Encontro, Completo.

Mostre seus textos, troque idéias e opiniões sobre contos.

Moderadores: Léderon, Moderadores

Encontro, Completo.

Mensagempor Lanzi em 12 Set 2007, 19:50

É um conto de ficção científica que escrevi recentemente. Dividido em três partes, sendo a primeira a maior de todas.


----------------------

Encontro, Parte Um

As recentes descobertas no campo astronáutico e científico haviam causado muito rebuliço nas tortuosas vielas de M, onde se encontrava o Centro Científico e Astronáutico Mundial. A esta altura era impossível garantir um lugar para se sentar no salão de reuniões, ainda que a conferência fosse restrita ao público especializado e o caso não houvesse sido divulgado a mais ninguém – mantinha-se um sigilo regular. O centro estava tumultuado e no meio do salão de mármore verde, Fizz, diferentemente dos outros cientistas que ali estavam, esperava pacientemente a poeira abaixar para começar o falatório. A gritaria ecoava solta no formato em cúpula do salão.

Fizz era um nativo de L. Sua pele era um pouco mais esverdeada, com poucas manchas, e por isso era considerado muito belo. Os cabelos apresentavam um alaranjado que lembrava o pôr-do-sol e embora os primeiros sinais de calvície fossem perceptíveis, tinha apenas vinte e oito anos. O cientista apresentava um costume bem peculiar de manter as orelhas longas caídas sobre os ombros, os que não o conheciam – era raro – olhavam-no de maneira estranha por causa disso. Era magricela, porém não tão alto e nem tão baixo. A sua paciência inabalável era rara entre o povo lepriano, além de ser muito tranqüilo, o que o diferenciava, uma vez que era uma característica bem comum neste povo a agitação. E assim como quase todos os que estavam presentes no salão ele vestia longos tecidos coloridos, típico dos cientistas locais. Na narina usava um alargador devido suas dificuldades respiratórias.

Logo que o alvoroço terminou – ou diminuiu – os leprianos puderam se focar no centro do salão. Não foram disponibilizados lugares suficientes para todos os convidados, portanto ainda havia alguns de pé com agendas em mão para fazerem anotações, outros carregavam gravadores e os mantinham suspensos no ar. Todos estavam muito atentos, cochichando uns com os outros sobre o que viria a acontecer. Muita especulação de pouco valor científico. A verdade é que estavam extremamente fascinados com o recente avanço.

- Senhores, – começou Fizz lentamente e com muito cuidado para não atropelar as palavras - tenho certeza de que todos vocês me conhecem, mas ainda assim, vou apresentar-me: meu nome é Fizz Emprey e sou um cientista astronáutico. Vejo que muitos vieram de longe para tomar conhecimento do que acontece, então não demorarei a expor para vocês as nossas maravilhosas descobertas porque creio que alguns ainda não tomaram ciência delas.

Um pequeno distúrbio murmurado fez Emprey ainda completar: “- Sim, haverá momento para perguntas”. Ele se levantou e começou a caminhar lentamente ao redor do interior da circunferência formada pelas cadeiras fofas e azuladas, olhando diretamente para os espectadores, até cumprimentou alguns educadamente, como era de praxe. Seus passos ecoavam no recinto recheado de pequenos sussurros. Um pássaro dourado pousou na clarabóia e o fez olhar para cima.

- É de conhecimento cientifico que passamos por um processo de estagnação intelectual. – fez uma pequena pausa para organizar melhor as idéias – Digo isto por causa da política adotada por nós, as faixas dos mares do sul, há exatos vinte anos. – ouviram-se cicios. – A política a qual me refiro é da dieta das pílulas, ou regime das pílulas, como vocês preferirem, apesar de que os comprimidos não se limitam somente à alimentação. Sabe-se que a política das pílulas só é usada nas faixas dos mares sul, afinal, é a única região que dispõe de infra-estrutura para botá-la em prática.

