Dikaios Parte 5/5

Mostre seus textos, troque idéias e opiniões sobre contos.

Moderadores: Léderon, Moderadores

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 08 Out 2008, 19:02

A Primeira Canção: O Bardo Branco


A Estalagem do Bardo estava cheia naquela noite fresca. Homens comemoravam a boa e farta colheita, bebendo em grupos barulhentos. Jovens inexperientes perdiam seu dinheiro em jogatinas e quedas-de-braço. As atendentes desfilavam entre as mesas, servindo aos clientes com seus pedidos e oferecendo-lhes outros serviços.

Não havia aventureiros naquele momento, o que fez Mahatma suspirar entediado atrás do balcão. Naquela noite, ele gostaria de ouvir uma nova história ao invés de contar uma das que conhecia. Queria aumentar seu repertório.

Apesar de sua aparência jovial, era do conhecimento de muitos que o estalajadeiro possuía uma boa dose de anos a mais que as linhas de seu rosto permitiam mostrar. Sabiam também que ele já havia viajado por muitos lugares e que não pertencia ao reino de Tennaris. Por seu nome e fisionomia, arriscavam origens no reino de Pandora, onde, diziam, as pessoas tendiam a nomes diferenciados.

A noite já ia alta quando as vozes começaram a clamar por suas lendas e canções. Mahatma terminava de servir a última jarra de vinho, pedida por um sonolento rapaz que passara da conta, e se preparava para ir até o pequeno palco próximo dali. Foi quando percebeu a entrada de uma peculiar figura em seu estabelecimento.

Era um elfo muito alto, de longos cabelos prateados, trançados até a metade de seu comprimento e presos por uma sedosa corda azul. Tinha a pele alva, levemente corada nas bochechas, e finos lábios avermelhados. Olhos azuis de uma beleza indescritível e ar enigmático, como há muito não se via entre os imortais. Vestia uma túnica azul-clara, quase branca, sobre a leve armadura de mesmo tom. Nenhuma arma em sua cintura, apenas um caro bandolim feito em carvalho e de cordas prateadas a ser carregado em suas costas.

O estalajadeiro não escondeu a estranheza em seu olhar ao deparar-se com um bardo tão peculiar e, ao mesmo tempo, vestido tão discretamente. Passaria facilmente como um sacerdote do deus da justiça ou mesmo por um mago. Mas aquela fisionomia o desagradava por alguma razão a qual não conseguia se lembrar.

Sem dizer uma palavra, o belo elfo se dirigiu ao palco, tomando em mãos o seu instrumento musical e tocando uma delicada melodia. As primeiras notas soaram estranhas, aos ouvidos de Mahatma, e divinas, aos ouvidos dos demais.

- Na extremidade do destino, o que nós podemos ver? A glória crescente dos justos? Ou a decadência dos seduzidos? – Anunciou o bardo élfico com uma voz sedosa, sem ao menos dizer seu nome e sua origem.

O silêncio se formou, arrancando um sorriso satisfeito do menestrel branco, que prosseguiu após uma ligeira pausa dramática.

O estalajadeiro parou seu serviço e, pela primeira vez em anos, apoiou a cabeça sobre a mão, como uma criança atenta à história contada pelo avô. O que o elfo queria dizer?

- Dikaios, A Virtuosa, também se deparou com esse dilema cruel...
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Léderon em 10 Out 2008, 20:32

Gosteeeeeei mas quero continuação logo ><

Sugestão: descreva mais a melodia, senti falta.
E... er... Dikayos no título e Dikaios no conto? ^^
Avatar do usuário
Léderon
Coordenador da seção de Arte
 
Mensagens: 3203
Registrado em: 25 Ago 2007, 20:58
Localização: Areiópolis - SP
Twitter: lederon

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 10 Out 2008, 20:49

Quanto ao nome, foi lapso meu.

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

A Segunda Canção: A Canção de Dikaios

Nos dias em que o Céu ainda se mantinha dourado e quando a Sombra do Rei foi dispersa, ela surgiu ao mundo após a segunda semente da vida ter brotado de sua mãe. Tinha como irmãos mais velhos a Bruma e o Segredo, aqueles que moldariam seu destino.

