O Amor Nos Tempos do Cólera
Não é novidade que Gabriel Gárcia Marquez é um puta escritor e nem que ele é, já a muitos anos, um desafio para cineastas que tentam adaptar suas obras para o cinema. É extremamente complicado pq boa parte do prazer da leitura de GGM está nas palavras que usa, no seu ritmo acalentado e alternado enfim, nos seus dotes de escritor. Além disso suas obras costumam ter uma riqueza de detalhes RELEVANTES altíssima, ficando quase impossível coloca-las em uma projeção de 2 ou até 3 horas.
Em seus livros alguns detalhes que os cineastas costumam desconsiderar nos roteiros (pela irrelevancia no tema central) é muitas vezes um ornamento peculiar a mais de um personagem, ou uma passagem simples mas extremamente bela, que acaba tendo muita importância no diagnóstico geral do livro. Talvez por isso todo mundo tenha medo de adaptar seus livros.
Então primeiramente parabéns pela ousadia da produção em adaptar este romance. Mais méritos ainda por se tratar de um romance hipérbole, de amor descabido, latino e convulsivo, extremamente incomum hoje em dia e com certeza seria (e será) recebido com cinismo por parte da nossa intelectualidade cética. Um filme com uma história que parece não se encaixar hoje em dia ainda por cima.
Dado os mais destacados impecilhos, vamos ao filme:
O filme não consegue encaixar os "detalhes irrelevantes essencias" ( :D ) que citei acima. Sinceramente não esperava nada diferente. Logo é uma covardia compara-lo ao livro (como sempre é), portanto desconsideraremos estes aspectos para observa-lo cinematograficamente.
O filme nos trás uma bela história de um amor descabido e tempestuoso, aonde Florentino (Javier Barden) se apaixona por Fermina (Giovanna Mezzogiorno). O roteiro supre razoavelmente bem os contextos e impecilhos da forma mais resumida sem perder conteúdo possível.
A fotografia é bonita e invisível, exatamente como deveria de ser, para focar as atenções na história que se passa, o que acaba também por realçar o trabalho dos atores.
E que trabalho dos atores!
Giovanna Mezzogiorno não se destaca muito, mas cumpre satisfatoriamente, porém Javier Barden faz um trabalho ESPETACULAR, provando novamente ser um dos melhores atores de sua geração.
A composição do personagem é perfeita. Ele passa por um jovem de olhar inocente (mas não tolo), por um adulto ressentido e esperançoso, por um idoso sedutor e calado, enfim.. faz construções perfeitas em todos os aspectos. Sua postura é perfeita durante um filme, fazendo um trabalho de linguagem corporal notável, no jeito de andar, de arquear os ombros, na velocidade com que se move, enfim.. Uma composição muito boa e completamente diferente de todos seus demais personagens, o que acaba por ressaltar ainda mais o ator.
Uma breve nota aqui também para Fernanda Montenegro que aparece muito bem como a mãe de Florentino. Sua adoração pelo filho, seu romantismo enraizado, sua postura (e impostura) diante dos acontecimentos são todos muito bem executados e me fez até pensar que ela daria uma excelente matriarca Buendia se fizessem uma outra adaptação do Cem Anos de Solidão.
A maquiagem do filme é com certeza uma das melhores do ano. Fica notável como evoluiu a maquiagem para envelhecimento e rejuvenescimento ao ver o trabalho realizado neste filme. A maquiagem abrange de forma completa (e obviamente usufruindo do excelente trabalho dos atores) os aspectos de cada idade em detalhes faciais (e corporais!) incríveis.
A direção de Mike Newell é suave e elengante e asism como a fotografia, serve ao filme, não o filme serve a ele, como acontece em muitos casos. O diretor surpreende em sensibilidade ao demonstrar que, mesmo sendo inglês, compreende, respeita e cultiva uma história de amor aparentemente tão peculiar ao povo latino.
Enfim, um grande filme que recomendo a todos!