- Sei que o grande público ordinário não tem sequer metade do conhecimento que temos sobre a rotina das cápsulas. Reconheci alguns rostos aqui que provavelmente vieram das faixas dos mares do norte, portanto, vou fazer uma pequena introdução sobre essas cápsulas, pois tenho certeza de que vocês ouviram falar sobre as mesmas, mas se não moram aqui então devem ter pouca experiência sobre o assunto, sendo ele essencial para o que virá a seguir.

- Há vinte anos o consumo de drogas, medicamentos e pílulas era muito comum. Os avanços na indústria farmacêutica contribuíam severamente para aumentar a intensidade com que essa prática se disseminava. Cada vez mais havia pílulas para menores necessidades, que sequer precisavam destas. Como fazer com que as pessoas usem aquilo que elas não precisam? – alguns de vocês, mais jovens, devem estar se perguntando. Eu respondo que é simples; propaganda. E não tardou para que quase toda a população leiga e comum usasse esses comprimidos para os mais diversos motivos; sono, enxaqueca, fome. Com essa demanda se elevando rapidamente, as indústrias farmacêuticas obtiveram renda suficiente para investir nessa área que se alargava. Mais tecnologia e pesquisa e a revolução chegou com a pílula para alimentação. Não preciso nem lhes explicar o conflito que isso causou, mas alguns de vocês devem saber só através dos livros; antigamente a alimentação era orgânica para todos, e não só para nós cientistas. Pode parecer repulsivo para alguns que aderiram à dieta das cápsulas, mas é verdade. E essa idéia de conservar o meio ambiente hoje em dia é universal por causa da publicidade feita naquela época. Sustentavam o argumento de deixar de matar animais e plantas para consumirem as drogas. Até que é um ideal muito belo, mas hoje já sabemos como esses comprimidos podem ser prejudiciais.

Todos olhavam muito atentamente para Fizz, mas não deixavam de comentar uma ou outra palavra do que ele dizia, sempre com cochichos direcionados ao nada. Ele se sentou novamente e tomou um bom gole de água. Esse já fora um tema muito polêmico em tempos passados, mas estava sendo deixado de lado hoje em dia, ao menos para as massas.

- Os problemas a qual me refiro são vários. – Continuou - O nosso organismo foi feito para ações naturais. Hoje temos pílulas para os mais diversos meios e, como sabem cada uma tem uma cor. Dependendo da intensidade da pílula azul, pode-se dormir mais ou menos e continuar sem sono. Dependendo da intensidade da pílula rosa, pode-se descansar ou relaxar inercialmente. Dependendo da intensidade da pílula marrom, podemos escolher até mesmo o tipo de comida que iremos sentir em nossas bocas, enquanto a substância liberada garante a nutrição. Podemos falar da intensidade da pílula vermelha, que serve para o exercício físico. Ou até mesmo a pílula amarela, que serve para as jornadas de trabalho. Há dois dias vocês puderam notar que chegou ao mercado uma nova pílula; a preta, que serve para estimular o raciocínio. Nesse ponto, garanto que as indústrias farmacêuticas atingiram nosso ponto fraco, porque defendíamos a idéia de que as drogas limitavam as pessoas. E embora isto seja comprovado, nunca conseguimos levar essa informação às multidões, pois é conveniente aos mandantes terem o controle sobre uma população limitada. Com felicidade, posso dizer que o nosso ramo ainda não foi atingido por esse regime totalitário de comprimidos. – fez uma pausa para mais um gole de água – Tenho certeza de que vocês exigem que eu lhes explique como essa dieta e rotina limitam as pessoas. Pois bem, irei explicar.

