Milk-A Voz da Igualdade (Milk/Gus Van Sant/2008)
Esse filme conta a trajetória de Harvey Milk (Sean Penn, fantástico), que nos anos 70 conseguiu ser o primeiro gay assumido a conseguir ser eleito através de votação para um cargo público (no caso um dos supervisores da cidade de São Francisco). E que por sua militância na causa gay (e por alguns outros fatores) acabou sendo assassinado por Dan White (Josh Brolin), que tambem matou o prefeito no mesmo dia e tinha sido supervisor um pouco antes desse acontecimento.
E antes que alguém grite que isso é um spoiler, essa informação é revelada logo no inicio do filme, por uma imagem de arquivo inclusive, que alias são bastante utilizadas aqui.
Apesar de ser um filme de Gus Van Sant, ele é bem linear e "certinho" , sem contar com grande invencionices (lembrando que Van Sant é diretor de Elefante e Últimos Dias, dois filmes desconcertantes em alguns momentos, e atípicos em sua estrutura). Alem das imagens de arguivo e de já de cara revelar o destino de Milk, o filme vai mostrando a ascensão dele, que de um cara desinteressado por política (vivendo em Nova York), se muda para São Francisco com o namorado Scott (James Franco), torna-se dono de uma loja (num bairro que viraria ponto de encontro da comunidade gay), se tornando um militante e finalmente um politico.
A narrativa conta com intervenções de Milk gravando suas considerações sobre o que vivia (e que sempre é relacionada com o momento adequado da historia), inclusive com ele "prevendo" seu assassinato (detalhe que essa gravação de fato existe, o verdadeiro Milk fez isso mesmo).
Sean Penn esta fantástico no papel, sem exageros, e encarnando o personagem de fato (e é um personagem bem diferente de outros que ele interpretou no passado). Inclusive com alterações de postura a depender dos envolvidos (com os amigos bem descontraido e solto, com desconhecidos ou ate pessoas hostis, adotando uma postura mais fechada e formal). Josh Brolin faz um Dan White inseguro e frustrado pela própria incompetência de não conseguir convencer os outros (o próprio Milk inclusive) a aprovarem seus projetos. E é interessante notar o odio que vai crescendo (ate explodir no fim do filme) a medida que ele não consegue atingir os seus objetivos e se sente diminuído pela presença de Milk. James Franco e Emile Hirsh (que interpreta Cleve Jones, e esta irreconhecivel no filme) tambem estão muito bem.
Operação Valquíria (Valkyrie/Bryam Singer/2008)
Antes de ver o filme achei que o "Valkyrie" do titulo, se referia a tentativa de assassinato de Hitler (uma delas). Não sabia que na verdade se refiria a uma operação a ser realizada após a morte de Hitler (caso ela de fato acontecesse).
O filme começa com uma tentativa fracassada de assassinato contra Hitler, conduzida pelo general Henning von Treschkow (Kenneth Branagh, que infelizmente aparece pouquíssimo no filme). Paralelamente a isso, é mostrado a guerra na Africa, aonde o coronel Claus von Stauffenberg (Tom Cruise) acaba perdendo um dos olhos e uma das mão durante um ataque. E é Stauffenberg que vai acabar comandando a próxima tentativa de assassinato contra Hitler, valendo-se da "Operação Valquíria" para conseguir tomar controle da Alemanha apos a morte do fuhrer, já que apenas mata-lo não seria suficiente para parar a guerra. Alem disso era preciso tomar o controle.
Esse é no geral um bom filme, mas que acaba decepícionando porque poderia ter sido muito melhor e conta com uma historia bastante interessante. Acaba também sendo prejudicado pelo fato de sabermos como a historia acaba e por não conseguir trazer um algo mais para compensar isso.
O filme tem um momento extraordinário que é o "3° ato" (toda a sequência que ocorre depois da suposta morte do Hitler).É um momento empolgante no qual você se pega torcendo pelo sucesso dos conspiradores mesmo sabendo que eles não serão bem sucedidos (algo que dado as devidas proporções, ocorria no excelente Vôo United 93).
Talvez, o erro tenha sido não focar nesse "3° ato" e transformar ele na maior parte do filme, com a adição do inicio que alem de ser interessante é o momento aonde são feito as explicações sobre a operação e o personagem de Cruise (e outros) é apresentado.
Mesmo assim, momentos como por exemplo o encontro de Hitler (David Bamber) com Stauffenberg poderiam ter sido tranquilamente excluídos.
