Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

Mensagempor Lady Draconnasti em 17 Set 2007, 12:24

Atendendo a pedidos...

Esse foi o primeiro conto que escrevi para a Spell, na época do concurso de contos. Era bem menor, mas com o passar do tempo (e minha mania de perfeição) ele foi crescendo. Essa é a versão mais ou menos resumida que preparei.

Boa Leitura

=^.^=
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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos



A fria chuva cai na noite melancólica. Raios riscam o céu em sua fúria. O céu chora lágrimas de prata na escuridão enquanto, no castelo do rei, apenas lamentos fúnebres são ouvidos.

Os servos rezam, enquanto Shayla permanece em um transe doentio, deitada em seu quarto de paredes de pedra. Sua voz outrora clara e doce agora se perde em sua garganta, sussurrando uma bela, porém incompreensível palavra. Os móveis e os lençóis se deixam banhar pela chama fria dos archotes e das velas, fazendo com que suas sombras dancem lúgubres. Andrews, seu filho, chora na cabeceira da cama, implorando para que sua mãe adorada não se vá.

Os longos e cabelos esbranquiçados da mulher encontram-se derramados aos ombros. Lembra-se do majestoso corcel que vira em sua juventude e de seu fascinante cavaleiro...

O garoto sente uma terna mão em seu ombro fazendo-o virar-se levemente. É Henry, o príncipe, ao lado do homem que sempre tratou a criança como um segundo filho. O rei se aproxima da mulher a qual amou sem ser correspondido, toma-lhe a mão fria e a beija afetuosamente. Henry abraça ao infante amigo para confortar sua dor. O jovem príncipe já sentira na pele essa mesma agonia quando tinha a idade tenra de Andrews.

A voz da mulher torna-se mais baixa. Seu filho se desvencilha do filho do rei e clama para que ela volte, e então a palavra ele entende.

Uma lágrima cai pela sua face branca. Seus lábios vermelhos tremem. Seu corpo padece e os olhos de safira se fecham para ter novamente aquele sonho...



Estava colhendo flores e o encontrou, longe de seu grupo, nos bosques do feudo visinho. Era uma tarde de primavera. O céu estava dourado e sem nuvens, onde os pássaros pareciam mais inspirados para cantar. Ele conduzia um corcel prateado e vestia roupas de cavalgada nas cores das árvores.

Ela, uma serviçal do lorde. Simples camponesa que ajudava na cozinha do manso. Jovem bela e vistosa, cobiçada por todos, inclusive por seu senhor. Longos cabelos dourados, lisos. Pele clara e rosada, sedosa como as pétalas da mais delicada flor. Amendoados olhos azuis-claros, como duas jóias. Usava um vestido humilde, cor da terra fértil, cuja saia estava servindo para sustentar as flores que colhia.

Ele, um homem de feições finas e modos suaves. Seus passos não produziam som algum, como se flutuasse sobre a grama verde-esmeralda do campo. Longos cabelos na metade das costas com uma cor que lembravam fios de ouro e prata fundidos. Olhos amendoados de mesma cor dos da donzela, porém com um brilho especial, cujo significado ela nunca descobriu. Orelhas levemente pontiagudas, voltadas para cima.

Chegou a pensar que se tratava de um demônio, enviado para tentá-la. Sentiu medo, no entanto percebeu que ele não trazia malicia em seu olhar. E provavelmente ele tivera o mesmo pensamento.

Shayla tentou se comunicar com ele por meio de palavras e com um sorriso. Ele mostrou-se arisco, chegando a levar a mão ao sabre preso a sua cintura. Sua montaria não a temeu e se aproximou da jovem e se deixou tocar por sua mão gentil. Só então ele baixou a guarda e se permitiu chegar junto dela, devolvendo-lhe o sorriso mais cativante que o nascer do sol na primavera.

Ele não sabia falar a língua dos Homens e ela não entendia a língua dos Elfos, mas seus olhos tudo diziam. Eles se encantaram um pelo outro e fizeram companhia um ao outro naquela tarde. Mas, o sol se pôs e ele teve que partir. Radiante, ela aguardou pela próxima vez em que poderiam se encontrar.

Retornar ao manso, feliz e mais animada que o normal. As criadas mais antigas tentaram descobrir o que acontecera naquela tarde, entretanto, Shayla nunca disse uma palavra se quer.

No dia seguinte, a jovem foi ao mesmo local, na mesma hora, mas ele não apareceu. Triste ficou, mas não desistiu e por um ano insistiu. Quando um ano completo se fez, ele reapareceu, para sua felicidade. Estava mais cativante que da primeira vez. Por mais uma tarde ficaram juntos e seu nome, ela aprendeu. Também nessa tarde, ele deu-lhe uma rosa branca, a mais perfeita que já vira e ela o agradeceu com um beijo singelo na face.

Ao fim do dia, ele beijou-lhe a face ternamente, montou em seu corcel prateado e partiu para seu reino de origem. Entretanto, ao invés de se sentir sozinha, notou algumas criaturas da cor da aurora voando próximas e que logo desaparecem em pequenas nuvens de pó cintilante. Apesar de não mais vê-las, ela sabia que não estavam longe dela.

Esses encontros clandestinos continuaram. Ao inicio das tardes daqueles dias, ela estava mais radiante que o sol. Ao fim destas, ela trazia uma felicidade fora do comum em sua alma, mas ninguém percebera a tristeza que a acometia ao se encontrar sozinha. Shayla desejava vê-lo, como se ele fosse sua razão de viver.

