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Mensagempor Emil em 23 Out 2010, 00:23

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A melhor comida que tem eu acho é o miojo. Imagine ele assim, nem mole nem muito duro, bem quentinho e molhadinho, você chupando uns dois três quatro cinco fios de uma vez pra dentro da boca, umedecendo os lábios, voando gotinhas do caldinho salgadinho que pode ser frango, carne, legumes, ouvi dizer que hoje já tem até outros diversos sabores, feijão, pizza, bacon, quatro queijos, os mais cremosos feitos que o homem já produziu, onde já se viu, pegar picanha e transformar num pozinho de pintar macarrão? As cores dão encanto, são assim o tempero dos olhos, a gente já começa a comer com a visão, pudesse engolia o arco-íris, não podendo, coisa mais perta que eu já vi foram as carpas, com suas escamas pratas, douradas, todas bem brilhosas, refletindo o brilho do sol na superfície d’água e a glória da cidade, ou ao menos disseram foi isso que o prefeito disse, homem bom esse prefeito, acho que não é o de agora, mas podia ser também, não sei, faz muito tempo não acompanho essas coisas, mas homem bom esse prefeito, a prefeitura da cidade já tem tempo tava caidinha, as fontes em volta do prédio tudo parada, ninguém mais não queria andar em volta do paço não, até que o homem bom teve a ideia de revitalizar a área, mandou limpar, pôr água limpa nas fontes, transformar em aquário, botar pra morar umas carpas, diz que peixe assim de tanque não é bom de pescar que são muito bobos, quase não precisa nem de isca, peixe assim de tanque não é bom de comer porque dão muito pão a carne não pega a maciez necessária, bobo é quem diz essas coisas, absurdo é gostar de comida que sabe as artes de fugir, gostar de comida que nem tem carne pra ser comida, ainda bem que as bichinhas eram parrudas, eu peguei foi mesmo com a mão e elas pareciam feitas de liso, inda bem não sabiam fugir mais que essa lisura, fossem menores ia ter que inventar uma isca, quase não vale a pena gastar um prato com outro, depois o tempo de inventar e outro mais rápido já tinha pego na mão mesmo, não tinha só uma carpa e ninguém comeu mais de uma, não fui só eu pescar, ainda fui bobo fiquei com pena dividi a minha, mas nessa vida a gente divide o que der, divide cobertor, divide toldo quando chove, divide até caçamba, ninguém é dono de nenhuma, qualquer um fica com o que achar, sendo colorido como as carpas, sendo amarronzado como é o comum mesmo, na caçamba as coisas se misturam igual quando a gente é criança e ganha guache, mistura e descobre o verde, mistura e descobre o roxo, mistura e descobre o marrom e depois do marrom descobre que quando chega no marrom não tem jeito, daí pra frente só tem marrom, pois é o mesmo com o que tá na caçamba, no saco, não tem jeito, vai o marrom mesmo, se der come perto do restaurante pra comer com a boca uma coisa e com o nariz outra, com nariz cada dia uma coisa diferente, com a boca às vezes sim às vezes não, pena eles do restaurante não podem dar a sobra pra gente, que sobra sim bastante, mas o dono diz que não pode senão acostuma e tem gente pedindo todo dia, mas tudo bem, a gente espera a bondade dalgum funcionário desavisado ou espera às vezes a noite o caminhão esquecer um saco mais preto no escuro e come do preto mesmo, no escuro a cor desfaz, tanto faz se laranja de carpa ou marrom de tudo, fosse miojo não esperava nada, miojo três minutos e tá pronto.
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Mensagempor Léderon em 23 Out 2010, 22:54

Emil, pela primeira vez na minha vida eu CANSEI lendo um texto. XD

Putaquepariu. Não dá pra acompanhar a linha de pensamento!
Não sei se é porque eu passei o dia escrevendo coisas objetivas e organizadas e talvez não esteja conseguindo abstrair muito agora. Mas me deu a impressão de ser algo pessoal, interno; não alguém falando pra alguém, mas alguém pensando com seus botões em mil coisas diferentes. Se a gente for parar pra falar o que pensa, deve sair uma zona desse jeito, mesmo.

Mas lerei de novo outra hora. :hum:
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Mensagempor Emil em 24 Out 2010, 10:48

Valeu, Led! Eu identifiquei um problema do ritmo dele mesmo, tem um lugar ali que ainda não está bom. Você se lembra onde cansou?
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Mensagempor Lumine Miyavi em 24 Out 2010, 12:31

Esse texto, formulado na forma de uma corrente de pensamentos não é uma leitura fácil. Parei umas duas, três vezes para termina-lo, mas é satisfatório.

Demonstra de forma concisa, mas confusa a associação de pensamentos que permeiam a consciência do narrador, ligando assuntos completamente diferentes (ou não?) num único bloco de texto.

Eu gostei, leria mais... mas sim, é bem cansativo.
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Mensagempor kira_shaolin em 26 Out 2010, 10:07

Nossa,estou bobo!

A linha de pensamento contínua prende o leitor muito! Você é bom, hein?