- Fizemos estudos que indicam a presença de uma substância em todas as pílulas. Essa substância, apelidada de SUB13, estimula em nosso cérebro a liberação de prazer, semelhante ao gozo, mas se manifesta de maneira mais branda e imperceptível ao nosso consciente. O intrigante é que essa substância prazerosa só é liberada quando fazemos aquilo que a pílula nos induz. Vou lhes dar o exemplo do trabalho: tomo a pílula amarela depois do almoço para ir trabalhar na fábrica, trabalho oito horas sem me cansar e fico feliz no final do dia. Essa felicidade só é possível se o indivíduo trabalhar logo após tomar a pílula amarela. O serviço se torna suportável, além de edificante e prazeroso devido a essa substância. Isto serve para outras pílulas do tipo. Outra constatação que tivemos é de que os comprimidos garantem ao nosso corpo menor imunidade. Quer dizer que uma vez assimilado a essa rotina é muito difícil sair dela. Já experimentamos vômitos, tonturas e diarréia pesada logo nos primeiros dias ao abandoná-la. Aquilo que consumimos é sintético e em grande quantidade, portanto prejudicial ao organismo. Há mais: as drogas cortam a liberdade de pensamento, sendo permitido somente fazer sem se tornar uma ação prejudicial aquilo que cada comprimido estimula. Apesar dos argumentos das indústrias farmacêuticas, precários em valor científico, é raro encontrar algum cidadão ordinário na faixa dos mares do sul que não seja adepto dessa rotina. Mas, ao tomarmos ciência da esquematização, proibimos os cientistas a aderirem a esse regime, até mesmo os proibimos de usar a pílula preta, que estimula a criatividade e raciocínio. É muito difícil convencer as pessoas comuns de que as cápsulas são prejudiciais, ainda mais com o valor de alimentos orgânicos atingindo níveis estratosféricos.

Fizz já estava cansado de falar. Apesar de ter muita experiência no assunto, seu cuidado para selecionar as palavras e a busca pela clareza ao discursar lhe deixavam exausto. Tomou outro bom gole de água e pediu para lhe trazerem mais. Iria recomeçar. Devido o esgotamento, decidiu não se prolongar muito mais.

- As nossas descobertas estão contextualizadas. Referem-se ao campo psicológico, neurológico, astronáutico e farmacêutico. – Se levantou para falar mais claramente – Constatamos que nosso cérebro possui algumas habilidades inerentes ao espaço exterior de nosso corpo, a qual ele está ligado imaterialmente; o cosmo. Se estimulado devidamente, a mente pode se desprender e trafegar pelo universo de maneira semelhante aos sonhos, que nada mais são do que isso. O problema é que os sonhos são manifestações do contato de nossa mente com o cosmo, mas de maneira mais simplória, uma vez que ao sonharmos não estamos estimulando o nosso cérebro devidamente para o desprendimento. Isso acontece porque o cérebro naturalmente libera uma capacidade mínima do líquido e o nosso tráfego, durante o sonho, acaba sendo totalmente distorcido e involuntário – ou até mesmo nem acontece, por isso não podemos considerar nossos sonhos como se fossem verdadeiros, mas com a devida quantidade de substância, podemos projetar nossa mente pelo espaço e vagar pelo mesmo de maneira ilimitada, percorrendo velocidades e distâncias infinitas. Sendo a mente – imaterial - uma expressão ligada ao cérebro – material, ela está impassível às leis da física. Desse modo é possível deter o controle sobre a mente e o que vemos ao navegar pelo espaço é a realidade sujeita a pequenas interpretações - porque vemos com a mente e não com os olhos - sem comprometer o produto final.

A desordem que se procedeu no salão foi indescritível. Os leprianos corriam uns sobre os outros enquanto gritavam contra o outro lado do círculo de cadeiras. Ouviam-se urros de admiração. Possivelmente era essa uma das maiores descobertas científicas dos últimos cinqüenta anos, e continuaria sendo nos próximos cinqüenta, sem sombra de dúvida. Fizz não se tornou impaciente porque previa o alvoroço. Sentou-se tranquilamente e sabia que se nenhuma atitude fosse tomada o caos tardaria muito a se acabar. Ia pedindo com serenidade e frieza para que aguardassem o término do discurso. Havia mais porvir:

- Deixem-me terminar senhores; a última descoberta é especificamente ligada ao período histórico em que vivemos. Inventamos uma pílula que ao ser ingerida possibilita em nosso cérebro a liberação de mais substância, a quantidade necessária para o desapego de nossa mente. Isso há dois meses, mas tudo feito seguindo os menores cuidados para serem evitadas fatalidades. Vocês se perguntam; para que tudo isso? Mais uma vez estamos estabelecendo uma ligação com o contexto histórico em que vivemos. Buscamos incessantemente vida inteligente fora de L. Com o desprendimento da mente, fazendo com que ela possa viajar pelo espaço com velocidade incomensurável, será possível encontrar planetas não só habitáveis, mas habitados e com raças inteligentes, que talvez possuam essas mesmas habilidades cerebrais que nós, estabelecendo assim um diálogo imaterial. Sei que pode ser muito difícil encontrar esse planeta e esse povo - também muito complicado estabelecer um diálogo - pois temos um conjunto quase infinito de corpos celestes. Mas com o determinado tempo para a pesquisa e com o treinamento necessário, garanto que poderemos triunfar e alegar a maior descoberta de todos os tempos. O Projeto L será iniciado amanhã e já escolhemos o agente. Está aberta a sessão para perguntas.
Editado pela última vez por Lanzi em 30 Set 2007, 22:07, em um total de 3 vezes.
Avatar do usuário
Lanzi
 
Mensagens: 2322
Registrado em: 25 Ago 2007, 13:51

Encontro, Completo.

Mensagempor Dahak em 12 Set 2007, 22:25

Lééééooooo!
Como tá, champz?

...ao conto!

Apesar de alguns parágrafos serem cansativos (acho que dividí-los viria a calhar!), o todo corre bem, bastante bem.
Gostei do tom "cult" que senti em suas palavras, hahahaha

Em um ou outro momento eu tive de voltar algumas linhas para ver se eu tinha entendido direito certas informações, mas deve ser porque li enquanto comia =P

Por fim, achei bacana o fato de que, apesar de ser ficação, você permeou bem a realidade.

Uma primeira parte bastante animadora.

Abração!


Dahak Out
Life. Live.
Avatar do usuário
Dahak
 
Mensagens: 1655
Registrado em: 20 Ago 2007, 22:32
Localização: São Paulo

Encontro, Completo.

Mensagempor Gehenna em 13 Set 2007, 00:28

Nativo de L, proveniente de K, dando palestra em M e procurando vida fora de L.
Meio confuso, mas bem bacana.

A calma de Fizz facilita a leitura sem pressa, para melhorar o entendimento. Prevejo contato com aliens q no caso seremos nós e espero a continuação.

Falowz
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Encontro, Completo.

Mensagempor Lanzi em 14 Set 2007, 17:04

Gehenna

Na versão oficial do conto, eu retirei esse "proveniente de K", porque K é o país de qual ele veio, mas a informação não era vital e só viria a complicar.

Dahak

Fique ligado, haha.

Abraços e obrigado aos comentários.

----------------------

Encontro, Parte Dois

Rud Gerk já fitava aquela pílula fazia alguns minutos. Fora lhe dada permissão para ingeri-la no momento que achasse mais oportuno, pois se tratava de uma decisão delicada e ele ainda não havia tomado iniciativa para tal. Esperava sentado e olhava para a cápsula, embora seu pensamento estivesse muito mais distante, vagando pelo universo, assim como ele faria dentro de poucos instantes.

Uma curiosidade bem peculiar havia perambulado pelas reflexões de Rud durante o período em que treinava para a missão. Já sabia de antemão sobre a necessidade da droga para o desprendimento material da mente. Era oriundo das faixas dos mares do sul e, naturalmente, conhecia muito bem o esquema destas. Convivia cotidianamente com indivíduos que haviam sido assimilados à rotina e assim que lhe disseram – secretamente como sempre – sobre a cápsula inventada para a missão, pensou muito com os seus botões sobre qual seria a sua cor. Só foi saber no último momento e era justamente a cor sobre a qual não havia matutado: transparente. Apesar de todos os cuidados tomados durante a pesquisa para serem evitadas fatalidades, ele ainda sustentava receios sobre possíveis danos cerebrais causados pela droga e pela imensidão com que seu cérebro se depararia. Apesar de toda a confiança que Fizz lhe passara, ele ainda nutria essas inseguranças que haviam se suavizado devido o nível profissional de seu instrutor absolutamente respeitável.

