O Taxista

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O Taxista

Mensagempor Peregrino em 04 Abr 2010, 15:29

Do mesmo jeito que havia entrado ele saiu, determinado, cenho franzido e algumas certezas na cabeça; não tinha muitas opções e aquela que tomara era decididamente a melhor. Agora que estava na portaria principal do prédio só pensava em ir embora logo e chegar em casa rápido, já que o problema principal havia sido resolvido.

Era um homem alto, cabelo curto e estatura mediana, tinha olhos profundos e escuros que agora encaravam o início da noite acompanhada de uma fina chuva que caía continuamente. Ele saiu do prédio que entrara há pouco mais de uma hora atrás e se encontrava na porta esperando algum táxi passar. Já tinha molhado os sapatos e parte da roupa e dos cabelos, mas a chuva era tão fina que não se importava em ficar ali esperando.

Luis Henrique era um homem de pouco mais de vinte anos, e tinha ido ali hoje para terminar a relação, de mais de dois anos, com a namorada; a situação estava em um ponto crítico e não podia mais se arrastar por muito tempo, porém levou mais de 3 meses pensando na melhor opção para fazer o que tinha que ser feito, terminar. O fim de algo é sempre doloroso, complicado e algumas vezes extremamente traumático, contudo, de um modo estranho, aquela noite parecia ter sido menos problemática do que havia imaginado, a namorada aceitou seus termos e suas justificativas para o término, e isso foi surpreendentemente novo para ele que ainda divagava sobre o que se passava na cabeça dela nesse momento.

De pé, frente ao portão ele encontrava-se sozinho sem ter a companhia de nenhuma outra pessoa na rua, Luis estava perdido em pensamentos e só foi trazido de volta à realidade por um carro que parou em sua frente.

- Vai pra onde mestre? – O taxista abriu o vidro e perguntou-lhe.

A princípio ele nem ouviu o que o motorista disse, estava preocupado com suas escolhas, será que tinha tomado a decisão certa? E se a decisão tivesse sido a pior ainda teria tempo de voltar atrás?

Esses pensamentos, obviamente não afetaram a vida do taxista, mas é claro que ele estava com pressa e sua demora em decidir se pegava o táxi ou não fez o homem perguntar novamente.

- Olha doutor, eu preciso de um passageiro aqui, senão tenho que ir embora – Apesar de estar visivelmente com pressa, sua pergunta foi de extrema cortesia e animosidade.

- Desculpe – Respondeu o devaneado Luis – Eu preciso do táxi sim (...) Prímula, 1411, por favor.

- Rua Prímula, 1411, é pra já meu patrão. Sinta-se à vontade, temos vinte minutos de viagem tranquila.

O homem que dirigia parecia ser um poço de simpatia, conversava bem, fazia referências de tratamento muito bem elaboradas, e seu carro era limpo e arrumado. Usava um boné de algum time de futebol, tinha fotos dele segurando dois bebês idênticos, gêmeos provavelmente filhos dele.

Após alguns segundos de observação recíproca o taxista olhou pelo retrovisor e perguntou sorridente:

- Visita pra namorada meu gerente?

- Como?

- 'Tava' na casa da namorada, fazendo uma visitinha?

A pergunta era verdade, porém agora não era mais namorada, era ex, mas como era apenas um homem que não veria de novo perguntando, não fazia mal mentir só para não ter de explicar muita coisa.

- Sim, fui visitá-la.

- A minha patroa meu amigo, se foi recentemente, doença que eu nem gosto de falar o nome. Que Deus a tenha do lado Dele e cuide bem dela, eu só não fui junto com ela por causa dessas ferinhas aqui.

Dizendo isso ele destacou a foto do painel do carro e passou para trás e Luis a pegou para olhar de perto. Parecia ter sido tirada há alguns anos, um, dois, talvez três, não sabia ao certo, mas o sorriso jovial e o rosto alegre estavam no taxista do mesmo jeito que atualmente.

