Contos de Final Fantasy! [Black Mage] (Atualizado 21/06)

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Contos de Final Fantasy! [Black Mage] (Atualizado 21/06)

Mensagempor Afavora em 31 Mai 2010, 21:03

Olá! Eu gosto de Final Fantasy, você gosta? :bwaha:

Há pouco tempo eu decidi escrever contos baseados no universo Final Fantasy, e para isso criei um blog: http://daguerreo-ff.blogspot.com
Pensei que também seria legal colocar essas histórias em algum fórum relacionado a RPGs, e aqui estou eu!
Espero que todos gostem, mas como isso não é bem possível, espero que comentem, apresentando sugestões e críticas (nada ofensivo, por favor :triste: ).

Enfim, para começar eu pensei em escrever algumas histórias que focassem em alguma classe das tantas que existem na série Final Fantasy; e qual classe mais característica do que os Black Mages?

Para quem não está familiarizado com a série:

Uma das classes mais famosas da franquia Final Fantasy, o Black Mage (Mago Negro) é um conjurador especializado em magias de ataque, Black Magic (Magia Negra). Eles são geralmente representados trajando mantos azuis ou pretos e um grande chapéu cônico de abas largas, que escurece suas faces, além de dois olhos amarelos reluzindo através da sombra.

Traduzido e adaptado de http://en.wikipedia.org/wiki/Final_Fantasy_character_classes

Imagens:
SPOILER: EXIBIR
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Black Mage da versão de NES de FF (o 1 :haha:)

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Vivi, personagem de FFIX (embora nesse jogo eles sejam considerados uma raça separada)

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Black Mages de FF Tactics


Bom, chega de enrolar :laugh: vamos à história em si.

Não sei se deveria chamar de conto, afinal é uma história não tão curta e dividida em capítulos, mas na falta de definição melhor, fica conto mesmo.

Leiam, comentem, façam o que bem entenderem. :aham:

I . Derin, o mago iniciante
SPOILER: EXIBIR
O som incessante que tomava as ruas de Vankrist ainda era estranho para Derin. De onde vinha não havia todo aquele barulho de carroças e carruagens, nem o odor atraente que pairava sobre o mercado. De fato, sua terra natal era extremamente pacata, aproximando-se da estagnação. Poucos mercadores passavam por aquelas terras frias, e as mercadorias que levavam eram escassas e caras, o que tornava-os uma opção apenas às famílias mais ricas. Os outros tinham que se contentar com o que podiam produzir, ou por vezes podiam se deliciar com as quinquilharias trazidas por parentes da cidade grande. Derin se recordava agora, após tanto tempo, do momento da partida. Não houve grandes despedidas, o pai o acompanhara até a estação, enquanto a mãe orava em seu quarto. Partira sem olhar para trás, disposto a alcançar seu sonho; e lá estava ele, realizando-o.

Só foi despertar daquelas longas reflexões quando Tarelius tocou seu ombro levemente.
- O que houve? - Perguntou Derin de sobressalto.
- Vamos logo, já acabei por aqui.

Os dois partiram imediatamente, Tarelius guiando o caminho. Era um homem mais velho, beirando os trinta anos, pelo menos dez dos quais como um Mago Negro. Tinha uma cara fechada de poucos amigos, e era mais corpulento do que a maioria dos magos da região. Corriam boatos de que ele havia sido um Guerreiro talentoso, e que de alguma forma desenvolvera o potencial para a magia; havia também os que acreditassem que se tratava de um Mago Vermelho, em uma busca incansável em aprimorar por completo sua magia negra. No entanto nenhum deles sabia a verdade, já que não havia iniciante corajoso o suficiente para fazer uma pergunta tão pessoal. Derin ficara surpreso ao saber que Tarelius seria seu mago instrutor, e ao mesmo tempo sentira uma grande felicidade. Tarelius era com certeza um dos melhores conjuradores de Vankrist, senão de todo o reino; quem melhor para se ter como professor? Contudo, a verdade não era tão simples. Desde que o período de treinamento iniciara Derin pôde treinar apenas duas vezes. Isso porque Tarelius era muito atarefado, e como ele mesmo justificava: “Não tenho criatividade suficiente para inventar tarefas inúteis para você se entreter durante o dia, então terei que levar você comigo em meus afazeres; veja se aprende algo realmente útil no processo”. Aquilo chocara Derin a princípio, mas com o tempo ele percebeu que realmente estava aprendendo muitas coisas diferentes. Claro, aquilo tinha seu preço: ele sabia apenas uma magia negra, e quase nenhum fundamento teórico intermediário; mas pelo menos ele ficava por dentro dos acontecimentos mais importantes, e tornava-se conhecido.

