Voltando ao post que deu origem ao tópico, estava pesquisando mais a fundo o assunto e vi informações interessantes.
Em primeiro lugar, o estado em questão é o Texas, reconhecidamente conservador, onde o Partido Republicano (do presidente George W. Bush - ex-governador do Estado) é muito forte. Como sabemos este partido tem uma relação muito forte com a parte mais conservadora da igreja (principalmente a tendência "southern" do partido).
Christine Comer era membro da TEA (Agência Educacional do Texas, em inglês), que é órgão estadual responsável pela supervisão do ensino público no Texas (a TEA não possui jurisdição sobre o ensino privado e o ensino doméstico) tendo poderes até mesmo para fechar escolas ou distritos escolares inteiros.
O TEA é supervisionado por 15 membros do Texas State Board of Education, cujo chairman é Don McLeroy republicano e criacionista. Mas aponta-se que a responsável direta pelo pedido de demissão de Comer é Lizzette Reynolds - republicana que trabalhou no Departamento de Educação dos EUA e que já trabalhou com George W. Bush - que entrou no TEA em janeiro de 2007.
Conforme a reportagem, Comer alega que "não sei de que maneira se pode afirmar que assumi uma posição ao encaminhar um convite para uma palestra, da mesma forma que encaminharia um aviso sobre aquecimento global ou pesquisas de células-tronco", mas o e-mail que ela encaminhou sobre a palestra (que era de alguém contrária ao criacionismo e ao design inteligente) for enviado pelo National Center for Science Education , "defensor do ensino da biologia evolucionária e opositor ao ensino de posições religiosas nas turmas ciências nas escolas públicas norte-americanas".
Para alguém que ficou nove anos na TEA, Christine Comer, deveria saber muito bem o que estava fazendo ao encaminhar para outras pessoas o e-mail de uma palestra sobre "um assunto no qual a agência deve ser manter neutra" (conforme as palavras da porta-voz do TEA, Debbie Ratcliffe) e ainda por cima enviado por uma entidade que milita contra o criacionismo. E ainda tem o "agravante" que Comer é favorável ao ensino da evolução - fato que seus colegas deveriam ter conhecimento. Diante das circunstâncias, as palavras de Comer não me parecem inteiramente sinceras.
Eu acho que a questão é mais do que o debate evolução x criacionismo (como está sendo intensamente divulgado). Pelo que me parece, a situação cheira a intensas disputas políticas dentro da TEA - e como em qualquer setor governamental, deve haver - em maior ou menor grau - influência partidária (ainda mais um estado fortemente republicano).
Uma vez que Comer foi acusada pela própria TEA de "vários tipos de má-conduta e insubordinação" a situação dela na Agência já deveria ser muito delicada. Dessa forma, Comer poderia ter forçado uma situação que a levasse pedir demissão - devido a pressões de seus superiores - e aproveitar para "sair por cima" acusando a TEA de perseguição ideológica por conta do ensino de ciências.
Uma vez que educação e política andam muito juntas duvido muito que seja somente uma falsa questão de religião vs. ciência na educação.
Meio off-topic: eu sou da opinião de que a Verdade (com "v" maiúsculo para destacar a sua incontestabilidade) para um indivíduo depende quase exclusivamente da crença, não de argumentos (mesmo que eles sejam considerados "lógicos").
Nesta perspectiva, um defensor implacável da evolução não difere em nenhum grau de um criacionista intransigente uma vez que ambos acreditam que a sua posição do assunto é a Verdade invalidando os argumentos contrários. Logo, a Verdade tem um quê de relativo: o que é Verdade absoluta para alguém, pode ser uma grande falácia para outra pessoa.