Minha Casa

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Mensagempor Lanzi em 05 Jan 2009, 01:33

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Há uma coruja pousada sobre o cárcere de meu quarto. Esta gaiola, ao invés da coruja, projeta sua sombra circularmente, como o molde oblíquo que foi usado para construir minha casa. Minha casa nunca foi uma coruja, mas também nunca funcionou somente como minha alcova. Eu vendi minhas esperanças enquanto esperava entregarem-me as chaves.

Invadi esta casa há alguns anos quando ainda engatinhavam pelos cantos as crianças dos anteriores proprietários. Desenhos minguados beiravam as paredes e pensei ter visto um fauno, pairando nos ares, voando aos tapetes voadores. Quando me apossava, anunciava aos portadores das verdadeiras chaves: “se esta casa, para sustentar-se, vive de delícias fartas, não sois apenas vós quem deveis desfrutá-las”.

Minha casa construiu-se de falsidade, aos raios solares, de vis causas. Pusilânimes roncos, hoje de mendigos, hoje se hibernam em varonis aconchegos. Abriguei, sobre o sangue que derramei neste assoalho, a mais ignota escória de mendigos e sem-tetos.

Somos todos bem-aventurados em resguardarmo-nos num subúrbio de uma infinita cidade, que se estende por inimagináveis campos. Pois, dadas estas condições, é possível desfrutar dessa vida e desse abrigo. A chacina, ainda despercebida, não ecoa, pois muito maior é o barulho emitido pelas luzes do centro da cidade.

E hoje minha saúde, tão debilitada como as asas desta coruja, desliza pelos vãos dos heroísmos. Para quem deixarei este reino?
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Mensagempor Dahak em 05 Jan 2009, 21:18

Fala Léo, tudo bem?

Quando comecei a ler lembrei de um amigo que tem problemas pra dormir de madrugada, isso aconteceu depois que uns pássaros fizeram ninho do lado da janela do quarto dele e que não calam a boca por nada XD

Mas tirando esse surto, lol, senti uma espécie de angústia, mas não foram muitas imagens concretas que se formaram na minha cabeça. Ao menos não muitas imagens passíveis de serem conectadas.

Passou-me pela cabeça um senhor de idade, um tanto enfermo, talvez com esclerose. Algumas vezes pensei que poderiam ser dois senhores, ou alguém lembrando e citando alguém.

Não me espantaria ouvir que tudo o que eu disse não tem nada a ver, lol
Ficarei no aguardo para ouvi-lo.

Abraço.


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Mensagempor Sampaio em 12 Jan 2009, 13:58

Mais um conto poético. Novamente foco na escolha de palavras, sonoridade, e embora tenha uma idéia, um conteúdo, a transmissão principal é quase subliminar, pelas imagens que as palavras nos trazem, pelos sons, etc.

É um texto melancólico, mas não depressivo. O protagonista é maduro demais para cair em depressão.

Não é muito bom, mas é um bom conto e vale a leitura.
Spell: não somos bonzinhos, somos sinceros!
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Perguntem qualquer coisa lá:
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