Os coordenadores da missão observavam Gerk pelas câmeras, na sala ao lado. Viam aquele lepriano magricela, sentado como um corcunda, macambúzio e resignado, sem a menor pressa para tomar uma atitude. Vestiram-no com uma manta azulada, muito aconchegante, porém desnecessária, uma vez constatada a anulação do tato durante a jornada mental. Os cientistas, diferentemente de Rud, esperavam com extrema impaciência, de certa forma natural para qualquer outro lepriano.

Foi num momento singular; pegou a pílula, colocou-a na língua e a fez descer com a água do copo. Faria efeito dentro de uns quinze minutos. Imaginou túneis de luzes psicodélicas e sons surreais, mas simplesmente adormeceu de forma sossegada e despreocupada, o que era de certa forma frustrante. Houve uma inquietação na sala ao lado e os cientistas começaram uns a cochichar com os outros de maneira impertinente, sem a menor seriedade, fazendo comentários por vezes cínicos. Fizz estava ali também, mas se abstinha da conversa, mantendo a atenção no televisor que reproduzia a imagem com cores preto e branca. Esperava apenas estudar como o corpo permanecia, enquanto a mente trafegava de maneira absoluta pelo cosmo. Rud voltaria dentro de provavelmente quatro horas, segundo os cálculos de quanto tempo duraria o efeito da droga.

Um turbilhão de luz prateada intensa acordou o agente da missão. A claridade ardia os seus olhos e formava um redemoinho afunilado que sumiu em milésimos, mas permaneceu em sua memória instantânea, sobrepondo os objetos – materiais – no seu campo de visão. A mente de Rud não se encontrava mais na sala, embora seu corpo ainda repousasse na cama, conforme os cientistas haviam-no colocado. Uma imagem acrescentava-se à outra, de maneira irreal, fruto da maleabilidade das interpretações da mente. As cores eram reproduzidas de maneira irregular, não como seriam vistas pelos olhos, mas com falhas, às vezes em negativo e com uma cor misturada com outra. Uma fração de imaginação o fez se deslocar por milhões de quilômetros. Via de muito alto toda M e suas ruazinhas embrenhadas no verde da floresta que circunscrevia majestosos edifícios, cuja arquitetura reverenciava aquela natureza, tão presente e íntima. Ainda mais do alto e ele pôde avistar L, mas com uma clareza surpreendente, entendendo e visualizando cada foco de civilização no seio daquele planeta farto de árvores. Um chacoalhar na imagem devido a certas reflexões pessoais e Rud percebeu como seria incomensuravelmente complicado aprender a controlar aquele manche hipotético, porém havia sido treinado para isso com extrema competência.

As mais diversas emoções tomaram Gerk quando ele começou a vagar pelo espaço, observando planetas multicoloridos, nebulosas e constelações maravilhosas. Num primeiro momento ficou recheado de liberdade nunca antes vista. Após a consciência dessa liberdade e o poder sobre ela, se sentiu sozinho e insignificante, de maneira quase insuportável perante o infinito vácuo do espaço. Não fossem os exercícios durante o rijo treinamento, teria se descontrolado. Em seguida, memórias infantis fizeram transbordar seu coração e ele chorou como a criança que já havia sido, mas não sentiu lágrima alguma escorrer. Ainda assim, achava fascinante tudo aquilo e a considerava como a melhor experiência de sua vida até então, e mal esperava pela próxima vez - seria interessante se essa droga fosse comercializada. Rud explorava o universo de maneira imponente e em velocidade infinita, com todo o cuidado e clareza para observar cada planeta em fragmentos de segundos, de forma tão ilimitada quanto seu poderoso intelecto. Talvez por fruto do acaso em um momento que sua mente oscilou – era extremamente necessário se manter focado e atencioso, pois o caminho percorrido dependia do que se pensasse – percorreu uma distância incompreensível, caindo num platô verde pela extrema quantidade de plantas. Verde esse que só poderia ser mais brando que o de outro planeta: o seu.
Editado pela última vez por Lanzi em 30 Set 2007, 22:09, em um total de 1 vez.
Avatar do usuário
Lanzi
 