Novamente os devaneios de Derin foram interrompidos, mas dessa vez por um toque muito diferente. Uma mão rápida tocara suavemente sua cintura, levando algo no processo. O coração de Derin acelerou imediatamente, enquanto ele girava todo o corpo para trás. Havia muitas pessoas na rua, e ele não conseguia identificar o trombadinha. Um suor gélido correu por sua fronte, enquanto ele imaginava a reação de Tarelius quando soubesse que seu aprendiz havia sido roubado. Todos diriam: “Oh, parece que Tarelius não cuida de seu protegido...” ou então, “Que grande mestre é esse Tarelius, ein?!”.

Não! Derin não permitira que aquilo acontecesse. Tinha que pensar em algo, e rápido. Sorriu suavemente enquanto uma lembrança oportuna surgia em sua mente. Algo extremamente básico, que aprendera ainda na academia. Era uma técnica que os iniciantes usavam para aprender a canalizar seus primeiros feitiços, enquanto que os magos mais poderosos utilizavam uma variação para potencializar suas magias. Ele deixou os pensamentos fluírem, seus olhos fechados em meditação. Precisava atingir um estado de concentração máxima, e em pouco tempo; para isso tinha que liberar sua mente por completo, e focar seus pensamentos somente em seu objetivo.

“Agora! Focus!”. Abriu imediatamente seus olhos, e avistou o ladrão, quase que trinta metros à sua frente. Ele correu naquela direção, abrindo espaço através da massa de pessoas que circulava por ali. O seu alvo diminuiu o passo ao virar em uma esquina, aquela era a chance de capturá-lo. O efeito do Focus encerrou assim que ele atingiu a entrada do beco, o que era bom se considerasse que uma magia potencializada poderia matar, quando ele queria apenas capturar. O ladrão já estava quase entrando em uma casa quando Derin decidiu chamá-lo.

- Você ai! Pare! - Ele tentava forçar a voz ao máximo, para talvez conseguir um efeito intimidador.

O ladrão virou-se para ele, a princípio assustado, mas logo abriu um sorriso. Ele começou a se aproximar do jovem.

- Pois não? - A fala do ladrão era rápida, deixando à mostra toda a sua malandragem.
- Você me roubou! Devolva meu dinheiro agora! - Derin disse, estufando o peito e dando um passo à frente.
- Tem certeza que quer fazer isso? Porque depois que você começar não tem mais volta!
- Haha! Você não faz ideia do quê eu sou, não é mesmo? - a voz de Derin estava já pesada de orgulho e segurança.

Neste ponto o ladrão já estava a menos de três passos de Derin, aproximação tal que o jovem mago nem havia notado. O homem levou a mão direita até a cintura com extrema velocidade, puxando uma lâmina curta. Com o mesmo movimento ele saltou a distância que os separavam, avançando com uma estocada fulminante. Derin conseguiu se esquivar ao se jogar para a parede da casa à sua esquerda, mas a investida do ladrão não parou ali. Assim que seu pé tocou o chão ele girou seu corpo, ficando frente a frente com Derin novamente. Agora encurralado, Derin decidiu tomar a iniciativa. Puxou das costas o cajado de aprendiz que trazia consigo, e começou a preparar sua magia. Ele pôde sentir a energia partindo de todas as partes de seu corpo e indo até a ponta do bastão, em um fluxo ordenado por sua própria vontade. Contudo, o ladrão já avançava com mais uma estocada, e ele não podia permanecer naquele local. Ele tentou se esquivar saltando para a esquerda, mas a adaga atingiu seu flanco direito levemente. Após o salto Derin conseguiu rolar e cair a uma boa distância de seu inimigo, mas toda aquela manobra havia gasto grande parte de sua energia. Daquele jeito só conseguiria conjurar uma vez. Ele esticou o cajado na direção do ladrão com seu braço direito, enquanto que o esquerdo fazia os gestos finais de ativação. Só restava a palavra de convocação.

