Canteiro
O homem se indagou. À sua frente crescia a escadaria de degraus cinzentos, formados por cubos de pedra que se encaixaram no passado. A hera se infiltrou por entre as frestas mínimas, arrancando a disposição que outrora devia ser perfeita.
Ele não descera. Não havia vestígios de seus passos na poeira fina da pedra desgastada. O ponto mais alto da escadaria se rompera num golpe mais duro dos veios de vegetação. Ele não vinha do quarto que se adivinhava acima. Virou-se e não se lembrou de ter chegado por ali também; daquela estrada cheia de mato e pó, divisora de construções amorfas, tomadas pelos braços retorcidos da hera.
Ele decidiu seguir a estrada. Os mesmos cubos marcavam as margens. Mas no centro, havia tábuas corridas. Fileiras delas, úmidas e podres, incapazes de ranger. Dando passos apertados ele caminhou pela ruinosa trilha. Em alguns momentos, touceiras invadiam as margens, forçando-o a seguir pelo centro. Ele testava a firmeza da madeira e pisava com muito cuidado. Em alguns lugares, buracos mostravam o escuro oco, abaixo da estrada. Tenebrosa escuridão.
Ele andou amedrontado de cair. E seguindo, viu à esquerda, um canteiro abandonado, tomado por numerosos formigueiros. Os insetos saíam e voltavam. Eram grandes e pestilentos. Formigas gordas, de carapaças e asas, de longas e febris antenas. Elas vinham daquele escuro, ele o sabia. Elas eram más.
Andando por entre os bichos, por entre a hera, ela vem solta. Usa um vestido de alças carminado e um chapéu a lhe esconder os olhos. Sorriso aberto, lábios do vestido. Nas mãos um balde e uma pá de criança de praia. Mudas de flores.
Sem se falarem, eles as plantaram entre a hera, em cima dos formigueiros. Ele, pisando com cuidado, evitando as formigas e os espinhos. Ela, sem preocupação e sem se ferir.
Plantaram a última muda e se deram as mãos. Caminharam mais à frente. Mas não havia continuação para a estrada. Seguia ela sorrindo. Ele olhava o chão. Não queria magoá-la. As flores iam morrer. As formigas as devorariam e se não o fizessem, seriam sufocadas pela hera. Ela não percebia isso?
Ele olhou o fim da estrada. A frente, não havia caminho. Mas ela não hesitava. Ele apertou a mão delicada e sentiu em seus dedos, no pedaço de segundo, o calor. Mas a mão que segurava desconjuntou-se sem estalo. Ele tentou olhar, mas as pálpebras já se iam abrindo.