Mensagens: 2322
Registrado em: 25 Ago 2007, 13:51

Encontro, Completo.

Mensagempor Gehenna em 19 Set 2007, 03:19

Wow! Aparentemente, chegamos à Terra. Teremos um contato imediato de terceiro grau com a projeção astral de um alienígena. \o/

Muito boa a descrição da "viagem espiritual" do Rud.
Espero a continuação.
Falowz
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Encontro, Completo.

Mensagempor Lobo_Branco em 23 Set 2007, 13:42

Muito bom o textos. A dissertação de Fizz, e a descrição da viagem astral de Rud ficaram muito boas mesmo.

Dei risada, ao constatar, depois de td o discurso "anti-pílula" do cientista, a maior descoberta ser tbm uma pílula.

A leitura, apesar de fluir calma, sem problemas, ficaria mais facilitada se vc usasse parágrafos menores.

Estou no aguardo da conclusão. Abraços!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


O Último Duelo - conto Capa&Espada
Avatar do usuário
Lobo_Branco
 
Mensagens: 289
Registrado em: 26 Ago 2007, 13:22
Localização: Aquele Bosque com ares de Floresta, na periferia de Contonópolis

Encontro, Completo.

Mensagempor Lanzi em 25 Set 2007, 14:43

Encontro, Final

Louis Bettiol andava pela orla do riacho, vez ou outra molhava os seus pés descalços. Contemplava a natureza com um respeito digno e parou em vários pontos do caminho para fazer uma oração agradecendo a toda aquela harmonia e beleza. O mosteiro sumia atrás da floresta e das montanhas. O padre havia andado tanto que nem se lembrava, porém não sentia o menor sinal de exaustão. O riacho cercado de árvores ia ficando para trás, assim como os pássaros habitantes do bosque. Havia encontrado vários no percurso, alguns que nunca tinha visto até então; dourados ou cor de rubi. Deveriam ser muito raros na França e quando chegasse ao mosteiro iria comentar com os seus companheiros.

Apesar de que o local onde estava fosse significativamente afastado, não sentiu vontade nenhuma de dar meia volta e retornar, pelo contrário, seguiu em frente subindo morros e colinas andando por um caminho de terra batida que provavelmente fora feito por alguém que havia estado ali há pouco tempo. Andou durante cerca de meia hora até atingir o topo da trilha que dava vista para um enorme planalto verde como em seus sonhos, com uma vegetação dos mais variados tipos. Era belíssimo.

Ia caminhando sob a sombra das folhas e galhos quando avistou logo à frente uma criatura monstruosa. Era vermelha e tinha um aspecto assombroso e diferente, o que deixou o padre muito intimidado e assustado, porém se conteve. Quisera ter ali consigo uma espada para se defender, caso fosse necessário. O animal estava de costas, exibindo sua cabeleira escura e colossal, e Louis teve sorte do mesmo não tê-lo notado, pois pelo seu tamanho o destroçaria em pedaços com facilidade. Bettiol correu com precaução para se esconder atrás de uma árvore a fim de analisar melhor aquela besta. Era avermelhada, isso já tinha notado, mas usava uma manta azul e, portanto poderia ser inteligente, mas vil, assim esperava. Era difícil reprimir toda aquela curiosidade e tensão, que o faziam remexer incessantemente atrás da árvore. Por um descuido, o padre pisou em um galho seco e quando foi tentar concertar o erro, acabou caindo no amontoado de folhas e chamou para si a atenção do bicho. Quando este virou e exibiu o rosto, um calafrio infernal percorreu a espinha de Louis. O monstro tinha enormes chifres caídos que desciam até desaparecerem por trás das costas e o padre ainda não havia atentado para esses chifres devido à crina generosa da besta. No centro da face apresentavam-se duas narinas que pareciam fornalhas de tão avantajadas. O olhar indigno e repugnante fitava o padre e parecia tramar contra ele. Caminhou de maneira engenhosa avançando contra o padre, que se contorceu de medo. O monstro preparava-se para praguejar maldições contra a sua alma. Um frio paralisante lhe congelou no meio da folhagem enquanto o animal austero marchava sob a sombra das árvores.

