Quazar - Capitulo CINCO-

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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 29 Ago 2008, 20:16

Boa noite, companheiros do forum!

Venho aqui mais uma vez expor um trabalho meu, para vocês lerem e avaliarem...

Essa historia será dividida em 3 partes, sendo a primeira parte com dez capitulos.

Gostaria da opinião e de um feedback do pessoal aqui do Forum... Podem descer lenha, que o texto será editado e reeditado até atingir a perfeição. :aham:

Estou com 3 capitulos prontos, e pretendo postar os capitulos com uma semana de intervalo, também levarei a historia até o fim, mesmo que não desperte interesse do publico, para não deixar qualquer possivel leitor sem saber as vias de fato.

Sem mais delongas,

Quazar


Santa Evangelina, 23 de servinia 1.384

Em um vilarejo nas províncias de Eurôma Central, um homem nasceu.
Filho do nobre senhor da vila, ele freqüentou as melhores escolas e teve uma educação digna de um rei.

Sérpico, regente de Estadia dos Anjos, a vila em questão, era um homem de bom coração, servia os propósitos do rei Lucas Lanshville III com excelência, e sempre foi visto pelo rei com bons olhos.

Ele foi casado com Amanda Skayring durante 12 anos, e foi graças a ela e seu amor infindável que ele foi agraciado com a benção de ser pai da criança. A mais linda e radiante que ele já vira em toda sua vida.

Quando Quazar nasceu, Sérpico e Amanda o batizaram instantaneamente, e, por um acaso do destino, os dois, que não tinham discutido o nome do bebe até o dia de seu nascimento, disseram em uníssono o nome que queriam para ele.

Foi espantoso e curioso, mas pareceu que o destino conspirou para que ele recebesse tal nome.

Sérpico Sorcerermage disse que ele seria o orgulho de sua nação.

E aos dez anos de idade, Quazar já era exemplo.

Sempre foi muito atento aos estudos, já lia e escrevia em 10 línguas, todas as que eram conhecidas em Eurôma, nas quatro imediações cardeais.

Ele dominou também as artes da matemática, sendo um eximo contador e calculador, e se não bastasse isso, mostrou se um ótimo conhecedor da geografia política, tendo decorado os nomes de todos os regentes, seus costumes e as principais leis, da Eurôma do Sul, a Eurôma do Norte, e passando pela Eurôma do Leste e Oeste.

Sérpico e Amanda eram pais orgulhosos.

Quazar teve uma infância cheia. Tinha tempo para brincar com seus caros brinquedos, mas ele sempre preferiu a companhia de um livro e um bloco de notas, do que os soldadinhos de chumbo em miniatura. Ele nasceu com uma mente brilhante e privilegiada.

E bem verdade, aos 12 anos, ele já lecionava na Academia Real. Era dentre todos, o mais jovem filosofo, o mais jovem professor e o mais brilhante pensador.

Ele era um aristocrata de encher os olhos.

Vestia-se muito bem, encomendava suas roupas direto do alfaiate real, e até mesmo a majestade parecia um tanto mal vestida na presença do garoto.

Quazar completou quatorze anos, e o Rei Lucas Lanshville III, lhe presenteou com uma biblioteca quase infindável, dona de mais de trinta mil tomos diferentes e, segundo as palavras do próprio rei, com livros até mesmo de outros mundos, aqueles que estão além do oceano e que somente alguns poucos navegantes tiveram o privilegio de conhecer e de trazer tais relíquias.

Quazar ficou sem palavras, e aquele seu aniversário foi sem duvidas o mais feliz de sua vida.

Amanda comentou que Quazar ficou dentro da biblioteca por três dias diretos, saindo de lá apenas para se alimentar, ir ao banheiro e dormir. Ele lera nesses três dias mais de dez tomos. Cada um abordando um tema diferente. E para ele, aquilo era um dos maiores prazeres da vida.

Saboreava cada palavra, contemplava cada livro, e absorvia todas as informações passadas.

Presente melhor ele não poderia ter recebido. Sentia uma satisfação pessoal por ser dono de tal lugar, e aquilo parecia a realização de toda uma vida.

Quazar parou de trabalhar na Academia, dedicou todo seu tempo a ler os tomos de tal biblioteca e tornou-se muito recluso.

Quase perto de completar quinze anos, Quazar encontrou um livro diferente dos demais. Era um dos tomos trazidos dos mundos além-mar, e vinha escrito em um idioma diferente, que ele nunca tinha conhecido.

O tomo possuía uma capa negra de couro, com escritos dourados, onde podia-se ler:

Aumnus Primus

Quazar ainda pesquisou outros tomos, para ver se encontrava algo sobre tal livro, ou como traduzir tal língua. Exausto em uma busca infrutífera, ele voltou para o tomo de capa negra, e passou a ler suas paginas com atenção, na esperança de entender o que o curioso livro dizia.

O tomo era carregado de palavras compridas, e num intervalo de 3 paginas, sempre trazia uma gravura.

Eram imagens de florestas, cavernas, das estrelas e de centros urbanos.

Tinha criaturas estranhas, alguns monstros e seres mitológicos, que Quazar pensou só existir nas historias que seus pais contavam.

Ele folheou as três mil paginas do livro, olhou todas as mil gravuras, e depois voltou para a primeira pagina, lendo uma a uma, mesmo sem entender, apenas saboreando as palavras.

