Fëanor, você pelo jeito não entendeu o que eu disse. Deixa pra lá. Estou falando que os caras podia ousar, sair da zona de conforto um pouco. Senão vira Iron Maiden, fazendo anualmente músicas iguais para o mesmo público, anos e anos a fio. Não precisa ser o David Bowie, mas se reiventar de vez em quando não faria mal.
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Fahrenheit 451(1966) -
Baseado no livro de Ray Bradbury (que ainda hei de ler), o filme trata de uma sociedade distópica futurista onde livros são proibidos. Algumas benesses tecnológicas existem (como casas à prova de incêndios), mas têm pouca ênfase.
Existe um corpo de bombeiros que, neste futuro sem incêndios, tem a função de revistar pessoas e casas à procura de livros e queimá-los com um lança-chamas. Da mesma forma, pessoas que são flagradas com livros são encaminhadas à reeducação, pois são antissociais que precisam se reintegrar à sociedade. A polícia também vigia outras coisas, como corte de cabelo (!).
Ironicamente, as pessoas são completamente isoladas pela TV, mas têm a ilusão de ser parte de alguma coisa por causa de inserções com seus nomes no meio dos programas. Por exemplo, uma novela em que, subitamente, personagens se viram para a câmera e dizem "você não concorda, Linda?". A esposa do protagonista, Linda, vive entorpecida por combinações de pílulas, reuniões morosas com outras esposas e vive ligada na televisão, em todos os cômodos da casa.
O protagonista, Montag, é um bombeiro próximo de uma promoção. Ele nunca antes havia questionado seu papel ou ao menos se sentido tentado a ler algum dos livros que destrói, mas uma conversa com uma amável vizinha faz com que ele comece a repensar alguns conceitos.
Falar mais é spoiler.
No mais, vale para ver aquela visão antiguinha de futuro (ou seja, um filme feito em 1966 sobre o futuro tem A CARA DE 1966, já que pouca coisa prevista realmente aconteceu). O filme também tem uma tônica diferente, até pela época em que foi feito e por se tratar mais de um filme que dramatiza os limites da censura e a idiotização do que um filme de ação cheio de explosões e efeitos especiais. Espectadores de hoje em dia podem sentir sono.
Por mais que algumas coisas sejam realmente forçadas, o filme realmente vale a pena. Por exemplo, os jornais são feitos inteiramente de imagens, e os arquivos dos bombeiros são só fotos e carimbos geométricos que simbolizam ações tomadas. Ora, numa sociedade em que a escrita parece não existir, por que Montag se sente curioso e
consegue ler um livro? A escola mostrada no filme também parece ensinar tudo verbalmente, recitando decorebas... e mesmo assim, muitos parecem saber ler.
A idiotização causada pela TV e a ilusão da participação também antecipam certas coisas (chega a lembrar as pessoas que vivem discutindo BBB, votando, falando e agindo como se realmente tivessem individualmente o poder de mudar alguma coisa na programação televisiva), e valem pela alegoria. O final do filme é igualmente interessante, mas só assistindo para conferir.
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Tiger and Crane Fist (Hu hao shuang xing, 1976) -
A nota é dada no contexto do gênero. Sério. Para quem gosta desse filão de filmes clássicos de kung-fu vindos de Hong Kong/Taiwan, "tiger and crane fist" (ou "savage killers") é uma ótima pedida. A maior parte da galera deve reconhecer esse filme como aquele que tem várias cenas editadas em "Kung Pow".
Eu procurei por esse filme durante uns anos e, pela dificuldade em achá-lo, acabei baixando um "VHS rip" de péssima qualidade (o filme também está disponível no YouTube) e assistindo de qualquer jeito mesmo. Desculpem pela "apologia à pirataria", mas, quando você só consegue achar um filme sendo vendido em VHS a MIL DÓLARES...
A história fala de duas escolas de kung-fu, garça e tigre, que eram antigamente unidas em um estilo imbatível. Porém, dissidências acabaram separando os dois estilos. Wang Yu, aprendiz do estilo do tigre, chega à cidade com seu mestre mortalmente ferido, fugindo de um combate com o aparentemente invulnerável Lung Fei (estou usando os nomes dos atores).
Após um reencontro com o mestre local do estilo da garça (e descobrimos que ambos mestres haviam brigado muitos anos antes), Wang Yu perde seu mentor e se torna um aluno relutante da escola da garça. Contudo, o melhor aluno da garça se sente ofendido em ter de aprender o estilo do tigre e, principalmente, de que seu mestre nomeie Wang Yu como seu superior.
Essa relação problemática entre Lau Kar Wing e Wang Yu é um dos centros do filme. Os dois também vivem uma espécie de triângulo amoroso com a mocinha principal. Ambos devem aprender a superar suas diferenças e tentar unificar os dois estilos...
...especialmente após a morte do mestre da garça, covardemente assassinado por Lung Fei e suas garras de metal. Descobre-se que ele é um emissário dos japoneses invasores (e quem duvidava que rolava uma xenofobia no filme?), e que quer destruir todas as escolas de artes marciais da região para facilitar a invasão.
Mais do que isso, novamente, é estragar um clássico do gênero. Novamente, para quem gosta do gênero, é um filme conciso, completo, ágil e divertido. Tem momentos cômicos e dramáticos na dose certa e surpreende pela produção aparentemente barata. Uma hora e vinte minutos que não serão desperdiçados.