A Jihad da Bola
Lorde Seth
Lorde Seth
Escrito rapidinho, antes de dormir. Apenas alguns pontos para a reflexão geral.
Ontem no clássico São Paulo versus Corinthians, conflitos entre torcedores e a polícia deixaram trinta feridos. Um torcedor do São Paulo, time da casa, teria atirado uma bomba contra torcedores visitantes, 10% do total. Em MG, quatro motociclistas abriram fogo contra um grupo de torcedores do Atlético Mineiro, baleando Lucas Marcelino, que não resistiu aos ferimentos e morreu.
Agorinha á pouco, no Jornal da Globo, Christiane Pelajo e William Waack indagavam se eliminar torcidas adversárias de clássicos não resolveriam problemas. Ou talvez uma melhoria na qualidade dos estádios, reforço na segurança, etc... As coisas que todas as vezes ouvimos falar, mas que sabemos, apresentam dificuldades a conter os ânimos, e a violência.
Essa ira descontrolada, essa paixão que transforma-se em ódio, é ao meu ver o resultado da idolização do futebol no Brasil. Para muitos, o futebol deixou de ser uma arte, um jogo, um esporte, e passou a significar o produto da competição, os meios e os fins por que alguns vivem, seu ar, sua vida, sua cultura. A arte da bola passou a ser um deus. E conquanto os indivíduos vistam-se com camisas de times diferentes, eles pertencem a facções diferentes, e assim como vários judeus e muçulmanos e cristãos não se entendem, certos são paulinos e corinthianos e cruzeirenses e atleticanos não se entendem também. Mesmo que todos, no fim, ainda idolatrem o mesmo deus, os detalhes tornaram-se mais importantes que o todo.
Hipocrisia da mídia, perguntar o que está errado. Oras, tanto dinheiro, tanto ibope, tanta emoção logo resultaram em ínfimo apoio e ínfimo suporte a esse (verdadeiramente bonito) esporte. E em um país em que a grande maioria da população vive amontoada em cidades, muitos em pobreza, a educação é um mérito e uma chance um tesouro. Alienação não limita-se a desligamento voluntário ao que acontece, mas mais importantemente a incapacidade de agir por falta de lacunas necessárias ao assim fazer. Exclusão social resulta em empobrecimento de cultura. E se descontarmos festas populares, intoxicantes e eventuais programas sociais muitos ficaram com isso, a arena, o estádio, barata entrada em uma avenida de futebol. Galerias de arte, museus, teatro, cinema, viajens, oras, essas passam longe do cidadão de massa brasileiro. Ballet? Que Ballet... Como diriam os Titãs, bebida é água e comida é pasto.
Toda quarta-feira tem propaganda do jogo vindouro na tevê. Todo final de campeonato até mesmo a escala da programação muda. Até me lembra os pastores e o papa, fazendo seus anúncios e pregações. Ou o pessoal mais extremista no parlamento israelese, pregando suas táticas anti-mercê; ou até mesmo o hamas e o hellzbollah, passando em sinal roubado os vídeos de seus mártires que morreram na guerra. Violência dentro e fora de estádios? Que nada, apenas criaram a Jihad da bola.
Abraços!