Bom...
Povo que leu o outro conto (Aliás, muito obrigado), viu que aquele era velho e postado principalmente para marcar a nova fase da nova Spell. Agora deixo aqui um conto 100% "novo Coffey", haja visto que foi feito no pouquíssimo tempo que tive durante o feriado. Espero que todos gostem e se sintam à vontade para elogiar, criticar, por defeito e tudo o mais.
Abraços do Bardo Negro.
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É dia outra vez. A fome ainda assombra, o frio corta meu corpo e minha via crucis recomeça. A casa de caridade me provê novas roupas velhas, consigo um sapato furado e dessa vez, a dama sorte sorri e sou presenteado até com um chapéu.
Perambulo pela cidade conquistando a piedade de alguns e a repulsa de outros. Os que me dão comida (não aceito dinheiro, pois não necessito dele há muito tempo) são muito mais raros, comparados aos que me enxotam sob o pretexto de minha aparência espantar os clientes.
Chego à catedral local e entro. Não acredito em um Deus que me premiou com meu estado, mas o silêncio acalma o corpo e diminui a dor. O combústivel motor do hábito me ajoelha e a memória (ou o coração?) me transportam de novo ao pior dia de minha existência:
O sol aquece o dourado da minha pele uma vez mais e o gosto doce de minha amada ainda prenche meus lábios, assim como o contorno de seu corpo ainda arrepia meus pelos. A noite anterior trouxe carinho, doçura e a promessa de uma vida inteira de sonhos compartilhados e construídos sobre a base rochosa de um casamento. Hoje é dia de acertar os últimos detalhes.
Com o suor do meu trabalho, juntei o que julgava necessário para a cerimônia. Sou recebido por um homem gordo, dono de uma careca suada e de um cheiro rançoso que me lembra meu velho pai:
- Trouxe o dinheiro?
- Sim! Aqui está.
- Você sabe que essa quantia não é um décimo do que precisa não é?
- Mas o Senhor disse que faria um desconto...
- E farei. Desde que faça algo por mim
- Pois peça então! Nemorino jamais fugiu de trabalho e pagarei com meu suor por toda a vida, se isso fizer minha Adina feliz.
- O que eu quero é muito mais simples.
- Do que se trata?
- Da primeira noite de sua esposa
- O QUÊ?
- Eu serei o responsável por ensinar tudo àquela doce menina. Um simples trabalhador braçal como você jamais saberá como tratar uma mulher.
- JAMAIS!
Totalmente ensandecido saltei sobre o sacerdote. Minha agilidade não lhe deu tempo de reagir; seu pescoço se quebrou como um graveto e o corpo tombou com um baque surdo. Quase o mesmo som da porta se abrindo de chofre.
Os olhos de Adina perplexos sobre mim me fizeram encolher e balbuciar. Ante minha estupidez ela disse:
- O QUE VOCÊ FEZ!
- Meu amor, ele ameaçou você...
- Você matou um homem Santo, vai ser amaldiçoado! Vai receber a marca! Ó meu Deus!!
- Fuja meu Anjo. Eu pagarei pelo meu crime. So não esqueça de mim.
Conheci depois disso os horrores da prisão e fui levado aos Magistrados. Meu julgamento foi rápido e a condenação proferida com Ódio. A MARCA. Os dias se passaram e fui levado à praça da cidade.
As pessoas gritavam em minha direção palavras de ódio mas apenas uma voz, a de Adina, chegava a mim com palavras de amor eterno e compaixão. Fui então algemado e a sentença proferida:
- Nemorino, filho de Luciano, cometeste o crime de assassinato. O agravante é de que eliminaste um homem santo. Foste condenado a receber A MARCA e vagar por toda a eternidade!
- Tens algo a dizer em sua defesa?
- EU TENHO!
- O que dizes mulher?
- Eu o ajudei! Eu planejei a morte do maldito por conta do que ele fazia comigo! Ele tentou me seduzir diversas vezes e então mandei Nemorino dar cabo dele.
A multidão estupefata murmurava até que o Magistrado interrompeu:
- BASTA! Tragam essa mulher aqui!
Adina se deixou arrastar e encarou o homem encapuzado:
- Seu pecado é tão grande como o dele. O de mentir e manipular. Também será condenada.
- Eu não me importo de ostentar A Marca ao lado do homem que amo.
- Não mulher, seu destino é outro. PREPAREM A FOGUEIRA! QUEIMEMOS A MENTIROSA!
Ser marcado a ferro quente a amaldiçoado não foi nada perto do horror dos gritos de meu amor. O cheiro daquela alva pele se queimando e dos cabelos se desfazendo ainda me assombra.
Vaguei sem rumo até o mundo seguir adiante e os Elfos e dragões serem substituídos por automóvies, prédios e ciência. Até as pessoas esquecerem o que significa A Marca. Continuo a seguir meu caminho; já fui milionário e hoje vivo como mendigo. Tentei conhecer outras mulheres, apenas para que Adina me visite em sonhos e me reprove. Não há o que fazer, porque a morte foge de mim, ou melhor, da Marca e não consigo sequer por um fim em tudo. Me resta apenas deixar essa Igreja e implorar para que o mundo se acabe e eu possa enfim descansar.
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Assim termina a história de Nemorino. Espero que mesmo aqueles que não opinaram tenham se divertido com a leitura. Uma vez mais, agradeço a todos e aguardo comentários.
Abraços!