O Nome da Mentira - Completo

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O Nome da Mentira - Completo

Mensagempor Lady Draconnasti em 08 Out 2008, 00:44

Primeira Mentira: O Lamento

Tudo o que eu queria era melhorar a vida de minha família...

Tudo o que eu queria era algo duradouro...

Tudo o que eu queria era ser motivo de orgulho...

Tudo o que eu queria era onde descansar...

Tudo o que eu queria era ter um porto seguro...

Tudo o que eu queria era abrir meus olhos...

Tudo o que eu queria era não sentir medo...

Tudo o que eu queria era fugir daquele inferno...
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Mensagempor Léderon em 08 Out 2008, 00:45

Continua. Né?
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Mensagempor Lady Draconnasti em 08 Out 2008, 00:46

Sim.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 08 Out 2008, 19:04

Segunda Mentira: A Nostalgia

Uma vez minha vida foi simples e serena. Eu tinha uma família, nem muito rica, nem muito pobre. Dificilmente precisávamos racionar alimentos no inverno, mas não podíamos nos dar ao luxo de manter um cavalo para atender nossas necessidades.

Meus pais, meus irmãos, meus tios. Todos pareciam conformados com nosso estilo de vida. Todos, menos eu.

Desde muito jovem que eu achava que deveríamos ter o melhor. Naqueles dias, era comum que os primogênitos servissem como soldados ao Imperador. Eu não fui exceção, e como muitos, vi na obrigação uma oportunidade de crescer.

Minha ignorância era uma bênção.

Durante meu tempo como servo do Imperador, aprendi a lutar com diversas armas. Nada aconteceu como o esperado. Os ventos sopravam de paz, fazendo-nos meros enfeites nas fileiras dos nobres.

Quando fui dispensado planejei sair em busca de glória e fortuna. Despedi-me de minha família e abracei o mundo por trás das muralhas que protegiam minha cidade. Eu ainda queria que nossa situação fosse a melhor possível.

Confesso ter tido muita sorte no começo, pois consegui superar desafios que muitos não conseguiam. Diferente da maioria, eu havia conseguido me juntar a um grupo um pouco mais experiente.

Sobrevivi aos dois anos longe de todos. Fiz amigos e inimigos, explorei ruínas e florestas. Da cidadela perdida de Arnn, tida como o antigo lar dos deuses, às ruínas amaldiçoadas de Todremn. Derrotei o Rei Orc e matei Astan, o Dragão Púrpura que assolava a capital do império. Consegui fama e a fortuna desejada. Voltei para casa e fui recebido com festa por todos. Crianças me idolatraram, jovens me tomaram como exemplo, adultos me respeitaram e donzelas disputaram minha atenção.

No início, eu me senti pleno. Continuei a me aventurar pelo mundo, retornando de tempos em tempos para casa e sendo novamente ovacionado por todos. Quando senti ter cumprido meu objetivo, decidi voltar a ser um homem comum de uma cidade imperial qualquer, assim como fui à tanto tempo.

Dei aos meus pais a vida que eu achava que eles mereciam, repleta de luxos e excessos. Desse mesmo modo, estraguei meus irmãos mais novos, tornando-os inconseqüentes. Cheguei a pensar que os anos seguintes colocariam um pouco de juízo em suas cabeças vazias.

Anos esses que se passaram e a lenda de meu nome já não me parecia mais tão garbosa. Minha família parecia começar a ficar insatisfeita com o que eu havia lhes provido. As pessoas já não me olhavam mais com aquele fascínio. Compreendi naquele momento que não era a mim que eles admiravam e sim à imagem do explorador que construí em minhas viagens. Senti necessidade de fazer algo ainda mais grandioso. Sabia que ainda havia locais inexplorados desde o Exílio dos Deuses.

Apenas lendas, como tudo acerca daquela época em que os mortais se degeneraram e reinos inteiros foram destruídos pela fúria divina. Uma delas falava sobre uma rica cidade perdida nas montanhas do sul, que foi subitamente engolida pela terra, e que suas altas torres hoje são suas únicas entradas.

