Em queda livre

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Mensagempor Madrüga em 20 Mar 2009, 12:49

Um dia qualquer – já não consigo me lembrar do que fazia –, resolvi pegar uma passarela para agilizar minha ida – ou volta. Essas construções sinistras, geralmente pintadas de amarelo, com uma longa rampa espiral para se subir ou descer: monumentos feiuscos, mas politicamente corretos. Com pressa, comecei a descer, e não havia ninguém por perto.

Cerca de quinze minutos depois é que percebi que alguma coisa estava errada: continuava a descer, mas não chegava à rua; a paisagem urbana desvanecia e, assustado, pensei em voltar. Entretanto, ao olhar para cima, percebi que aquela rampa se espiralava em direção aos céus e se perdia por entre nuvens, daí a decisão: mais fácil descer que subir.

Enquanto os prédios, a fumaça e as buzinas desapareciam, eram substituídos por outros sons e imagens e sensações; parecia que, quanto mais eu descia, mais diferentes eram as paisagens. Ora uma vegetação tropical cerrada com uma garoa fina e tempo abafado, ora cactos e arbustos fustigados por ventos arenosos e tórridos. O tempo passava, eu podia sentir e perceber: meus cabelos e barba cresciam, minhas roupas se esfarrapavam, dia e noite se alternavam, estações do ano voejavam pela longa espiral. Ao longe, aquela estranha e interminável paragem – nem sombra da cidade.

Certa vez, quando a rampa acabou, surgiram degraus, dos mais variados tamanhos e materiais; variavam também de acordo com o clima e a vegetação dominante. Na maioria das vezes, pareciam ruínas de civilizações perdidas. Em diversos pontos, corria água cristalina; pequenos rios escoavam pelas laterais da escadaria e geralmente desaguavam para fora. As vigas que se ligavam ao pilar central – que já parecia algo antiqüíssimo também – estavam sempre cheias de plantas e árvores, muitas vezes frutíferas. Eu vivia, e bem, dessas benesses. Ocasionais animais apareciam, mas jamais me incomodavam; chegavam a adicionar certo colorido à cena, algo de mais inusitado e estranhamente natural nesse cenário já tão grotesco.

Já nem me lembro de quando apareceu a primeira pessoa. Por vezes, uma pessoa me alcançava na descida, ou eu mesmo encontrava alguém perdido pelo caminho; o cruel da situação é que eram companheiros de viagem temporários: por mais que eu me esforçasse, sempre acabavam por desaparecer. A alegria inicial, a aparente diminuição do suplício, tudo isso costumava acabar. Jovens, velhos, crianças, mulheres, cães; não importava quem fossem, não importava quão interessantes ou repulsivas fossem suas companhias, todos acabavam desaparecendo dentro de alguns dias. Igualmente não sabiam porque estavam ali, na espiral descendente, mas eu era mero oásis na jornada de outrem, como eles eram para a minha. E isso, como tudo, embotava meu coração, endurecia meus sentimentos.

O ápice do desespero foi quando, em um breve recesso de minha férrea determinação a nada sentir, acabei me apaixonando por uma companheira de viagem; a descida só piorava quanto maior era, para nós, a consciência de que brevemente nos separaríamos para sempre. Chegamos a nos amarrar com cordas improvisadas, e tentávamos não dormir; isso só nos deixava cada vez mais angustiados, mais temerosos, mais paranóicos. E quando a espiral se tornara primaveril, quando eu tentara não dormir mais um vez, caí no sono e nunca mais a vi. Acordei de supetão, tentei correr para baixo e para cima, mas, como esperava, não a encontrei; e foi assim, nesse estertor de agonia, que acabei tropeçando.

Nunca algo parecido tinha me ocorrido; mas rolei pela escadaria sem fim, e ao finalmente parar, vi que meu sangue jorrava copiosamente e escorria como um rio pelo curso espiralado – e desmaiei. Acordei, creio, muito tempo depois; o clima mudara e eu estava cheio de pó. Levantei aturdido, cheio de hematomas e cortes, e ainda vaguei por um tempo, até ter uma idéia lúgubre.

Não foi o estrangeiro que disse que nos acostumamos a tudo na vida? Seja quem fosse, tinha razão; minha desesperação inicial foi lentamente substituída por certa letargia, uma sensação renitente de que permaneceria ali para sempre. A idéia lúgubre, a do suicídio, criou um desdobramento ainda pior: despencar dali, naquela imensidão sem fim? E se eu caísse sem chegar ao fundo, podendo morrer até de fome, em queda livre? Não poderia haver tormento maior que passar essa eternidade a morrer lentamente, em queda livre, depois de tanto tempo de declínio para o fim daquela espiral sem fundo. Desisti rapidamente; a perspectiva era assustadora demais.