“Thunder!”. Naquele mesmo instante a energia acumulada na ponta do cajado foi liberada, tomando o céu bem acima. A concentração era mais importante agora do que nunca, já que poucas haviam sido as vezes que ele acertara completamente seu alvo. O ladrão arregalou os olhos, já se preparando para fugir, mas era tarde demais. Um raio conectou céu e terra, exatamente sobre o homem. A descarga foi imediata, o estrondo ensurdecedor, e o ladrão caiu estatelado no chão, sofrendo alguns espasmos musculares.

- Heh... você tinha era que me agradecer. Se não tivesse segurado minha força você estaria provavelmente morto. - disse Derin, quase sem fôlego.
- Não exagere garoto.

A voz era familiar, e vinha da entrada do beco. Era Tarelius, que se encontrava à frente de um grupo de curiosos. Ele olhava com desaprovação para Derin.

- O que foi agora?! Só faltava ter ficado bravo porque seu aprendiz derrotou um ladrão! - Derin estava inconformado com a expressão no rosto de seu tutor.
- Não me importo de você entrar em brigas inúteis, mas se o fizer por favor lute com classe. Você permitiu que seu alvo se aproximasse e tomasse a iniciativa, além de ser atingido por um golpe que poderia ter sido letal. Acima de tudo acredito que este foi o Thunder mais mal executado e com maior gasto de energia que já vi em toda minha vida. E não adianta dizer que segurou sua força, pois tenho certeza que se tivesse retido uma gota sequer de sua energia a magia não seria executada.

Aquilo continuou por horas, até bem depois do jantar. Derin teve que permanecer em silêncio, enquanto que Tarelius evidenciava todos os erros do jovem aprendiz. Toda aquela discussão havia acabado com o humor do rapaz, mas a última coisa que Tarelius lhe disse antes de deixá-lo em sua casa o reanimou imediatamente, tanto que ele mal dormiu aquela noite, tão ansioso havia ficado.

- Pelo visto vamos ter que treinar muito a parte prática... começando amanhã vou ensiná-lo como um bom Thunder deve ser conjurado.


II . O Conselho Mágico de Vankrist
SPOILER: EXIBIR
O silêncio só foi quebrado pelo sino da igreja, que anunciava o começo do dia. Era cedo ainda, mas o salão de reuniões já estava cheio. Não que estivesse lotado de pessoas, mas todos os que lá devia estar, estavam. O chão de mármore repleto de desenhos e símbolos dava àquela imensa sala oval um toque de grandiosidade. Não havia janelas, a única fonte de luz brotava do topo do enorme teto, onde uma redoma de vidro se destacava do resto. Logo abaixo dela havia uma mesa também de mármore formando um semi-círculo voltado para as portas duplas de madeira reforçada. Atrás da mesa treze tronos de pedra, um mais ornamentado do que o outro, serviam de assento para os anciões. Eram homens de idade já muito avançada, seus mantos azul celeste traziam as mais diversas honrarias, enquanto que seus rostos mostravam a experiência e o ceticismo que a longevidade lhes dera. Mais para o fundo do salão havia ainda uma grande estátua, representando um grandioso cristal.

Um grupo composto por seis homens se aproximou da mesa dos anciões, todos trajando seus mantos azulados e seus chapéus pontudos. Cada um deles bateu seu cajado no chão, deixando que das pontas fluíssem quantidades enormes de energia. Toda aquela energia foi se aglomerando no espaço acima de suas cabeças, e então foi atraída por completo até a estátua ao fundo. Lá ela permaneceria, até que a reunião se encerrasse.

Um dos anciões sentados à direita colocou um grande livro sobre a mesa, e começou a virar suas grossas páginas. Ele então parou em uma que lhe agradava e molhou a pena na tinta.

Tarelius não tentava esconder o descontentamento de sua face. Ele aguardou em silêncio até que o ancião terminasse de escrever o nome dos participantes, a mão do sábio tremendo durante todo o processo.

