Memórias e lamentos

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Memórias e lamentos

Mensagempor ent em 14 Out 2007, 23:21

Algo que me ocorreu, estava fuçando algumas lembranças velhas desta minha cabeça... acho que todo homem já enfrentou momento assim. Bom, espero que apreciem!

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Memórias e Lamentos


O garoto chega a casa, resmungando. Mora com os avós. Durante o almoço com o avô, está cabisbaixo.

- Porra, vô! Não é justo. Faz um ano e meio que eu paquero aquela menina. E agora que eu criei coragem para falar com ela, a moça arranjou um namorado, faz uma semana. Isso é muita injustiça.

- Você deveria ter ido falar antes com ela. Demorou demais. Deixe-me contar uma história.

“Há muitos anos, eu flertei com uma garota. Flertes que duraram anos, aos quais ela sempre correspondia. Houve um tempo em que ela inclusive tinha namorado, mas continuava flertando comigo, rapaz.

E as coisas assim ficaram por um bom tempo, naquela época eu era muito tímido. Mas por fim, um dia, na biblioteca da cidade, eu criei a coragem de ir até lá, falar com ela. E conversamos brevemente, nem me lembro mais o que nós falamos, de tão nervoso que fiquei, na ocasião.

Ela sempre estava acompanhada das duas amigas dela, de forma que alguém tímido como eu teria ainda mais dificuldade em se aproximar.

Bom, em outra ocasião, encontrei-a novamente, na biblioteca. Como ela estava com as duas amigas, em uma mesa de estudo, sentei-me em uma das poltronas que ficam nos arredores do elevador e da escadaria. Se ela fosse embora, e alguma hora ela teria de ir embora, ela certamente passaria por ali.

Ainda me lembro, a espera foi interminável, a ansiedade imensa, vários planos mirabolantes do que falar. Mas enfim, quando ela se aproximou do elevador, as amigas junto dela, escutei-as dizer a ela para vir falar comigo. Senti então que não era apenas eu a estar totalmente tímido do que poderia vir a acontecer. Deixando desenrolar tudo que eu havia planejado na poltrona, momentos antes, me levantei, e fui até lá. Olhando fixo para a suave tez da rubra face da jovem, senti-me no domínio da situação. E então, olhando para dois lindos universos castanhos que me observavam atentamente, ...”

- Vô, por favor... seus floreios estão me tirando o apetite!

- Desculpe, vou ser mais específico de agora em diante.

“Então, olhando nos olhos dela, disse-lhe que viesse caminhar comigo por uns instantes, daríamos a volta pelo terceiro andar da biblioteca, apenas, e depois ela poderia ir. Olhei às suas amigas, e disse-lhes que poderiam descer, que não levaria mais do que três minutos o passeio que eu tinha em mente. As amigas dela sorriram. Ela ruborizou.

As amigas adentraram no elevador, e, ficando apenas eu e ela, apontei para o corredor da esquerda da biblioteca, fazendo-lhe uma cortesia para que caminhasse comigo. Começamos a andar, e meu coração acelerou. Respirei fundo. E disse-lhe:

- Como você é linda... você é muito linda. Mas jamais imaginei que fosses tão linda, a menos de um metro de distância... sua beleza é indescritível.

Vi que ela sorriu, e aproveitando que eu havia quebrado o gelo inicial, falei-lhe:

- O homem, por natureza, passa a vida toda à procura de uma mulher que lhe tire o fôlego, por mais longa que seja a procura. Até hoje, não me lembro de uma única vez que, ao flertar com ti, meu coração não acelerasse. Agora mesmo, estou sentindo minhas têmporas pulsarem em um compasso acelerado. Da última e única vez que falamo-nos, tive de interromper nossa conversa brevemente, pois sentia que o nervosismo foi tanto que estava para ter um ataque cardíaco. O que eu quero dizer é que, penso eu, minha procura chegou ao fim. Estou querendo começar algo mais sério, aqui.

Rodei meu dedo no ar, descrevendo pequenos círculos, entre eu e ela. Os olhos dela me olhavam intensamente. Ruborizou. Peguei-lhe a mão. E perguntei-lhe o nome. A voz dela saiu trêmula. Dei-lhe meu nome. E disse-lhe, enfim, se ela gostaria de jantar comigo, no final de semana que se aproximava. Ela assentiu. Enfim, solicitei o número de telefone dela, e nisso já nos encontrávamos novamente à porta do elevador, e ela deu-me o número.”

- Puxa, vovô! Que história sensacional! Foi assim que conheceu a vovó?

- Que vovó, mané! Na verdade, era assim que eu gostaria que tivesse sido. Este é o conto do primeiro amor da minha vida. No entanto, eu lhe digo, meu jovem. Eu fui incapaz de levantar daquela poltrona, no momento em que deveria ter levantado. E nunca mais tive a dádiva de encontrá-la. Irônico contar isso para você, já que a vovó veio logo em seguida...
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Mensagempor Dahak em 15 Out 2007, 08:49

LOL!
:rolando:
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Riqueza. Muita riqueza em cada minúcia deixada em um conto aparentemente simples.

A começar por ser uma comédia, no meu entender, a veia mais difícil de se acertar (e que mesmo quando se acerta ainda é preciso torcer pra conseguir o sangue...). E mais, uma comédia com um fundo propositado, com uma história embutida.

Muito bacana ver o tom espontâneo do diálogo entre avô e neto. Tem-se o diálogo despojado e informal deles quando nas breves frases trocadas por um lado, em contraste com o devaneio das memórias daquele senhor, onde se vê o emprego de uma outra forma de diálogo, totalmente distinta, cheia de floreios, como quem intenta dar brilho a um feito. Bom jogo de palavras, do despojo ao polido, do tátil ao etéreo.

