Veleiros Brancos
Desdobro as folhas da minha pele, invento gestos e carícias. Estendida ao longo da cama não sinto o zumbir do vento. Guardo recordações que cabem em caixas, o diário esquecido dentro do violão - mudo. Descubro-me frondosa e inútil, a quem canto as contas do meu terço? Não há verde no asfalto ou brisa marítima dentro do rio cinza. Meus cabelos na umidade do mar são mais bonitos, minha pele aqui amarela. Sinto falta da areia entrando no vão dos meus dedos, da visão suja das águas verdes. Lá, onde meus pés não alcançam, minha voz, invertida, emudece para fora. Veleiros brancos acenam, dentro dos meus olhos.
Nathalia Melati