- Iniciaremos agora esta reunião do Conselho Mágico de Vankrist. - começou um dos anciões da esquerda. - Acredito que todos concordam que o assunto inicial deva ser a mensagem recebida durante esta madrugada...

Todos os participantes assentiram em silêncio.

- Alguém tem algo a declarar sobre este assunto?
- Eu, com sua permissão. - Tarelius colocou-se à frente da fileira formada pelos seis magos. O ancião que havia perguntado fez um gesto para que ele continuasse.

Contudo, antes que pudesse falar, outro mago se adiantou.

- Desculpe-me a interrupção, caro Tarelius, mas acredito ser o único perdido aqui... Entenda, as coisas estão muito corridas no setor de pesquisas, e não fiquei sabendo do ocorrido.

O homem que falava era mais velho que todos os outros seis. Era levemente corcunda, e sua voz era seca e baixa.

- Tudo bem, mestre Coben. - Tarelius recuou novamente até sua posição, e todos os seis aguardaram enquanto o ancião-escrivão abria a carta. Ele estava pronto para começar a ler o documento, mas foi interrompido.
- Não há a necessidade de que um documento tão longo seja lido agora. - Quem falava era um dos seis magos, Gorklein, sua voz imponente ecoando pelo salão. - Resumidamente, a carta é um pedido de apelo do reino de Wesdlon. Na noite passada o líder religioso, figura máxima daquela nação, foi raptado por um grupo rebelde. Eles acreditam que a ajuda de Vankrist é certa...
- Então, creio que não há muito o que discutir, não é? - Coben se pronunciava novamente, esforçando-se para que sua voz sobrepujasse a de Gorklein. - Eles são uma nação amiga, é nosso dever ajudá-los.
- Não é tão simples. - Novamente era Tarelius que falava. - Talvez guiados pelo desespero, eles redigiram a carta de forma muito agressiva; tanto que ela até trazia uma ameaça. Caso nós não oferecêssemos nosso total auxílio, eles nos considerariam envolvidos no sequestro... e declarariam guerra imediatamente.
- Impossível! - Coben agora realmente falava alto, sua face repleta de descrença. - Por que eles fariam isso?!
- Talvez você tenha passado tempo demais em suas pesquisas, velho Coben...

Nenhum dos seis magos ou anciões havia dito aquilo; a voz misteriosa vinha da porta do salão. Todos olharam assustados, enquanto um homem aparentemente jovem se aproximava do centro. Ele possuía a pele clara e cabelos loiros compridos; sua face trazia toda a beleza da juventude, apesar de sua idade avançada. Suas vestes eram verdes com detalhes em vermelho, e seus olhos apresentavam um brilho estranho.

Todos do salão se voltaram para ele, permanecendo em completo silêncio. Não sabiam o que dizer. Apenas Gorklein conseguiu se pronunciar.

- Você... está vivo?! - Sua voz mostrava toda a sua incredulidade, mas também uma boa parcela de raiva.
- Mais do que nunca. - Respondeu o homem com um sorriso irônico nos lábios. Ele parou a uma boa distância dos seis, e olhou para a redoma de vidro no teto. O céu acinzentado já mostrava sinais de uma tempestade. “Pff... um clima ruim para terras decadentes...”, pensou.
- O que você veio fazer aqui, Lautz? - Tarelius perguntou, a raiva também tomando conta de sua voz.
- Pelo menos parece que vocês lembram meu nome não é? - Lautz se aproximou mais um pouco. - Como eu estava dizendo, a reclusão das pesquisas privou-lhe, amigo Coben, de participar dos acontecimentos mais notáveis das últimas décadas, não é verdade? Parece que você nem se lembra que há dez anos teve fim a disputa territorial entre Vankrist e Wesdlon...

Coben permaneceu em silêncio. As palavras de Lautz eram verdadeiras quanto à sua exclusão, e ele se arrependia levemente por isso.