Nunca havia escutado alguém dizer que havia conseguido algo com esses mitos, mas eu estava disposto a arriscar.

E na noite mais fria do inverno, eu parti novamente.

Ainda lembro do que senti naquela vez. Eu estava ansioso para retornar com novas histórias e ser novamente um herói. Queria que meu exemplo servisse para meus irmãos e para os demais.

Eu ainda queria ser mais do que eu poderia ser.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 10 Out 2008, 21:01

Terceira Mentira: A Promessa


Fui um tolo ao parar diante daquele altar.

Vaguei como um fantasma pela cidade devastada até encontrar os restos de uma antiga catedral. Seu interior estava decorado com incontáveis e gigantescas imagens de homens alados munidos de espadas e trombetas. Havia ossadas presas nos escombros e manchas escuras no chão de pedra talhada, possivelmente sangue. Não tinha dúvidas de que ali havia acontecido um massacre, mas não tinha idéia do que tinha causado aquilo.

Encontrei aquilo que procurava.

Ainsoth, a lança que dizem ter perfurado o peito da besta divina da destruição. A arma que teria impedido aos deuses de destruírem o mundo.

Meu coração batia forte e minhas mãos tremiam. Senti meu estômago dar voltas e querer por para fora o que eu tinha comido mais cedo. Eu deveria ter escutado meus instintos e saído de lá o mais rápido que conseguisse. Entretanto minha determinação foi mais forte.

Sobre o altar, no final do salão, estava um esqueleto portando uma antiga armadura e com a arma em mãos. Quando fui pegá-la, algo viscoso me atingiu nas costas. Não lembro ao certo o que aconteceu depois. Senti-me fraco de repente. Talvez aquele visco fosse algum veneno, ou simplesmente eu estava imaginando coisas.

Não demorei a tombar e, do mesmo modo, voltei a mim. Ainda sentia o corpo doer pelo baque no chão. Olhei ao redor, mas já não havia sinal daquilo que me atacou, muito menos dos ferimentos que haviam sido causados. Levantei ainda atordoado, me perguntando se tudo havia sido um sonho e me voltei para o altar.

Fui rápido em tomar a lança para mim e saí de lá como se tivesse enfrentado o próprio deus da destruição e o vencido com facilidade.

No fundo, eu não passava de um idiota que tinha cometido um erro mortal.

Minhas primeiras noites após adquirir Ainsoth, foram tomadas por sonhos. Eu via um pôr do sol vermelho como o sangue, em um campo aberto. Uma brisa morna soprava e junto com ela uma sensação agradável.

Promessas foram sussurradas em meu ouvido, convencendo-me a fazer coisas que eu nunca faria em sã consciência. Eu não percebi o veneno da serpente se espalhar por minha alma.

De herói, logo cai como o pior dos vilões.

Só conseguia enxergar o caminho que queria seguir, mas não conseguia ver o quão deturpado era a trilha que eu estava começando a seguir. Eu estava me tornando um homem sem coração.

Um desejo bestial surgiu em mim. Eu queria que todas as minhas vontades fossem atendidas de imediato, mesmo a custa de sangue e sofrimento. Não importava se era a prostituta ou a infante filha do governante da cidade. Não interessava se meu alimento servido era javali se meu corpo ansiava por carne humana. O saque me era mais emocionante que o espólio de uma exploração.

Aquilo me assustava, mas eu não conseguia lutar contra.

Uma noite, em meus sonhos, ouvi novamente a voz que me fazia as promessas. Ela vinha de dentro de mim. Foi nessa vez em que pude ter consciência do que estava acontecendo.

Não era eu quem segurava Ainsoth, era outra pessoa.

Eu era apenas o espectador por todo esse tempo.
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Mensagempor Malkavengrel em 22 Out 2008, 18:58

Eu li esse texto antes, como disse muito bom... Mas estranho... Muito estranho.