Cruise esta correto no filme (se valendo muito de seu carisma, é verdade), apesar de não fazer um algo a mais para tornar o personagem mais marcante (ele acaba sendo marcante pelo seu plano e liderança dos conspiradores). Ele tambem é prejudicado por questões técnicas, como o maldito olho de vidro que não convence (não parece um olho de vidro). Os outros tem pouco destaque, como Bill Nighy, Kenneth Branagh (aparece no inicio e no fim basicamente), Terence Stamp. Tom Wilkinson tem ate um bom destaque com um personagem importante. Thomas Kretschmann faz pela enésima vez um oficial nazista. E por ai vai.
Tecnicamente muito bom (apesar de não ter nenhuma novidade), a recriação de época, o caos da batalha na Africa (que é uma cena rápida) e a própria condução do 3° ato do filme funcionam muito bem.
Austrália (Australia/Baz Luhrmann/2008
Esse filme é o samba do canguru doido, que se passa na época da 2° guerra mundial. Tenta ser uma fabula, um western, um filme de guerra, um épico, um filme denuncia, um filme romântico, tudo ao mesmo tempo e sem nunca conseguir se destacar em nenhum desses gêneros e ainda comprometendo as boas idéias devido a maçaroca que é feita.
Sarah Ashley (Nicole Kidman), uma inglesa rica e pentelha, tem uma fazenda em algum lugar da Austrália (na verdade do marido dela). Ela viaja ate esse lugar para encontrar o marido nessa fazenda, so que antes do encontro, ele é supostamente assassinado por um aborigéne conhecido como rei George (que é uma mistura do preto velho do candomblé com o velho do rio da novela Pantanal). O personagem de Hugh Jackman (que não lembro o nome, e nem sei se tinha na verdade), é uma espécie de "chefe" do pessoal que lida com o gado, e logo vai ficar próximo de Sarah. Vale ressaltar que o primeiro encontro dos dois é aquele velho clichê da "moça rica esnobe e mimada que veio da civilização" com o vaqueiro grosseirão, porco e beberrão (e nesse caso amigo dos aborigénes, os proscritos da historia). O proprio romance dos dois é uma forçassão de barra terrivel. Alem disso, a partir desse relacionamento com o personagem de Jackman e os outros habitantes da fazenda, Sarah muda completamente de atitude, só que isso não é feito de forma orgânica e verossímil. E a atuação de Kidman não ajuda nem um pouco.
Outro personagem importante é o garoto aborígene Nullah (Brandon Walters, irritante em boa parte do filme), neto do tal de rei George e filho de outro personagem, mas que é praticamente adotado por Sarah depois que sua mãe morre. Alem de servir como um dos motivos para a mudança de comportamento de Sarah e unir ela e o personagem de Jackman, o garoto tambem representa o componente "místico" da historia (junto com rei George) e é a partir dele que o filme aborda a questão da geração perdida (crianças aborígenes que eram afastadas da família pelo governo Australiano).
Essa questão da geração perdida, é um dos aspectos interessantes do filme, só que acaba sendo mal abordada devido a mistura absurda de temas e idéias e a incapacidade de uni-los de forma orgânica (sem forçar a barra). A cena em que aviões japoneses bombardeiam o porto da cidade, é outro ponto forte. Alem de tecnicamente bem feita, consegue tambem ser dramática (apesar de um tradicional clichê envolvendo os 2 protagonistas surgir dessa cena). Esteticamente o filme é bastante interessante, ajudado em muito graças as belas paisagens naturais australianas.
A questão mística é um ponto problemático (e sempre que o filme tenta ser uma fábula o caldo entorna). O garoto Nullah acredita ter poderes e muito sobre esses "rituais" aborígenes é citado , no entanto, o próprio filme no inicio da a entender que ele simplesmente imagina isso. O problema, é que em alguns momentos o personagem realmente realiza façanhas impossíveis (para um humano pelo menos). Ou um garoto normal consegue parar uma manada descontrolada indo em direção a um precipício estendendo a mão? A trajetória do rei George tambem é absurda e dura de engolir. Sem contar que sua participação no fim do filme é patética.
A lamentar tambem o personagem Fletcher (David Wenham), um típico "vilão tosco de quadrinhos", totalmente caricatural e com motivações desinteressantes. E que tambem tem uma participação patética no fim do filme. Os capangas dele são piores ainda, com direito a risada diabólica e tudo. E o chefe dele (pois é..) é o tradicional grande fazendeiro inescrupuloso, que tambem tem um destino previsível.
"Aqueles que não conseguem se lembrar dos erros do passado estão condenados a repeti-los."
- George Santayana