O Sonho da Menina
Era um sonho esquisito.
Sonhou que estava sonhando no próprio quarto, em sua própria cama.
Sonhou com os raios solares despontando pela janela, acordando-a preguiçosamente, em uma manhã de sábado. Sentiu o frio característico daquele horário e se enfiou ainda mais debaixo da coberta grossa.
Sonhou que alguém tentava despertá-la com gentis empurrões. Sonhou que mãos gélidas tocaram seu braço, assustando-a.
Sonhou que abriu os olhos e nada viu. Tornou a fechá-los e dormir até sentir que alguém tentava impedir seu retornou ao reino de Morfeu.
Sonhou que acordou mal-humorada, prestes a distribuir sermão a quem estivesse fazendo aquilo, afinal de contas, era sábado. Não era dia para se preocupar com horários para acordar. De repente, viu a menina e quase desmaiou de susto.
Sonhou ter visto uma garotinha que, possivelmente, não tinha mais de doze anos. Ela usava um vestido azul claro com rendas bem trabalhadas, mas um tanto “mil novecentos e minha avó virgem”. Tinha o rosto arredondado, com bochechas generosas, daquelas boas de se beliscar, e tinha cabelos longos e negros. Nada muito anormal, exceto pelo fato dela ser completamente desprovida de cor, tal qual um cadáver, e que seus olhos não passavam de órbitas negras de aparência gelatinosa.
A sonhadora acordou de súbito, com o coração disparado, um suor frio percorrendo sua testa e uma insana vontade de desenhar aquela bizarra menina...