A MARCA - FINALIZADO!

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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor John_Coffey em 11 Set 2007, 10:25

Bom...

Povo que leu o outro conto (Aliás, muito obrigado), viu que aquele era velho e postado principalmente para marcar a nova fase da nova Spell. Agora deixo aqui um conto 100% "novo Coffey", haja visto que foi feito no pouquíssimo tempo que tive durante o feriado. Espero que todos gostem e se sintam à vontade para elogiar, criticar, por defeito e tudo o mais.

Abraços do Bardo Negro.

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É dia outra vez. A fome ainda assombra, o frio corta meu corpo e minha via crucis recomeça. A casa de caridade me provê novas roupas velhas, consigo um sapato furado e dessa vez, a dama sorte sorri e sou presenteado até com um chapéu.

Perambulo pela cidade conquistando a piedade de alguns e a repulsa de outros. Os que me dão comida (não aceito dinheiro, pois não necessito dele há muito tempo) são muito mais raros, comparados aos que me enxotam sob o pretexto de minha aparência espantar os clientes.

Chego à catedral local e entro. Não acredito em um Deus que me premiou com meu estado, mas o silêncio acalma o corpo e diminui a dor. O combústivel motor do hábito me ajoelha e a memória (ou o coração?) me transportam de novo ao pior dia de minha existência:

O sol aquece o dourado da minha pele uma vez mais e o gosto doce de minha amada ainda prenche meus lábios, assim como o contorno de seu corpo ainda arrepia meus pelos. A noite anterior trouxe carinho, doçura e a promessa de uma vida inteira de sonhos compartilhados e construídos sobre a base rochosa de um casamento. Hoje é dia de acertar os últimos detalhes.

Com o suor do meu trabalho, juntei o que julgava necessário para a cerimônia. Sou recebido por um homem gordo, dono de uma careca suada e de um cheiro rançoso que me lembra meu velho pai:

- Trouxe o dinheiro?
- Sim! Aqui está.
- Você sabe que essa quantia não é um décimo do que precisa não é?
- Mas o Senhor disse que faria um desconto...
- E farei. Desde que faça algo por mim
- Pois peça então! Nemorino jamais fugiu de trabalho e pagarei com meu suor por toda a vida, se isso fizer minha Adina feliz.
- O que eu quero é muito mais simples.
- Do que se trata?
- Da primeira noite de sua esposa
- O QUÊ?
- Eu serei o responsável por ensinar tudo àquela doce menina. Um simples trabalhador braçal como você jamais saberá como tratar uma mulher.
- JAMAIS!

Totalmente ensandecido saltei sobre o sacerdote. Minha agilidade não lhe deu tempo de reagir; seu pescoço se quebrou como um graveto e o corpo tombou com um baque surdo. Quase o mesmo som da porta se abrindo de chofre.

Os olhos de Adina perplexos sobre mim me fizeram encolher e balbuciar. Ante minha estupidez ela disse:

- O QUE VOCÊ FEZ!
- Meu amor, ele ameaçou você...
- Você matou um homem Santo, vai ser amaldiçoado! Vai receber a marca! Ó meu Deus!!
- Fuja meu Anjo. Eu pagarei pelo meu crime. So não esqueça de mim.

Conheci depois disso os horrores da prisão e fui levado aos Magistrados. Meu julgamento foi rápido e a condenação proferida com Ódio. A MARCA. Os dias se passaram e fui levado à praça da cidade.
As pessoas gritavam em minha direção palavras de ódio mas apenas uma voz, a de Adina, chegava a mim com palavras de amor eterno e compaixão. Fui então algemado e a sentença proferida:

- Nemorino, filho de Luciano, cometeste o crime de assassinato. O agravante é de que eliminaste um homem santo. Foste condenado a receber A MARCA e vagar por toda a eternidade!
- Tens algo a dizer em sua defesa?
- EU TENHO!
- O que dizes mulher?
- Eu o ajudei! Eu planejei a morte do maldito por conta do que ele fazia comigo! Ele tentou me seduzir diversas vezes e então mandei Nemorino dar cabo dele.

A multidão estupefata murmurava até que o Magistrado interrompeu:

- BASTA! Tragam essa mulher aqui!

Adina se deixou arrastar e encarou o homem encapuzado:

- Seu pecado é tão grande como o dele. O de mentir e manipular. Também será condenada.
- Eu não me importo de ostentar A Marca ao lado do homem que amo.
- Não mulher, seu destino é outro. PREPAREM A FOGUEIRA! QUEIMEMOS A MENTIROSA!

Ser marcado a ferro quente a amaldiçoado não foi nada perto do horror dos gritos de meu amor. O cheiro daquela alva pele se queimando e dos cabelos se desfazendo ainda me assombra.