Fez isso durante todo o dia e noite, e quando estava por volta da metade do livro, o sono o venceu, e fez com que Quazar desabasse sobre a escrivaninha.

Quazar acordou na manhã seguinte, exausto. Parecia que ele tinha corrido por toda uma semana, escalado montanhas e atravessado correntezas perigosas a nado. Ele nunca se sentiu tão cansado. Até seus olhos estavam pesados e ele mal mantinha as pálpebras abertas.

E foi por um pequeno espaço aberto das pálpebras, que ele viu o sol. Demorou em atinar o que estava acontecendo, e se deu conta que estava fora da biblioteca, num campo aberto, onde o sol iluminava seu rosto.

Mas o cansaço o venceu novamente, e mais uma vez Quazar caiu no sono.

Quando ele acordou, já era noite, e ainda muito cansado, viu um céu estrelado e uma gigantesca lua pálida. Duas vezes maior do que a lua que ele estava acostumado a ver todas as noites, e dez vezes mais luminosa.

Assustado, só pensava no que pudesse ter acontecido. E com sua cabeça ainda zunindo e seu corpo ainda debilitado, ele se pôs em pé e olhou a sua volta.

Somente arvores, grama, e algumas pedras. Ele estava no meio de uma clareira, em meio a uma floresta. Não conseguiu entender o que viera a acontecer, mas soube de imediato que não estava mais em sua vila.

Mil perguntas povoaram sua mente. Tinha ele sido seqüestrado durante o sono?

Talvez tinham-lhe pregado uma peça, colocando o pra dormir ao relento?

Quazar sabia que não. Seu corpo cansado era prova disso, e ele pensou ser vitima do sonambulismo, e talvez, durante o sono, o jovem aristocrata tivesse andado até aqui.

Sua mãe deveria estar preocupada, e seu pai também.

Ele ficou sentado, encostado na mesma pedra em que acordara, e resolveu descansar até seu corpo voltar a lhe obedecer por completo.

A noite passou, e o sonolento Quazar mais uma vez dormiu, ele não queria dormir ali por temer possíveis perigos, mas seu corpo estava ligando e desligando sozinho, sem que o jovem pudesse fazer algo ou tomar alguma decisão.

Mais uma manhã chegou, e ainda cansado, porém mais disposto, Quazar acordou.

Quando abriu seus olhos, a primeira coisa que viu foi uma gazela, parada bem diante dele.

O animal se assustou quando o jovem se pôs em pé, e tratou de correr dali.

As roupas de Quazar ainda estavam extremamente limpas e conservadas, e ele logo descartou a possibilidade do sonambulismo, pois, se ele tivesse andando até ali, algum vestígio teria sido deixado em suas vestes.

Quazar caminhou durante varias horas, ainda cansado, sem saber o porque, ele procurou por sua vila, ou qualquer reino nas imediações.

Sem sucesso, ao final da tarde o jovem já estava ficando estressado. Ele era lúcido e estudado, e não se abatia tão facilmente, outro em seu lugar já estaria desesperado, tentando entender o que aconteceu. Não Quazar. Ele se mantinha calmo e racional, e procurava apenas reconhecer o local, se ele estava integro, já era suficiente. Sua única preocupação era talvez no estresse emocional que seu pai e sua mãe obviamente estavam passando, devido ao sumiço de seu único filho.

A noite mais uma vez caiu, e aquela estranha e gigantesca lua mais uma vez apareceu. Como raios o astro pôde ter crescido tanto? Será que ele tinha viajado pelos cosmos e vindo parar em outro mundo?

Essa foi uma das possibilidades que ele considerou. O jovem era estudado, inteligente e sabia que era possível existir outros mundos, outros planos de existência. Mesmo seu mundo natal não tendo crenças em divindades ou religiões, Quazar lera em um de seus muitos tomos, que existiam locais e pessoas que acreditavam em entidades superiores, que deram origem a criação de tudo.

Era algo que realmente fazia sentido pois, antes do mundo existir, quem existia? Tinha de haver algo para dar início, o gatilho inicial, o primeiro empurrão. Era obvio. Nada nascia do acaso. Tudo tem de ter um inicio, é um ciclo vicioso que faz a roda do destino girar. E antes desse gatilho que criara tudo, também existia algo ou alguém que o criou, e o criador disso também foi fruto de algo, e assim por diante. A criação é infinita. Assim como criamos livros, mundos e historias para contarmos aos nossos filhos e netos, alguém criou nosso mundo, e esse alguém foi criado por outrem, que fora criado por alguém.

A roda não para de girar.

Mais de sete dias se passaram, Quazar, já com quinze anos, continuava a procurar por pessoas, cidades ou vilas. Mas parecia que ele estava sozinho.

As únicas criaturas vivas que ele encontrara além da flora, eram algumas ariscas gazelas, e tímidas corujas que o observavam durante a noite.

Cada dia que passava se tornava mais estranho que o outro.

Foi quando Quazar acordou em uma manhã fria, em que neve caía do céu. Seu manto o protegia do frio, mas ele sabia que aquilo não seria o suficiente quando o mesmo se abrandasse, e ele passou a procurar por abrigo.

Até então Quazar sobreviveu comendo apenas frutas, que ele encontrara em algumas arvores, e bebendo da água de um rio que ele estava seguindo.

Mas o jovem sabia que precisaria de carne para passar o inverno. E já sem esperança de encontrar sua vila, ele passou a trabalhar em algumas armas para caçar uma das gazelas que ali viviam em abundância.

