Um clique do interruptor ressoa pelo silêncio do corredor vazio e as luzes se acendem revelando paredes outrora brancas, agora amarelas pelo tempo e parcialmente cobertas por sujeira, limo e teias de aranha. Os passos decididos do rapaz que invade este local abandonado batem contra o chão frio do azulejo enegrecido pelo tempo.
O rapaz, que parece não ter mais que quinze verões, vestido com uma simples camisa negra com uma estampa desbotada de uma banda mais velha que ele, uma calça extremamente surrada com as bocas das pernas desfiadas e terminando num par de tênis cinza-encardidos continua caminhando pelo corredor, e grita:
- Eu sei que você está aí em algum lugar! - Somente o silêncio é a resposta, após o cessar do eco nos corredores.
Observado por dois olhos em meio as trevas o jovem é espreitado por uma criatura na escuridão que afia suas perigosas garras no chão em resposta a voz do garoto, enquanto em sua mente tem apenas um pensamento... “Comida”.
- Ei! Aonde você foi? – o jovem novamente grita, enquanto aqueles olhos maliciosos acompanhavam cada movimento desajeitado do humano.
Com movimentos felinos a criatura segue o jovem pelas sombras, seguindo o cheiro delicioso de seu precioso alimento. Com seus passos silenciosos a fera salta sobre o desatento humano com o barulho de um pequeno sino pendurado no seu pescoço, e sua presa se encolhe na parede com o susto, antes de responder.
- Ahá! Fofuuucho! – e ele abraça seu gato, agarrando-o no colo. Tira de seu bolso uma pequena sacola de ração e ambos vão, felizes, para casa.