Vaguei sem rumo até o mundo seguir adiante e os Elfos e dragões serem substituídos por automóvies, prédios e ciência. Até as pessoas esquecerem o que significa A Marca. Continuo a seguir meu caminho; já fui milionário e hoje vivo como mendigo. Tentei conhecer outras mulheres, apenas para que Adina me visite em sonhos e me reprove. Não há o que fazer, porque a morte foge de mim, ou melhor, da Marca e não consigo sequer por um fim em tudo. Me resta apenas deixar essa Igreja e implorar para que o mundo se acabe e eu possa enfim descansar.

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Assim termina a história de Nemorino. Espero que mesmo aqueles que não opinaram tenham se divertido com a leitura. Uma vez mais, agradeço a todos e aguardo comentários.

Abraços!
Editado pela última vez por John_Coffey em 12 Set 2007, 10:10, em um total de 1 vez.
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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor Lady Draconnasti em 11 Set 2007, 11:03

Aguardando o final para poder tirar alguma conclusão sólida.

Mas até o momento está bem interessante. A narrativa está tão fluida que mal senti que havia terminado.
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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor Dahak em 12 Set 2007, 21:10

Coffey, cá estou novamente em um conto seu ;)

Farei coro com a Nasti, super fácil a leitura. E gostosa também.
Quando acabei de ler tive a sensação de ser um conto muito mais curto do que de fato era.

Pode-se ver claramente que você não perdeu a mão para construir histórias =P
Esse ainda soa melhor que o antigo.

A única coisa que não me agradou 100% foi a utilização de caixa alta em algumas passagens. Entendi a situação que as colocou, mas creio que você poderia ter expressado a gritaria de outra forma ;)

Abraço!


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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor Lanzi em 14 Set 2007, 16:45

Mais trágico é impossível. Notei que vocÊ não se atentou ao formato dos parágrafos e a outras regras. Não me interessou muito ver A MARCA escrito em maiúsculo. Mas é uma opção sua e não posso criticar, hehe.

Cara, você é masoquista? Sádico? Seus textos são muito carregados de amargura e sofrimento. Eu sei que é A MARCA sua, auhauhauha, mas sempre iremos começar a ler um texto seu já sabendo que o pior espera.

Nesse texto, não houve muitas surpresas, com exceção do tempo se passando no último parágrafo, e apesar de triste, ficou até bonito. Ficamos com a sensação de justiça, que espécie de cosmo é esse?

Abraços.
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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor Saxplr em 24 Set 2007, 21:09

Caramba, você não perdeu a mão, velho!

Este conto tem o que você sabe fazer de melhor: criar uma atmosfera que vai absorvendo o leitor linha por linha... Eu aos poucos fui me perdendo aqui do quardo e caminhando ao lado de Nemorino.

Curti bastante o enredo, as passagens de tempos (ou eras) foi uma sacada muito boa!

Achei que algumas passagens foram rápidas demais, como por exemplo o assassinato do padre, mas não tenho certeza se aumentar aquelas passagens comprometeriam o ritmo, este, por sinal, mais rápido do que outros contos seus.

O que eu não gostei foi desta tal "MARCA". O conto poderia ter fluido muito bem sem nenhuma referência à tal. Ou então, que explicasse um pouco mais, achei que ficou muito jogado, sem sentido...

Por último, é realmente curioso como os teus contos são carregados de amargura. Fico contente em saber que, ao menos no msn quando conversamos, não és amargurado como os protagonistas de teus contos.

Parabéns, meu caro!
Rodrigo
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A MARCA - FINALIZADO!

Mensagempor John_Coffey em 25 Set 2007, 13:42

Agradecimentos mil aos colegas que comentaram e outros extendidos a quem apenas leu.

Ao Dahak respondo que numa outra lida mais atenta eu realmente percebi que havia "caixas altas" demais. E era tarde para uma edição. Vou procurar ser mais atento daqui pra diante.

Ao amigo Lanzi:

Eu acabo deixando parágrafos de lado porque me embanano ao digitar (ou colar) os textos nas caixas do fórum.
Quanto à amargura do texto, eu gosto de trabalhar isso, porque é uma área humana onde poucos se atrevem a transitar. Eu gosto de mostrar que nem tudo são flores e que o inesperado espreita em cada acontecimento. Como você bem citou, esse é a minha MARCA.

Ao Sax:

A referência à marca anda me perseguindo. Eu comecei outras 3 histórias do homem marcado e essa que leste foi a primeira. Por isso acabei citando tanto a dita.
Sobre a parte amarga, eu repito o que disse ao Lanzi. E assumo, como bem sabes, que o bardo aqui também sorri.

Abraços a todos e desculpas pela ausência. O trabalho muitas vezes me suga de forma a não conseguir fazer o que eu quero, mas sim o que consigo.
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