Com uma lança feita do galho de uma arvore, e afiada com a ajuda de pedras, ele esgueirou-se atrás de uma arvore, e fitou o animal que buscava por comida debaixo da neve.

Quazar abatera a presa e pensara já estar garantido para passar o inverno.

Como não tinha encontrado nenhuma caverna em todos os dias que estivera no local, ele sabia que teria de improvisar o abrigo. Já estava seguro que ali não existiam animais perigosos, e ursos hibernantes não seriam problemas para ele. Resolveu ficar abaixo de uma pequena arvore que ele encontrara e passou a procurar por algo para fazer a forração.

Seus olhos encheram de lagrimas, com uma felicidade parecida com a que ele contemplou quando ganhara a biblioteca, quando ele avistou inúmeras bananeiras, do outro lado do rio.

Quazar despiu-se, atravessou o rio, e trouxe, além de bananas, folhas da bananeira, que seriam úteis para criar um forro.

Muitas horas de trabalho, e o resultado de uma vida de estudos, inclusive de arquitetura moderna e arcaica, fez o jovem criar uma pequena cabana, com folhas de bananeira, galhos, e cipós. Não era o lugar mais aconchegante do mundo, mas iria lhe proteger do frio durante o inverno.

Ele caçou mais três gazelas, afiou algumas pedras, e usou-as para cortar os animais. Retirou suas peles, para usá-las como agasalho durante o frio, e fatiou sua carne em filés. Fez fogo, usando as pedras que continha no local, e usou finos galhos e gravetos como combustível.

A vantagem de ser tão estudado era esta. Quazar tinha na teoria tudo o que precisava para sobreviver, e sabia como usar do ambiente a sua volta para isso.

O inverno foi rigoroso. Perdurou por quarenta dias. A carne que Quazar estocara abaixo da neve para não estragar acabou por volta da metade desse tempo, e ele sobreviveu os outros vinte dias a base de bananas.

Quazar notou que durante o inverno, as bananeiras além rio morreram, e a sorte do jovem fora ter colhido as frutas em questão antes desse fatídico evento.

Ele também fez com que a fogueira nunca se apagasse, pois mesmo com as peles dos animais, se o fogo se extinguisse, seria o fim do jovem.

Quando o frio passou, a neve derreteu, e o sol voltou a raiar, Quazar voltou a sua busca por civilização.

E foi no terceiro dia de viajem, que ele se deparou com um estranho monumento.

Eram sete dedos, feitos de pedra, e com alturas idênticas, beirando os 4m. Eles apontavam para o céu, e seu design era perfeito.

Somente uma mente inteligente poderia arquitetar e esculpir tal monumento. E Quazar se encheu de esperança. Pensou que estaria próximo de um reino. E correu para o centro de tal escultura.

Os dedos estavam dispostos em um circulo, espaçados mais ou menos dois metros um do outro, e no solo no centro dos dedos, um piso de ardósia podia ser notado.

Porém, o que mais espantou Quazar foi o que se revelará no centro de tal monumento.

Flutuando, em meio a uma esfera de energia transparente, havia um tomo de capa preta.

Ao se aproximar, Quazar pode ler na capa Aumnus Primus, e uma estranha sensação de desespero, algo que ele pouco tinha provado, lhe preencheu instantaneamente.

Ele enfiou a mão dentro do globo de energia, sentiu que ele era quente por dentro, e apanhou o livro.

Era o mesmo livro que ele lera em sua biblioteca, no momento anterior do jovem ser trazido a tal local.

O livro estava intacto, parecia até mais conservado do que antes, e Quazar estava pasmo. Assustado e provando de sentimentos como angustia, medo, desespero e urgência. Coisas que ele nunca tinha sentido, ou, se sentira, sempre minimizara devido a sua inteligência. Mas não dessa vez. O jovem sentia que algo não estava certo, e que sua realidade estava para desabar.

Aquele, dentre todos os dias que passou desde que chegara aqui, foi sem duvidas o mais estranho e apavorante.










Editado pela última vez por Bahamute em 11 Nov 2008, 20:36, em um total de 11 vezes.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 01 Set 2008, 20:04

Dando continuidade, estou postando aqui o primeiro capitulo do conto.
Lembrando que a parte postada acima, é a Introdução (ou capitulo Zero, por assim dizer).

Capitulo UM
O segundo tomo


Quazar seguiu o rio durante doze dias, já fazia quase dois meses que ele estava perdido em tal local. Carregando consigo somente o Aumnus Primus, algumas peles de gazelas e um punhado de maçãs.

Depois de tanto tempo perdido, ele já não tinha mais esperanças de encontrar civilização por ali. Sabia que estava longe de casa e que, de alguma forma, fora transportado para cá na noite em que estudara o Aumnus Primus.

Mas nem por isso ele se intimidou com o tomo. Todas as manhãs, enquanto o sol ainda estava forte, ele estudava o livro. Ele já tinha lido todo o tomo, e estava relendo-o pagina a pagina.

Porém nunca mais ele notou nenhum evento sobrenatural para com o tomo. Tinha uma mínima esperança de acordar em sua biblioteca se decifrasse o livro, mas sabia que tal chance era remota. Em seu mundo natal não existia magia, nem arcana, nem divina. Era um mundo remoto, de tecnologia arcaica e costumes nobres ligados diretos a realeza. Bem como um local em que não existiam deuses, ou se existiam, a população não pregava adoração aos mesmos – talvez pelo fato deles não serem conhecidos.

