Pois é! Eu fiz uma promessa pra mim mesmo: Ou eu postava um conto HOJE eu desistia de vez. Acabei achando um conto velho e empoeirado, mas vou deixá-lo aqui e "dar a cara a tapa". Espero que gostem e qualquer opinião é bem vinda.
Vamos ao que interessa!
É estranho retornar a essa casa, esse lugar tão estranho e de formas não convencionais. Nenhuma medida dessa construção é regular, não vejo um ângulo euclidiano e ao que parece, as somas angulares dos triângulos formam sempre pouco mais ou pouco menos que 180 graus. Mas era necessário vir; era imperativo enfrentar os velhos fantasmas e descobrir o que vem me assombrando e tirando o sono desde a última vez que visitei esse lugar.
Percorro os corredores que aparentam me engolir e sigo até o quarto. Lufadas de vento de aroma pútrido contaminam meus pulmões e o cheiro de mofo que exala dos lençóis rasgados me desencoraja e a idéia da desistência toma minha mente de assalto. Felizmente reúno forças e em um supiro defino minha decisão:
- É necessário!
Deito-me sobre os lençóis rasgados e a casa manifesta seu descontentamendo com um rangido de madeira velha. A própria cama sa mexe sob mim como se me quisesse expulsar. Retiro um par de comprimidos do bolso - calmantes - os engulo em seco e pouso minha cabeça sobre o braço esperando o sonho:
- Daniel! Daniel! Acorde e me encare...
Mesmo com a dose maciça de calmantes ingerida despertei rapidamente e vi quem me chamava. Ela, Helena, a mulher que eu abandonei à propria sorte quando estive nesse mau lugar pela primeira vez. A única que eu amei de verdade e aquela que deu sua vida pela minha:
- Helena! Não peço que acredite em mim, muito menos que me perdoe. Vim aqui porque precisava lhe encarar uma vez mais, olhar dentro de teus olhos e te dizer tantas coisas que não o foram quando estávamos juntos. Há tanto que te dizer, mas não sei sequer por onde começar. Só consigo lhe dizer que te amei mais do que tudo.
- E tu, meu Daniel, saiba que és amado por mim ainda aqui em meu lar eterno, não há mágoa pelo que aconteceu e te peço apenas que permaeças aqui comigo para que sejamos um só por toda a eternidade. Essa casa nos proverá sustento e felicidade; veja que até a minha beleza permanece.
Realmente Helena se mostrava tão bela quanto no dia em que nos encontramos pela primeira vez. Sua roupa era alva como um nuvem e seu cabelo esvoaçava com uma vida impressionante. Mas eu ali estava por um motivo e havia de cumprir minha promessa:
- Infelizmente amada minha, é impossível que eu me junte a ti nessa prisão eterna. Vim aqui encarar-te e te dizer com pesar que não mais voltarei aqui, que viverei minha vida afastado de tua oresença e apenas com a lembrança de nossos tempos idos na memória.
- Por quê??? Por que abandonas nosso passado lindo e me deixas aqui a passar por esse martírio? Por quê maldito? Por quê?
Suas roupas então perdem o branco e seu rosto alvo literalmente se liquefaz, deixando à mostra traços de mandíbula e no lugar de seus olho amendoados apenas dois buracos negros e opacos. Em pânico, corro em direção à saída, com a sensação de que serei em breve consumido pela maldita costrução que treme sob meus pés.
Ao chegar finalmente à porta de saída, olho para trás e vejo Helena; uma forma grotesca e assuatadoramente puída a me olhar, vazia e sem vida. Porém leio claramente a pergunta em sua expressão: Por quê?
Atônito e sem conseguir expressar palavra, jogo o papel couchè que trazia no bolso para que Helena entenda. Um grito altíssimo de dor e ódio brota daquele ser ao terminar de ler o meu convite de casamento. Percebo que a porta está trancada; tento arrombá-la mas é como se forçasse os portões do próprio Hades. Sinto um gélido toque em meu ombro e me viro desesperado, atravessando aquele ser e me atirando pela janela, porém percebo tarde demais que a casa havia uma vez mais se transformado e eu caía do último andar. Ao me chocar com o chão, antes da dor, ouço apenas um riso e uma voz cadavérica a me dizer: "Bem vindo"