Bad place to Visit..

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Mensagempor John_Coffey em 06 Set 2007, 18:02

Pois é! Eu fiz uma promessa pra mim mesmo: Ou eu postava um conto HOJE eu desistia de vez. Acabei achando um conto velho e empoeirado, mas vou deixá-lo aqui e "dar a cara a tapa". Espero que gostem e qualquer opinião é bem vinda.

Vamos ao que interessa!



É estranho retornar a essa casa, esse lugar tão estranho e de formas não convencionais. Nenhuma medida dessa construção é regular, não vejo um ângulo euclidiano e ao que parece, as somas angulares dos triângulos formam sempre pouco mais ou pouco menos que 180 graus. Mas era necessário vir; era imperativo enfrentar os velhos fantasmas e descobrir o que vem me assombrando e tirando o sono desde a última vez que visitei esse lugar.
Percorro os corredores que aparentam me engolir e sigo até o quarto. Lufadas de vento de aroma pútrido contaminam meus pulmões e o cheiro de mofo que exala dos lençóis rasgados me desencoraja e a idéia da desistência toma minha mente de assalto. Felizmente reúno forças e em um supiro defino minha decisão:
- É necessário!
Deito-me sobre os lençóis rasgados e a casa manifesta seu descontentamendo com um rangido de madeira velha. A própria cama sa mexe sob mim como se me quisesse expulsar. Retiro um par de comprimidos do bolso - calmantes - os engulo em seco e pouso minha cabeça sobre o braço esperando o sonho:
- Daniel! Daniel! Acorde e me encare...
Mesmo com a dose maciça de calmantes ingerida despertei rapidamente e vi quem me chamava. Ela, Helena, a mulher que eu abandonei à propria sorte quando estive nesse mau lugar pela primeira vez. A única que eu amei de verdade e aquela que deu sua vida pela minha:
- Helena! Não peço que acredite em mim, muito menos que me perdoe. Vim aqui porque precisava lhe encarar uma vez mais, olhar dentro de teus olhos e te dizer tantas coisas que não o foram quando estávamos juntos. Há tanto que te dizer, mas não sei sequer por onde começar. Só consigo lhe dizer que te amei mais do que tudo.
- E tu, meu Daniel, saiba que és amado por mim ainda aqui em meu lar eterno, não há mágoa pelo que aconteceu e te peço apenas que permaeças aqui comigo para que sejamos um só por toda a eternidade. Essa casa nos proverá sustento e felicidade; veja que até a minha beleza permanece.
Realmente Helena se mostrava tão bela quanto no dia em que nos encontramos pela primeira vez. Sua roupa era alva como um nuvem e seu cabelo esvoaçava com uma vida impressionante. Mas eu ali estava por um motivo e havia de cumprir minha promessa:
- Infelizmente amada minha, é impossível que eu me junte a ti nessa prisão eterna. Vim aqui encarar-te e te dizer com pesar que não mais voltarei aqui, que viverei minha vida afastado de tua oresença e apenas com a lembrança de nossos tempos idos na memória.
- Por quê??? Por que abandonas nosso passado lindo e me deixas aqui a passar por esse martírio? Por quê maldito? Por quê?
Suas roupas então perdem o branco e seu rosto alvo literalmente se liquefaz, deixando à mostra traços de mandíbula e no lugar de seus olho amendoados apenas dois buracos negros e opacos. Em pânico, corro em direção à saída, com a sensação de que serei em breve consumido pela maldita costrução que treme sob meus pés.
Ao chegar finalmente à porta de saída, olho para trás e vejo Helena; uma forma grotesca e assuatadoramente puída a me olhar, vazia e sem vida. Porém leio claramente a pergunta em sua expressão: Por quê?
Atônito e sem conseguir expressar palavra, jogo o papel couchè que trazia no bolso para que Helena entenda. Um grito altíssimo de dor e ódio brota daquele ser ao terminar de ler o meu convite de casamento. Percebo que a porta está trancada; tento arrombá-la mas é como se forçasse os portões do próprio Hades. Sinto um gélido toque em meu ombro e me viro desesperado, atravessando aquele ser e me atirando pela janela, porém percebo tarde demais que a casa havia uma vez mais se transformado e eu caía do último andar. Ao me chocar com o chão, antes da dor, ouço apenas um riso e uma voz cadavérica a me dizer: "Bem vindo"
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Mensagempor Lobo_Branco em 06 Set 2007, 23:57

Antes de mais nada, bem vindo, e fico feliz que tenha optado pelo "hoje" e não pelo "nunca mais".