- Coben pode ter estado ocupado nos últimos anos, mas nós sabemos bem sobre a Guerra Imperial. - Tarelius falava novamente. - Mas você não respondeu minha pergunta; o que faz aqui?
- Eu trago um conselho, nada mais do que isso. - O sorriso no rosto de Lautz desapareceu completamente, dando lugar a uma expressão muito mais séria. - Aproveitem esta oportunidade e façam o que vocês deveriam ter feito há dez anos: Destruam Wesdlon.
- Como ousa dizer isso?! - Vociferou Gorklein. - Nós prezamos pela paz acima de tudo!
- Talvez você preze... - Lautz deu as costas para eles e começou a se retirar. - Mas lembrem-se que este Conselho foi criado para servir de proteção à grandiosa Vankrist.

Nenhum deles disse mais nada, apenas observaram enquanto Lautz se retirava do recinto. O silêncio voltou a se instaurar, sendo quebrado dessa vez pela chuva que começava a bater sobre a redoma de vidro. Tarelius se aproximou da mesa dos anciões, e começou a falar em voz baixa.
- Se eu bem conheço Lautz, ele fará de tudo para que esta guerra comece. Eu peço permissão para impedi-lo.
- Nós também conhecíamos Lautz, mas ele está mudado... - Um dos anciões começou a falar. - Não sabemos como ele sobreviveu àquilo, e muito menos o que veio fazendo todos esses anos. Você deve tomar muito cuidado.

Outro ancião se inclinou na direção de Tarelius e começou a falar.

- Ele não viria até aqui apenas para falar aquilo... Ele provavelmente queria que soubéssemos que está vivo. Talvez ele tenha previsto sua reação, jovem Tarelius. Isso exige o dobro de cuidado.
- Eu entendo. - Tarelius bateu novamente seu cajado, parte da energia no cristal voltou para ele.

Nada mais foi dito no salão; a reunião havia sido encerrada antes da hora prevista. Cada qual retomou seu caminho, todos repletos de preocupações.


(Atualização 21/06/10)

III . O Início da Tormenta
SPOILER: EXIBIR
A chuva lentamente se transformava em tempestade; fadada a varrer as impurezas da terra. Da mesma forma, o ódio evoluía, se moldava compassadamente em vingança. Era, talvez, o sentimento mais forte que já possuíra Lautz, e ele fazia questão de apreciá-lo completamente. Tantos anos haviam passado, mas ele nunca estivera próximo de esquecer o ocorrido. Não, pelo contrário; cada ano que passava tornava aquele ódio cada vez mais forte. Repentinamente, riu da chuva; pois aquela era uma impureza que ela jamais poderia varrer.

Aos olhos de Selv, como os mais íntimos chamavam Selvon, as atitudes de Lautz se tornavam cada vez mais estranhas. Cavaleiro experiente, treinado pelo extinto reino de Golfiher, costumava ater-se às noções concretas e reais; e chegava a admitir certo medo do abstrato. Mesmo estando há pelo menos três anos ao lado de Lautz, não se pode mudar o pensamento de um homem tão rígido. O que causava estranheza ao homem era não somente as constantes mudanças de humor, às quais ele já se acostumara, mas também a forma como Lautz parecia completamente insano. Naquele momento, por exemplo, encontrava-se parado sob a forte chuva, olhando fixamente para o céu; e o pior: rindo!

Selvon decidiu retornar sua atenção ao assunto que realmente importava no momento. Ele aguardava, seco e protegido pelo telhado de uma velha casa obviamente, por uma pessoa. Era estranho como Lautz, que havia inicialmente entrado em contato com o convidado, agora se recusava a participar da reunião. Fornecera todas as instruções de que Selvon precisaria, e então fora rir da chuva.

O convidado entrou na casa e fechou a porta. O manto escuro que o cobria da cabeça aos pés estava ensopado, mas o homem não quis tirá-lo. Tanto ele como Selvon ocuparam seus lugares à uma mesa velha de madeira; um de frente para o outro. A fraca luz proveniente da lamparina à óleo sobre a mesa mal iluminava todo o ambiente, e a escuridão que se instaurara do lado de fora também não ajudava.

