As Chamas do Feiticeiro

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As Chamas do Feiticeiro

Mensagempor Lady Draconnasti em 12 Fev 2009, 21:44

As Chamas do Feiticeiro


- Queime, bruxo maldito! – Gritou alguém em meio à multidão eufórica na praça.

A turba enfurecida esbravejava ordenando que a pira fosse acesa de imediato, proporcionando àquela vila algo que desse continuidade à quebra da rotina. Dez feiticeiros e druidas queimados em uma única tarde. Todos do mesmo grupo. Todos cúmplices dos demônios que vagam pelas florestas em busca de sangue inocente.

Assim todos pensavam.

Mas Cerunnos já não se importava mais com o que os outros pensavam. Estava farto de tudo aquilo. Das fugas e brigas constantes com a Igreja, da ingratidão por manter os Antigos afastados das terras mortais e da perseguição desleal dos Grandes Antigos.

A Guerra Eterna estava chegando ao fim e eles estavam perdendo.

Desejava apenas encerrar sua vida de Guardião dos Portões e poder retornar à Vila dos Feiticeiros, onde lá envelheceria calmamente, cercado por seus filhos e futuros netos. Ao menos sua esposa conseguiu fugir com seu filho. Ao menos sabia que eles não teriam que enfrentar o Dragão das Sombras, ou talvez sua morte não fosse em vão.

Cerrou os olhos, imaginando o que passara com seus amigos para garantir que aqueles que agora o condenam ao fogo pudessem ver o próximo nascer do sol. As duras palavras de Nêmesis ecoavam em sua cabeça. Palavras ditas no momento em que Cerunnos e Arianna, sua amada, terminavam o selo que prendeu a besta antiga na escuridão mais profunda que sua própria alma. “Eles irão agradecer por seus feitos com ferro e medo, assim como seu pai nos agradeceu.”

Seu pai...

Sempre se esforçara para entender as razões que levara seu pai a ter feito tudo o que fez até então. Casara-se com uma mulher a qual ele se obrigava a amar apenas porque não podia ter aquela que realmente desejava. Tivera um único filho, varão, a quem se esforçara a ensinar sobre seu deus de puro amor e que lutava contra as bestas da alma humana. Enlouquecera ao saber que sumira, sem mesmo perceber que a própria criança tinha decidido trilhar o caminho dos Antigos. A Rainha-Fada o preparara em seus sonhos, enviando-o para as terras além dos Portões e recebendo-o pessoalmente.

E foi com ela que ele aprendeu a trilhar a magia dos Antigos. O último mago puro que pisaria nos Reinos Mortais, o último descendente direto das Casas Imortais a pisar nos dois Reinos. O primeiro Guardião dos Segredos após Ashiakhan, e o último homem puro a tecer a verdadeira magia bruta com seus dedos.

Fora Kastien, a filha mais velha do maior dos Magos das Sombras, quem lhe dera o atual nome, em honra ao jovem irmão que ela perdera durante as Guerras Mortais. Um jovem feiticeiro que seguia os passos negros de seu pai em busca do poder necessário para trazê-lo de volta.

E como ele, seu destino seria igualmente doloroso.

As chamas que lambiam os feixes de madeira seca avançavam famintas sobre o homem, que se manteve firme àquele momento. Muitos achariam que ele teve sorte por não ter sido fisicamente torturado pelos inquisitores. Muitos sequer sabiam que o bruxo era o filho desaparecido do velho capitão da guarda do rei mortal.

A escura fumaça já começara a irritar seus pulmões, se esforçou para não começar a tossir. Olhou além da densa cortina que subia vertiginosamente ao seu redor. O calor do fogo ardia em sua carne úmida de suor e do óleo que os padres usaram para embeber suas vestes. Bastaria um descuido ou uma brisa para que Cerunnos de tornasse uma tocha humana que resultaria em uma pilha de ossos e músculos queimados.

Seus olhos azuis logo encontraram os olhos cansados e tristes de seu pai. Olhos repletos de desgosto de um homem que lamentava o triste fim do seu filho querido. Tamanha contradição fez com que o feiticeiro sentisse um grande pesar.