Bettiol acordou na cama suando e em prantos. Naquela noite havia sonhado com demônios. Não contaria seu sonho para ninguém no mosteiro, pois senão seria motivo de escárnio.


FIM.

----------------------

Gehenna

O texto ficou previsível assim ou você que é bom nisso mesmo? Auahuahuaha. Obrigado pelos comentários.


Lobo_Branco

Irônico não? Mas essa risada, quer dizer que você gostou, ou não? Na sua opinião, isso deixou melhor o texto?

Sobre os parágrafos: na hora eu tava com vontade de fazer parágrafos grandes. Auahuahuah.

Abraços e obrigado por comentar.
Editado pela última vez por Lanzi em 30 Set 2007, 22:10, em um total de 1 vez.
Avatar do usuário
Lanzi
 
Mensagens: 2322
Registrado em: 25 Ago 2007, 13:51

Encontro, Completo.

Mensagempor Gehenna em 25 Set 2007, 15:18

Huahuahuahua, vou dizer que eu é q sou o bom. :bwaha:

Não foi difícil presumir. Creio que ninguém escreve conto com alienígenas se não envolver o contato conosco. :b


Quanto a última parte, eu esperava um contato mais amplo, porém, até que ficou legal a visão do padre ao se deparar com um contato imediato onírico e imaginar ser um demônio.
Avatar do usuário
Gehenna
 
Mensagens: 828
Registrado em: 25 Ago 2007, 01:52
Localização: Torre Sombria, no bairro de Noite Eterna, em Contonópolis

Encontro, Completo.

Mensagempor Lobo_Branco em 25 Set 2007, 23:21

A risada foi por conta da hipocrisia dos alienígenas, porém, gostei da revelação.

Não gostei muito dessa última parte. Não via necessidade de mudar o foco da narrativa. Mesmo mostrando o encontro com o padre de forma interessante, teria sido mais cativante, se mostrasse a reação aos eventos pela perspectiva do e.t.

No geral, eu gostei muito do conto. Inusitado. Meus parabéns!!!

Abraços!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


O Último Duelo - conto Capa&Espada
Avatar do usuário
Lobo_Branco
 
Mensagens: 289
Registrado em: 26 Ago 2007, 13:22
Localização: Aquele Bosque com ares de Floresta, na periferia de Contonópolis

Encontro, Completo.

Mensagempor Dahak em 05 Out 2007, 13:26

Céus, esses olhos do avatar Gehenna me dão vertigem, hauahauahauahaua

Léo, sabe o que mais gostei nesse seu conto?
Notar que você tá craque na matemática.
Antes de me achar (tão) maluco, me refiro a arte que é dosar os elementos de uma criação.

Não raro nos perdemos ou fugimos do foco principal, puxamos a sardinha para um lado, depois puxamos a sardinha para outro. Incrementamos muito uma coisa, piramos no lado fantástico mas mantemos uma escrita sóbria e gelada. Eu, pelo menos, preciso tomar muito cuidado para não lidar com os opostos, lol.

E gostei muito de notar que ao longo de toda a história, você soube dosar bem o que era esperado da instituição que representa o mosteiro, por exemplo, com os elementos de ficção, referentes aos alienígenas.