O sangue dos deuses corria forte por seu corpo, a carne dos reis revestia sua pele. Ela cresceu protegendo os fracos que a rodeavam. Sempre justa, sempre implacável. Impiedosa com aqueles que eram impiedosos, retribuía-lhes o malefício feito aos inocentes. Assim era Dikaios, A Justa, A Divina Virtude.

Ela foi o maior exemplo de virtude naqueles tempos. Seu nome serviu de inspiração para muitos heróis imortalizados até os dias de hoje. Sua sabedoria moldou as leis dos reinos muito antes deles se formarem.

A justiça era sua única paixão, e por meio dela, o Segredo a seduziu. Naqueles dias, a paz já não era mais tão presente. A ganância havia começado a se enraizar no coração dos descendentes divinos. Em seu ouvido, ele sussurrou elogios vazios e a convenceu de que o Rei do Destino já não era mais aquele que conheciam. Foi então que Divina Virtude se uniu a causa de seu irmão mais velho.

Quatro eram os rebeldes, todos eles frutos da mesma união. O Segredo era seu líder, seguido de perto por sua amante incestuosa, o Zelo. Junto a eles, a Sombra, e A Divina Virtude. Quando prontos para a batalha, lançaram-se junto a seus seguidores contra o Castelo do Destino, para destronarem seu Rei.

O que ocorreu após cruzarem os portões de ouro e cristal da morada real, nada se sabe. Nada se conta. Fica a cargo do que aconteceu à fértil imaginação dos contadores e seus ouvintes, mas seu fim é conhecido.

Dikaios, A Justa. Dikaios, A Virtuosa. Dikaios, que de suas qualidades se orgulhava, tudo isso perdeu.

Como castigo por sua traição, o Rei do Destino retalhou seu corpo impiedosamente, deixando-lhe inúmeras cicatrizes que nunca sumiriam. Dizem que cada uma delas representava uma vida inocente perdida por seu desvio. Depois, lançou-a na mais profunda prisão de seu castelo, isolada de tudo e de todos.

Muito tempo se passou até que ela pudesse ver a luz do mundo dos vivos novamente. Mas quando isso ocorreu, Divina Virtude já não atendia mais por seu nome. Sua pele alva e macia foi substituída por uma rija carne cinzenta que havia se moldado ao contorno de seus ossos, os cabelos sedosos tornaram-se desgrenhados e sujos. Dos olhos verdes que transbordavam orgulho restaram apenas chamas de ódio.

Sua primeira providencia ao ter a liberdade de sua prisão, foi a de reencontrar seu irmão, o Segredo, e retalhá-lo assim como ela foi. Após isso, ela desapareceu. Dizem que a Divina Virtude deu fim a sua própria existência, outros dizem que ela se escondeu dos olhos dos mortais.

Seja qual for a verdade, uma coisa é certa. Sua presença pode ser sentida onde há uma injustiça. Ao lado do criminoso, como uma presença esmagadora capaz de infligir medo na alma do mais valente homem. No coração da vítima e de seus próximos, como uma fúria apenas aguardando pela faísca que iniciará a explosão.

Dikaios, a Justa, havia se tornado Nêmesis, a Vingança.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Léderon em 10 Out 2008, 21:03

O final ficou lindo. *_*
Avatar do usuário
Léderon
Coordenador da seção de Arte
 
Mensagens: 3203
Registrado em: 25 Ago 2007, 20:58
Localização: Areiópolis - SP
Twitter: lederon

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Malkavengrel em 22 Out 2008, 18:57

como sempre aplaudivel...
Mas nasti pelo amor de deus decida-se se é Dikaios ou Dikayos. As vezes imagino que sejam duas pessoas diferentes.
Imagem
"For every complex problem there is an answer that is clear, simple and wrong."
"I can make wonders, and still let you wander alone."
Avatar do usuário
Malkavengrel
 
Mensagens: 250
Registrado em: 25 Ago 2007, 18:40
Localização: Ilha da Magia

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 22 Out 2008, 22:33

É com "i". Onde estiver escrito com "y", ignorem. É pra ser com "i" mesmo.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 23 Out 2008, 19:21

A Terceira Canção: Cortinas Fechadas


O bardo élfico terminou sua história, foi prontamente aplaudido. Muitos jogaram moedas antes destinadas para proporcionar mais alguns momentos de diversão ao menestrel, que as agradeceu com um sorriso arrogante no rosto.