Em algumas gravuras do livro havia retratos de reis e rainhas, desenhos detalhadíssimos, que só podiam ter sido confeccionados por eximos artistas. Tais reis sempre estavam em retratos da cintura para cima, com sua rainha ao fundo em segundo plano. Em sua mão direita, sempre tinha um anel com uma caveira.

É bem verdade que algumas gravuras eram macabras.
Criaturas bestiais – demônios – nus e fazendo sexo com humanas.

Cemitérios, com seus mortos levantando das tumbas.

Monstros gigantescos assolando cidades. Aquele tomo poderia muito bem ser catalogado como horror gótico. Um tipo de livro que era amplamente comercializado na Eurôma do Norte.

Mas, em proporção idêntica com tais gravuras, existiam desenhos belos.

Longos campos de flores.

Florestas, com ursos e gazelas.

Paisagens paradisíacas de praias e casais de jovens com braços dados.

Bem como anjos, retratados em reinos divinos no paraíso.

Em baixo de cada gravura havia uma titulo, e um numero. O número partia do um na primeira gravura da terceira pagina do livro, e terminava no mil, na ultima gravura, na antepenúltima pagina.

Quazar caminhava com o livro na cabeça. Pensando em cada gravura, e tomando nota mental das palavras que mais se repetiam no tomo em geral. Profandus Defnus. Essas duas palavras sempre apareciam juntas, com as iniciais em maiúsculo, e num intervalo de uma a duas paginas. Algumas vezes elas chegavam a serem notadas mais de uma vez na mesma pagina.

E enquanto caminhava com tais palavras na cabeça, Quazar notou fumaça se erguendo no horizonte. O rosto suado do jovem se iluminou, e, ao notar que tal fumaça era cinza, ela só poderia ser proveniente de madeira ou algo similar queimando.

A trouxa em suas costas pulavam mais do que coelho enquanto ele corria em direção a fumaça. Suas sandálias de couro, que outrora eram fortes e resistentes, já estavam desgastadas com o tempo de estadia em tal local, e ameaçavam romper-se conforme ele corria.

Mas ele não estava preocupado. Ele queria averiguar o que causara tal fumaça, e queria fazer isso logo.

Conforme ele corria, a fumaça ia se aproximando, e a sua frente, as arvores iam abrindo para revelar uma clareira.

Quazar caiu de joelhos ao chão. A trouxa jogada de lado abriu, e o Aumnus Primus caiu para fora dela. Lagrimas escorriam de seus olhos, suas mãos tremiam. Ele estava provado de um sentimento de euforia, misturado com alegria e satisfação.

Um casebre de madeira. Estava ali, diante do jovem.

Quazar se viu dando graças a Deus por isso, mesmo sem saber se seguia ou não uma divindade. Mesmo sem ter certeza se existia ou não uma divindade. Mas ele não conseguia pensar em outra coisa. Algo, alguém, ou o que quer que fosse, conspirou para ajudá-lo. Guiou seus passos para o caminho certo, e fez encontrar tal local.

Após se recompor, ele caminhou até o casebre. Era modesto, parecia ser mais uma cabana de único cômodo. Ele notou que ao lado de fora tinha uma casinha pequena – o sanitário do local – e viu também dois cachorros amarrados com fitas de couro, junto a um pequeno poste, ao lado da casinha.

Os cães, ao notarem Quazar, ficaram alertas e fitando-o. Mas curiosamente não emitiram um único latido.

Quazar bateu três vezes na porta.

Quando a porta se abriu, ele viu um homem alto. Barrigudo e com uma barba castanha e comprida. Sua cabeça era careca e seu nariz grande e redondo. Ele tinha dois brincos na orelha direita, e três na esquerda. Em seu pescoço, além de uma cicatriz - que parecia ter sido feito pelas garras de um felino grande - ele tinha um cordão com um crucifixo pendurado.

O homem se assustou ao ver Quazar, parecia até mais espantado que o jovem. Seus olhos arregalados não escondiam tal surpresa.

- <Meu santo Deus! Quem és tu?> - Perguntou o homem, mas para a frustração de Quazar, o jovem não pode entender uma única palavra. O homem estava falando em uma linguagem diferente, e o jovem ficou decepcionado –

Era obvio que um nativo não falaria o mesmo idioma que o jovem. Essa era uma certeza remota. As chances de eles partilharem o mesmo idioma, ou um dos dez idiomas que Quazar conhecia, era pequena.

E isso fez Quazar pensar mais uma vez que não estava mais em Eurôma, em nenhuma das imediações cardeais, nem em sua terra, a central.

- Infelizmente, não partilhamos do mesmo idioma... – Disse Quazar, com desapontamento –

- <O que está dizendo meu jovem? És nativo dessas terras?> - Perguntou o homem –

Mais uma vez não entendendo nada, e sabendo que aquela conversa não levaria a fim nenhum, Quazar colocou a mão no próprio peito e disse,

- Eu, Quazar! – e apontou para o homem, fazendo uma expressão facial de pergunta –

- Eu, Quazar? <Está me dizendo que esse é seu nome?> - Disse o homem –

Quazar entendeu apenas as palavras que ele disse ao homem, e que esse por sua vez repetiu, então mais uma vez repetiu o processo, apontando a si mesmo e dizendo mais uma vez seu nome, para depois apontar para o homem.

