Carne

por **Mirallatos** em 22 Fev 2008, 20:08

Carne
Ataualpa S. Pereira

Ontem estava a ter com o diabo
uma conversa sobre a questão santa,
dizia ele com orgulho na garganta:
"gozo do melhor, eis porque me gabo"

Certamente zombei-lhe o chifre e o rabo:
"de que vale uma cara que só espanta?"
Disse-me pois: "és tu poeta ou uma anta?
Quereria mais mil cornos deste lado!"

"Pois saiba que na data do calvário
enquanto lá jejuam com pão mirrado,
aqui faço duas vezes o contrário!"

Tenho de carne meu corpo sagrado,
então da carne tiro meu prazer.
E que assim seja até quando eu morrer!

por **Dahak** em 24 Fev 2008, 21:03

Hey Mira, tudo certinho?
Espero que sim.

Nossa, adorei a poesia!
Super acessível, contendo uma bacana história e gozando de ótima sonoridade.

Não contei as sílabas... São decassílabos?

Parabéns, uma das suas produções que mais gostei, uma das favoritas.

Abração!

Dahak Out

por **Cyrano** em 26 Fev 2008, 08:48

Mirallatos,

Parabéns. A poesia é muito interessante, e a temática cômico-religiosa foi muito bem trabalhada. Acho que vou procurar outras poesias de sua autoria, hehehe!

Abraço!

por **Elara** em 26 Fev 2008, 16:16

Apesar de não ser dos meus temas favoritos, não posso negar que o poema foi esmeradamente produzido. Parabéns!

Em alguns momentos, me lembrou um pouco Zeca Baleiro. Influência?

Chero!

por **JOE_KR** em 27 Fev 2008, 19:03

Koé!!!

Esteticamente bem trabalhado. Não conferi pra ver se estava metrificado, mas a boa sonoridade, as rimas e a opção pelo uso do soneto demonstram grande preocupação na hora da elaboração dos versos.

Quanto a temática e ao conteúdo, bem, ela não me trouxe surpresa. Mas devo esclarecer o porquê: no meu projeto de pesquisa [faço História], trabalho com fontes medievais do século VII [atualmente, regras monásticas] nas quais o assunto abordado é bastante recorrente. Daí possivelmente a total ausência daquela sensação: "tem algo de novo aí".

Falow e té +!!!
Ass.: JOE K.R [que devia estar estudando, por falar em projeto de pesquisa =S]

por **Mirallatos** em 28 Fev 2008, 11:36

Saudações!

Dahak

Tudo tranquilo caro colega!

Sim, são decassílabos e feito pra todo mundo entender...

Cyrano

Gosto de escrever vez ou outra sobre religiosidade. Na verdade costumo criticar alguns costumes que decorrem do cristianismo...
Meu blog: http://transgressivo.blogspot.com

Elara
Sei que você não é muito pra esse lado mesmo moça. Então, o Zeca me inspira em muita coisa, mas quando o assunto é religião eu faço de birra mesmo. Mas, por favor, não me tenha como um inimigo da fé, só não gosto de extremismos.

JOE_KR
É como eu digo, meu caro, essas coisas só assustam os que se vivem no escuro...

Um grande abraço!

por **Dahak** em 06 Mar 2008, 07:22

Mirallatos escreveu:Sim, são decassílabos e feito pra todo mundo entender...

Acho TÃO importante esse ponto.
Deveria ser uma preocupação constante na produção nacional.
E isso, nem de longe, implica em desleixo, descuido ou pobreza.

Esse seu trabalho é prova do que digo =)

Dahak Out

por **Elara** em 11 Mar 2008, 16:30

Mirallatos escreveu:
Sim, são decassílabos e feito pra todo mundo entender...

Acho TÃO importante esse ponto.
Deveria ser uma preocupação constante na produção nacional.
E isso, nem de longe, implica em desleixo, descuido ou pobreza.

Importante ser decassílabo? Discordo.

Chero!

por **Dahak** em 11 Mar 2008, 19:38

Não, lol
Acho MUITO importante que seja feito para que todos possam entender.
LOL

Ser decassílabo eu acho que é um aspecto importante para meu gosto pessoal, por exemplo. Acho que é como o queijo de Romeu & Julieta, acho que casa muito bem com soneto. Mas não acho que tenha de ser uma regra.

O mais importante, no meu ver, é a mensagem. E a acessibilidade que o Mira promoveu é algo que eu acho louvável.

Sou da opinião que é possível criar uma poesia arrojada, culta, repleta de informações, nuances e riqueza sem que seja algo intragável ou de difícil aceptação, assimilação e entendimento =)

E isso não quer dizer que as mais truncadas não me agradam, lol
Mas acho justo ter uma visão mais generalista e menos individual quando a idéia é fazer uma crítica isenta de pessoalismo.

Espero ter me explicado melhor ^^"

Dahak Out

por **Sr.Personna** em 19 Mar 2008, 09:55

Baudelaire e todos os poetas malditos lhe tirariam o chapéu!
Acompanho-os por troça e com divertimento.
Quanto aos decassílabos, discordo de Elara, são importantíssimos e pior sou tão chato ao ponto de criticar a tonicidade... Na primeira estrofe gostei muito dos três primeiros versos ascendentes e o último como descendente, deu um ritmo gostoso de se ler e bem próprio à sátira.
Mas o ritmo peca um pouco por não se decidir pelo heroico ou pelo sáfico (ficando alguns em nenhum dos dois e outros em ambos)
Mas que diabos (com o perdão do trocadilho) são apenas nuances mui sutis de alguém que é muito chato

PS offtopic
E falando em carnes... Sexta tem churrascão da sexta feira da paixão, segunda edição Em minha casa ^^

por **Elara** em 19 Mar 2008, 16:09

Esse negócio de ficar se prendendo à forma... :sobrancelha:

por **Mirallatos** em 19 Mar 2008, 17:23

Mas se não fossem as formas definidas neste mundo Larinha...geométricas, estranhas, voluptuosas... :linguinha:

por **Sr.Personna** em 22 Mar 2008, 18:41

Menina rara,

Não é se prender é usar delas para o maior prazer se obter.
Porque recusar algo que pode melhorar ainda mais um já delicioso soneto?

por **Elara** em 24 Mar 2008, 15:22

De fato Mira, o que seria de nós se não fossem as formas? Mas não me refiro à se prender às formas em si, pois a isso estamos sempre presos, invariavelmente, mas ao conservadorismo da forma.

Moço audacioso, se for pra melhorar, tudo bem. Se for só para acrescentar dificuldade e títulos de esmero, discordo.

Chero!

por **Mirallatos** em 24 Mar 2008, 16:54

De fato Mira, o que seria de nós se não fossem as formas? Mas não me refiro à se prender às formas em si, pois a isso estamos sempre presos, invariavelmente, mas ao conservadorismo da forma.

Hoje não é mais conservadorismo. Porque de tanto se falar em liberdade poética, liberdade artística, desconstrução, etc; Temos pois a liberdade de recorrer ao clássico como modo de expressão: Tamanho é discurso de inovação e liberdade, que n'algum momento a palavra "conservador" corresponderá a uma minoria reprimida. É sério.

Daí teremos um novo movimento explodindo. :linguinha:

Sendo bem sincero? Meu conservadorismo não está somente na expressão, mas também no conceito e visão. Música tem definição, senão é barulho. O mesmo vale pra poesia, artes plásticas, cinema, etc. Se foge muito disso, que dêem o nome de Dronf-Gronf, Goasia...ou qualquer outra coisa.