Mini-Conto: Uma Aventura na Noite (GURPS)

Mostre seus textos, troque idéias e opiniões sobre contos.

Moderadores: Léderon, Moderadores

Mini-Conto: Uma Aventura na Noite (GURPS)

Mensagempor Akroth em 19 Ago 2010, 21:36

Mini-Conto: Uma Aventura na Noite (GURPS)

Adaptado de " Uma noite de Trabalho", Aventura Solo Introdutória escrita por Creede e Sharleen Lambard. Este conto foi baseado na aventura pessoal que tive com o primeiro personagem em GURPS. O nome do ladrão no conto citado é Dai Blackthorn, como proposto nas fichas pré-escritas.




A noite está esplêndida para um ladrão; a lua brilha quase tão intensamente quanto o sol.

O ladrão desta história possui o costume de roubar os ricos
- " Não por uma questão de nobreza ", como costuma dizer, " é que os pobres não têm nada para se roubar! "
Esta noite, o ladrão está rondando uma parte da cidade particularmente rica; ele não possui o costume de frequentá-la, pois é bem vigiada. A grande chance surgiu esta noite, quando o vigia aproveitou-se da sorte de encontrar uma garrafa de uísque (preparada pelo sorrateiro ladrão) no escritório de sua cabine.


O ladrão examina as janelas das imponentes casas iluminadas pelo luar insólito; descobre uma que não está trancada. Enfia a lâmina de seu punhal no vão e levanta a aldrava.
É impossível encontrar uma pessoa entre as sombras, caso ela seja um ladrão, - ainda mais se for um bom, como o é o desta história - pois os bons ladrões recebem árduos treinamentos em guildas secretas, entre as árvores das florestas, muito além das planícies residuais que pertencem à cidade.

Ele descobre que está na cozinha; o silêncio imortal recobre a maioria dos aposentos. Observa uma panela de ferro com tampa descansando sobre as brasas, no fogão: principalmente o aroma tentador de alguma coisa vindo do interior da panela. Há uma vela em um castiçal enfeitado, sobre uma mesa próxima ao fogão; o ladrão acende-a com as brasas. Observou com o cuidado de um ladrão sagaz o preço que aquele castiçal, ornado com prata e certamente feito por um habilidoso artesão, valeria no mercado negro.

Após examinar o castiçal, posicionou-os cuidadosamente em sua sacola; prosseguiu sorrateiramente e sem afobação para o próximo cômodo. Este novo lugar da casa é um pequeno vestíbulo que dá passagem para várias partes da casa. De frente para a escada e no sentido horário, havia: escadas que sobem e dobram à esquerda, um grande salão e uma despensa.

O ladrão confabula com determinação; qualquer caminho pode levar ao infortúnio, como também à riqueza espontâena. Decide subir a escada; por ser de alta qualidade, não há sequer um rangido. Depara-se apenas com uma porta; é o único meio de prosseguir. Primeiramente, projeta seu ouvido à porta, ouvindo apenas um ronco. Desliza com destreza a maçaneta da porta, entrando no quarto do propretário da casa. Há uma única pessoa aqui: um homem atarracado de barbas brancas, usando um espalhafatoso pijama de seda. Ele ronca alto. O quarto é enfeitado com várias estatuetas e objetos de arte. Há uma sineta pendente do forro ao lado da cama.

O ladrão aproxima-se da cama, e procura algum esconderijo para jóias ou objetos de alto valor. Por sorte do destino, o proprietário não acordou ao som produzido por um descuido; o ladrão esquece de trancar a porta e, esta, levada por uma rajada de vento que soprava da janela aberta, fechou-se. Não podia vacilar mais; qualquer outro ruído e tudo estaria perdido. Com sua visão insólita, dá-se conta de um cofre em baixo da cama do proprietário da casa. De cócoras, aproxima-se da caixa em formato de cofre. Parecia pesada; decidiu levá-la consigo. Sem hesitar, distanciou-se da cama, fechando a porta. Ante o lance de escadas, a saída parecia-lhe derradeira e fácil: estava à metros da janela, sua oportunidade de fuga para uma nova esquina, onde dobraria várias vezes para despistar ocasionais guardas, até chegar ao seu bairro. O vento da janela podia refrescar o suor que descia pelo seu rosto; estava à alguns passos da liberdade.

É nesta hora que o ladrão percebe a luminosidade fraca oriunda de um cômodo. Descendo metade do lance de escadas, observa que alguém está na cozinha. Sem poder tomar qualquer atitude, uma senhora pálida cruza o arco entre a cozinha e a sala de estar, resmungando algumas palavras:
- Fatso! Não acredito que você teve o descuido de deixar o guisado no fogo por tanto tempo. Parece que teremos que prepará-lo novamente, caso queira comê-lo com a sopa de.. - a senhora pára por um pouco. Aproxima-se do lance de escadas, encarando perplexo um instruoso que carregava um saco e empunhava um pequeno punhal. Viu sua vida escorrer como uma gota singular em uma garrafa vazia, tão líquida e densa, esperando para esvair-se e abraçar a morte de olhos fechados com a certeza de que estaria no céu após um piscar de olhos.

O ladrão não pretendia ferir ninguém. Tenta fazer uma voz amena, fraca, como se estivesse flutuando pelo espaço sem oxigênio:
- Acalme-se. Eu só quero levar o que era de seu marido.. As coisas mudam, a tapeçaria e a mobília precisam ser reformadas, e o dono desses objetos deverá ser trocado: você deveria me agradecer! Acabei de promover uma boa mudança por aqui - à medida que discursava estas frases irônicas e tortuosas, a mulher contorcia-se em agonia irremediável. O Ladrão, esperto, afastava-se do lance de escadas, desviava-se da vítima indefesa que chorava agonizante e ao mesmo tempo procurava uma saída.

Uma brisa leve soprou à direita.

Liberdade.

Sem pensar em outra coisa, abriu a janela pela qual entrou e desceu para a rua. Estava frio na cidade.
Esgueirou-se pelas esquinas monocromáticas da cidade, escuras como o abismo. E, entre aquele mundo tão pequeno, ninguém notaria a sua presença..

Dois dias depois do ocorrido, a mobília da casa dos Fatso havia sido trocada, e a promessa do ladrão havia sido cumprida. Fora mais um dia de trabalho; ofício ligeiro que em um futuro melancólico há de corroer o vigor dos ossos e manchar a moral da mente; é o punhal que, ante a noite, sái pelas ruas, ameaçando indefesos; trabalho de ladino, que depois de algum tempo há de ser enforcado ou banido para o inferno.
Avatar do usuário
Akroth
 
Mensagens: 42
Registrado em: 31 Jan 2009, 19:06
Localização: Corridor of Time

Voltar para Contos

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 1 visitante

cron