Estrada

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Estrada

Mensagempor Bahamute em 18 Jul 2010, 23:25

Comecei a escrever esse conto hoje, pois fazia tempo que eu não postava nada, e também queria experimentar um tema longe da fantasia que eu sempre escrevo. Ele é dividido em 10 partes, e, hoje, eu posto as três primeiras. Espero que gostem.




Estrada


Parte 1


Num ônibus com destino ao Espírito Santo, mais de 20 pessoas se aglomeravam. Cada uma com seus pensamentos, cada uma com seus sonhos, cada uma com sua vida.
Todos ali eram únicos, todos estavam esperançosos com o fim da viagem, pra poderem desembarcar e esticar suas pernas.

A viajem em si era menos turbulenta do que o normal. O motorista guiava bem, Arnoldo era um velho de guerra e já trabalhava com isso há mais de 20 anos. Podia dirigir até dormindo, se fosse o caso. Mas é claro que, um profissional como ele, nunca cometeria um erro tão primário.

A estrada, bem pavimentada, não apresentava grandes desafios para Arnoldo. E ele mantinha bem a velocidade. Parecia até que, dessa forma, chegariam ao destino antes do previsto.

Na primeira poltrona, estavam dois indivíduos, Clara e João. Clara era uma senhora de 60 anos de idade, com grandes óculos no rosto, o cabelo preso num coque e um vestido todo florido. Ela estava indo visitar sua filha e, enfim, conhecer sua netinha. João era um caminhoneiro, barbudo e barrigudo. Ele não conhecia Clara e achava incomodo o ronco da senhora, que vinha perturbando-o desde que eles deixaram São Paulo. Para João era difícil dormir em estradas, sua profissão o forjou pra isso, e ele não pregou os olhos nem por um minuto.

Nas poltronas ao lado, estavam Paulo e Amanda. Um casal de namorados. Paulo estava fazendo faculdade de Engenharia Eletrônica, e se formaria ainda esse ano. Seu pai já havia lhe prometido um ótimo cargo em sua empresa. Amanda, uma jovem de 20 anos, acabara de entrar na faculdade de moda. Ela queria criar uma grife de roupas que emplacasse como as maiores marcas da atualidade.

E nem vale muito a pena falar dos demais passageiros do ônibus, porquê, quando um caminhão entrou na contramão da estrada, devido ao motorista estar dormindo, foram apenas esses cinco que sobreviveram a terrível tragédia. Inúmeros sonhos e objetivos foram interrompidos naquela noite. O algoz de tudo aquilo, também não pôde ficar pra ser julgado, pois a vida dele também se perdeu naquela noite.

A história era triste, entre os pedaços de ferro contorcido, manchas de sangue e bagagens se aglomeravam, deixando aquela triste sinfonia de gemidos no ar. Alguns ainda perseveraram por algum tempo, mas, devido a inexistência do resgate, aquelas pobres almas não puderam ser socorridas.

Arnoldo, que ainda tentava entender tudo aquilo, foi o primeiro a conseguir deixar o veiculo destruído. Fora, com certeza, a mão divina que lhe salvara. Talvez sua experiência nesses anos de estrada seja tamanha, que, quando ele desviou do caminhão, o mesmo atingiu toda a lateral do ônibus, e isso foi crucial para lhe salvar a vida.
Quando ele sentou do lado de fora, por cima de uma pedra na beira da estrada, ele viu João carregando Clara nos braços, pra fora do ônibus. Algumas horas depois, Paulo e Amanda também saíram. Apesar de algumas escoriações, os cinco, estavam assustadoramente bem.


Parte 2


João acendeu um cigarro. Ele estava com um pequeno ferimento na testa. Já era de manhã, e, ninguém veio resgatá-los. O Celular de Paulo estava sem sinal. Amanda não conseguiu encontrar o dela na bagagem, e o rádio do ônibus havia sido destruído. Eles estavam perdidos naquela estrada. Inúmeros quilômetros o separavam, tanto do destino, quanto do destinatário.

Andar foi a solução mais plausível que eles encontraram.

Caminharam por várias horas. Apesar do peso na consciência por deixar todas aquelas pessoas para trás, eles sabiam que, se não saíssem dali, nunca conseguiriam ajuda. O mais estranho de tudo, era o fato da estrada estar estranhamente deserta.

Depois do acidente, Arnoldo fitou o horizonte, a fim de encontrar algum carro, ou algum transeunte, pra lhes prestar ajuda. Mas, as cinco horas que eles esperaram, mostraram não ser suficiente pra alguém vir resgatá-los.

João estava estressado. Pensava ele, um puto de um motorista – pior ainda, um colega de profissão – estava naquela estrada pra ferrar a vida deles, mas, para ajudá-los ou resgatá-los, não havia ninguém. Amanda já reclamava de cansaço, e várias vezes levava a mão na barriga durante o caminho. Paulo estava preocupado. Ele havia prometido ligar para seu pai ainda naquela noite, quando chegassem no Espírito Santo, e isso, com certeza já devia estar alarmando seu pai.

Clara era a mais calada. Ela parecia estar em choque, e, mesmo tendo a idade mais avançada dali, ela não reclamou nenhuma vez de cansaço. Aliás, ela não havia reclamado de nada até agora. As poucas vezes que sua boca soltou algumas coisas, foram para orar, e para perguntar se todos estavam bem.