A cada ano, ela aprendia um pouco de sua língua mágica e um pouco dele. Soube que ele era um nobre de seu povo e que eles apreciavam danças e festas. A cada ano, ele levou um presente para a jovem. A cada ano, um novo prazer descobriam na companhia um do outro. Esqueciam de seus mundos e viviam para um para o outro, mesmo que por um dia.

Assim se seguiu por sete anos, se encontrando naquela mesma data e naquele mesmo local. No entanto, ao oitavo ano ele não compareceu, e ela o aguardou, com o pequeno Andrews nos braços, até o cair da noite. Nunca mais o viu.

Chorou de tristeza por sete dias. Seu senhor a expulsou, após anos de resistência da jovem, agora uma mulher. Vagou por sete dias com seu bebê nos braços, pelas ruas dos vilarejos, até ser acolhida pelo rei e pela rainha quando estes a viram alimentando o filho com um sorriso e uma amabilidade fora do comum...

Os regentes perceberam o coração puro da mulher, que sempre ajudou aos criados em seus afazeres, mesmo quando cansada. No dia em que a rainha adoeceu, ela ficou ao seu lado e deu-lhe apoio. Ofereceu seu ombro após a morte dela e cativou o coração do bom homem.

Quando saudosa de seu amado, olhava para o alto onde uma estrela solitária parecia chorar com ela. Quando feliz por seu filho, olhava para o céu noturno e a estrela parecia sorrir orgulhosa com ela. Nunca desistiu de reencontrá-lo naquele mesmo local onde se viram pela primeira vez. Orou a Deus que não os separasse de forma tão cruel...



A lágrima cai no frio chão de pedra, mas Shayla se vê naquele mesmo campo e com as mesmas roupas de quando o conheceu. E lá o vê, belo como naquele dia a sorrir. Suas vestes de seda branca e bordados dourados. Mais elegante que um rei, mais majestoso que um deus. Junto a ele, está o corcel prateado, com sua sela de couro e os arreios de prata. Ele estende a mão e ela aceita. Seu amado a ajuda a subir na montaria, que lhe saúda com um suave relinchar e cavalgam como o vento... Para juntos alcançarem o Reino dos Imortais...

O local ao qual todos chamam de Paraíso...
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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

Mensagempor Malkavengrel em 17 Set 2007, 12:37

Adoro essa sequencia de contos. ^^

Eu tambem comecei a participar do seção de contos nessa epoca. ^^'

Mas enfim esse conto é otimo. Adoro a visão do Tempo relativo disso... Bom para entenderem esperem pelo resto xP


Bjão moça.
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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

Mensagempor Lady Draconnasti em 17 Set 2007, 15:41

Hhuahahuahua

O fim da Era Dourada da Spell. Muitos contos bons e muita gente entrando só por causa do Concurso... Bos tempos, bons tempos...

Não só Tristes Contos de Fadas, mas praticamente todos os outros contos que escrevi estão passando pelo mesmo processo. Alguns ficando melhores, outros ficando mais... enrolados XD

Por falar nisso, Nove Caudas será o próximo alvo após minhas provas na faculdade.
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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

Mensagempor Dahak em 20 Set 2007, 00:45

Primeiro: que saudade!
Segundo: fruta que caiu, essas leituras mais que boas me trazem tantas coisas, tantas memórias, tantos pensamentos, tantas divagações...e eu tinha uma prova pra estudar :P
Hauahauahauahauahau

Sabe que cada vez que me deparo novamente com os Tristes Contos de Fadas tenho a sensação que fica cada vez melhor?!

E olha, tem algumas passagens lindas ao longo do conto.
Na minha opinião, um de seus melhores.

Beijão!

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Mensagempor Lady Draconnasti em 20 Set 2007, 12:11

Acontece. Esse, em particular, também me traz muitas boas recordações.

Uma delas era a que 2003, ano em que a história foi criada, foi o ano em que eu mais desenhei E estudei.
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Tristes Contos de Fadas - Sete Anos

Mensagempor Dahak em 20 Set 2007, 13:21

Você ainda estava no cursinho, né?
Penúltimo ou último ano fazendo-o.

2003 não é um ano de muitas boas recordações pra mim não :lol:

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Mensagempor Lady Draconnasti em 20 Set 2007, 17:16

Penultimo ano, embora soh tenha feito cursinho em 2004 até o mes de Julho. Mais ou menos o período em que passei numa faculdade particular.
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Mensagempor Mai em 20 Set 2007, 21:12

Eu sinceramente não lembro de ter lido esse teu conto antes, Nasti. Pode ser que eu esteja enganada, sabe como é minha memória... XD

E também não lembro se foi nessa época que eu entrei na Spell... Acho que ou foi um pouco antes, ou foi um pouco depois... :blink:

Mas muito, muito bom mesmo! Adorei o texto, Nasti. [Bah, eu adoro todos os seus textos. Você escreve bem demais :linguinha: ]
RAWR. IMMA DINOSSOR.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 20 Set 2007, 21:21

Nem tanto, querida, nem tanto...

Além disso, esse é o primeiro. Tem outros três ou quatro da mesma linha.
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Mensagempor Dahak em 20 Set 2007, 23:50

Vai, até que minha memória não tá tão ruim =P

Dark Lady, você é mais antiga que nós =P


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