- Victor Huno – Disse o homem, saindo de frente de sua porta, e estendendo o braço convidando Quazar para entrar - <Entre, você é a primeira pessoa que encontro nesse local, tenho algumas perguntas a ti> - Continuou Victor –

Sem entender nenhuma palavra, após o nome do sujeito, Quazar compreendeu que estava sendo convidado a entrar.

O jovem inteligente sabia que poderia estar em perigo, o sujeito a sua frente era bem maior que ele, e parecia muito mais forte. Mas o que ele poderia perder? Pelo contrario, poderia encontrar respostas para suas perguntas, ainda mais sendo Victor um nativo dali. Quazar queria entender porque, mesmo depois de quase sessenta dias de caminhada, não encontrara nenhum vestígio de civilização além da escultura dos sete dedos. Também queria saber por que a fauna local era composta unicamente por gazelas e corujas, sendo que nem peixes existiam no rio.

Ao olhar o casebre por dentro, Quazar viu que o local era bem simples. Uma pequena lareira num dos cantos, com algum alimento sendo preparado dentro de uma grande panela, suspensa acima do fogo, pendurada por um gancho. O cheiro era bom.

Notou armas recostadas noutro canto. Uma grande espada, uma menor, um escudo que facilmente cobriria todo o corpo, e uma armadura totalmente desmontada, e atrás dela um bordão.

Tinha uma mesa encostada numa das paredes, junto à janela, e um vaso com flores no centro dela. No chão, um tapete de pele de urso, e no lado oposto da mesa, na outra parede, a mesma da porta de entrada, uma cama arrumada, com cobertores, travesseiros, e lençóis limpos.

O lugar era bem aconchegante. E Quazar sentiu-se bem de estar ali.

Victor puxou uma cadeira, e fez sinal para Quazar sentar-se. Quazar se sentou, o homem colocou um prato e talheres para ele, e fez o mesmo para si na outra extremidade da mesa. Com o auxilio de um pano, retirou a panela do fogo, que estava com sua água borbulhante devido ao calor. Pegou com uma concha um pouco do cozido de gazela que estava ali dentro, e serviu o jovem e a si mesmo.

- <Você parece faminto, coma um pouco!><É comida boa>- Disse Victor esfregando a mão na barriga e fazendo sinal para Quazar comer –

- Comida? – Perguntou Quazar -
- <Comida> - Disse Victor, em sua própria língua, Apontou para o prato e disse mais uma vez - <Comida>.
- Comida? Quazar perguntou, dessa vez, repetindo a mesma palavra de Victor.
- Comida – Disse Victor.

Restava agora Quazar saber se a palavra que ele aprendera, remeteria a comida ou a cozido de gazela.

A tarde toda passou, Quazar ficou junto de Victor, e ao invés de tentar ensinar seu idioma a Victor, ele se empenhou em tentar aprender o idioma falado por Victor.

O homem de meia idade era hospitaleiro. Aceitou Quazar em sua casa, lhe deu roupas novas, que apesar de um pouco grande, ficaram melhor do que as vestes surradas que o jovem trajava. E o deixavam parecendo um mendigo.

Uma semana com Victor foi suficiente para ele aprender seu idioma.

Para surpresa de Quazar, Victor não era nativo dali. Pior, tinha chegado depois dele no local. Victor contou que acordou cansado em uma certa manha, e ao sair de seu casebre, se deu conta que não estava mais em sua vila. Ele, sua moradia, e seus animais, tinham sido trazidos para cá de alguma forma.

Ele contou ao jovem que era um poderoso guerreiro. O mais bravo, benevolente e temido de sua vila. Quazar também lhe contou sua historia, disse como veio parar aqui e os dois notaram as semelhanças no transporte para cá – corpos cansados, como se tivessem enfrentado uma batalha infindável de uma semana –

Quazar ensinou matemática a Victor, lhe contou sobre seu trabalho na academia real, e lhe disse sobre sua biblioteca.

Victor lhe falou de suas aventuras. De como venceu sozinho um exército de 20 homens, de uma vila próxima a sua, e contou sobre sua religião.

Os dois passaram dias juntos, Victor ensinou Quazar a manejar espadas, a usar armaduras e escudos, e viu que o jovem, apesar do corpo magro e aparentemente frágil, poderia ter uma certa desenvoltura para o combate.

Quazar por sua vez lhe ensinou sobre sobrevivência, de como usar o ambiente a sua volta para sobreviver e, apesar de Victor já ter noções básicas sobre isso, o que Quazar lhe ensinara iria aprimorar ainda mais suas capacidades.

Ambos já não tinham mais esperanças de voltar para seus respectivos lares, e pensavam em passar suas vidas ali.

Já fazia mais de dez dias que Quazar não lia o Aumnus Primus, exatamente o mesmo tempo que ele encontrara Victor. O livro estava lá, embrulhado na pele de uma gazela, a mesma trouxa que quazar tinha quando chegou a cabana de Victor.

Quazar resolveu tomar o tomo novamente, e voltar seus estudos. Uma vez que Victor tinha papel e lápis na sua cabana e ele poderia tomar nota de algumas palavras para estudá-las novamente.

Victor tinha saído para caçar, e Quazar tomou o livro para si, sentado-se à mesa e anotando algumas palavras chaves que se repetiam com freqüência, bem como algumas possíveis interlocuções.

Ele passou toda a tarde estudando, e Victor ficou fora por todo esse tempo.