Há muitos anos, eu flertei com uma garota. Flertes que duraram anos, aos quais ela sempre correspondia. Houve um tempo em que ela inclusive tinha namorado, mas continuava flertando comigo, rapaz.

Adoro essas pessoas que crêem que "o que os olhos não enxergam o coração não sente" :P

E a vovó?
Bom, deixe-a saber dessa(s) :cool:

Abração, amigo.

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Mensagempor ent em 15 Out 2007, 11:27

Acho que toda comédia deve conter uma história... ou será que toda história deve conter um pouco de comédia? ^^

Quanto a misturar dois ambientes, fazer um jogo lá e cá, gosto deste tipo de descrição. Me sinto bem a vontade ao escrever dessa forma.

Mas crer que o que os olhos não vêem, o coração não sente é lindo! É o mais puro alicerce da personalidade humana... o lado egoísta... ^^ hauhauahauhauahuahauahauha

Melhor se a vovó continuar não sabendo dessas... :ops:

Abração, Luis!
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Mensagempor Lobo_Branco em 15 Out 2007, 11:41

Hilário, fascinante, verdadeiro!!!!

Como disse quase td mundo já passou por isso, quem ñ passou, um dia irá passar.

Discurso meio "passado" do coroa, einh? rs

Pobre vovó, ficou como segunda opção, a se ela sabe disso..hahaha

Meus parabéns ent.

Abraços!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


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Mensagempor Lady Draconnasti em 15 Out 2007, 13:52

Pelo menos ela não ficou como última opção XD
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Mensagempor Dahak em 15 Out 2007, 15:21

HAUoiaHoihAUOIaHuoihauoiahUoi

É Wagner, quem é rei nunca perde a majestade!

AbraçoooO!


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Mensagempor Ermel em 15 Out 2007, 19:43

Eu imaginando que era tambem a historia da vida da vó e vô. Fiquei frustrado com o final, mas porque esperei ansioso de mais pelo desfecho belo e romantico da vida deles. E graças a isso, o desfecho foi sensacional, e claro, uma bela sacada.

E vou concordar com a Lady, ainda bem que não foi a ultima =P.

Parabens ent^^.
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Mensagempor ent em 15 Out 2007, 20:17

Lobo, já peguei o jeito nos discursos do tipo "na minha época..."
É isso que dá ser o primo mais velho de uma família... huahauhauahuahauha
Quanto à vida real, na verdade, a vovó acabou por ser perfeitamente adequada ao meu jeito de ser... interessante como ela me entende, e vice-versa...

Em verdade, quando eu estava lá, naquele sofá, não fiquei pensando no que eu diria à mocinha da história... mas sim, se queria falar com ela, ou com a "vovó"... E acabou que eu optei por não falar com a mocinha, e convidei a vovó para ir ao teatro, na mesma noite... Mas isso é assunto para outro conto, talvez um dia, uma continuação desse... huahauahuahuahuaha

Luis, Luis... Eu, rei? Hhuahauhauahuahuhaa... rei é o nosso querido Dahaketada... hauhauahuahuahauhuha
Eu sou um mero ser arbóreo de idade venerável...

Ermel, desculpe se o final não era exatamente o esperado... mas acho que essa é minha sina, não consigo escrever sem tramar uma reviravolta mirabolante... ^^
Como eu disse, a história é fictícia, até porque a história real é bem bonitinha, também... mas estava absorto na imaginação, quando escrevi, e acabei por fantasiar, mais do que dissertar.


Erm...
Caso a vovó venha a ler isso um dia... trata-se mesmo de uma versão fantasiosa da história, você sabe que eu te amo! :pidao:
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Mensagempor Lady Draconnasti em 15 Out 2007, 21:39

Ent, que mal te pergunte... Quantas eras você tem?
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Mensagempor Dahak em 15 Out 2007, 23:12

Nota mental: manter a "avó" longe da Spell, KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Bah, você sabe do que falo. Quem seríamos sem o primeiro moderador do Contos & Opiniões?
:P

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Mensagempor Lady Draconnasti em 15 Out 2007, 23:47

Acho que isso não é do meu tempo XD
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Mensagempor ent em 16 Out 2007, 18:50

Hohohoh... that's way back in time...

Acho que ainda me lembro de toda a emoção que foi receber o convite do Allef, na época em que ele era o moderador praticamente único do fórum. Se a memória me é correta, a Lola começou exatamente junto comigo, naqueles dias...

Bons tempos...

Quanto às eras, mentalmente sou milenar... huahauahuahauahauhauh
Brincadeira, Nasti. Na real, nem sou tão velho assim, estou um pouco acima de duas décadas... ^^
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Mensagempor Ermel em 16 Out 2007, 18:57

Mas este é o tcham do conto, a reviravolta mirabolante :P
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Mensagempor Lady Draconnasti em 16 Out 2007, 20:34

Deve ter sido no período em que eu nem pensava em começar a escrever como passatempo
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Mensagempor Dahak em 16 Out 2007, 22:46

HUAIaUIaHiouiahuiAHOHAUOIAHOho
Vejamos, meu primeiro cadastro na Spell data de 2001 ou 2002?
Long, long time...

Ainda me lembro das suas ações permeando as sombras.

E olha, por esse conto, por tudo que te conheço, essas duas décadas são só físicas, porque de fato a mente é transcendental.
Aliás, será que veremos uns retalhos antigos de volta?
XD

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