Arnoldo seguia a frente de todos. Sua camisa social estava com os primeiros botões abertos, e, na altura do ombro esquerdo, havia uma mancha de sangue. Ele ainda tentou algumas vezes usar seu celular depois que eles começaram a caminhar, mas, a falta de sinal o deixou tão revoltado, que ele atirou o aparelho longe.

Amanda prendeu os cabelos, e nessa hora, algo lhe chamou a atenção. Um som de carro. Clara sorriu pela primeira vez desde que o dia começou. João jogou fora seu cigarro, Eduardo, que estava tentando usar seu celular, desligou o aparelho, e Arnoldo caminhou para perto da estrada, ficando próximo do meio fio do acostamento.

Um gol azul vinha vindo. Os cinco levantaram as mãos e começaram a acenar pro veículo. Era o primeiro, após 9 horas do acidente. Mas, o carro passou, ignorando totalmente eles. João soltou inúmeros palavrões. Aquele carro veio da direção do acidente. Ele com certeza sabia o que tinha acontecido, e qualquer imbecil poderia deduzir que eles, por estarem, de certa forma, maltrapilhos, estavam naquele ônibus.

Mas, mesmo assim, o puto não parou.

Retomar a caminhada, mesmo com os corpos doloridos e cansados, foi o mais sensato a se fazer.


Parte 3


Após 12 horas do acidente, eles estavam caminhando, com paradas esporádicas, por 7 horas. E em todo esse tempo, excetuando pelo gol azul, ninguém passou por aquela estrada. Isso era mais do que estranho. Arnoldo sabia que aquela rota, devido às ótimas condições da estrada, era muito utilizada e apreciada, principalmente por caminhões e ônibus.
Mas não adiantava nada ficar pensando nisso.

Amanda pediu pra parar, Clara estava visivelmente ofegante e João já havia fumado todo seu maço de cigarros. Paulo exauriu toda a bateria de seu celular, tentando conseguir sinal. Algumas vezes o telefone até chamou, mas foi interrompido logo em seguida.

Já era demasiado tarde demais para eles pensarem em voltar. Sentados na beira da estrada, Arnoldo disse que eles vacilaram por não pegar, ao menos água, pra levarem com eles. Era quase meio dia. O sol estava bem forte, e, foi João que viu, dentro da mata as margens da estrada, uma cabana de madeira.

- Finalmente – disse João – vamos conseguir alguma ajuda!
- Eu não posso acreditar, esses sapatos já causaram bolhas demais em meus pés – completou Arnoldo –
- Espero, sinceramente, que haja algum telefone com eles – desejou Paulo -
- Não seja tolo, amor. Se você estava sem sinal, os moradores também devem estar – disse Amanda –
- Graças a Deus... – Agradeceu Clara –

Os cinco caminharam em direção a cabana. Era uma casinha modesta, com uma pequena varanda, numa pequena clareira, dentro de uma grande mata. O gramado em volta da casa estava mal cuidado, e comprido, o que fez Paulo engolir em seco, pensando que o lugar estava abandonado.

A casa era visivelmente uma cabana de único cômodo. Tinha até um banheiro externo, mais longe da casa, e Arnoldo bateu na porta. Ninguém atendeu, então ele pôs a mão na maçaneta e abriu. Não havia ninguém lá dentro. Havia sim, uma mesa, com algumas maçãs podres, uma cadeira derrubada e uma cama, com um colchão de palha. O nível de poeira mostrava que ninguém visitava o lugar a anos.

- Demos azar – disse Arnoldo –
- Ah não... – Amanda começou a chorar –
- Fica calma, amor, nós já devemos estar perto de, pelo menos, um posto de gasolina... – Paulo tentava consolar a namorada –
- Vamos descansar aqui um pouquinho, por favor? – Pediu Clara –
- Não vejo porque não – concluiu Arnoldo –

Todos entraram na cabana, que era até bem iluminada, e, Amanda e Paulo sentaram-se na cama, ao passo que Clara ficou cadeira e Arnoldo encostou na parede.

- Ei, cadê o barbudo? – Perguntou Arnoldo, referindo-se a João –
- Nossa! Ele estava conosco até agora! Eu nem vi ele sumir – Acrescentou Paulo –

Todos começaram a procurar por ele, saíram da casa e olharam a volta. Mas João não estava lá. O sol do meio dia era forte, e todos estavam muito cansados. A porta do banheiro se abriu. João saiu de lá de dentro e veio até a cabana.

- Que susto tomamos. – Disse Arnoldo –
- Eu só fui dar uma mijadinha... Pra que essas caras de espanto? –
- Oras. Você saiu furtivo como um gato, ninguém percebeu! – Disse Paulo –
- É que eu não queria dizer na frente das damas, que eu precisava do banheiro – Disse João com um sorriso no rosto –

Eles descansaram naquela casa por algumas horas. Amanda novamente ouviu barulho de carro, e, ela e Paulo correram pra fora da cabana. Mas era obvio que eles não iriam alcançar o veículo a tempo de chamá-lo. Voltaram os dois, frustrados. Arnoldo disse que era melhor eles tomarem a estrada, já era mais de uma hora, e ele queria chegar ao menos em um posto antes de escurecer.

Todos concordaram, e eles partiram, deixando a cabana para trás.


Parte 4

Em breve

Parte 5

Em breve

Parte 6

Em breve

Parte 7

Em breve

Parte 8

Em breve

Parte 9

Em breve

Parte 10

Em breve
Aquele abraço!
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