Arrogante demais ao ver de Mahatma.

O estalajadeiro fingiu não ter visto aquela expressão e apanhou um pano para limpar o vômito de um bêbado sobre o balcão. Em sua mente, pensava na razão pela qual o elfo contara aquela história. Conhecia vagamente a lenda de Dikaios, mas não conseguia conceber aquilo.

No longínquo Vale da Sombra, uma terra evitada por qualquer ser de sã consciência, habitava uma indefinida figura da qual mal se sabia dizer se era homem ou mulher, humano ou elfo. Apenas se sabia que tal ser trajava-se como um dos mal-afamados Magos das Sombras.

Um negro robe de detalhes púrpuras cobrindo-lhe o magro corpo vestido por uma pesada roupa cinza-claro. Ousavam descrever, como desgrenhados e ensebados, os seus cabelos negros e compridos.

Apenas a menção de que algo assim realmente exista faz com que calafrios percorram o corpo do jovem homem. Virou-se para o bardo querendo fazer uma pergunta, mas ele havia desaparecido sem deixar vestígios.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 25 Nov 2008, 00:58

A Quarta Canção: Justiça e Vingança



Ele caminhou calmamente pelo farto corredor de árvores em seu caminho até chegar a um coreto de pedra polida e madeira talhada. Nele, uma mesa estava disposta junto a algumas cadeiras. Uma bela mulher de longos e sedosos cabelos negros estava sentada, apreciando a chegada do bardo elfo. Vestia um longo e sensual vestido branco, apesar de uma saliência em seu ventre, acompanhado por jóias de ouro e cristal vermelho. Em sua cabeça, repousava uma coroa de nove pontas que mais pareciam os chifres de alguma besta.

Alguns pássaros cantavam em seus refúgios. Flores decoravam suas mudas fortes e em um vaso sobre o passadio ricamente talhado, ainda úmidas pela chuva fina que caíra há pouco tempo.

- Fiz aquilo que me pediu, irmã. – Ele disse ajoelhando-se a uma boa distância. – Encontrei o Íbis e cantei a Canção de Dikaios. Agora será uma questão de tempo para que a Serpente a ouça.

- Obrigada, irmão. – Ela agradeceu cantando. Um sorriso se mostrou no rosto de ambos.

- E como está o futuro novo príncipe do antigo Império? – O menestrel pergunta gentil, desviando os olhos do rosto dela para sua barriga. – Parece estar um pouco maior que da última vez.

- Ainda tem tempo para que esse filhote veja a luz do mundo. – Ela suspirou levando as mãos ao abdômen. – Muito tempo...

Um momento de silêncio, breve o suficiente para não ser percebido como um fim de assunto. Lento o suficiente para fazer com que o sorriso de ambos desapareça pesarosamente.

Uma brisa fresca soprou produzindo um delicioso arfar entre as folhas naquele local.

- O Rei do Destino está realmente pensando em libertar os traidores, Kiara? – Ele questionou preocupado.

- Eu o convenci a dar-lhes uma nova chance, Kerist, meu irmão. – Foi a resposta da mulher. – Eles já pagaram pelo que fizeram, apenas, Sálix ainda não foi punida pela sua participação naquele ato.

- Se não me engano, o Conselho ficou convencido de que ela se arrependeu e que tentou impedir que os demais enfrentassem o Imperador...

- Mas devemos lembrar que foi ela quem convenceu Eybris e Dikaios a participarem, e eles não ficaram nada felizes em ver que ela negou tudo o que havia dito para tê-los ao seu lado. Caso eles e Shadalkhan a apanhem e a leve a julgamento, eles serão completamente absolvidos.

- Eis a Rainha do Destino, que não permite que nenhuma ofensa saia impune. – Ele contrapôs com um sorriso irônico. – Você terá mesmo coragem para permitir isso? Afinal de contas, Sálix era a sua favorita...

