João e Paulo

[laharra]

Mostrei esse pequeno texto de minha autoria para 5 amigos e apenas 1 entendeu do que se tratava. Alguém se arrisca? Não é tão difícil.

João e Paulo

Essa é a história de dois homens que tiveram caminhos diferentes desde o momento em que se entenderam como pessoas até depois de suas mortes. Quando eram crianças, todos na vizinhança viviam falando: João sempre era o garoto danado, que aprontava com tudo e todos. Era comum ver sua mãe puxando as orelhas daquele capetinha. Já Paulo era um exemplo para João de como ele deveria ser. Um jovem quieto e que obedecia a todos.

No colégio o que mais se falava era da fama de pegador de João. Nenhuma garota poderia dar vacilo que já estava na boca de todos. Claro, pois João não deixava barato e espalhava aos amigos. Enquanto isso, Paulo era quietinho e ingênuo. Os professores o admiravam.

Não é à toa que, quando tinha quatorze anos, João perdeu sua virgindade. Todos os seus amigos queriam saber dos detalhes, e ele não se acanhava em dizer como entrou em um puteiro e mandou ver. Já Paulo, entre os colegas mais íntimos – e apenas os mais íntimos mesmo – deixava claro que só desfloraria depois que se casasse.

Fazendo jus à imagem de adolescente problemático, que gostava de ver nos filmes, João deixava claro que não aceitava desaforo de ninguém na rua. Vivia brigando, e sabia fazer isso muito bem. Todos sabiam disso. Paulo, por outro lado, respirava fundo sempre que desrespeitado e resolvia tudo no diálogo. Era contra a violência e passava essa mensagem adiante.

Obviamente, João também abusava do álcool, cigarro e drogas. Tinha tantas histórias com isso que seus amigos se matavam de rir sempre que ele as contava. Paulo era contra aquilo. Achava que não levava a nada e tinha apoio de alguns, pessoas que ele precisava para viver bem com ele mesmo, mas a maioria apenas ria de seu estilo de vida.

Depois de alguns anos, lá estavam João e Paulo casados com suas respectivas esposas. Mas João não se contentava, e dentro do seu ambiente de trabalho era comum os outros profissionais verem ele retirar sua aliança antes de sair para a farra. Traição era seu mote. Enquanto isso, Paulo dava duro para sustentar a família, e sua esposa sabia como ele sempre chegava tarde por fazer hora extra. Ele nunca a trairia.

Eles tinham seus motes. João admitia a quem perguntasse: conseguia o que queria facilmente com seus contatos e seu poder de persuasão. Alguém em quem os amigos poderiam contar se precisassem de algo. Mas com cuidado para não pisar no calo dele, senão a maré poderia mudar. Paulo seguia à risca uma frase que costumava dizer a todos: “Não julgar ninguém e viver honestamente”.

Um dia, após muitos anos sem se reencontrar, João e Paulo se cruzaram na rua. Ambos se reconheceram, trocaram acenos e perguntaram: “como está você”? Ambos mentiram na resposta. Naquele mesmo dia, eles morreram.

João foi para o céu. Paulo para o inferno.

[Lorde Seth]

Boa...

João se arrependia do que fazia, mas Paulo era um hipócrita.

[Lady Draconnasti]

Só achei que essa parte aqui ficou muito longa.

No colégio o que mais se falava era da fama de pegador de João. Nenhuma garota poderia dar vacilo que já estava na boca de todos, claro, pois João não deixava barato e espalhava aos amigos...

Creio que ficaria melhor assim:

No colégio o que mais se falava era da fama de pegador de João. Nenhuma garota poderia dar vacilo que já estava na boca de todos. Claro, pois João não deixava barato e espalhava aos amigos.

De resto, o conto está muito bom, principalmente o desfexo um tanto inesperado.

[Ermel]

Creio que se arrepender depois de tudo fica muito facil pra todo mundo.
Sei lá viu, a historia é interessante, porem interpretações da mesma, as vezes, depende do ponto de vista. Talvez a mentira de João foi a unica 'verdade', sei lá.
Mas fiquei curioso, ira esclarecer o real significado algum dia laharra?