Meu sangue, percebi depois, corria lentamente para baixo; óbvio, se a tendência de tudo é decair, declinar, ir para baixo. Mas resolvi continuar seguindo as escadas e meu sangue, que serpenteava e cascateava pelos degraus. Sem ter noção do tempo, pensei ter passado anos perseguindo meu próprio sangue, afundando cada vez mais na escadaria. Só fui perceber quanto tempo tinha passado, só fui perceber quando tinha envelhecido, só fui perceber quão longa minha descida tinha sido assim que, ao gesto mecânico de descer um degrau, encontrei o chão. Plano. Frio. Alguns passos adiante, uma porta entreaberta, pétrea, provavelmente tão antiga quanto o resto da estrutura. Um filete de meu sangue, derramado havia tanto, esgueirava-se pela fresta, debaixo da réstia de luz. Estaquei em frente daquela porta, e devo ter passado anos hesitando.

Já que o tempo não era mais importante, inimigo ou aliado, ponderei longamente sobre sair; já me sentia parte daquela espiral que sempre acreditei não ter fim. Liberdade já me era uma questão estranha; até queria sair, mas não tanto como me sentia seguro em minha eterna solidão. Pensei até em dar as costas para a porta e subir a espiral... mas já tinha levado tanto tempo descendo, que subir me parecia impossível; era o tipo de decisão que deveria ter feito assim que me vi preso ali. A tendência natural das coisas era decair, descer; é a direção mais fácil, mais simples, e eu já estava tão velho, tão encanecido que não suportaria a ascensão.

É por isso que escrevo hoje este diário, por menor, incompleto e apressado que seja. O mistério daquela porta me fascina e me repulsa; sinto que, esteja o que estiver além da passagem, minhas memórias podem servir a outrem, àqueles que, um dia, podem vir a trilhar meu labiríntico caminho. A quem puder ler estas memórias, boa sorte na jornada; agora me despeço em direção ao desconhecido.
Cigano, a palavra é FLUFF. FLUFF. Repita comigo. FLUFF

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Mensagempor Agnelo em 20 Mar 2009, 14:11

Não costumo aparecer muito por aqui, mas esse conto me chamou a atenção.

Engraçado como dá pra tecer paralelos entre esse "Conto e a Céu Aberto", tanto pelo ambiente surreal de pesadelo, quanto pela temática, carregado de significados possíveis. Será que estes não podem vir a se unir um dia num livro de contos?

Apenas achei que a leitura custa um pouco a engrenar, pela altura do 3º parágrafo a quantidade descrissão foi tão grande que eu precisei voltar atrás a leitura uma ou duas vezes pra ter certeza de que não perdi nada.
Eu amo você. Você é meu único filho e tenho orgulho de você. Você trouxe à sua mãe e a mim mais alegria do que eu achei que houvesse. Seja bom pra ela e cuide bem dela.

Seja um dos mocinhos. Você tem que ser como John Wayne: Não aguente merda de nenhum idiota e julgue as pessoas pelo que elas são, não pela aparência.

E faça a coisa certa. Você tem que ser um dos mocinhos: Porque já existem Bandidos demais.
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Mensagempor Elara em 21 Mar 2009, 18:51

Me lembrou um clipe de Roxette! o.O

Só tive uma dúvida: a personagem deixa o diário no pé da escada? Assim ele só serve para quem já está embaixo... Ou ele é muito presunçoso de achar que suas memórias servirão a quem já trilhou todo o caminho, como ele?

A escrita é boa, em um nível de descrição bem equilibrado com o que vai acontecendo com o eremita.

Chero!
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Mensagempor Seth em 21 Mar 2009, 20:23

Gostei do conto, Madruga. Um dos melhores que eu já li cá no fórum.

Senti uma semelhança, desde o começo, com dois contos do Lovecraft. Não me lembro os nomes - vou pegar - mas o primeiro tem uma longa "subida" e o segundo coloca a questão do desconhecido. Depois edito com o nome dos contos, tenho que achar o livro onde eles estão.