Quando estava para escurecer, ele ouviu os cães de Victor latindo, e sabia que o guerreiro estava de volta. Deixou o Aumnus Primus em sua mesa, aberto, e com suas anotações próximas, e foi para fora da casa receber o amigo.

Victor tinha em suas costas, presos no bordão e segurado-o pela mão esquerda, três gazelas, e amarrado em uma corda na sua mão direita, um saco de pele de gazela, provavelmente com frutas. O casebre era próximo do rio e não havia necessidade de se deslocar muito para conseguir água.

Quazar o recebeu com sorriso no rosto. Era uma satisfação ter a companhia de alguém, e com quem conversar durante o dia e antes de dormir. Os dois sempre contavam historias um ao outro todas as noites. Quazar lhe falava sobre seu mundo, e Victor sobre o seu. Eram locais tão diferentes um do outro, que Quazar tinha certeza que se tratavam de planos de existência diferentes. E mesmo Victor não entendendo no começo o que seriam planos existenciais, Quazar pacientemente lhe explicou o que era e ensinou sobre isso.

Victor entrou na casa, preparado para depositar os alimentos em um dos cantos, mas os largou ao chão ao ver o Aumnus Primus aberto na mesa.

- Onde você pegou meu livro? – Perguntou Victor e se dirigiu para mesa –
- Esse livro é meu, eu o trouxe comigo antes de te conhecer – respondeu Quazar –
- Como seu? Ele estava guardado embaixo de minha cama, num baú trancado – Disse Victor, colocando a mão no tomo, e fechando-o –

Mas ao fechá-lo, ele se assustou.

- Desculpe. Você tem razão, não é meu livro – Disse Victor – Mas o nome na capa é o mesmo –

Quazar se espantou.

- Como assim, você tem um livro com esse nome? – Perguntou Quazar –

Victor se dirigiu até sua cama, abaixou-se, retirou um pequeno baú trancado com cadeado. Pegou uma chave que estava pendurada ao lado da porta e abriu o baú. De dentro dele, ele retirou um tomo de capa vermelha, onde se podia ler na capa Aumnus Primus.

- Vê, o mesmo nome, mas com capa diferente. – Disse Victor, entregando o pesado tomo de três mil paginas a Quazar –

Quazar notou que a capa não era de couro, como a de seu livro, e viu também que ela era feita com grossas escamas vermelhas, tão grande quanto um palmo seu. Pensara em que tipo de animal pudesse ter essas escamas, e depois concordou que seria melhor não pensar muito se tal besta existisse.

- Onde você conseguiu esse livro? – Perguntou Quazar –
- Lembra quando eu te contei, que derrotei sozinho vinte homens? Pois bem, um deles detinha tal tomo – Respondeu Victor –
- E você leu esse livro? – Perguntou Quazar –
- Eu não entendo tal idioma, então, o folheei e depois o guardei no baú, achei que tivesse algum valor e estava pensando em vendê-lo.
- E por que não o fez? – Perguntou Quazar –
- Oras, porque estou aqui! Foi depois do combate com os 20 que eu vim parar aqui. – Respondeu Victor –
- Logo depois de tomar o livro para si... – Continuou Quazar –
- Por que? Vieste para cá depois de conseguir o teu livro?
- Precisamente, sim. Depois de estudá-lo por um dia e uma noite. Mas vim para cá só com as roupas do corpo, e encontrei o livro aqui, num estranho monumento. – Respondeu Quazar –

Os dois ficaram em silêncio por uma hora após esse dialogo. Eles estavam assustados. E depois desse tempo, pegaram os dois livros e passaram a compará-los, para ver se seus dizeres e gravuras eram iguais. E eram. Idênticos. A única coisa que divergia um do outro era o material da capa.

Obviamente a viagem dos dois para tal local era conseqüência de tais tomos. Eles sabiam disso e Quazar decidiu voltar a estudar tal tomo com mais afinco. Ele já tinha uma boa noção de como traduzir algumas palavras, como Nobilus para Rei ou Nobre, pois tal menção sempre estava abaixo da gravura de um rei, e antes de um possível nome pessoal.

Victor preparou a janta, os dois se alimentaram, e foram dormir. Cada qual em sua cama. Victor construíra uma para Quazar, usando a madeira de arvores e peles de gazelas para a forração. Espantosamente, o guerreiro também era alfaiate e carpinteiro, ele tinha todo o material, como linhas, tesouras e agulhas, e martelos, pregos, machado e serrote. E graças a isso confeccionou colchão e travesseiro pro jovem, bem como construiu a cama.

Quazar decidiu que iria decifrar tal livro, e Victor o apoiaria.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor _Virtual_Adept_ em 01 Set 2008, 20:33

Até agora gostei bastante. Continue.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 01 Set 2008, 20:39

Obrigado!
Já tenho o segundo capitulo concluido, mas vou postá-lo somente quando concluir o terceiro. Assim mantenho um ritimo bom, e não assusto os leitores com doses cavalares de texto e desencorajando-os.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Lady Draconnasti em 01 Set 2008, 20:43

Você quase me assustou qando olhei o tópico hoje e me deparei com uma barra de rolagem pequena.

Só li metade da introdução, e até agora nada de mais (tá, eu sei, é uma introdução e eu não li tudo ainda.).

Até o momento, nada para apontar, mas eu tenho uma pergunta pra fazer: Por que Quazar?
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 01 Set 2008, 22:37

Obrigado nasti!