Até!

[laharra]

Na verdade, posso dizer que Lorde Seth acertou metade da idéia. Como Ermel falou, se arrpender de tudo no final é realmente muito fácil, e seria óbvio demais.

Vou deixar em aberto para ver se outros tentam acertar em cheio e depois dou minha versão.

Agradeço a presença de vocês, e quanto à correção, Lady, ela foi anotada e será feita.

[Lobo_Branco]

Bom texto. Após algumas passagens ele ficou um tanto clichê, manequeista, porém, um texto gostoso de ser lido.

A mentira é a semente da corrupção, da quebra dos protocolos. Ao mentir, Pedro corrompeu no que acreditava, se condenando ao inferno. João, ao contrario, se manteve fiel aos seus preceitos, uma mentira há um "estranho" não é nada mais do que comum a ele.

Não acredito que tenha algo haver com arrependimento, e sim com a hipocrisia de como se vive.

Abraços!

[Lorde Seth]

Há várias interpretações para a história. Eu mencionei a do arrependimento, mas também há a da relativa aos feitos de cada um.

[laharra]

Lobo_Branco, gostei da sua interpretação. Realmente o texto é sobre hipocrisia, mas a minha idéia da história você também não acertou. Na verdade, o que pensei chega até a ser algo mais simples do que a maioria pode estar pensando. Mas é como Lorde_Seth falou, cada um tem seu ponto de vista.

Um amigo meu leu e pensou que a moral era que os bonzinhos só se f*dem. Algo totalmente contrário à mensagem. Enfim...

E você falou Pedro ao invés de Paulo

[Lobo_Branco]

Pedro, Paulo, João...td nome biblico, dá na mesma...hahaha

[Lady Draconnasti]

E ambos começam com P

[laharra]

Pessoal, foi mal ressucitar esse tópico aqui, mas percebi que fiquei devendo minha explicação. Na verdade, cada personagem é o oposto do que faz. Ambos são hipócritas.

João não fazia nada daquilo, mas mentia para se encaixar na sociedade.

Paulo era o contrário, mas conseguia, por meio de suas mentiras, se passar por inocente.

Por conta disso, João, apesar de mentiroso, não fez o mal suficiente para ir ao inferno. Já Paulo...

PS: Quando se cruzam na rua e mentem na resposta, é uma pista. Aliás, o texto todo tem pistas que podem ser percebidas, se analisadas com cuidado.

Obrigado a todos que comentaram. Abraços.

[Lady Draconnasti]

Huuuuuuuuuum... Vou ler de novo com mais atenção então

[Elara]

Laharra,

É uma crônica bem clichê, devo admitir. Agora que você já mostrou qual era sua idéia, o que eu falar aqui vai ser "chover no molhado", mas penso que é uma história para se pensar no que fazemos e realizar uma auto-análise para ver se somos o Paulo, o João, estereótipos bem comuns, ou se estamos tentando fazer algo diferente. Quero dizer, João e Paulo mentem pelo mesmo motivo: eles querem ser aceitos pela sociedade. Um por ser "o cara", o outro por querer ser politicamente correto.

Mas e nós? Mentimos? Até onde podemos ir para nos adequar a nosso círculo social? Espero não ter viajado demais.

Chero!

[Corvo da Tempestade]

Adorei o texto, realmente muito bom.

Bem há várias interpretações, deste até que "bonzinhos só se f*dem" até a que o único pecado e o arrependimento, claro, passando pela "hipocrisia" do João.

[laharra]

Elara, crônicas não são o meu forte, tenho que confessar. Foi mais um "trivia" cheio de pistas do que um texto bem pensado. Era pra saber se a galera captava minha idéia e o que mais poderiam imaginar. Se faz refletir é um bônus, com certeza Seus questionamentos são muito válidos. Acredito que todos nós temos um pouco de João ou Paulo (ou os dois) em nós mesmos.

Bjo.

Corvo, fico feliz que tenha gostado. Fique à vontade para voltar a comentar em outros textos meus. Abraços.