Luminosa

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Mensagempor Elara em 13 Mar 2008, 14:31

Olá pessoal!

Esse conto, escrito por mim, faz parte do livro "Sonho de Feliz Cidade", uma coletânea de textos sobre João Pessoa, capital da Paraíba. Apesar dos lugares serem familiares apenas a quem os conhece, creio que as descrições ajudam a se situar também. =)

Espero que gostem, e se possível, comentem.

Chero!

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Corre o ônibus em sua ânsia por chegar a lugar algum. Correm os pensamentos em direção a lugar nenhum. Corro os olhos no relógio do Lyceu. São 18h. É a hora de puxar a cordinha e descer na Lagoa.

Por este horário, o Parque Sólon de Lucena está adornado da mais bela luminosidade noturna. A lua se enamora pela própria imagem refletida nas águas, enquanto as palmeiras imperiais fremem ao sabor da brisa delicada que suaviza o horário de pico na cidade verde.

Subo o viaduto Dorgival Terceiro Neto em passo apertado. As pessoas vêm na direção oposta, vigilantes de suas bolsas, relógios e pertences. Coisas de cidade em crescimento. Passo pelo Terceirão, que muitos pensam ter este nome por vender mercadorias de terceira, mas sei que não é por isso. Ele é assim apelidado por estar no viaduto onde está. Mas isso são só divagações.

Escurece. Estamos no equinócio de inverno, o que significa que as noites são mais longas. Porém, assim considero mais agradável, pois o clima de João Pessoa é maravilhoso em seu hálito noturno.

Estou chegando perto. Passei pelo Thomas Mindelo agora mesmo. Onde será que foram parar os legendários punks que ali moravam? Uma coisa é certa: o prédio ficou melhor depois de restaurado mesmo. Aperto os olhos para ver melhor as horas, passo pelo Teatro Santa Roza, o mais charmoso do mundo. Ainda não era ali que gostaria de chegar.

Atravessando uma rua ou outra, finalmente chego lá. Era ali. Era o lugar. Ao som das badaladas do sino da Catedral, subo correndo a dita cuja, relembrando criancices à luz da luminosa noite pessoense.

“Oh, Ladeira da Borborema, cantada em poemas, lembrança de minha infância. Agora posso morrer feliz.”

E assim faleceu Manoel.

(Elara Leite)
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Mensagempor Doktor Faustus em 13 Mar 2008, 16:39

Estilo bastante fotográfico, exceto por uma passagem ou outra. Para um livro sobre uma cidade, creio que você escolheu bem tal estilo.

Mas o final me soou estranho:

“Oh, Ladeira da Borborema, contada em poemas, relembrada em minhas lembranças. Agora posso morrer feliz.”


Mais precisamente, "contada em poemas" e "relembrada em minhas lembranças". Acho que "cantada em poemas" ficaria melhor. Sobre a outra parte, não gostei da repetição "relembrada-lembranças". Mesmo com o objetivo de tornar a passagem mais poética, a repetição acaba sendo meio desagradável para os olhos, além de ser uma relação de palavras fácil.

Mas ficou interessante também o andamento da narração, que começa na 1ª pessoa, mas quase 3ª (daria para trocar facilmente), e que no final passa para a terceira (afinal, Manoel não poderia dizer "E assim faleci" a menos que quisesse ser um Brás Cubas! :bwaha: )
"Não, não são plantas, apenas fingem sê-lo. Mas nem por isso vocês devem menosprezá-las. Pois é precisamente a circunstância de elas pretenderem sê-lo e darem o melhor de si nesse sentido o que as torna merecedoras de todo o nosso apreço."
Jonathan Leverkühn, em Doutor Fausto, de Thomas Mann.
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Mensagempor Jefferson em 13 Mar 2008, 23:15

Heya!

Muito bom!, Não conheço o lugar, mas conseguir visualizar algumas cenas, você descreveu bem. E o texto tem leitura fluida, o que é muito bom!
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
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Mensagempor Elara em 17 Mar 2008, 15:38

Doktor Faustus,

Que honra tê-lo comentando meu trabalho^^.

Interessante, depois que você falou, achei suas sugestões realmente pertinentes. Vou editar.

Jefferson,

O que exatamente não deu para visualizar?

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Mensagempor laharra em 18 Mar 2008, 23:41

Elara, deu vontade de conhecer melhor João Pessoa. Estive poucas vezes aí, apesar de ser pertinho. Quando fui senti um clima de tranquilidade tão bom. Nem sei explicar direito.

Fui pesquisar um pouco... Esse Manoel do texto é o mesmo Manoel José de Lima, conhecido como Caixa D´água? Se for, o texto ganha mais pontos no meu conceito, já que torna-se também uma homenagem muito bem elaborada para fechar com chave de ouro.

Chero também (by Elara)!
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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Mensagempor Elara em 19 Mar 2008, 14:41

Laharra,

Puxa, você acertou em cheio! É uma homenagem ao Caixa d'água sim. Só que mantive isso apenas para mim. Nem mesmo quando enviei o texto para a seleção da coletânea fiz algum comentário a respeito. Pow, só sendo jornalista pra ter esse faro mesmo! Huahuahuahuahau...