Bem, aconselho a separar os parágrafos por uma linha, facilita e muito a vida de seus leitores.

Bom conto. A muito não lia nada a respeito de fantasmas, puramente. "Saiu" um tanto quanto "clichê", mas isso não tirou o brilho do mesmo. Podia ter trabalhado melhor as passagens de dor e lamentação, da forma que ficou, deu um ar de escrito as pressas.

Admito que dei risada com ele revelando o motivo de negar a mulher. Cheguei a dizer comigo mesmo; "cara, não faça isso é burrice! não diga que tem outra"..dito e feito.

Senti pena dele no fim. Coitado, queria corrigir, estragou tudo - final triste para o pobre noivo.

Apesar de esperado, esse tipo de fim, sempre dá um brilho a mais a obra. Gostei, apesar de poder ter sido mais denso.

Podemos tirar um ensinamento profundo dessas linhas; "nunca "brinque" com fantasmas de mulheres possessivas"

Abraços!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


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Mensagempor Gehenna em 07 Set 2007, 00:08

Bom conto. Realmente gosto de fantasmas, porém, também tive a impressão de ter sido escrito às pressas. Poderia ter fluido mais lentamente, aproveitando melhor a temática. E a seperação de parágrafos é uma boa, pra facilitar a leitura.

Bem, é isso. Um abraço.
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Mensagempor Saxplr em 08 Set 2007, 12:36

Coffey, Coffey, Coffey!

Você não tem jeito mesmo! Na primeira frase que li, pensei: "Ele morre na última linha". Dito e feito.

Bom, você disse que esse conto é um tanto velho, então não sei se posso dizer que você não perdeu a mão, ou se ainda foi escrito com aquela mão de outrora.

O que me impressiona nestes seus contos é que você é mestre em prender a atenção do começo ao fim, as descrições da casa são muito bem equilibradas com as ações e pensamentos do protagonista. Senti até um frio percorrer as espinha no final dele, quando eu vejo que ele não tem mais escapatória.

Também gostei da idéia da "casa animada", e não só monstros dentro dela.

Parabéns, velho amigo!
Rodrigo Sax
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Mensagempor John_Coffey em 11 Set 2007, 08:49

Antes de mais nada agradeço aos que opinara, assim como aos que apenas leram.

Repondendo aos que comentaram:

Ao nobre Lobo

Os parágrafos foram culpa do bom e velho Ctrl+C Ctrl+V. Como eu posto do trabalho, faltou tempo para arrumar a formatação que o micro matou. Quanto ao clichê, às vezes ele me espreme até que eu ceda (deve ser porque tenho um fraco por histórias de amor). Fico feliz também porque pude lhe "ensinar" alguma coisa.

Ao distinto Gehenna:

"A pressa é inimiga da refeição". Você acertou em cheio. Eu escrevi correndo, quase de forma "psicografada" e depois não achei tempo para evoluir o conto, até porque da forma como o fiz, cheguei a achar que mataria a idéia central se pensasse demais.


A ilustre Saxplr:

É um conto bem velho, da época da "milha". Por isso ainda é 100% do velho Coffey, inclusive a velha "rotina". Espero que goste do que vier do "novo" Coffey. Abraços.


Abraços a todos e muitíssimo obrigado pelas palavras e pelos olhos.
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Mensagempor Dahak em 12 Set 2007, 21:04

Coffey, que bom que você não desistiu, hauahauahaua

Tudo bem que você disse que o conto é antigo, mas logo de começo é possível notar que você manda muito bem =P

Gostei de toda arquitetação da idéia e até da morte no final.
Diga-se de passagem, gostei muito do lado sádico nas últimas linhas!

Só duas coisinhas, um enter pra dar espaço entre alguns parágrafos viriam a calhar. Melhora a estética.
E bem-vindo tem hífen.

De resto, show de bola ;)

Abraço!

Dahak Out
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