porque venceu a corrida.
Isso não justifica o sistema de cotas. Justifica rever os benefícios básicos obrigatórios ao cidadão.
Veja bem. Qual o critério de avaliação de alunos ingressantes ao vestibular (ou ENEM)? Uma prova que mede os conhecimentos básicos acerca das matérias de colégio (em alguns casos, priorizando o conhecimento específico da área almejada de alguma forma).
Temos alunos sem uma condição inicial melhor é porque eles não estão adquirindo a mesma carga de conhecimento oferecido para outros alunos (a mesma carga oferecida, porque 2 alunos idênticos que viveram os mesmos anos na mesma escola a vida toda nas mesmas turmas sempre, ainda assim, dificilmente teria o mesmo conhecimento).
Dado que isso é verdade, o problema não é causado pela universidade, mas pelo conhecimento de base fornecido pelo governo.
Outro ponto a se destacar:
Competição implica que os melhores vençam. Ela não está interessada nas condições iniciais dos competidores. O seu exemplo refere-se ao equipamento. Um corredor com botas de chumbo, ou com um tênis de má qualidade, algo assim, seria o mesmo que um aluno fazendo prova com uma caneta que falha o tempo todo, por exemplo.
Mas as condições iniciais intrínsecas ao ser humano, a competição não se importa. Vou dar como exemplo o esporte. Sempre tem um ou dois países que se destacam mais em determinada modalidade de esporte, porque as crianças de lá, geralmente, crescem praticando aquele esporte, então esses países tem vantagem natural em detrimento dos outros. É dessa forma que eu encaro as "condições iniciais" de um aluno vestibulando. Um aluno que vem de uma escola A ou B acaba tendo uma vantagem natural em detrimento de alunos de escolas C ou D ou públicas.
É justo? Não. Mas o que se pode fazer? Tentar melhorar as outras escolas na esperança de chegar a esse patamar (que aliás, o Brasil o faz em relação a alguns esportes).
É uma situação meio "darwinista". Tipo, se um leão chega e ataca um bando de antílopes, sei lá, ele não tá interessado em saber se "esse" tá manco, "aquele" tá cansado ou "aquele outro" está ferido. Quem conseguir correr mais, independente de suas condições iniciais, irá sobreviver e quem não pôde, será o almoço do dia. Mesmo assim, nenhum antílope tenta derrubar o outro, ou prendem uns aos outros de alguma forma para atrasar um companheiro para que ele morra em seu lugar, porque fazer isso não é justo.
No fim, competições gerais encaram como injustos benefícios externos e não se intrometem em condições iniciais naturais ao ser. Do meu ponto de vista, cotas são benefícios externos à competição, não alteração nas condições iniciais. Pra mim soa mais como um atleta sendo equipado com tênis com turbinas (??), sei lá, para que ele possa correr mais.
Em primeiro lugar, não é o governo que fere as "minorias". É a sociedade em geral. O governo no máximo pode ser usado como instrumento desse ou daquele segmento, inclusive por grupos minoritários ou discriminados e não só pelos "poderosos".
Espera, o povo brasileiro não quis uma queda na qualidade da educação? Era isso que eu quis dizer quando culpei o governo. Ele é obrigado a fornecer educação de qualidade, movimenta muito dinheiro para isso e não faz nada para melhorar a educação nada útil, pelo menos (OBS: não estou aqui criticando ou representando nenhum ponto vista político, só pra ficar claro).
então o truque é NÃO se contentar apenas com elas, não rejeitá-las, mas exigir mais e melhor.
Não é a mim que você tem explicar isso, mas ao mesmo povo que, antigamente, aceitava uma simples cesta básica para votar num "coronel" aleatório, sem fazer ideia do quanto que esse desgraçado devia a esse povo.
E no meu caso, todos têm interesses, vc citou o Bolsa-Família, bom, eu não vivo de Bolsa Família nenhum, mas sou nordestino e admito francamente que o Bolsa Família desviou dinheiro do resto do país, injetando vigor na economia nordestina.
Bom, eu não mencionei o Bolsa Família para criticá-lo nesse momento (embora não seja a favor do benefício), eu o citei apenas como um benefício que, uma vez implementado, praticamente nunca um político vai ser doido de vetar. E é o que acontece. Por sinal, tem sido uma arma bastante funcional de contra-eleição de políticos: "não vote nele porque ele vai tirar o Bolsa Família". Se só esse tipo de acusação infundada já é suficiente para já ajudar bastante a derrubar candidato, imagine se o dito cujo tiver de fato vetado o Bolsa família?