Também não sei se estou correto, mas acho que é possível encarar o texto como uma grande metáfora acerca da vida - curiosidade, a decadência inexorável, o apego, em última instância, a outros seres e também a nossa própria forma de conceber o mundo e a nós mesmos - e o limiar do desconhecido que seria a morte. Porém, curiosamente, eu não senti tanto a angústia - o personagem certamente tem um controle férreo de si mesmo, e a sensação de desespero desaparece perante a necessidade de relatar.
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Mensagempor Magyar em 21 Mar 2009, 21:57

Adorei.

Também demorei um pouco no começo para engrenar de vez. Mas depois embalei. Quando acabou, não tive outra vontade a não ser entrar na porta, rs.

Seth:
Não sei se seria a interpretação correta a se fazer, mas ao meu ver essa falta de "desespero" da personagem em relação ao ocorrido é devido à experiência adquirida pela personagem durante o percurso. Algo como "depois da tempestade vem a calmaria".

Aguardo novos contos, Madruga.
Tentarei postar algum conto em breve (não sei se participarei do Concurso de Contos, ando sem inspiração e tempo para tal).

Inté!
Quem me leva a sério não deveria ter saído do hospício.
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Mensagempor Dahak em 28 Mar 2009, 04:42

Bom dia Madruga. Tudo bem?
Espero que sim.

Imprimi dois contos essa semana para ler com calma, o seu e o do Alex, e não via a hora de trazer minhas impressões ^^"

Começando pelo seu título, achei muito bacana o contraste causado entre as palavras do título com o cenário principal em esperial. Minhas expectativas pelo título e pelos primeiros momentos de leitura me levavam a pensar que em algum momento haveria mesmo uma queda livre ou que era um reforço para o conceito de descer "sem outra escolha". Ao término da leitura e alguns minutos de reflexão depois, ocorreu-me que na real a queda era sim livre, mas não em função de uma força gravitacional, mas livre enquanto escolha, no sentido de escolha. E a partir de então gostei ainda mais do título, porque teve essa dualidade irônica.

A condução de sua história é bem harmônica. Há sim diversos momentos de descrição, algo que normalmente me desagrada, mas sempre há exceções, especialmente quando o trabalho requer um adorno, um cunhar mais meticuloso.

Imagino que o contexto não seria perdido se houvesse um trabalho menor de propiciar imagens, mas dada a proposta menos usual do conto, haveria uma perda de densidade e de poder de imersão caso as descrições fossem menos presentes. Provê coesão da forma como está.

Essas descrições me levam a um outro ponto, que é a "acessibilidade", visto que tais descrições endossam e subsidiam o conto.

O trabalho goza de bastante fluidez, é verdade, mas talvez espante alguns leitores por alguns fatores. Não sei se seu objetivo ao criar tal conto foi justamente publicá-lo na rede, mas em um primeiro momento, partirei do pressuposto que sim, que este conto foi concebido para ser divulgado na rede.

Ele é ligeiramente extenso para a leitura no computador. Como é uma história que demanda bastante atenção e promove reflexão, a sensação é de que o conto é ainda maior. Como sabemos, ler no monitor grandes textos pode vir a ser enfadonho. Então leitores menos encorajados podem desistir da leitura ali pelo começo, nos primeiros dois ou três parágrafos, até em função de que, na minha opinião, o conto se torna muito mais interessante após esse comecinho.

Ademais, o tamanho dos parágrafos pode assustar. Mas eu duvido que alguém desista da leitura por isso se já passou do terceiro parágrafo. Mais ou menos desse ponto para frente o conto passa do nível comum de interesse e se torna muito instigante. Eu pelo menos fiquei muito curioso para saber o que aconteceria conforme a descida se prolongava.

Meu último levantamento sobre a "composição" é sobre o vocabulário. Agradou-me muito, admito XD Foi uma leitura muito gostosa e rica em vocabulário, muito embora eu ouça todos os dias que rebuscar o vocabulário afugenta ouvintes e leitores. Então retomo meu levantamento do sobre o "objetivo", ou, melhor dizendo, sobre o público-alvo que foi intencionado.

Se eu partir do pressuposto contrário, de que seria para divulgação física e tátil, retiro meus apontamentos. São raríssimas (ok, nem tão raras, mas uma minoria em termos quantitativos) as publicações que já começam com a corda toda desde os primeiros parágrafos.

Os parágrafos correm muito bem, mal dá pra perceber o tamanho no papel. Diga-se de passagem, eles correm bem rápido. O bom vocabulário torna a leitura ainda mais instigante.