Era como se as mãos frias da Dama da Tristeza arranhassem seu coração. Sorriu pedindo perdão ao velho guerreiro, que em sua loucura assassinara a mulher que amava e a mãe de sua esposa e meio-irmã, em busca do filho perdido. Filho este que se tornou seu mais ferrenho aliado e o seu mais feroz inimigo. O Menino que outrora se chamou Cedric, e que se tornara o Feiticeiro de nome Cerunnos.

Era o castigo dos Grandes Antigos para com o homem que renegou sua origem mística e condenou definitivamente os deuses à ruína.

E com um último sorriso, o jovem Mestre dos Segredos realizou seu último encanto, transformando em brancas as chamas da pira. O sangue voltou a correr do ferimento em forma de lua crescente em sua testa, causado no momento de sua captura. Recitou palavras na língua dos Antigos, causando surpresa e descrença naqueles que assistiam ao espetáculo sádico.

Padres e inquisitores, beatos e impuros, santos e profanos. Todos se angustiaram ao ouvir aquela língua esquecida. Muitos tentaram impedi-lo, gritando e atirando-lhe coisas. Tentaram espetá-lo com suas armas e ferramentas de trabalho, no entanto o fogo alvo mordia-lhes os objetos com a fome de um cão voraz e os destruía antes mesmo de chegar ao Mestre dos Segredos.

De súbito, as próprias chamas engolfaram ao Feiticeiro, engolindo seus murmúrios, e logo se desfez, retornando a cor alaranjada original. No local onde há pouco se encontrava o herege, apenas o poste intocado e as cordas queimadas.

Naquela mesma tarde, todos os soldados foram postos a procura de Cerunnos, enquanto os Homens de Fé rezavam para que a malícia do infiel não contaminasse outras ovelhas do rebanho.

À noite, a cidade ficou em polvorosa com os gritos de horror de Vivian, a velha esposa do velho capitão da guarda. Não sem motivo, pois encontrara seu marido apunhalado com sua própria adaga, sem saber que o desgosto, o medo e o remorso o fizeram levar o neto do Rei da Floresta Esmeralda.

Distante das Cidades Mortais, a Cidade dos Feiticeiros acendeu sua fogueira fúnebre, em honra aos iguais capturados. Por um momento, o fogo tremulou e tornou-se branco, avisando-os do ultimo sacrifício de Cerunnos. Estariam seguros por um ciclo lunar.

Mesmo assim, não houveram comemorações naquela noite.

Nunca antes os lobos uivaram com tanta tristeza. Ainda assim, Arianna não se permitiu a derramar lágrimas. Diante da pira, podia ver o rosto de seu amado esposo e a forma como ele partiu definitivamente para os Reinos Imortais. Entretanto bastou-lhe apenas olhar para a criança adormecida em seu colo para se recobrar parcialmente.

O pequeno Ronan ainda tinha muito que trilhar pela noite. Como Feiticeiro, como Druida, ou como Lobo.
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As Chamas do Feiticeiro

Mensagempor Elara em 16 Fev 2009, 17:21

Nastiiiiiiiii...

Eu conheço esse conto!

XD

Faz parte da sua campanha, não?

É que já li tanta coisa sua que às vezes fico até confusa.

Chero!
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Mensagempor Lady Draconnasti em 16 Fev 2009, 19:53

Esse não XD

Esse é mais pra frente... Outra campanha, originalmente em Storyteller.
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Mensagempor laharra em 17 Fev 2009, 00:42

Lady, achei que o excesso de informações muito específicas sobre o mundo criado acabou arrastando um pouco o conto. Acredito que se fosse mais generalizado o texto fluiria melhor...

Por outro lado, se fosse generalizado, qual graça teria? Até que me deu vontade de saber mais sobre o mundo... Pelo o que vi, o mesmo daquele conto antigo baseado em Welcome to the jungle.

flw! :cool:
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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As Chamas do Feiticeiro

Mensagempor Lady Draconnasti em 02 Mar 2009, 09:18

Ué? Eu não repostei Um Dia Apenas?
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