Um novo sorriso surgiu na face bela da mulher, mas nele não havia gentileza alguma. Com uma mão, tomou uma grande rosa branca e a mostrou para seu irmão.

- Nêmesis decidirá isso por mim.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Malkavengrel em 03 Dez 2008, 22:04

Agora a historia toma rumo...

Estou gostando de ver... quero saber oq vai acontecer nos proximos dois capitulos.
Imagem
"For every complex problem there is an answer that is clear, simple and wrong."
"I can make wonders, and still let you wander alone."
Avatar do usuário
Malkavengrel
 
Mensagens: 250
Registrado em: 25 Ago 2007, 18:40
Localização: Ilha da Magia

Dikaios Parte 5/5

Mensagempor Lady Draconnasti em 03 Dez 2008, 22:47

Pois então veja.

=-=-=-=-=-=-=

A Última Canção: Entre Dikaios e Nemesis



A visão das ruínas cinzentas da Necrópole era um descanso para seus olhos cansados do sol escaldante e da areia dos desertos. Khalil esfregou as mãos na vã tentativa de mantê-las aquecidas e protegidas do frio que se aproximava. Não queria que seus dedos congelassem antes de carregar consigo uma pequena parte dos tesouros escondidos no único dos Sete Vales onde os Guardiões dos Mortos não habitavam.

Nuvens pesadas encobriam toda e qualquer luz que tentasse iluminar aquele lugar com algo mais forte que uma suave penumbra. Era como se a noite desejasse chegar mais cedo naquele local.

Ele olhou para seus companheiros e com um sinal, ordenou que descessem de seus camelos e o ajudassem a explorar o local. Sentiram como se ali, o tempo tivesse parado no momento em que tudo foi destruído.

Ainda haviam corpos ressecados com expressão de desespero por toda a parte. Das ruas as janelas e, arriscavam-se em pensamento, no interior das casas. Alguns se benzeram, acreditando que aqueles mortos poderiam se levantar a qualquer momento para reclamar sua companhia.

Mas para Khalil tudo aquilo não passava de uma tola superstição.

Ele já estava cansado de ter que fazer serviços sujos para os outros. Assassinatos, raptos e assaltos à caravanas ao custo de algumas moedas de prata que raramente duravam mais de dois meses. Mesmo aproveitando o momento de trabalho para se divertir, deflorando jovens e humilhando os guardas. Estava sempre arriscando a cabeça para sobreviver, mas dessa vez, seria diferente. Aquela era sua última aventura e ao retornar, viveria como um sultão em um palacete, rodeado pelas mulheres de seu futuro harém.

Uma missão financiada por ele mesmo, por isso não pretendia voltar com os bolsos vazios, mesmo que tudo desse errado.

Havia seis pessoas com ele quando chegaram ao final da manhã. Um a um foram desaparecendo sem deixar vestígios. Pouco antes do cair da noite, apenas Khalil restava, vivo e assustado. Caso conseguisse sair de lá, nunca mais seria o mesmo. Prometia para si e para os deuses que iria mudar e tentar levar uma vida mais honesta.

Mas para a figura a sua frente, pouco importava o que ele pretendia fazer no futuro. Os longos e ensebados cabelos negros cobriam quase todo o rosto da criatura de robe negro a sua frente. Presas as vestes, as cabeças de seus companheiros o saudaram com seu olhar de terror insano. Conseguia ver um olho verde incandescente e cruel a olhá-lo fixamente. Parcas eram as áreas onde a veste obscura não cobria, revelando uma pele pálida e ressecada, moldada aos ossos e cheia de cicatrizes antigas.

Os gritos de Khalil ecoaram por toda a cidade morta, mas Nêmesis teve certeza de que eles ainda não estavam altos o suficiente para abafar os lamentos das vítimas de seus crimes.
Imagem

Status: Cursed
Alinhamento do mês: Caótica e Neutra
Avatar do usuário
Lady Draconnasti
 
Mensagens: 3753
Registrado em: 25 Ago 2007, 10:41
Localização: Hellcife, 10º Círculo do Inferno


Voltar para Contos

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: Nenhum usuário registrado e 4 visitantes

cron