Portando da Spell Forever para cá
Cidade de Pedra
São Paulo, cidade de pedra onde o sol fulgura insosso.
Aprendi nas aulas de física que rochas, ainda que sintetizadas, como o asfalto, não retém, mas refletem o calor de forma que o ambiente se torna mais quente. Mas então, por que São Paulo é tão fria?
Entre pedras, arranha-céus e muitos vidros, os lúgubres raios de sol parecem contagiar os cidadãos. Pessoas vêm e pessoas vão – coisa de louco o atrito que fazem –, a cidade não pára e as nuances árticas apenas se acentuam.
Chega a ser curioso como tão pouco faz tanta diferença nessa nossa megalópole. Ouvir um cumprimento, ver um aceno de mão ou se deparar com um ônibus vazio é razão que pode mudar o humor de um paulistano. Todavia, ainda mais incrível é ver que muito menos é capaz de desencadear as piores ações e reações em um alguém comum, tal qual você, tal qual eu; daquelas que todos anseiam esconder por toda a vida e refutam a idéia de um dia poder agir de tal maneira.
Uma próspera cidade hipócrita, eu diria. E olha que meu amor pela cidade é incontestável, um algo do âmago ao ponto de meu corpo me castigar quando deixo as paredes da cidade.
Acho que tenho o típico DNA paulistano, hipócrita por maestria ao dizer que amo a cidade que me leva a argumentar a seu respeito com tantos infortúnios. Mas ao menos eu não finjo choro emocionado quando aquele cantor sertanejo, que virou romântico por um tempo, mas agora faz covers de música americana, surge no palco de um popular programa de doações.
A propósito, a iniciativa é ótima. E ótima em vários sentidos. Quer que eu elucide alguns?
Fácil! Ajudar o próximo é sempre algo nobre, que enriquece a alma e nos faz dormir com a sensação de mais um dever realizado. Ao passo que afaga impostos, afoga escândalos, dá bons índices de audiência e faz a imagem de bonzinho da empresa que o promove. Ah...como se um programa anual fosse o máximo dos esforços e todo o necessário. Mas não deveria ter dito isso, é feio!
Mas o efeito efêmero disso dura, curiosamente, pouco. E aí há novamente o espaço para psico-aquilo, psico-aquele-outro que ajudam pessoas em suas tempestuosas relações com o dia-a-dia. Ou, como no meu caso, ajudam a atenuar os instintos animais, um daqueles que citei lá no começo do texto, que surgem quando você se sente péssimo, insultado, agredido ou apenas, e tão somente apenas, por não se sentir correspondido por você; você que mora tão longe e nunca lerá tais palavras...
Hoje faltei ao meu psico-qualquer-coisa.