— Eu te amo!
— Como é que é?
— Eu disse: “eu te amo”!
— Pelo amor de Deus! Não repita isso!
— Isso o que?
— Repetir aquela frase com três palavras.
— Eu te amo?
— Eu disse para você não repetir!
— O que há com você? Estamos juntos há meses e quando eu finalmente resolvo dizer que te amo começa a agir de forma estranha.
— Eu estou normal. Você é que não está percebendo. Nosso relacionamento está se encaminhando para o fim.
— Mas ele mal começou! O que aconteceu?
— O que aconteceu foi o seu “eu te amo”.
— Acho que você não está bem. O que o “eu te amo” tem a ver com o término da nossa relação?
— Simplesmente tudo.
—Não estou entendendo...
— É muito simples. Os relacionamentos terminam justamente por causa do famigerado “eu te amo”.
— Você está falando sério?
— Seriíssimo! Os relacionamentos amorosos começam as mil maravilhas: beijos, abraços, olhares, mãos dadas e até mesmo sexo em alguns casos. Tudo ao som do canto dos passarinhos verdes. Mas, depois que o amor é verbalizado usando “eu te amo” e coisas similares, tudo muda. Brigas, cobranças, tédio, desavenças, mágoas... Mais cedo ou mais tarde isso acaba acontecendo.
— Que idéia mais absurda. Há milhares, milhões de casais que dizem “eu te amo” todos os dias e ficam juntos pelo resto da vida.
— Por favor. Não tome a exceção como a regra. Pergunte para nossos amigos quantos relacionamentos eles já tiveram e quantos já acabaram depois do “eu te amo”. Faça uma pesquisa com metodologia científica, se quiser. Os números não mentem. A minha teoria é perfeitamente válida, disso não tenho dúvidas.
— Você está fazendo uma tempestade em copo d’água! Eu te amo! Eu te amo! Será que não vê isso?
— Eu vejo que as coisas já estão mudando entre nós. Seu temperamento está passando da calma ao nervosismo. Você nunca levantou a voz para mim. Você pode dizer hoje que me ama, mas em breve você dirá “eu te odeio” ou coisas ainda piores.
— Eu não estou ouvindo isso... Não estou. Passei por relacionamentos difíceis, demorei muito tempo para gostar de alguém novamente. Não aquele gostar bobo, mas amar de verdade. Abro meu coração para você e ao invés de um beijo apaixonado ou um “eu te amo” ou mesmo um simples “também”, você começa a falar um monte de besteira.
— Besteira? Você acabou de comprovar novamente a minha teoria. O “eu te amo” acaba com os relacionamentos amorosos. Para quantas pessoas você já disse “eu te amo”, excluindo a sua família? Com quantas delas você ainda mantém contato hoje em dia?
— Você é uma estúpida! Insensível! Você está fazendo pouco caso dos meus sentimentos! Eu achava que te amava, mas eu te odeio! Odeio do fundo do meu coração! Você não merece meu amor!
— Olha só! Não falei? Agora a pouco o que você disse? “Eu te amo”. Falou em voz alta para todo mundo ouvir. O amor já virou ódio? Foi mais rápido do que eu pensava. Estava tudo bem entre nós até você estragar tudo dizendo “eu te amo”.
— Saia da minha frente! Não quero te ver mais! Você merece ficar sozinha! Não faz idéia dos sacrifícios que fiz por sua causa! Não sabe o que é amar alguém...
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— Foi embora. Melhor assim. Nosso relacionamento não daria certo, apesar dele ser um rapaz interessante. Gostava dele de verdade. Gostava muito mais do que os outros. Um futuro promissor destruído por uma frase estúpida. Por que as palavras destroem com tanta facilidade o que os sentimentos constroem com tamanho esforço?