Quazar é um dos personagens mais antigos que eu tenho, ele já tem 10 anos, e quando o criei, queria um nome enigmatico, que remetesse a essencia dele.

Lembro-me, de na época, ter sido lançado um perfume com esse nome, e pensei na mesma hora que seria perfeito para ele.

E depois de 10 anos, eu estou aqui, recontando sua historia...
Aquele abraço!
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Lady Draconnasti em 02 Set 2008, 08:49

É... um bom erfume, por sinal XD
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 12 Set 2008, 21:46

Lady Draconnasti escreveu:É... um bom erfume, por sinal XD

Condcordo plenamente XD

E em breve, postarei o novo capitulo, que já está pronto, só estou ajustando algumas coisinhas ainda.
Aquele abraço!
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Blackbird em 13 Set 2008, 14:54

Ainda não li,
SPOILER: EXIBIR
[off]mas Quasares são corpos espaciais bonitos pacas e ainda muito pouco conhecidos pelos homens, pela distância em que se encontram.
Tentem um Google Imagens com "Quasar"

Eu uso o perfume![/off]
i am jack's complete lack of surprise.


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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 17 Set 2008, 22:35

Demorei um pouco pra postar, mas está aqui, o segundo capitulo!

Espero que gostem!

Capitulo DOIS
Apegando-se demais à vida



Um ano havia se passado desde que Quazar e Victor passaram a morar juntos.
O inverno mais uma vez tinha chego, e o frio estava mais perverso do que no passado.

Victor tinha estocado carne, pele e frutas suficientes para toda a estação, e virtualmente eles não precisariam de mais nada até o fim do inverno. Durante todo o ano que se passou, diariamente Quazar estudou o Aumnus Primus, e tinha conseguido algum progresso. Tinha um banco de dados grande, de palavras que se repetiam com freqüência e algumas que eram fáceis de deduzir a tradução. Mas, obviamente sem nenhuma base, ele nunca iria chegar nem em 10% de decifrar tal escrita. Alias, o que ele traduzira até ali nem mesmo poderia estar certo. Era somente uma suposição do que realmente poderia significar.

Também treinou todos os dias com Victor, ele estava manejando perfeitamente a espada, sabia lutar com o bordão e usava armaduras e escudos com perfeição.

Era fato. Em um lugar remoto e deserto, o único passatempo que Quazar tinha, além de tentar decifrar o Aumnus Primus, era treinar com Victor. E ele já estava quase superando o velho guerreiro em seus treinos.

Victor sentia uma satisfação pessoal por ver o avanço do jovem, e diversas vezes disse a ele que seu sonho era vê-lo superar sua destreza em combate.

Os dois passavam tempos agradáveis juntos. Tratavam-se com respeito mutuo, eles só tinham um ao outro, e sua amizade era forte e verdadeira.
Nos anos que ficaram lado a lado eles nunca brigaram, nem discutiram, nem divergiram em nada. Sempre concordando, dividindo tarefas e tendo uma boa convivência.

Quando o inverno atingiu seu ápice, após o vigésimo dia de frio, Quazar se via preocupado.

Há três dias, Victor vinha tossindo muito, e seus olhos revelavam profundas olheiras. O guerreiro também não se levantava da cama pra nada, a não ser ir ao banheiro, e Quazar sabia que o velho tinha contraído uma gripe. Com o pouco que tinha em mãos, o jovem, que devido aos estudos sabia como tratar de algumas doenças, preparou chás de maçã, ferveu água para fazer cozido, e sempre fazia compressas de água morna para amenizar os sintomas da gripe.

Com o passar das semanas, Victor foi se re-estabilizando, e junto com sua gripe, o inverno foi passando. Quando a neve começou a derreter e os primeiros raios de sol iluminaram o casebre de Victor e Quazar, o velho guerreiro já estava renovado, e mais vigoroso do que um touro.

Graças a Quazar, Victor curou-se da doença e sentia um bem estar único. Prometera ao jovem que iria buscar por algo diferente para eles se alimentarem, em comemoração a sua recuperação e em agradecimento por Quazar ter cuidado dele.

- É inútil – disse Quazar – Já percorremos quilômetros de distancia e nunca encontramos nada, além de gazelas, corujas, uvas e maças.
- Mas você disse que viu bananas, alguns dias depois de ter chego aqui!
- Sim, eu vi. Mas elas morreram no primeiro inverno que passei, e depois nunca mais vi bananeiras, acredito que nem aquelas que eu encontrei ainda estejam por lá.
- Alguma coisa deve ter, esse mundo é vasto, vou encontrar algo – disse Victor, com convicção –
- Não faça isso, prometemos que só sairíamos juntos. Se você se perder, eu ficarei sozinho, e não sei o que faria sem você... – Suplicou Quazar –
- Te prometi uma vez, e reitero agora, eu nunca vou te abandonar. Estamos nisso juntos –

Quazar sorriu para Victor, como em um sinal de aprovação, e Victor lhe sorriu de volta.

Foi então que a terra tremeu. “Um terremoto” pensou Quazar. “Magia” pensou Victor.

Nem um, nem outro.

O rosto de Quazar empalideceu, o jovem, que estava parado na porta do casebre e de frente para Victor, notou algo atrás do guerreiro que trouxe terror ao seu coração. Ele não conseguia formular palavras, e com as mãos tremulas apontava por cima do ombro de seu amigo, e Victor, sem entender nada, virou-se para traz, para ver o que espantara Quazar.