As descrições, desse ponto de vista, primam ainda mais claramente por passar uma idéia das imagens, e não em passar imagens concretas e sólidas.

Fica mesmo só o apontamento sobre o "destino".

Retomando as impressões gerais, acho que o diário foi uma boa sacada, apesar de que foi um pouco superficial, especialmente quando relatava sobre a paixonite vivida. Como era um cenário tão estático, a presença de novas pessoas, ainda que fugazes ou intermitentes, me soa como um acontecimento relevante quando me ponho na pele do autor do diário.

Essa parte não ficou ruim. Muito pelo contrário, ficou boa. Mas creio que nesse ponto poderia ter sido mais denso.

O final do conto é excelente. Ali vi esse trabalho de densidade muitíssimo bem executado. Foi muito boa a forma como você demonstrou o conflito que se apossou da mente do cara que ficou xis anos, xis decênios buscando uma saída, um fim e, quando finalmente se depara com essa saída, com o chão plano, simplesmente não sabe o que fazer.

As últimas linhas também foram bem trabalhadas, mostrando sutilmente o que aconteceu ou o que pode ter acontecido. Confesso que da primeira vez que li fiquei um pouco hesitante sobre qual rumo o cara tomou. Tendi a pensar que ele deixou o diário ali perto da porta e que foi se arriscar no desconhecido, mas em alguns momentos o final "aberto" me permitiu divagar por outras hipóteses. Até me ocorreu que poderia haver uma continuação, mais por querer incessantemente saber o que aconteceu do que por de fato achar que gaveria uma continuação :P

Ai, acho que me empolguei, hahahaha.
Mas era isso o que eu tinha a dizer, realmente curti bastante a leitura e os muitos aspectos supracitados.

Até mais!

Dahak Out
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Mensagempor Lanzi em 01 Abr 2009, 11:21

Quando você veio me falar que teve essa idéia, fiquei animado. Achei-a inteligente, carregada de simbolismo, e com ótimo potencial.

Logo no começo somos jogados ao problema. Não há enrolação. É fluído, como disse o Dahak. Aliás, tudo no conto é muito fluído, ou melhor, muito rápido. As descrições, apesar de grande parte do conto ser composto delas, são muito econômicas, com um estilo que, não sei, não me parece combinar com o da história. Mas claro, eu sei que essa era a sua intenção de abordagem.

E sabe por que me parece tão rápido? Tão econômico? Porque as idéias por trás do conto, suas interpretações e simbolismos são profundas. Então é meio angustiante ler tudo isso, com esse ritmo de descrições e de história - apesar de o conto ter um tamanho acima da média dos do forum - e não ter tempo pra interpretá-las. Claro, geralmente fazemos isso DEPOIS de termos lido. Dessa vez não, pois eram muitas. E se pararmos pra ficar interpertando cada simbolismo do seu texto - que são muitos e são bons - parece que estamos perdendo algo que vai sair do lugar. É meio absurdo, mas foi a sensação que me passou quando fui fazer isso.

É inegável que o texto é objetivo, e muito bem conduzido. O vocabulário é na medida. Aliás, o conto todo é na medida. Na medida até demais. Uma idéia dessas, com tanto potencial - que foi bem explorado nas partes do simbolismo, mas parcialmente, ao todo - merece algo maior, para que cada particularidade da obra possa ser explorada sem a preocupação com o tamanho. Não um conto. Um livro.

Abraços.
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Mensagempor Myako Lumine em 02 Mai 2009, 12:02

Achei o conto, de certa forma, de uma leitura rápida. Ele mantem ritmo e fluidez, o que fazem com que seja algo gostoso de ser lido.

Parei duas ou três vezes, enquanto lia, para atender a porta. E, quando voltei, tive de recomeçá-lo, porque tive a impressão de que o personagem já havia descido muito mais nesses poucos instantes, a impressão de que já não conseguiria mais acompanhá-lo.

Pensei em várias coisas enquanto lia, como se uma palavra ou outra dessem um sentido completamente diferente ao que estava escrito. E isso me agradou profundamente, porque saiu de algo chapado e previsível para um texto vivo, que faz com que seja difícil acompanhá-lo se pego pela metade.
"Estou nessa joça há nove anos e por mais que eu xingue, reclame, despreze, sempre volto. Porque no final das contas, não importe por onde você rode nesse mundo internético, não encontrará local mais engraçado, insano, plural e possível de ter debates de qualidade com pessoas ridiculamente diferentes."
- Sampaio

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