A Queda de Akâla

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A Queda de Akâla

Mensagempor Léderon em 15 Jan 2009, 21:08

Eu comecei a escrever isso hoje apenas por que fazia tempo que não escrevia nada. Se passa no meu cenário próprio, Séghen, no ano atual. É um evento que inventei hoje, apesar do fenômeno ser recorrente. A narrativa está estranha... eu acho. Espero que seja aproveitável. Aguardo as críticas! :victory:

Mas um alinhamento justificado me faz falta aqui no fórum, ah faz. XD


A Queda de Akâla

Ozege, Praia dos Rochedos
Noite de Minur, 12º dia do Guntalima de 3646


O céu negro e claro destacava ainda mais a lua cheia que brilhava. Os animais noturnos se juntavam, em um grande círculo de olhos brilhantes, atrás das plantas rasteiras em volta daquele lugar sagrado. Havia sido feito desde que o mundo era mundo, e disso os sacerdotes sabiam não mais como conhecimento, mas como um instinto que foi passado através de gerações e mais gerações de homens e mulheres que cuidavam dos desígnios das Três. Ali, naquele pináculo cercado pelas águas do Oceano, no terceiro dia da terceira lua cheia do ano, era feita a Celebração. Sacerdotes de todos os cantos viajaram semanas para poderem se reunir ali, uma vez a cada ciclo, para receberem as graças de suas adoradas Mães. Sem aquela bênção, eles não poderiam voltar aos seus lares e aos seus templos, e suas cidades e vilas, por menores que fossem, teriam de esperar até o próximo ano para serem abençoadas. A paz, ao menos no coração do povo, dependia daquela noite.

Os rochedos que davam o nome ao lugar serviam de obstáculo para as ondas, que iam e voltavam fazendo o único som que ali podia ser ouvido, além do silencioso crepitar das três fogueiras no chão e das muitas tochas que os sacerdotes seguravam; não por medo da noite, por que esta é uma bênção, mas para manter longe os espíritos malévolos que poderiam – e sempre tentariam, como se dizia – destruir os ritos.

A lua estava quase se alinhando ao Pináculo, o Akâla, da Praia dos Rochedos. Em ordem hierárquica, os senhores dos sacerdotes foram à praia e circundaram o grande rochedo que se projetava em direção ao céu. Todos formaram uma grande roda; os mais velhos e as anciãs tinham o direito à água, e nela entraram e ficaram de mãos dadas com os mais jovens, que ficaram descalços na areia da praia. O mar, que até então trazia apenas as intermináveis ondas, pareceu resolver coroar o rito com uma brisa fresca.

Após algum tempo, ainda com a lua fora do zênite, diversas rodas concêntricas se formaram em torno do Akâla. O único que não estava de mãos dadas com nenhum dos outros era o Velho, o último da linhagem dos sacerdotes. Com seu manto branco, simples e sem adorno, exatamente como o de todos os outros, mantinha sua posição de pai da tradição apenas com sua idade e sua sabedoria; era temido e amado, e seus conhecimentos sobre este mundo e o Outro eram vastos como o de ninguém mais.

Três voltas ele deu em torno dos sacerdotes e do Akâla, apoiado apenas em seu velho cajado. Ao final da terceira, parou na praia, de modo que o Pináculo e os homens e mulheres ali presentes ficassem entre ele e o Oceano; então se ouviu uma voz retumbante e inesperada por todos.

E o Mar falou.

Ó, mortais e inacabados!

O Velho, antes esperançoso, recuou. Os sacerdotes começaram a entoar seus cânticos, ainda que os mais velhos tiveram certo receio de acompanhar os mais jovens, muitos deles ali pela primeira vez.

Ao Akâla vós viestes em busca da Luz de vossa Lua!

Estava estranho. A voz soava forte, imponente, mas trazia consigo uma entonação rancorosa. Sempre havia uma voz, do Mar, que falava com os sacerdotes no dia da Terceira Lua, mas aquela estava diferente. Estava com raiva.

A lua estava próxima ao zênite, vagarosamente se alinhando ao Pináculo. Os cânticos não cessavam, ainda que muitos dos sacerdotes, enquanto os recitavam, olhassem para os lados e para cima, como se algo fosse sair das encostas escarpadas do Akâla e os pegar de surpresa.

- Não! – disse uma voz distante e fraca. Era o Velho. – Este que fala conosco não é o Mar! Parem os cânticos! Soltem suas mãos!

Imediatamente, mesmo antes do Velho terminar de falar, a multidão de sacerdotes desfez os vários círculos e correu até a praia. Muitos gritavam de desespero, com medo de perder o alinhamento e não poder levar as bênçãos da Terceira Lua para seus templos.

Por que fogem de nós e se escondem atrás desta carcaça podre à qual seguem cegamente?

Não era apenas uma voz. Não era mais o mar proferindo ofensas, e sim algo que se assemelhava ao som de todas as ondas urrando.

O Velho tomou a frente de todos. Não parecia mais o homem mirrado que carregava o peso dos anos; parecia espelhar todo o respeito que os outros nutriam por ele, com imponência e dureza. Levantou a mão direita em direção ao Akâla e soltou o cajado na areia.