Pareceu-me sensato como Chris Carter.
De forma geral, achei bom, muito bom. Mas creio que poderia haver mais surpresas ou um final mais em aberto.

Abração.


Dahak Out
Life. Live.
Avatar do usuário
Dahak
 
Mensagens: 1655
Registrado em: 20 Ago 2007, 22:32
Localização: São Paulo

Encontro, Completo.

Mensagempor Sampaio em 07 Out 2007, 00:10

Muito bom.
Conforme comentei com o Dahak por MSN, fazia tempos que não lia um conto de "ficção científica" não-aventuresco. Um bom conto ainda por cima, raríssimo.

Muito bem escrito, muito bem descrito, fluidez rara e consegue tornar falas supostamente não-tão-interessantes em algo gostoso de se ler, devido a naturalidade que imbui.

Não gostei do final. Não vejo problemas na mudança de perspectiva do conto (passando para o padre), mas achei que o final foi, para ser direto, preguiçoso. Na preguiça de pensar em uma resolução melhor, mais inventiva, surpreendente ou interessante, resolve cortar e encerrar de uma forma que me deixou com a sensação de, com o perdão da expressão, um bom sexo mas sem o gozo.
Gosto e admiro finais anárquicos ou enigmáticos, mas este achei simplesmente um escape mais simples ao esforço de contruir algo do nível do conto que elaborou.

Fique travado por semanas, meses, mas se vc realmente escreveu este final para "terminar logo com isso", reescreva-o. Tem aí um conto muito bacana.

No mais, parabéns!

Abraços
Spell: não somos bonzinhos, somos sinceros!
http://www.spellrpg.com.br/portal/index ... &Itemid=72

Perguntem qualquer coisa lá:
http://www.formspring.me/Pedrohfsampaio
Avatar do usuário
Sampaio
 
Mensagens: 2578
Registrado em: 19 Ago 2007, 21:57
Localização: Perdido

Encontro, Completo.

Mensagempor Lanzi em 07 Out 2007, 16:00

Gehenna

Auh, obrigado pelos comentários. E pôxa, existem MILHARES de histórias sobre alienígenas que não fazem contato conosco!


Lobo_Branco

E essa contradição ficou interessante no texto, ou ficou parecendo um erro do escritor? Valeu pelos comentários, e respondendo sobre a narrativa: achei que ficaria legal e mais entendível...


Dahak

Muito conveniente essa perspectiva sua, eu mesmo não havia notado. Porque essa não é a primeira versão do conto, antes ele era BEEEEEEEEM diferente, então aproveitei pra deixar um pouco mais nivelado, sendo que antes as idéias estavam muito esparsadas. Vou somando mais um comentário sobre o final negativo, uahuha...


Sampaio

Muito obrigado pelos elogios, e fico um pouco triste em saber que a crítica se refere a uma parte do conto que não dispunha de tanta mobilidade para ser mudada, porque eu escrevi esse conto pra um concurso que tinha um máximo permitido de palavras. Mas fico muito feliz em saber que você gostou das idéias.


Galera, muito obrigado pelos comentários e paciência ao terem lido um conto relativamente longo. Até a próxima. Abraços.
Avatar do usuário
Lanzi
 
Mensagens: 2322
Registrado em: 25 Ago 2007, 13:51

Encontro, Completo.

Mensagempor Dahak em 12 Out 2007, 23:26

HUohaiuohauiohuAIOhAUI
Léo, o final não ficou ruim, mas ficou bem aquém do restante do conto.
Veja pelo lado positivo, a crítica se refere ao fato de que apenas o final não segurou a onda, que todo o restante correu bem bacana :)

E que concurso foi esse?

Abração e que a próxima venha logo :P


Dahak Out
Life. Live.
Avatar do usuário
Dahak
 
Mensagens: 1655
Registrado em: 20 Ago 2007, 22:32
Localização: São Paulo


Voltar para Contos

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 1 visitante

cron