-Você não gosta do seu nome?
Quando uma pessoa pergunta o nome de outra, a impressão que passa é a de que o nome é mais importante do que ela em si. Afinal de contas, como identificar alguém sem que ela lhe diga o nome? Você pode estar falando com um mendigo qualquer ou com o filho do Presidente sem nem perceber.
Observou o sapato – vagabundo. A calça Jeans rasgada- torceu o nariz. Uma camiseta Pólo – ergueu a sobrancelha. Reparou que eu não possuía anel... muito menos um carro. Não era um mendigo, muito menos alguém famoso.
Medidas. Iniciativas tomadas com o intuito de classificar algo. Conceito. Classificação de medidas em comum observadas. Podemos conceituar coisas de acordo com a nossa percepção. Devemos? Não vem ao caso.
-Balança? – ela sorri com um olhar curiosamente pejorativo – Por que Balança?
Digo que é porque consigo determinar o peso de qualquer pessoa. Ela quer que eu adivinhe o dela. Eu sei que é 50 kg, mas não é isso que ela quer ouvir.
Quarenta e cinco - Ela sorri.
Por que falar a verdade? Essa é a maior diferença entre eu e a balança, eu digo aquilo que as pessoas querem ouvir, independente de saber a verdade. Você pode mentir para qualquer um o seu peso, todos podem concordar, mas só uma balança dirá a verdade.
Imagem. Apresentação visual. Modelos... ela deve entender bem disso.
-Até que você é bom– ela pausa e olha ao redor – mas licença, preciso ir ao banheiro – diz ela ainda sorrindo.
Miragens. Falsas imagens. Cascas ambulantes. Nascemos e crescemos com o mundo nos dizendo o que é belo, o que é normal. Falar a verdade é o correto. Mentir é errado. Certo e errado, fácil assim. Respeito é dizer aquilo que os outros querem ouvir. O que fazer com o correto?
Não espero por ela. Saio pela festa em busca de mais vodka e talvez uns salgados. Continuo a beber enquanto observo aquele ambiente triste, em uma casa grande e vazia, cheia de sombras.
73, 86 e 52 passando-se por 65, 76 e 45. Isso é o mundo. Maldosos os que chegam perto da verdade por não ver o esforço deles em parecer o que não são. O esforço vale mais que a realidade.
61, 90 e 74. Pego mais uma vodka com gelo do garçom. Vejo a Modelo conversando com um Ator. Ela já sabia o nome dele antes mesmo do início da conversa. O nome faz a imagem que gera a lembrança do conceito. O Ator tem um carro.
Aproximo-me sorrateiramente da conversa dos dois. Chego perto do ouvido dela e digo: “50 kg, você não consegue enganar ninguém”. A quebra do respeito. A verdade, o correto. Uma lágrima escorre do olho da Modelo. Sou expulso da festa.
Enquanto vou andando em direção à rua paro para uma última visão do mundo. Vejo o Ator entrando no carro com a Modelo. A recompensa.
Editado: Algumas palavras.