- Quem são vocês? O quê são vocês? – gritou.

O que antes era uma brisa tornou-se uma ventania. A maré pareceu subir e as ondas se aproximaram assustadoramente de todos. O céu, sem nuvens e com a lua num perfeito círculo brilhante, pareceu escurecer-se com nuvens escuras como fuligem, que numa rapidez assombrosa começaram a castigar o Pináculo com raios.

Alguns dos sacerdotes mais novos, alguns até mesmo pela primeira vez ali, começaram a chorar e a gritar em desespero diante de tamanha profanação. Quando uma espécie de consenso não-verbal se estabeleceu e que todos estavam prestes a correr em direção ao mar, a terra tremeu e um trovão foi ouvido.

Um risco de luz cortou o céu em dois, dando lugar a uma fenda escura. Os sacerdotes se juntaram o máximo que puderam. A fenda se abriu e se expandiu num grande círculo, que apenas cresceu imensamente, indo de horizonte a horizonte. Coisas surgiram das encostas do Akâla.

Não havia mais o que fazer. As armas intocadas dos sacerdotes, jamais usadas em um local sagrado, foram aos poucos sendo empunhadas. Do mar e do topo do Akâla, antes intocado por qualquer mão humana, começaram a surgir formas escuras e gotejantes; assemelhavam-se a pessoas e a animais, e muitos eram deformados como monstros. Um deles ficou sentado no topo do Pináculo, observando a carnificina que ocorreria em poucos momentos.

Todas as coisas que surgiram, que agora os sacerdotes claramente identificavam como os monstros do Outro Lado, pareciam sussurrar palavras estranhas; muitos deles estavam chorando, e outros gargalhavam, porém todos exalavam uma aura de cansaço e sofrimento que alcançava a todos os devotos das Três.

A lua alcançou o zênite. O Pináculo se iluminou de azul por um instante e se apagou. A coisa que estava no topo saltou e, com uma lança que até então não estava em suas mãos, atravessou o corpo do Velho e de muitos outros sacerdotes no caminho. As demais criaturas materializaram armas bizarras, tal qual a primeira, e numa onda de ataques enfurecida massacraram e destruíram quem quer se opusesse. Antes que desferissem seus últimos golpes, a lua deslizou um pouco mais na noite e o alinhamento se desfez.

Um trovão. A ventania cessou; as nuvens escuras desapareceram como surgiram. As coisas que tinham vindo do nada gritaram com pavor e ódio, e desapareceram aos poucos, desfazendo-se como poeira. A criatura líder, que matou o Velho, andou lentamente até os poucos sacerdotes que sobreviveram. Puderam ver com mais detalhes; tinha formas femininas e caminhava de modo que lembrava uma serpente. Seus olhos eram completamente negros.

- E terminamos por aqui. – sua voz era como areia caindo na pedra – Avise a sua rainha.

E, dizendo isso, queimou na brisa e desapareceu.
Editado pela última vez por Léderon em 17 Fev 2009, 10:22, em um total de 2 vezes.
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A Queda de Akâla

Mensagempor Lady Draconnasti em 18 Jan 2009, 00:52

Pelos nomes, presumo que seja algo de Séghen, seu cenário, certo?

Descrições interessantes, nada que o torne primoroso. Não percebi erros, mas algo nele me passa a impressão de que está incompleto.
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A Queda de Akâla

Mensagempor Léderon em 18 Jan 2009, 18:38

Lady Draconnasti escreveu:Pelos nomes, presumo que seja algo de Séghen, seu cenário, certo?

Descrições interessantes, nada que o torne primoroso. Não percebi erros, mas algo nele me passa a impressão de que está incompleto.


Sim, sim, é do Séghen. ^^
Tanto que tá escrito lá em cima... er.


E realmente, não ficou um texto aqueeelas coisas. Eu escrevi ele meio que por impulso, devido à idéia da Tempestade Negra - a coisa que acontece ali, o plano espiritual e o material se fundindo - que o Marcos, o outro autor do cenário, teve. Gostei tanto da coisa que me senti na obrigação de inventar uma historiazinha pra ela.

Talvez dê a impressão de estar incompleto por isso; eu fui escrevendo meio sem saber onde ia parar. :P

Obrigado pelo comentário, tia. ^^
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A Queda de Akâla

Mensagempor laharra em 17 Fev 2009, 01:15

Bom conto... como você disse, o texto retrata a fusão entre o espiritual e o material, seguindo uma linha tênue muito bem conduzida. Sobre o seu cenário, você escreve algum romance nele, ou é um cenário mais para rpg? Ou nenhuma das duas coisas?
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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A Queda de Akâla

Mensagempor Elara em 17 Fev 2009, 10:05

Nhaaaa...

Léd, muito bom o conto. Mesmo sendo parte de algo maior, o seu cenário, tem princípio, meio e fim, sendo bem entendido.

Nasti,

Dá a impressão de algo incompleto pelo mesmo motivo dos contos da sua campanha. Eles fazem parte de algo maior. XD

Chero!
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