ProxAlestorm escreveu:Só não gosto de flame. Nego chegou a perguntar se eu era retardado e teve nego aplaudindo, só pra se ter ideia de como está indo o fórum, que possui moderador. Vc deve estar certo mesmo cigano: eu sou bobo e infantil, mas prefiro manter minha postura de conversar através de PMs com pessoas que realmente tenham algum interesse em CONVERSAR sobre religião.
Não custa repetir: eu fui
repreendido pelo deslize, e só escapei de uma suspensão por ser "réu primário". Ninguém aplaudiu, pelo contrário.
Só fiquei
estupefato com a prova de que tu julga teu
discurso mais importante que a
qualidade de vida de um grupo inteiro de indivíduos. Não é o caso? Então elabora.
Se eu faço algo e chega a meu conhecimento que isto, mesmo não sendo minha intenção,
prejudica outras pessoas, o
mínimo que vou fazer é rever minha posição. Quanto a dita atividade é importante e/ou necessária (em termos
práticos, por favor; não vamos descarrilar a discussão com metafísica/pós-vida/etc.) na minha vida? E qual o impacto na vida das demais pessoas?
É uma questão de empatia, de se pôr no lugar do outro. Até onde vejo, o que pusemos na mesa tem pesos bastante desproporcionais.
Me corrija se eu estiver errado: tu prima pela liberdade de poder recitar o Levíticos* ("homem que deita com homem é uma aberração", aquele relato em que o deus judeo-cristão nuka a cidade dos sodomitas (e de quebra produz uma estátua de sal), e outros. Por que isso é tão importante pra ti? Para que teu livro seja 100% "correto"? Por que razões
práticas isso é necessário pra ti?
A coisa deve ser
importante, porque, em troca da tua liberdade em
dizer essas coisas, muita gente tem retirada a liberdade de
viver por causa da cultura de discriminação que esse tipo de discurso alimenta. Eu te relatei como, ao longo de
anos, essa cultura tóxica do "homossexualidade é errado" me trouxe tormentos tanto de dentro quanto de fora. Não precisava fazer nada -- era atacado sem motivo, apenas por andar na rua e
existir. E olha que eu tive sorte -- meu namorado foi expulso de casa pelo pai -- mas pelo menos ainda se relaciona com o restante da família.
Tanto eu quanto ele somos instruídos e viemos de famílias de classe média, então tivemos uma dose de amparo e as ferramentas culturais para ver o óbvio (em termos práticos, não há nada de errado e nossa vida afetiva e sexual não prejudica ninguém). E aqueles menos afortunados, que não contam com as facilidades que tivemos para navegar nessa cultura tóxica, exilados por todos os membros da família? E aqueles que aceitam teu discurso e usam de "livre arbítrio" para frear seus impulsos "impuros" e se casam com mulheres apenas para, cedo ou tarde, viver uma vida dupla? Ou aqueles que recorrem ao sacerdócio, com a promessa de um "porto seguro" no celibato, apenas para se afundar em ciclos sexo clandestino e culpa atroz?
Excetuando o caso do "casamento corretivo" (a que, aliás, o Oscar Wilde se submeteu, e acabou trazendo sofrimento para toda a família e o próprio), tive contato em primeira mão com todos os exemplos que citei. Se eu afirmo que a cultura é tóxica, é porque interajo com a dita toxicidade numa base diária. Eu não preciso especular, eu vivo isso.
Não seria melhor se pudéssemos dar passos para, eventualmente, erradicar (ou diminuir para níveis residuais e inofensivos) essa cultura? Abrir caminho para que o jovem com essas inclinações possa se desenvolver e prosperar em seus próprios termos, sem agressão e interferência daqueles a quem o processo não diz respeito (já que não é a vida desses terceiros), sem traumas? Retirar de circulação esse meme tóxico que causa sofrimento nas famílias, um meme egoísta que faz o pai sofrer por extirpar um filho da família, e o filho por ser banido?
Eu te apresentei meu lado dessa questão. Agora expandi o quadro. O tl;dr é: o paradigma cultural da homossexualidade como algo errado fere muita gente, em uma magnitude que tu é capaz somente de imaginar. Eu não precisei imaginar.
E tu, que tem a dizer? Qual o peso prático que poder recitar Levíticos tem na tua vida? Que benefícios isso te traz que são tão mais importantes que a vida de outras pessoas, visto que tal cultura
se alimenta com o sofrimento delas?
E eu jamais discuti
sobre religião: o que está em questão aqui são as
conseqüência práticas da tua religião, e acredito que todos concordam comigo quando digo que a religião só entrou na conversa em virtude destas
conseqüências, visto que o tópico não tem como objetivo debater a religião em si.