Algo nele me deixa em alerta, não sei o que é.
Espero descobrir.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 22 Out 2008, 22:34

Prevejo um puxão de orelha... XD
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Mensagempor Malkavengrel em 22 Out 2008, 22:43

como se fosse eu que tivesse moral para faze-lo, apenas digo que algo de errado não está certo aqui. =/
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Mensagempor Lady Draconnasti em 23 Out 2008, 19:19

Quarta Mentira: A Loucura


Eu recordo daquela canção, que entoava quando criança. Ela falava dos heróis do tempo antes do Exílio, quando o deus da destruição era apenas O Primogênito.

Era como se um mundo de sonhos se erguesse diante de meus olhos sempre que eu a ouvia. Meu avô era bom em contar essas histórias, sentado em sua velha cadeira de balanço, diante da lareira naqueles dias de inverno quase oníricos. Bons tempos que não mais retornarão.

Eu acabara de matar a todos.

Eu até pude sentir algo dentro de mim sorrir sádica para o que meus olhos úmidos era a verdadeira visão do inferno.

O que eu não daria, hoje, para poder sentir o calor do fogo aquecendo meus medos e minha alma?

O que eu não daria para me libertar desse pesadelo?

O que eu não daria para poder morrer em paz?
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Mensagempor Lobo_Branco em 26 Out 2008, 22:19

Finalmente criei vergonha na cara e estou lendo algo que ansiava por ler desde a primeira parte..rs

Bem, textos curtos, rápidos e leves...gostei :b

Ha historia a primeira vista, é meio batida, "grande herói que se torna grande mal do mundo", maaassss como o texto dá a indicar, esse não seria bem o tema, e sim o egoismo e ganância do dito "herói" que se esconde atrás de uma pretensa dominação por suas ânsias amorais ainda com base em sua conduta desde pequeno.

Tvz dai venha o título...

Bem, espero pela o que estar por vim para embasar ou descartar minhas conclusões...

Abração, Senhora minha!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


O Último Duelo - conto Capa&Espada
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Mensagempor Lady Draconnasti em 26 Out 2008, 22:53

Ha historia a primeira vista, é meio batida, "grande herói que se torna grande mal do mundo", maaassss como o texto dá a indicar, esse não seria bem o tema, e sim o egoismo e ganância do dito "herói" que se esconde atrás de uma pretensa dominação por suas ânsias amorais ainda com base em sua conduta desde pequeno.

Tvz dai venha o título...


Não exatamente, mas você tá no caminho certo.

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=


Quinta Mentira: O Despertar

Despertou com forte ânsia em seu estômago e um agonizante cansaço. Comera demais e se excedera fisicamente durante a noite. Após tantos meses, o corpo alcançara o limite e parecia querer se rasgar com qualquer movimento que tentasse. A respiração acelerou assim que percebeu o que poderia estar acontecendo.

Estava assustado. Não queria perder aquele corpo o qual esperara tanto tempo para ter. Um que fosse capaz de nutri-lo com perfeição e que o permitisse sentir que ainda estava vivo de verdade. Precisava de um novo hospedeiro urgentemente, era isso o que pensava.

Olhou ao seu redor em desespero, mas apenas encontrou as ossadas das três prostitutas as quais devorara durante a lasciva noite. Amaldiçoou-se pela gula, enquanto rastejava para fora da cama, sentindo partes de sua pele e músculos se soltarem ao mínimo esforço.

Foi um processo aterrorizante para ele, que nunca havia passado por aquilo. Pedaços secos caíram ao longo de sua trajetória até a Ainsoth, encostada em uma parede. O roçar de sua carcaça contra a madeira áspera do chão apenas acelerou o processo, deixando um rastro de um vermelho viscoso.

Tentou colocar-se de pé, usando uma mesa como apoio, mas logo desistiu ao ser acometido por uma forte dor fazendo-o contorcer-se até finalmente cessar.

Ofegante e trêmulo, ele se manteve deitado. Seus pensamentos estavam nublados pela náusea ainda presente. Conformou-se em sentir o corpo que dominou com certo custo se desfazendo como um punhado de cinzas ao vento. Imaginou-se voltando a forma repugnante que tinha ou mesmo deixando de existir para todo o sempre.