Mas enfim. Tenho que discordar quanto à injeção de vigor na economia nordestina. O que eu tenho visto muito, na verdade, é uma fuga de empresários de grandes concorrências, como em São Paulo, para locais onde os custos são mais baratos e a concorrência não pega tão pesado. Daí a injeção na economia nordestina. Tem empresário colocando muita coisa no nordeste, injetando capital. A consequência disso é uma economia aquecida.
Não sei mais quanto o beneficiado pelo Bolsa Família recebe por mês, mas eu imagino que o capital movimentado pelo Bolsa Família dentro do Nordeste é menos significativo que o capital injetado e circulado decorrente de uma emancipação empresarial.
a maior falha do Bolsa-Família está naqueles casos em que estimula aumento do tamanho de famílias carentes, esses casos teriam de ser investigados e medidas criadas pra impedí-los, ser contra o BF por causa dessas questões é como dizer que, como a Previdência Social é fraudada, portanto a Previdência deve ser desativada...
Incentivar o aumento da população carente, para mim, é um tiro no pé e tanto. Porque "famílias carentes" = "pessoas que não produzem muito na economia" (desconsidere o lado emocional da coisa). Um aumento de famílias carentes gera, portanto, um decréscimo da renda per capita do Brasil. Na média, ele pode tender a fica mais pobre. Claro isso não tem se mostrado um problema bizarro capaz de levar o país inteiro a um tipo de crise. Mas eu considero isso ruim o suficiente para não apoiar a medida.
Acho muito mais interessante e decente fornecer bolsas de estudo, de preferência proporcional à nota do cidadão. Ou seja, ele ganha pra estudar (e isso deveria servir para cursos técnicos). Assim, em vez de trabalhar para ter pelo menos o que comer no dia seguinte, o cara ganha o mais ou menos equivalente ao Bolsa Família pra manter uma nota razoável na escola.
Mas enfim... acho que isso já é OFF-Topic de mais. Você pode criar um tópico sobre o Bolsa Família para abrir uma discussão sobre a medida e tal. Eu entraria na discussão com prazer. =)
Aqueles cálculos complicados com desvio-padrão e blá blá blá levam em conta que vc precisa de um desempenho mínimo pra passar, similar ao bem básico 5, ou 6, ou 7 na nota pra passar de ano. Então todos esses cotistas que estão na universidade "por causa" das cotas têm sua "nota mínima", por assim dizer, apenas admite-se que eles mesmo passando nessa nota mínima tiraram menos do que deveriam por suas condições desiguais, assim o sistema de cotas serve para compensar.
Cara, nota mínima por nota mínima, continua uma nota baixa. Tipo, pelo menos nos vestibulares que eu já acompanhei, dificilmente o último colocado tirava a nota mínima. Tirava nota maior.
Agora imagine uma cota de 40%. Automaticamente, o "último colocado" sem cotas, passa a ser o 60º, supondo um caso se 100 vagas. Se o 100º colocado já dificilmente teria uma nota mínima, o 60º com certeza tem algo maior que isso. Então supor que o sistema da nota mínima funcionando dentro das cotas resultaria em uma em um sistema que prima pela qualidade é um pouco arriscado de se dizer, a meu ver.
Enfim. Não concordo.
A chamada não reduz o conteúdo.
É, mas pode induzir a um pensamento errado... enfim. Achei válido ressaltar.
Mas viu como LER uma coisa antes de discutir sobre ela ajuda?
Acontece.
Eu particularmente sou contra as cotas em universidades. Acho uma medida tapa-buraco, eleitoreira e sem razão na nossa sociedade.
Aqui não estou ignorando que exista um problema. Falando que as classes mais pobres não tenham dificuldade em entrar na faculdade, o que têm. Estudei na UFRJ e na minha turma de 40 alunos só tinham dois negros, sendo que um nem brasileiro era. Mas aqui no Rio tinha um programa interessante onde era dado cursinho pré-vestibular gratuito para pessoas que não podiam arcar.
Acho que a solução "paliativa" deveria ser essa, melhorar as condições de quem quer prestar vestibular mas não teve as mesmas oportunidades.
Concordo. =)
Se eu entendi bem, o Elven apareceu com uma questão teórica de que aqueles crimes estão na esfera individual, por isso não caberia uma penalização por um ato contra uma coletividade. É uma discussão interessante e que pode render frutos, e até comecei a debater apresentando alguns argumentos.
Bom, era basicamente o que eu tava tentando dizer, mas algo me levou a citar leis que beneficiam exclusivamente os alvos de racismo, mas vi que ela praticamente só não beneficia gays (isso, obviamente, ainda é uma falha grande, mas menos mau).