Anticristo (Antichrist/Lars Von Trier/2009)
Apesar das inúmeras controvérsias que esse filme levantou, muitas delas por causa da aparente falta de sentido de diversas cenas que o compõem, a historia "central" é bastante simples: um casal (Willen Dafoe e Charlotte Gainsbourg) decide ir para uma cabana no meio de uma floresta depois de passar pela traumática experiência de ter um filho (ainda bem pequeno) morto apos esse cair da janela do próprio quarto.
O motivo para irem para essa região isolada (que sintomaticamente é chamada de Éden pelos personagens) é fazer com que a mãe consiga superar a dor pela morte do filho. O personagem de Dafoe (o pai) é psicólogo e começa a tentar tratar a esposa para que essa consiga superar a tragédia. A decisão de ir para o "Éden" é tomada, quando em uma dessas sessões terapêuticas a mulher revela que aquilo que ela mais teme é a floresta (mais especificamente o "Éden"). Detalhe é que a mãe tinha passado um tempo (um mês eu acho) junto com o filho que viria a morrer nessa cabana, aonde também ela tentava escrever uma tese (ou um livro).
No entanto, as coisas vão desandar bastante depois que o casal chega a essa região isolada, e é ai que as cenas mais controversas, nauseantes (chocantes?) e enigmáticas vão acontecer. Ha duas cenas chave (que considero pelo menos) que prenunciam os conflitos violentos (físicos e psicológicos) que ocorrem entre o casal, cada uma envolvendo um dos dois. A que envolve Dafoe é desconcertante (ate ridícula), mas a frase que surge dela resume o resto do filme:" O caos reina".
O filme é basicamente um dueto entre Dafoe e Gainsbourg, cujos personagens sequer tem nome. E as atuações de ambos são excelentes, especialmente Gainsbourg que retrata com precisão a dor pela perda do filho (que é particularmente terrível, já que existe um sentimento de culpa no meio disso). Isso sem contar os momentos no Éden, aonde ela sofre diversas modificações de personalidade que se alternam. Dafoe também brilha como um sujeito bastante racional e aparentemente preocupado com a recuperação da esposa , e que se vê cada vez mais em uma situação caótica e que contrasta com a sua visão racional das coisas.
O filme é dividido em capítulos: “Luto”, “Dor”, “Desespero” e “Os Três Mendigos”. Existe ainda o Prólogo e o Epílogo. O prólogo (e também o epilogo que segue o mesmo formato estético) é fantástico, feito em preto e branco e com um dos mais perfeitos usos de câmera lenta que já vi em um filme, e que ainda conta com Lascia ch'io pianga' (de Handel) como musica de fundo (não ha diálogos nessa parte). O o ritmo do filme é bem lento (nada de injeções de adrenalina a cada segundo), as coisas vão se desenvolvendo aos poucos ate chegar ao final. O visual é bastante interessante (com cores frias e ambientes escuros) que reforçam o clima triste (e desesperador) do filme. E no fim das contas esse é um filme bastante visual, ate porque muitas cenas (impactantes e bonitas muitas vezes) não vão fazer sentido e estão la para reforçar o clima do que esta acontecendo com o casal.
Apesar de ter gostado muito do filme, ele não é destinado para qualquer tipo de publico. Muitos vão se incomodar com as inúmeras cenas de sexo/masturbação (duas delas explicitas), que tem grande importância para historia e o desenvolvimento do personagem de Gainsbourg, algo que fica bastante claro no fim do filme. Existem também algumas cenas bastante violentas (não muitas), no sentido gore do termo. Sendo que apenas uma delas é realmente desnecessária e gratuitamente nojenta (algo envolvendo uma ejaculação sanguínea). O próprio ritmo lento e aparente falta e sentido também podem incomodar bastante algumas pessoas.
Para aqueles que não têm problemas com as questões citadas, o que fica é uma experiência fascinante (as vezes nauseante), poucas vezes sentidas com um filme nos últimos anos. Porque a despeito do visual maravilhoso, todo o clima pesado (sádico ate), algumas cenas inexplicáveis e pelos sentimentos que o filme desperta, alem de fugir da mesmice, esse Anticristo é um filme de idéias, conflitos e questionamentos.
Muitas perguntas são lançadas sem que uma resposta oficial seja dada, cabe ao expectador interpretar e chegar as suas conclusões.
Gamer (Mark Neveldine , Brian Taylor/2009)

Esse filme parte de uma premissa bem interessante: um sujeito chamado Ken Castle (Michael C. Hall) bolou um dispositivo que permite uma pessoa controlar outra como se essa fosse um personagem dentro de um video-game. O controle só ocorre (a principio) dentro de uma area restrita, mas é possível fazer a pessoa controlada fazer tudo que for ordenado (inclusive coisas absurdas).
Dentro desse espírito, Castle bolou um programa de televisão semelhante a um reality show chamado Society, aonde põem em pratica o uso desse dispositivo que permite controlar um grupo de infelizes que é voluntario para participar do programa. O programa é feito numa "cidade" bolada especialmente para o mesmo, aonde podemos ver indivíduos fazendo diversas coisas bizarras (como comer aranhas e larvas por exemplo), que são ordenadas por outras pessoas que emitem os comandos de suas residencias (como acontece em relação a um gordão repugnante que controla a esposa do protagonista).
Desse programa Society surge um outro (que é o que importa mais para o filme) chamado Slayers. Aonde um grupo de condenados a morte, portando armas e muita munição, tem como objetivo vencer a equipe rival através da conquista do objetivo determinado no programa do dia. Para chegar a esse objetivo, será necessário matar uma porrada de gente do time adversário (com direito a explosões e tiroteios). Quem conseguir um certo número de vitorias (se não me engano são 30) será libertado e terá sua pena de morte perdoada. E quem esta mais próximo de conseguir isso é o nosso glorioso Kable (Gerard Butler), que foi condenado a morte por matar um colega da policia em plena sala de interrogatório.
Nesse meio tempo, surge um grupo de "terroristas" (na falta de uma palavra melhor) que tenta sabotar o Slayers interferindo na transmissão e ameaçando revelar a verdade por tras do programa de controle que permite a existência do programa (e também do Society). Esse grupo vai acabar envolvendo Kable (e seu controlador que não lembro o nome) em seus planos o que vai desencadear uma treta brava e render mais cenas de ação, ate chegar no final do filme(que é bastante manjado diga-se).
A previsibilidade ate é passável (um pouco). O problema é a edição dessa bagaça. As cenas de ação tem um ritmo absurdamente rápido (deve ter tido uma quantidade de corte absurdas), que justamente faz as mesmas lembrarem uma mistura de video-game/videoclipe, o que tem tudo a ver com o tema do filme. Mas em muitos momentos o caldo entorna, e malmente da para entender o que esta acontecendo na tela.
Isso sem contar os personagens mal desenvolvidos e bem rasos, o que é um desperdício ja que o filme possui um elenco razoável que poderia brilhar mais (o que diabos John Leguizzano esta fazendo nesse filme). Mesmo sendo basicamente um filme de ação (talvez o problema seja esse), uma maior complexidade é necessária para o filme crescer. Sem contar que a maioria das cenas de ação não são boas.
No fim o que fica é uma idéia bastante interessante pobremente desenvolvida, que resulta em algumas cenas interessantes (e varias desagradáveis), personagens rasos e alguns momentos bizarros como a infame dança protagonizada pelo personagem de Michael C. Hall.
"Aqueles que não conseguem se lembrar dos erros do passado estão condenados a repeti-los."
- George Santayana