Passou algum tempo sem que acontecesse qualquer coisa. Mesmo fraco tentou se levantar novamente e percebeu o que de fato havia acontecido. Tal qual um casulo, os restos ressequidos do guerreiro imprudente caíram de seu novo corpo.

Nem de perto havia sinais da força que um dia tivera. Seus braços e pernas estavam magros e com aparência frágil. A cabeça estava desprovida do cabelo castanho de outrora, do mesmo modo que a face, que exibia o desenho do crânio em sua extensão, já não mostrava sinais da barba vasta. Costelas salientes como se não se alimentasse há dias completavam a visão deplorável daquele que já foi tido como um grande herói.

Sentiu seu estomago doer, vazio. Sem muito pensar, o novo homem rastejou até os corpos na esperança de que ainda houvesse alguma carne para ser raspada. Tão pouco havia que teve de se contentar com o tutano dos ossos duros das prostitutas.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 25 Nov 2008, 00:59

Sexta Mentira: O Início


Às margens de um lago viaja um só andarilho, trazendo em seus ombros o peso de dezenas de vidas. Em algum canto de sua alma, um turbilhão de pensamentos e ideais se mistura em uma insana epopéia.

Parou pela primeira vez, observando tudo ao seu redor. Dos pinheiros, cujas folhas amareladas pelo final do outono pendem umas sobre as outras no chão, à tranqüilidade das águas cristalinas. Fria é a brisa que sopra em seu rosto imberbe, causando arrepios à pele desprotegida.

O primeiro floco de neve se desprendeu de algum pedaço dos céus e pousou delicadamente em sua mão. A primeira noite de inverno que ele observaria, e sentiria na própria pele. Olhou para ele como se olhasse para uma jóia delicada. Sorriu com serenidade e o esmagou com o desdém.

Uma alma solitária ainda almeja sua liberdade.

A saudade do passado ainda ecoa pelo ar.

Do lago eterno ele se foi, enxugando as lágrimas que não eram suas. Ainsoth cantou de alegria em seu silêncio metálico. Enquanto a cidade se deixa consumir em chamas e pecados, sua jornada continua pelo outro lado das montanhas.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 03 Dez 2008, 23:07

Sétima Mentira: O Pivô


Moveu-se lentamente contemplando além das cores diante de seus olhos púrpuras. Verdes, azuis, claros e escuros, mas nenhum daqueles olhos era como os seus. Ilhas em um mar de sonhos inocentes. Ventos sempre em busca de harmonia, mas que nunca a encontrariam.

Ficou sabendo da guerra entre seus semelhantes contra eles mesmos e contra aqueles que habitam alem dos céus. Tudo o que descobriu não passava de uma mísera gota de sangue se comparada à matança desenfreada que acontecia. Pensou se poderia ajudar.

Pensou se deveria ajudar.

Se a guerra entre eles atenderia ao desejo crescente, ele buscaria um meio de retornar. No campo de batalha alguém precisaria saber seu nome para espalhá-lo aos ventos. Herança de um coração humano que necessitava ser admirado.

Escolheu apenas uma das jovens que haviam sido encantadas por sua beleza inumana. Tomou a mão daquela que mais exalava pureza, permitindo que as outras se envenenassem com a inveja e a decepção. Uma refeição comestível e uma noite de prazeres carnais para o “herói sem nome” que salvou a pequena aldeia dos ladrões.

Um pequeno sinal do paraíso que ele adorou deturpar ao longo da escuridão banhada pela luz parca de uma vela. Sussurrou palavras negras no ouvido de sua amante, convencendo-a gradualmente a fazer coisas que ela nunca faria. Era paciente o suficiente para isso.

Essa tola garota deu-lhe o primeiro nome que usaria por longos anos.

A princípio cortejava apenas a ela, sugando um pouco de sua vida a cada noite. Ao perceber que o cansaço da morte se aproximava, passou a galantear aquelas a quem havia rejeitado. Para cada uma, mostrou aquilo que ele queria que fosse sacrificado como prova de amor para com ele.