- Vocês bem que poderiam ter arranjado uma iluminação melhor, não acha? - disse o convidado, iniciando a conversa. - Minha vista cansada vai ter grande dificuldade em ler qualquer tipo de documento...
- Não haverá nenhum tipo de leitura hoje. - disse decididamente Selvon, interrompendo o outro. - Você está aqui para receber as instruções finais.
- Que seriam? - a voz do convidado deixou perceptível sua pressa.
- O homem está guardado em um casebre abandonado exterior à muralha sudoeste... você vai ter que transferi-lo até o local de encontro até no máximo hoje à noite, que será quando entraremos em ação.
- Tudo bem. Mas creio que não será tão fácil quanto você imagina...
- E por que não?
- Tarelius foi convocado a liderar as investigações; e eu não duvido que ele esteja observando atentamente esta casa até o momento de minha partida. Tenho quase certeza de que ele me seguirá, e duvido que eu consiga realizar a transferência nessa situação.
- Pois bem, cuidarei disso agora mesmo.

O cavaleiro se levantou, e mandou que o convidado se levantasse também. Primeiro o homem encapuzado saiu da casa, seguindo penosamente sob a chuva por uma rua estreita daquele bairro pobre de Vankrist. Selvon esperou, até que Tarelius surgiu de um beco, seguindo o mesmo caminho do encapuzado. Era agora que ele deveria agir. Andou rapidamente para conseguir alcançar os dois, que já sumiam na distância; e enquanto andava admirou o raciocínio daquele velho que concordara em ajudá-los.

- Tão previsível... - disse Selvon para Tarelius, que parou imediatamente ao ouvir aquela voz perigosa.

Tarelius se virou, encarando o cavaleiro a sua frente. Seu olhar detectou rapidamente o brasão que Selvon carregava escancarado em seu peito.

- Um Cavaleiro de Golfiher? Sabe, um combatente de um reino famoso por ter perdido a guerra está abaixo de minhas expectativas. - Enquanto falava Tarelius já ia puxando seu cajado.
- Aquela guerra só acabou daquele jeito porque eu não pude participar dela... e você sentirá a prova disso neste exato momento. - Selvon levou a mão à sua espada, embora reconhecesse que a distância entre os dois era ainda muito grande.

Não havia mais o que dizer. Agora contavam apenas as ações. Tarelius se concentrou profundamente em seu cajado, a energia rapidamente se ordenando em sua ponta. Aos poucos aquela imensa quantidade de poder foi chegando ao seu limite, mas antes disso Tarelius alterou seu foco. “Um é pouco... preciso de vários”.

Assim que Tarelius começara a se concentrar Selvon já partira em sua direção, enquanto sacava sua longa espada. O mago manteve-se firme em sua posição, usando o cajado para bloquear a poderosa lâmina que descia na direção de sua cabeça; mantendo sempre a sua concentração. Selvon continuou golpeando, enquanto que Tarelius continuava bloqueando os golpes. Mantendo toda a calma que conseguia, Selvon mudou seu alvo; sua lâmina cruzava o ar em busca diretamente do cajado do mago.

“Weapon Break”

Tarelius percebeu no último instante que a forma do ataque havia mudado. Não sabia exatamente se era a base do cavaleiro que estava diferente, ou se segurava a espada de outra maneira; tudo o que sabia era que aquele golpe destruiria seu cajado, e com ele toda a energia que vinha acumulando para a conjuração. Conseguiu por pouco mudar sua estratégia e desviar do golpe, mas o movimento com o corpo para o lado direito havia tirado seu equilíbrio.

Imediatamente o cavaleiro girou seu corpo e alterou novamente a forma de ataque. Desta vez era um golpe com a extremidade do cabo da espada visando a cabeça do mago; rápido e inesperado.

“Mind Break”

Desta vez não houve como evitar o ataque. O impacto feroz do cabo da espada contra a testa de Tarelius desestabilizou completamente o mago. A magia que vinha conjurando se perdera em meio a confusão que se instaurava em sua mente, enquanto que fisicamente o sangue já era visível no local do golpe. Sentia e energia mágica em seu corpo desordenada, caótica. Recuou com um salto e fez todo o esforço do mundo para conjurar novamente. Desta vez decidiu se contentar com apenas um. Apontou o cajado na direção do cavaleiro, permitindo que a pouca energia que conseguira acumular tomasse o céu tempestuoso acima deles.

