Diarréia na Horizontal
Havia por sobre um reposteiro qualquer, uma claridade que servia de enfileirador de cabeçorras. Na dança. Eu, ao contrário, só parei porque me contrariei, mesmo. E minha vontade. Entrava como igual a uma clarabóia perfurada por jorros de marfim. Às flechadas. E as cabeçorras, dependuradas pelos pescoços, que se mimetizavam como cordões segurando jacas maduras até demais. Imploram para cair. Em formigueiros. Mas só cai quando é hora, ou quando o cordão está fracasso demais.
E por baixo do reposteiro, logo abaixo de suas cores, não enfileirados – ainda! – perpetuavam-se pelos corredores, entrando, um a um. Gostam de entrar. Essa tradição foi bem documentarizada por um Sebastião qualquer, estrupício, que morava na esquina da pista de dança. E aproveitava pra distribuir cartões. Era um distribuidor de cartões, cujas funções jamais foram reveladas. Pareciam massificarem-se conforme pegavam. E as cabeças. Pesavam demais! Narinas grandes. Muito mais que aqueles frágeis pescoços pareceriam agüentar. Tivemos a supressão de ver duas ou três caindo e quadriculando-se.
- Parece uma flechada que atinge o nosso dorso. – assim exemplou um Jorge, paquiderme qualquer, que povoava o balcão. Mas foi bem titular a sua observação, que serviu de luva para o que estávamos procurando já vestir. Ele referia-se ao modo com que a luz entrava pela clarabóia.
Não sei que modelo serviu para eu bandejar meu sentimento, mas aqueles dizeres foram cruciais. Pr’eu. Começava a doer. Já. Já estava tarde e os individuais, enfileirados, na dançagem, começaram a peidar. Os peidos vinham em funções logarítmicas, e avançavam exponencialmente. Um Doroteu, anta qualquer, por aí, que habitava a passagem de saída, confessou conhecer dois ou três fulanos que armavam aquela guerrilha. Vestimos uma armadura e saímos para a chacina.
Quando terminamos, bebemos o sangue em cópulos. E partimos, pois já estava de tardezinha. Uma moça, de coração tão pequetitito, de bocarra tão algazarreira, pediu para que eu autografasse seu pescoço sensual e desnudo. Prêmios Nobel não aparecem todo dia! Só dia assim, dia anão. Era como caminhar diante de um precipício, quando qualquer vento impreciso e imprevisto pode significar uma queda. Cravei minhas iniciais em seu pescoço morno, e ela nunca mais o lavou. E eu também.
Arrastei-me para afora, mas é que, de vez em quando, temos a sorte de lidar com a burrice alheia. Um motosserra. Cerrava a saída da casa noturna, porque serrava um poste de iluminação, confundindo-o com uma árvore. Três da madrugada. Nunca houve caso do tipo. Como um prego sendo devidamente martelado, eu foi sendo devidamente martelado por um poste de iluminação que caía sobre minha cabeçorra, enterrando-me no chão.