As mais resistentes aos seus encantos foram alvos do ciúme das seduzidas, que cometeram não mediram esforços para se livrarem das rivais. Foi responsável pelas mortes violentas dos familiares e maridos das vítimas seduzidas. Convenceu duas a se deitarem, ao mesmo tempo, com ele. Tornou-as dependentes dele.

Suas honras, suas vidas, suas posses...

Partiu quando se cansou daquele joguete, deixando para trás uma dúzia de mulheres destruídas, trazendo seu fruto maldito no ventre. Foi a primeira vez que pode escutar alguém chamá-lo de demônio.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 18 Jan 2009, 01:47

Oitava Mentira: A Glória


Muitos anos haviam se seguido desde seu renascimento, quando rompera a carne mortal que o abrigou por algum tempo. Já não parecia mais aquele homem frágil que se usava da vaidade dos mortais para destruí-los.

Seu corpo havia se tornado forte e abrigava muito mais do que aparentava. O cabelo negro, outrora ralo, agora descia em uma cascata de escuridão até sua cintura. A pele alva era sedosa e imaculada, exalava um suave odor de rosas disfarçando o constante cheiro de sangue em suas vestes.

Inúmeros eram os nomes aos quais haviam lhe dado, mas nenhum era usado. Onde quer que chegasse, sempre era “O Viajante” antes de se tornar “O Demônio”.

Assim como sua aparência, tudo aquilo era uma grande ilusão.

Uma mentira.

Ele observou o horizonte com melancólico fascínio, como se aquela fosse a primeira e última vez que o fazia. Havia gostado daquele lugar. As pessoas não pareciam se importar muito com o que ele fazia desde que algumas gentis e redondas moedas fossem parar em suas mãos ambiciosas.

Uma cidade tão corrupta quanto ele poderia ser. Um local que valia a pena ser destruído.

Não perguntaram o porquê de sua súbita partida. Ele havia aprendido com os anos que às vezes todos precisavam alterar seus caminhos para atingir seus objetivos, por mais obscuros que fossem.

Recomendou a todos que ganharam sua confiança que não olhassem para trás. Queria recompensá-los por tudo o que haviam feito por ele. Quando o último raio de sol deixou de iluminar aquelas terras, ele respirou fundo e empunhou Ainsoth.

Ergueu-a acima de sua cabeça e a arremessou com força contra uma das únicas almas puras que aquela cidade suja produzira. Presa a uma velha árvore, a criança foi atravessada pela lâmina profana e agonizou diante dos olhos satisfeitos do demônio.

Ele aguardou pacientemente, enquanto o sangue jovem corria pelo tronco, percorrendo seu caminho pelos sulcos lenhosos até o chão. E, como a muito não sentia, percebeu que seu rosto alvo estava molhado.

Lágrimas que não lhe pertenciam.

Ele sorriu achando aquilo curioso e se voltou para a cidade que agora ardia em chamas púrpuras. Podia sentir seu calor da distância em que estava.

Aquela era a sua primeira retribuição pelos anos de lealdade.

A segunda, era usar o nome que haviam lhe dado.

Aireon.
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Mensagempor Léderon em 19 Jan 2009, 09:03

Tia, que lindo. Sério, tô gostando muito da narrativa alternada. E ainda estou na dúvida se o protagonista é o Aireon ou Ainsoth. Só acho que você deveria dar uma maior aprofundada na Terceira Mentira; a transição dele para seja lá o que for não ficou boa. Descreva mais impressões, mais coisas que podem ter mudado o pensamento dele.

Quanto às demais ficaram muito boas; gostei especialmente dele se arrastando no quarto. Agonizante. XD

No mais, tem uns errinhos de ortografia - especialmente com a/há - e outros de revisão ali, mas o maior que eu vi até agora foi na Sexta Mentira: "Dos pinheiros, cujas amareladas pelo final do"... wut? XD

Continue! :venera:
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