- Pedro e Paulo; meus orgulhos e a única coisa que me faz passar quase 12 horas nesse carro dirigindo pra lá e para cá, faça chuva ou faça sol. Um vai trabalhar com números e o outro com as palavras: engenheiro e advogado, se Deus quiser, e ele vai querer.

Luis passou a foto de volta ao motorista, ele não estava muito preocupado com a vida de um homem com filhos gêmeos que havia perdido a esposa. Não sabia responder às expectativas do homem, o que ele gostaria de ouvir Luis provavelmente não saberia dizer, portanto ele tentou ser apenas cordial e receptivo e ouvir, e teria que ouvir muito, pois ele não parava de falar.

- Trate bem da sua mulher doutor, você não sabe que dia ela vai te deixar, seja por doença, seja por outra coisa, mas fique perto dela o máximo que puder, ‘tá’ me entendendo?

Luis confirmava com a cabeça que sim e deu um murmúrio, um “sim” camuflado e tímido.

- O senhor concorda comigo? – Mesmo tendo pelo menos 10 anos a mais, o taxista chamava o mais novo de senhor.

- Concordo, sim, claro.

Confirmando a pergunta dele, Luis então sentiu-se estranho, o que ele dizia era verdade, não se sabe quando o outro vai embora e é preciso aproveitar o tempo que se tem. Pensando nisso ele lembrou-se dos vários momentos juntos com a namorada, era tudo muito bom, mas o tempo desgastou muita coisa e havia mais coisas ruins do que boas e por isso ele resolver terminar, cada um teria sua independência para continuar a vida e buscar objetivos traçados em longo prazo como estudos e profissão, em seu raciocínio lógico, o término, então, foi melhor para ambas as partes.

- (...) porque você tem que trabalhar duro, ralar mesmo sabe, mas também tem de ter seu lazer, ‘num’ é verdade?

Mesmo perdido em pensamentos e sem dar-lhe muita atenção, o homem continuava a falar sobre como levar a vida a bom termo. Mesmo que fosse verdade, mesmo que ele tivesse a sabedoria da vida que as pessoas não tinham naquela hora Luis estava se sentindo irritado, as lições do taxista agora refletiam suas próprias escolhas e o faziam se sentir culpado.

Quase vinte minutos de conversa haviam passado, Luis pegou o celular e tentou ligar para ela, porém o celular estava desligado. Estaria ela chorando? “Meu Deus, o que foi que eu fiz, preciso desfazer essa burrada”

O taxista continuava a filosofar sobre a vida e o jovem no banco de trás já nem prestava mais atenção nele, até que a última curva fora feita e haviam chegado ao prédio onde Luis morava.

- Meu grande amigo, quando precisar é só me ligar, aqui está meu cartãozinho, quando precisar ‘liga pro’ Max.

Ele sorriu, passou o cartão e recebeu o dinheiro. Luis tdesceu e viu que a chuva já havia passado e a noite estava muito agradável, ele então pensou um pouco, levou as mãos à boca como se fosse refletir. Suas ações nessa noite poderiam ter conseqüências que cruciais na sua vida futura e ele precisava agir.

Ele terminou o namoro com alguém que até gostava, mas que o deixava preso em uma vida monótona e sem sentido, mas não sabia se era o certo, agora que Max traçou um tratado sobre a vida plena e feliz ele teve dúvidas sobre suas atitudes, então resolveu agir sem pensar muito.

Foi então à portaria do seu prédio e tocando o interfone perguntou rápida e diretamente ao porteiro:

- Seu João, o senhor pode me passar o telefone de algum táxi?
Editado pela última vez por Peregrino em 05 Abr 2010, 12:14, em um total de 1 vez.
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O Taxista

Mensagempor Lady Draconnasti em 04 Abr 2010, 22:27

É Luis ou é Tobias?

Um texto legal, sem uma típica reviravolta ("lol, ela se matou!!ONE!11!!111!" ou "aaaaaaaaaaaaaaw, eles ficaram juntos novamente") e finalizado de forma aberta. É, é uma tortura, mas é bom pra atiçar o leitor a imaginar o final que ele quer.
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