Aprendi uma lição nova hoje. :haha:
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Mensagempor Agnelo em 26 Out 2010, 10:21

Me senti lendo Saramago :b

Ótimo texto, parabéns.
Eu amo você. Você é meu único filho e tenho orgulho de você. Você trouxe à sua mãe e a mim mais alegria do que eu achei que houvesse. Seja bom pra ela e cuide bem dela.

Seja um dos mocinhos. Você tem que ser como John Wayne: Não aguente merda de nenhum idiota e julgue as pessoas pelo que elas são, não pela aparência.

E faça a coisa certa. Você tem que ser um dos mocinhos: Porque já existem Bandidos demais.
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Mensagempor Elara em 11 Nov 2010, 23:07

Não sei se porque já estou acostumada com seus textos, Emil, mas achei até uma leitura fácil, tranquila.

No meio, quando o garoto começa a abstrair sobre as carpas, umas vírgulas ajudariam a restaurar o ritmo que ficou um pouco quebrado.

No mais, me pareceu que eram as abstrações de um garoto de rua. Quando vc se aproxima e conversa com um, normalmente vem esse tipo de papo mesmo. Eles começam a falar e, como o mundo deles é diferente do nosso, faz essa aparente confusão.

Gostei. Dia desses vou te puxar no msn. Deu saudades de conversar.

Chero!
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Mensagempor Lanzi em 01 Dez 2010, 18:35

Eu acho tão difícil escrever uma narrativa que siga um fluxo de pensamentos tanto quanto lê-la. Talvez que escrever seja mais difícil, já que exige um método específico e, espero, muito mais do que simplesmente sentar e escrever tudo o que vem na cabeça. Ou talvez estou errado?

Enfim, acho que você domina muito bem essa técnica. Não é o seu primeiro texto no estilo, é? O que me incomodou é que talvez os ganchos estejam um pouco absurdos demais, e que o fio condutor do texto, que não dá pra ser apreendido numa primeira leitura, esteja vago, pouco coeso. É proposital? De qualquer forma, é um texto que espera uma certa maturidade e capacidades de abstração muito maiores do leitor. Não é pro tipo de leitor preguiçoso até porque a leitura, apesar de rápida como um fluxo de pensamentos deve ser, exige muita atenção.

O que te pergunto é se havia alguma intenção sua ao escrever esse texto. Gostaria saber de quais eram. E gostaria de saber quem é louco o suficiente pra ter miojo como comida preferida.
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Re: Menu

Mensagempor Emil em 01 Dez 2010, 18:59

Obrigado a todos que comentaram, meu tempo anda meio maluco, desculpem se eu não respondo de acordo com o tempo empregado por vocês.

Kira, Locke e Elara, obrigado pelos elogios. Phil, obrigado por notar esse cansaço que ele causa.

Lanzi escreveu:Eu acho tão difícil escrever uma narrativa que siga um fluxo de pensamentos tanto quanto lê-la. Talvez que escrever seja mais difícil, já que exige um método específico e, espero, muito mais do que simplesmente sentar e escrever tudo o que vem na cabeça. Ou talvez estou errado?

Enfim, acho que você domina muito bem essa técnica. Não é o seu primeiro texto no estilo, é?


Não, você está certo, e acho que foi isso que eu demorei pra entender: parecer que foi escrito tudo que vinha à cabeça não é a mesma coisa que escrever tudo que vem à cabeça como se fosse um fluxo. Dei muita porrada antes de perceber isso. Acho que esse é o meu primeiro texto nesse estilo que eu gosto.

O que me incomodou é que talvez os ganchos estejam um pouco absurdos demais, e que o fio condutor do texto, que não dá pra ser apreendido numa primeira leitura, esteja vago, pouco coeso. É proposital?


Não, isso é um defeito dele mesmo. Preciso aprender a deixar os ganchos sutis sem serem vagos. Acho que ele realmente tem um problema de coesão, e é inclusive por isso que eu não consigo resolver o ritmo dele.


O que te pergunto é se havia alguma intenção sua ao escrever esse texto. Gostaria saber de quais eram. E gostaria de saber quem é louco o suficiente pra ter miojo como comida preferida.


Faz tempo que eu quero escrever umas coisas, e depois de ler uns caras aí (sugestões: Raduan Nassar, Marcelino Freire e João Melo), eu achei que fluxo de consciência era a melhor forma a ser usada. Comecei com esse pra praticar, tem uns assuntos mais espinhosos que eu quero tratar da mesma maneira. Pra este texto, eu tentei lembrar de algumas conversas que eu tive, umas reportagens que eu tinha visto há um tempão, e umas coisas que aconteceram aqui na minha cidade. Aí misturei tudo como se fosse com a mesma pessoa.

E isso do miojo foi uma reportagem que eu vi. A Regina Casé, entrevistando um pessoa que tinha passado por situação de rua (dormindo em albergue, às vezes nem isso), perguntou qual era a comida preferida dela. A pessoa respondeu miojo. Se tivesse dinheiro, enchia o armário de miojo, de todos os sabores.
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