O Caixa d'água morava bem pertinho da Rua da Areia, mais conhecida como Ladeira da Borborema. Um de seus poemas mais famosos fala justamente sobre a dita cuja. Ele faleceu há alguns anos, de insuficiência respiratória.

Tenho mais um outro texto em homenagem a ele que você conhece: "Memórias de uma aspirante a repórter". Há ainda duas reportagens que fiz sobre ele e um ensaio fotográfico que realizei com algumas pessoas da Faculdade, cerca de um ano antes dele morrer.

Bom, sobre conhecer melhor João Pessoa, eu já fiz diversas pesquisas sobre a história da cidade e, se precisar de um guia, é só avisar que estou a disposição. A Nasti já conhece meus serviços de orientação turística. =P

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Mensagempor Lady Draconnasti em 19 Mar 2008, 16:58

Por falar nisso, tenho que ver uma nova ida ai pra Jampa, né, Lalinha?
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Mensagempor Mirallatos em 19 Mar 2008, 18:36

Lara, você deve conhecer algo parecido, pois as cidades nordestinas costumam ter muito: desde criança eu visito o centro histórico de São Luis-MA e conheci locais realmente inspiradores, como os túneis sob a cidade, tumbas coloniais, locais onde escravos eram castigados e casas-museu (a cidade foi tombada pela UNESCO).

Numa destas visitas eu conheci a casa onde Aluísio de Azevedo escreveu O Mulato, e vi inclusive a obra original, manuscrita. A casa é a mesma descrita na história, de frente para a Rua do Sol. Não sei vocês, mas quando um livro agrada, ficamos com sensação nostálgica ao acabar a leitura, portanto naquele dia eu parei para imaginar a história olhando pela janela do Aluísio.

Teu pequeno texto me trouxe essa lembrança, e um certo ciúme também, porque há muito saí de São Luis (quase 10 anos), sendo lá terra "onde canta o sabiá", além do próprio Aluísio, Ferreira Gullar e outros.
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Mensagempor Elara em 24 Mar 2008, 14:03

Nasti,

É verdade. Tou no seu aguardo!

Mira,

Sim, sim, todos os lugares antigos dessa linda cidade provinciana são bem inspiradores mesmo. Aliás, os centros históricos das cidades nordestinas são realmente fontes inestimáveis de inspiração, conforme você mesmo disse.
Não tenha ciúmes, compre uma passagem e visite o nascedouro de suas saudades. (Parecia uma agente de viagens falando...)

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Mensagempor Yuskeleton em 26 Mar 2008, 08:31

Olá Elara.

Gostei bastante do seu texto; gramática fluída e gostoso de ler. Foi como ver o retrato de algum lugar que jamais conheci. Porém, por alguma razão, fica a sensação de estar familiarizado com ele.

As descrições criam um odor de infância; de memórias.

Achei o final bastante vago... meio que pacato.

P.S.: Como é bom ler contos de antigos companheiros de pena :victory:
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Mensagempor laharra em 26 Mar 2008, 12:28

Legal, Elara, eu bem que desconfiei... :cool: Quando for a João Pessoa novamente eu entro em contato. E quanto a Manoel, vou procurar mais sobre ele. Bjo.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
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Mensagempor Elara em 26 Mar 2008, 15:48

Yuskeleton,

Que honra tê-lo aqui! Ademais, a idéia era dar um tom de familiaridade mesmo, um ar de saudades da infância. Que bom que consegui alcançar este objetivo.^^ O final é para combinar com o clima do conto, dando uma movimentação que mesmo real, já é nostálgica, entende?

Melhor ainda rever companheiros de pena, amigo. ;)

Laharra,

Qualquer coisa, posso te mandar as reportagens.

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Mensagempor Aleχ em 29 Mar 2008, 20:50

Adorei! Me lembrou a minha cidade, Florianópolis. Está na minha lista de coisas a fazer escrever algo sobre Florianópolis ou ambientado nela. E concordo com tudo que o Yuskeleton. E tudo isso pela maestria com a qual o conto foi escrito. Ele seria muito pior se você não soubesse escrevê-lo tão bem, deixando a leitura bem gostosa.

E bom também ler algo seu, já que você leu e comentou todos os meus contos publicados aqui. :victory:

Parabéns!
"Life was such a wheel that no man could stand upon it for long.
And it always, at the end, came round to the same place again."
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Mensagempor Elara em 01 Abr 2008, 16:06

Dou todo o apoio para você escrever algo sobre sua cidade, Alex.^^ Aliás, acho que cada um deveria experimentar o exercício de escrever sobre o local onde mora. É um desafio aos conhecimentos.

Sobre comentar seus contos, nada mais justo para uma leitura tão agradável quanto a sua escrita.

Obrigada pelos elogios!

Chero!
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