Dia de festa

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Dia de festa

Mensagempor Magyar em 11 Mar 2010, 00:06

Me chame de Balança, eu digo.

-Você não gosta do seu nome?

Quando uma pessoa pergunta o nome de outra, a impressão que passa é a de que o nome é mais importante do que ela em si. Afinal de contas, como identificar alguém sem que ela lhe diga o nome? Você pode estar falando com um mendigo qualquer ou com o filho do Presidente sem nem perceber.

Observou o sapato – vagabundo. A calça Jeans rasgada- torceu o nariz. Uma camiseta Pólo – ergueu a sobrancelha. Reparou que eu não possuía anel... muito menos um carro. Não era um mendigo, muito menos alguém famoso.

Medidas. Iniciativas tomadas com o intuito de classificar algo. Conceito. Classificação de medidas em comum observadas. Podemos conceituar coisas de acordo com a nossa percepção. Devemos? Não vem ao caso.

-Balança? – ela sorri com um olhar curiosamente pejorativo – Por que Balança?

Digo que é porque consigo determinar o peso de qualquer pessoa. Ela quer que eu adivinhe o dela. Eu sei que é 50 kg, mas não é isso que ela quer ouvir.

Quarenta e cinco - Ela sorri.

Por que falar a verdade? Essa é a maior diferença entre eu e a balança, eu digo aquilo que as pessoas querem ouvir, independente de saber a verdade. Você pode mentir para qualquer um o seu peso, todos podem concordar, mas só uma balança dirá a verdade.

Imagem. Apresentação visual. Modelos... ela deve entender bem disso.

-Até que você é bom– ela pausa e olha ao redor – mas licença, preciso ir ao banheiro – diz ela ainda sorrindo.

Miragens. Falsas imagens. Cascas ambulantes. Nascemos e crescemos com o mundo nos dizendo o que é belo, o que é normal. Falar a verdade é o correto. Mentir é errado. Certo e errado, fácil assim. Respeito é dizer aquilo que os outros querem ouvir. O que fazer com o correto?

Não espero por ela. Saio pela festa em busca de mais vodka e talvez uns salgados. Continuo a beber enquanto observo aquele ambiente triste, em uma casa grande e vazia, cheia de sombras.

73, 86 e 52 passando-se por 65, 76 e 45. Isso é o mundo. Maldosos os que chegam perto da verdade por não ver o esforço deles em parecer o que não são. O esforço vale mais que a realidade.

61, 90 e 74. Pego mais uma vodka com gelo do garçom. Vejo a Modelo conversando com um Ator. Ela já sabia o nome dele antes mesmo do início da conversa. O nome faz a imagem que gera a lembrança do conceito. O Ator tem um carro.

Aproximo-me sorrateiramente da conversa dos dois. Chego perto do ouvido dela e digo: “50 kg, você não consegue enganar ninguém”. A quebra do respeito. A verdade, o correto. Uma lágrima escorre do olho da Modelo. Sou expulso da festa.

Enquanto vou andando em direção à rua paro para uma última visão do mundo. Vejo o Ator entrando no carro com a Modelo. A recompensa.

Editado: Algumas palavras.
Editado pela última vez por Magyar em 14 Mar 2010, 09:24, em um total de 1 vez.
Quem me leva a sério não deveria ter saído do hospício.
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Mensagempor Dahak em 13 Mar 2010, 00:19

Bom dia Barlin.

Sabe, eu li seu conto ainda na noite de quinta-feira.
Mas não sabia ao certo o que tinha achado porque não tinha entendido algumas coisas.
Voltei a ler na sexta e a leitura foi mais fortuita e explicativa.

Senti uma certa amargura em suas palavras.
Mas também vi fotorrralismo.

Uma dica,
Porque Balança?

aqui deveria ser um "Por que", uma vez que está iniciando a oração.

Seus textos sempre me agradam de alguma forma. Curioso pensar no que eles poderiam ter em comum.

Até mais.
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Mensagempor Magyar em 14 Mar 2010, 09:36

Olá, Dahak!

Agradeço a correção.
Essa é praticamente a versão conto do poema que escrevi (por sinal, acho que foi o único que escrevi).

Quanto ao que os meus textos tem em comum, está ai uma boa questão.
Aproveitei a correção do "Por que" para realocar algumas frases e afins que, ao reler, não me agradaram muito.

Inté!
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Mensagempor Dahak em 15 Mar 2010, 08:42

Estou sempre as ordens Bralin =)

Eu vou tentar traçar uns pontos mentais sobre o que há de semelhante nos seus trabalhos. Conseguindo, virei contar-lhe.

Até mais.
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Mensagempor Lorde Seth em 10 Mai 2010, 23:03

De fato... Diga a uma mulher algo relativo a peso, e inicie uma guerra momentânea que pode ser extendida pelo tempo que tem de ser...

Mas hey, ninguem tem de aturar as descórdias de um bêbado enegrecido. Ela pode ter ido embora com o ator, mas talvez um pouco mais de tato e ela poderia ter ido embora contigo... Ou tornado-se uma amiga, para a melhor das hipóteses.

Abraços.

Guga.
Para viver a realidade, primeiro é preciso acordar do sonho.
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