Depois de algum tempo sumido, mais um conto meu, espero que gostem.
Ambiente escuro, música, ou melhor, funk no último volume, eu com um micro biquíni e o ar-condicionado ligado, estou morrendo de frio e já passaram a mão na minha bunda umas três vezes nestes últimos quinze minutos. Queria saber quem disse que isso é “vida fácil”. Se não fosse por minha filha e por minha mãe não estaria aqui nem morta. Claro, preciso pagar a universidade, quem sabe eu consigo outro trabalho.
- Suely, vem pra cá, tenho uma pessoa pra lhe apresentar. Uma colega de trabalho me tira de meus devaneios, na realidade meu nome é Amanda mas, nessa profissão, sempre usamos outro nome. Gosto de pensar que sou outra pessoa. Separar a Suely, a puta, da Amanda, jovem de 19 anos que cursa publicidade em uma universidade particular. Ironicamente, Amanda usa roupas mais simples, mas assim mesmo os homens olham, afinal, sem falsa modéstia, uma loira de bunda e peitos grandes dá tesão neles.
Olho a pessoa que minha amiga “me apresentar”, um homem comum, meio retraído, apenas olhando as mulheres se oferecendo como mercadorias. Tímido, creio eu, talvez seja a primeira vez dele em um ambiente “pouco familiar”, bem é hora de trabalhar.
- Qual o seu nome, gatinho? Olho fixamente nos olhos dele e já o abraço antes dele responder.
- Pedro.
- Prazer, Suely...e ai,já conhece a casa? Não posso deixar de lembrar as palavras de outro cliente: “isso é PPP: Papo padrão de puta”...ele tem razão. Claro não é só conversa, faço ele sentir meu corpo, em pouco tempo ele está de pau duro, continuo me esfregando e falando sacanagens no ouvido dele até que nos subimos pra um quarto.
No “quarto” temos apenas uma cama, espelho (não sei pra que essa coisa de espelho) e um pequeno Box com chuveiro, afinal higiene e tudo nesse ramo. Já tava me preparando pra 30 minutos em que as únicas palavras eram “vem me foder gostoso” e variações.
Mais o destino me trouxe uma surpresa: em vez de tirar a roupa e “partir pra dentro” Pedro apenas sentou na cama.
- Você gosta ?
- Do que? Perguntei espantada...que tipo de fantasia bizarra ele tinha em mente?
- De fazer amor com desconhecidos? Este ato não deveria ser apenas uma consumação de um amor entre um homem e uma mulher? E, obviamente, você não me ama.
Pela primeira vez na noite estava sem reação...esse cara vem a um puteiro e vem falar de amor, que espécie de louco é ele? Mas não podia deixar ele “escapar” caso contrário perderia tempo e dinheiro, então resolvi responder ele.
- Sabe? Essa casa é para os homens poderem comer facilmente uma mulher, aqui não tem esse lance de amor, deixe isso pra sua namorada.
- Não tenho namorada...aliais...tenho muitas pessoas que pensam me amar mas fogem quando apareço pra elas.
- Não tem namorada? Pedro não era nenhum deus grego, mas também não era de se jogar fora, uma pessoa comum.
- Não me preocupo com isso, sou de um tempo muito anterior a isso mas sinto muito dizer-lhe, separo muito casais em minha jornada. Alguns ficaram felizes, por dentro, de eu os ter livrado de seu fardo, outros sentiram verdadeiramente a dor da separação.
- Que diabos você ta falando?
- Amanda (ele sabia meu nome verdadeiro? Como?) você lê sobre mim todos os dias no jornal, me vê na rua...claro, provavelmente, sua imagem é outra...talvez não tenha imagem alguma...qual sua religião?
Estava começando a me assustar, de verdade agora, suas palavras eram estranhas demais, seria ele um serial killer?
- Então a que deus, ou desuses, seu coração segue, não que isso faça muita diferença... gostaria de saber onde você pretende ir depois dessa breve existência, ou se pretende voltar, se bem que eu seu caso a volta seria como o inferno.
- Olha aqui, você veio aqui pra que? Vai me comer ou vai ficar com esse papo furado? Realmente estava me irritando com ele...ele não tinha arma alguma e eu sabia me defender caso, não seria a primeira a ser atacada por um cliente, mas os olhos dele...estavam tão calmo, porque?
- Você quer ser...como dizer mesmo?...comida, que termo feio usam, se bem que copular também não é muito agradável, acho que fornicação eram mais sonoro...ah sim! Com certeza fornicação é mais sonoro.
- Para! Eu berrei...para com isso! Fala direito PUTA QUE PARIU!!!! Que diabos você veio fazer aqui!!
- Apenas conversar com você, apesar de saber algumas coisas,penso que aqui, em um ambiente mais privado, seria mais fácil, não precisaria gritar, tenho curiosidade...
- Em mim?
- Não, nas pessoas em geral, não sabem o qual fascinante vocês são, ah...o livre arbítrio, o maior tesouro, e tem gente que larga isso por causa de uma pessoa que berra em seus ouvidos que Deus está do lado dele...hahahahaha...desculpe, deve ser muito estranho pra você, nunca fui bom em falar, afinal me trabalho é furtivo, mas geralmente meus...que palavra usar...ah sim, meus convidados estão surpresos ou gritando. Mas noto que você não me respondeu, gosta de fazer amor com estranho?
- Claro que não, seu idiota!!!!
- Então por que se submete a esse ato?
- Porque eu preciso da merda do dinheiro!!!
- Ah sei, sal...não...acho que é apenas papel...pelo menos o sal dava sabor a comida...ele se tornou tão comum, creio eu que e a raridade o que importa, se bem que papel é comum, qual a diferença? Não importa você não precisará mais disso: papel, pedras ou sal, pra onde vai, pena, meu tempo acabou, tenho que voltar a meu serviço. Sei que você com o tempo se esqueceria de mim mas, infelizmente ou felizmente, volto daqui a uma semana.
E subitamente ele se levantou, abriu a porta do quarto e saiu. “Graças a Deus, me livrei desse chato”.
Uma semana depois Amanda morre em um atropelamento.
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