Pintava um quadro ao lembrar-se da infância, em uma noite de céu limpo e sem lua, de quando seu pai o levou para o lado de fora e falou para ele sobre as estrelas.
- Olha filhão! Que céu bonito e estrelado está hoje!
Olhando para cima, Fernando contou em silêncio: três estrelas.
- Aquela mais brilhante é Vênus, um planeta – falou o pai ao apontar para uma das três.
Ficou parado, olhando para aquele brilho que estivera lá desde sempre, um tanto entediado.
- Vê aquelas quatro? Formam o Cruzeiro do sul. Se um dia você se perder, basta encontrá-lo que você consegue se guiar. Era utilizado pelos grandes navegadores, e aponta sempre para o Sul – disse o pai animado, com o seu sorriso amarelo.
Fernando adorava as informações que o pai compartilhava com ele, mas às vezes não entendia o porquê do pai apontar para espaços escuros do céu falando sobre coisas que não existiam.
- Essas estrelas existem a milhares de anos, e estão anos-luz daqui! – falou o pai, esperando pela surpresa do filho (que não veio).
-Sabia que é possível que algumas delas já estejam mortas, mas continuam a brilhar pela distancia que se encontram? – falou mais sério, olhando para a cara do filho um pouco sem graça.
Essas foram as palavras que o levaram a pintar o quadro, que possuía grande semelhança aos velhos quadros de Monet. O único momento em que Fernando colocou os óculos durante a pintura foi para pintar as estrelas, nítidas e precisas em comparação ao resto do quadro. Porém, havia um erro nas constelações: a estrela Acrux – também conhecida como Estrela de Magalhães e pertencente à ponta sul do Cruzeiro do Sul - brilhava mais que a própria Vênus. À ela ele chamava de pai.