“Thunder”

Tarelius custou a entender, mas Selvon se manteve parado durante todo aquele tempo. A mira, parte que Tarelius acreditava ser impossível em seu estado, tornou-se então extremamente fácil. O trovão que convocara atingiu o cavaleiro em cheio, assim como ele esperara, mas algo imprevisto aconteceu. Enquanto cortava os céus, a energia inerente da tempestade foi se juntando à do mago, e logo o trovão retornava às suas dimensões naturais.

A descarga foi poderosa, muito mais do que o esperado, e Selvon sentiu suas pernas fraquejarem. Seus olhos se encheram de fúria, enquanto sua perna esquerda finalmente cedia e ele caía sobre aquele joelho.

- Por que?! - a raiva jorrava de sua voz. - Sua magia ignorou completamente o meu golpe!
- Errado. - Tarelius abaixou o cajado e levou a mão esquerda ao ferimento na testa. - Sua técnica foi bastante efetiva, tanto que a energia acumulada para meu Thunder foi tão ínfima que poderia ser comparada à de meu aprendiz. No entanto, seu orgulho o fez subestimar os poderes de um mago negro...
- Como assim?!
- Você é um tolo se acredita que criamos nossa magia apenas com a força de nosso espírito. Usamos, sim, um pouco de nossa energia como gatilho para o efeito, mas em essência nós convocamos fenômenos naturais. Logo, é óbvio que no momento em que meu Thunder fosse convocado ele agregaria a energia presente na tempestade. Você não percebeu isso, e acreditou que sua técnica tornaria minha magia inofensiva. Foi um erro simples, mas que custou sua derrota.

Não houve resposta da parte de Selvon. Ao invés disso, o que Tarelius ouviu foi o som de um lento aplauso, abafado pela chuva que caía sobre o chão de pedra. O mago se virou, apenas para encontrar à sua frente Lautz.

- Parabéns, Tarelius; nada elegante, mas mesmo assim uma vitória! - Lautz sorria sarcasticamente, seus olhos fixados no rosto do mago negro.
- Você... - Tarelius sentia-se paralisado diante daquela situação.

Lautz esticou sua mão direita na direção de Tarelius, e usando sua própria energia para tocar a dele, começou a drená-la.

“Osmose”

- Não se preocupe, não é aqui nem agora que você morrerá. Você ainda tem muito o que sofrer.


É isso por enquanto. Espero que apreciem a leitura, e assim que eu escrever mais uma parte eu coloco aqui.

Até mais!

Opa! Quase esqueci: A série Final Fantasy é marca registrada da Square-Enix. Os personagens, locais e enredo são de minha autoria; mas foi a Square-Enix que criou os Black Mages, ok? :victory:
Editado pela última vez por Afavora em 21 Jun 2010, 01:03, em um total de 1 vez.
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Contos de Final Fantasy! [Black Mage] (Atualizado 21/06)

Mensagempor Lady Draconnasti em 02 Jun 2010, 22:56

Só uma pergunta. Porque manteve o nome das magias em inglês?
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Mensagempor Afavora em 03 Jun 2010, 10:28

Pensei bastante sobre isso, mas mantive por dois fatores.

O primeiro, foi porque achei que mantendo os nomes originais ficaria mais fácil identificar as magias (dos jogos da série). Thunder ainda é fácil traduzir fielmente (embora o fator 2 embole as coisas um pouco), mas Stasis Sword (Holy Knight, FFT) complicaria um pouco. Claro que ainda seria possível traduzir com algumas alterações, mas pessoalmente não acho que teria o mesmo efeito que manter os nomes no original.

Já o segundo diz respeito às progressões que as magias elementais básicas possuem, assim como as regenerativas. Eu optei à principio em usar a nomenclatura -ra, -raga, -raja (por exemplo, Fire, Fira, Firaga e Firaja); porque acho que ficaria muito mais interessante do que Fire 1, Fire 2 e Fire 3. Dessa forma, seria complicado criar variações em Português que passassem a mesma ideia de progressão, já característica da série.

Então, basicamente, trata-se somente do efeito gerado. Claro, é minha opinião, e se muita gente achar que ficaria melhor traduzido, mudo sem problemas. Mas, além disso, algum outro comentário sobre a história?
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Mensagempor Lady Draconnasti em 03 Jun 2010, 18:53

Huuuuuuuuuuuuuuum

Faz sentido, faz sentido. Vou esperar a próxima parte.
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