3libras: A minha questão sim é que deriva de um desconhecimento meu da área de humanas/sociais: você ao apontar a generalização feita pelos principios citados também não generalizou?
essas pessoas quando equilibram duas idéias radicalmente distintas sendo uma muito melhor que a outra, por exemplo, não fazem isso condicionalmente?
Se entendi o que vc está perguntando: não. Fazem isso incondicionalmente.
Já tive vários professores que aderem a essa máxima e proferem aos quatro ventos que toda forma de conhecimento é igualmente válida, toda explicação é igualmente verdadeira e igualmente falsa. São muitas vezes cientistas e mesmo assim se vc chega pra eles e pergunta: "mas então, o criacionismo está tão correto quanto o evolucionismo? As afirmações dos cientologistas sobre Lord Xenu são tão verdadeiras quanto a afirmação de que o sol é quente?"
E eles respondem: "Sim."
Se vc estende e pergunta porque então ele não acredita naquilo, a resposta é algo como: "Porque tive uma história de vida que fez com que eu adotasse um ponto de vista, um paradigma, que considera o evolucionismo mais verdadeiro do que o criacionismo e idem ao caso da Cientologia. Mas eles não estão errados, da mesma forma que eu não estou. E da mesma forma meu ponto de vista não é melhor que o deles: do critério deles, eles estão certos; do meu, eu estou."
o caso arqueologia x mitologia indígena é realmente tão normal assim? os autores não tentam equiparar a importância social das idéias da aplicabilidade?
Se é que novamente compreendi o que quis dizer: não. Se fosse assim, apenas relativizar a questão no ponto de compreender porquê os índios acreditam naquilo e a função que aquela crença cumpre no contexto deles, não haveria nada demais. Acho que iso é consenso entre quaisquer pensadores.
Foi por isso que na minha palestra, perceba, eu não questionei a construção social do conhecimento. Isto a meu ver é um fato. O que questionei foi a extensão deste argumento para justificar o relativismo epistemológico, apontando o salto lógico que é de considerar todo conhecimento uma construção social, para que isso permita igualá-los.
Como fica claro nas citações que coloquei no início da apresentação, estas pessoas estendem o relativismo para um nível epistemológico, afirmando que a teoria de como os índios chegaram às Américas da arqueologia é igualmente boa e válida à teoria indígena, afirmando que rejeitam a idéia de que a ciência seja uma maneira melhor de avaliar as coisas ou represente uma "visão de mundo" privilegiada.
por exemplo o arqueólogo que disse que as duas idéias eram válidas passou a se basear na mitologia indigena para realizar seus estudos?
Não, e isso é algo interessante sobre o relativismo epistemológico: mesmo aqueles que a defendem se opõe à aplicação prática destas idéias. Sabem que, como ilustrei, se isso fosse verdade poderíamos construir pontes tanto de gelatina quanto de concreto, tacar gasolina para apagar o fogo ou utilizar as orações zulus para curar da pólio ao invés de uma vacina. Parece que sabem que este pseudo-argumento chamado relativismo epistemológico tem apenas uma função erística, mas desmorona no primeiro passo que dá na vida real. E se vc questiona porquê então rejeitam esta aplicação prática, porquê aquele arqueólogo não passa a estudar sob a epistemologia Zuni, ele responde aquilo que mencionei acima da pra vc, como sendo a resposta de um defensor desta idéia: "porque EU prefiro outro ponto de vista".
Não é uma resposta, é uma esquiva.
Iuri: A teoria de que "blablabla, toda teoria tem a mesma validade, blablabla" não seria uma teoria maior (ou ainda: que vem antes) que a lógica, invalidando a aplicação desta para contestar a validade do primeiro? (...) Como se sai desta enrascada?
O mesmo poderia se dizer da segunda metade da palestra, em que tu usa a razão para argumentar contra o relativismo epistemológico, sendo que a razão em si não é nada mais que uma construção social do conhecimento específica.
Excelente apontamento, Iuri!
Eu mesmo lamentei bastante o tempo de apresentação não me permitir adentrar nesta - e outras - questões com mais detalhes. Este é um ponto que imaginei que poderia ficar latente em quem assistiu à apresentação, mas já levei ele em consideração sim, ao propor o que propus. A questão é a seguinte:
Você não pode justificar uma epistemologia através dela mesma, ou estará cometendo uma forma de
tautologia. Assim, de fato não faria sentindo eu justificar a veracidade da quiromancia através da quiromancia: "As cartas me dizem que consultar as cartas é um método eficaz de conhecer o futuro. Fim".
No entanto, isso não se aplica à razão. Porque a razão não é uma epistemologia, ela é o MMC (mínimo múltiplo comum) de toda epistemologia, mais, de toda explicação - a não ser as dogmáticas, mas aí entra o terceiro ponto que argumentei na apresentação. Inclusive o relativismo epistemológico é fundado sob a razão. Pretende ser racional. E, como disse, entenda razão no sentido mais amplo possível da palavra: razão/lógica/fazer sentido/ter coerência/motivo para. Assim, a idéia de que vc não pode justificar uma epistemologia por ela mesma não se aplica à razão: ela
é o
justificar.
Por isso eu afirmeu que toda, TODA, explicação terá a razão como MMC, em qualquer lugar do mundo. Porque simplesmente não existe outra forma do ser humano aprender, explicar, descrever. É sempre uma relação de, a grosso modo: " Se..., Então...". Se X, então Y. A premissa justifica a conclusão, são simplesmente concatenação de eventos.
Assim, partindo da razão (nos termos que expliquei) não estou partindo de um ponto de vista árbitrário que os demais rejeitam, mas de um solo comum às demais explicações. A não ser que rejeitem este e, neste caso, seriam dogmáticas. Aí entra a Persuasão, que apenas MENCIONEI (nem considero que expliquei) e posso entrar em mais detalhes caso tenham dúvidas.
Consegui responder sua pergunta ou não? Se não, por favor aponte.