Terror, Victor estava aterrorizado, assim como Quazar.

Do solo, da terra aberta e encoberto pela pouca neve que ainda não tinha derretido, um verme gigantesco se projetava para o céu.
Seu corpo comprido parecia medir mais de dez metros. Sua carcaça segmentada, e aparentemente dura como o aço, brilhava em um azul turquesa. Da sua cabeça, quatro olhos, vermelhos como rubis, fitavam os dois e, duas pinças se projetavam de sua mandíbula, babando um liquido verde e grosso.

- Corra para dentro! – Gritou Victor –
- DEUS! – Gritou Quazar –
- Corra logo Quazar, pegue minha armadura e vista-a – Disse Victor, empunhando sua espada longa com a mão direita, e sacando a espada curta, pendurada em sua cintura, com a mão esquerda –

Quazar estava em estado de choque, e não conseguia se mexer. Vendo a criatura ameaçadora a sua frente, ele não podia pensar em nada, a não ser que tal besta não deveria existir.

A criatura investiu contra Victor, seu pesado corpo enterrou o guerreiro poucos centímetros no solo, e ele se defendeu das pinças mandibulares da criatura, com suas espadas cruzadas em um “X”. O verme levantou seu corpo após a investida, e desferiu outra cabeçada no atordoado Victor. Mais uma vez o vigoroso guerreiro parou-a com suas espadas, mas ele não estava conseguindo reagir. Tudo o que ele fazia era defender-se, ele não tinha espaço para atacar, e a cada investida do verme, Victor ficava mais fraco. A besta estava drenando toda sua energia. Aparar seus golpes era penoso devido a força descomunal do verme, e nesse ritimo, logo Victor seria derrotado.

- Vista minha armadura e fuja logo daqui – Gritou Victor, enquanto segurava as pinças mandibulares da criatura com suas espadas – ANDA LOGO! –

Quazar correu para dentro da cabana, vestiu a armadura de Victor, apanhou o bordão e saiu da casa.

Vendo o verme em cima de Victor, que estava deitando no chão, com suas espadas em punho e tentando conter o bicho, Quazar correu em socorro.

- NÃO VENHA! – Berrou Victor – FUJA IDIOTA!

Sem dar ouvidos para Victor, Quazar desferiu um poderoso golpe com o bordão no verme. A carcaça do animal era dura como pedra, e Quazar notou que nada fez a não ser despertar a atenção do bicho para si mesmo. Com sua cauda, o verme atingiu Quazar e o jogou contra a parede do casebre, destruindo-a e atirando o jovem para dentro da mesma. Quazar se levantou com fortes dores no peito e sem ar. Talvez, se não fosse pela armadura de Victor, o jovem teria morrido ali, com apenas dezesseis anos, e sem saber o propósito de sua vida.

Mas não morreu. E o que ele menos queria era deixar Victor perecer em tal combate. Não teria sentido se seu único amigo e parceiro morresse ali. Ele não queria mais ficar sozinho, e mesmo que lhe custasse a vida, ele iria salvar Victor.

Ele se levantou, agarrou o bordão em uma das extremidades com as duas mãos e correu para fora da casa.

Ao sair, viu o verme urrando de dor. Uma das espadas de Victor estava fincada num dos quatro olhos do verme, e Victor, ofegante e com hematomas por todo o corpo, estava em pé, segurando sua espada longa com as duas mãos.

- VOCÊ QUER UM PEDAÇO DE MIM, SER BESTIAL? NÃO LEVARÁ SEM LUTA – Victor cuspia enquanto gritava, seus olhos estavam tomados por ira e ele estava alucinado –

O Verme investiu vigorosamente contra Victor, derrubando o no chão, e quando se preparava para esmagá-lo com outro golpe, Quazar correu em auxilio.

Com um salto, Quazar agarrou-se na crina do bicho em suas costas e subiu ligeiramente até sua cabeça. Percebendo o garoto sobre si, o verme sacudiu-se freneticamente, e Quazar, que estava correndo em pé nesse momento, sem contar com o auxilio de suas mãos para se agarrar, fora atirado longe.

Quazar voou por 6 metros, chocou-se contra uma arvore alta, e caiu no chão. Não fosse a grama macia aparando sua queda, o jovem poderia ter perdido a consciência. Mas ele se levantou, sangue escorria de sua cabeça, suas costas doíam, e o bordão havia se partido em dois. Ele caminhou a passos cambaleantes em direção ao verme, e as dores em seu corpo pediam para que ele parasse.

Mas não. Ele não iria deixar Victor sozinho. Não mesmo.

Ao se aproximar, viu o verme erguendo Victor com suas pinças mandibulares, o guerreiro estava desferindo frenéticos golpes contra os olhos da criatura, e essa, por sua vez, urrando de dor, apertava cada vez mais Victor. Sangue escorria pela cintura do bravo, no exato local em que a criatura o apertava. Victor rangia os dentes com força, seus olhos exalavam ira, e sangue escorria de sua boca.

Fincando a espada num dos olhos, após ter rasgado os quatro, o verme largou Victor, de uma altura de 8 metros. O guerreiro chocou-se com o telhado de sua casa e atravessou-o, caindo do lado de dentro.

Quazar correu, o verme estava atordoado e sangrando muito pelos olhos, que ainda sustentavam duas espadas nos dois globos oculares extremos. Ao se aproximar da besta, que cambaleou e tombou, Quazar desprendeu a espada longa e atravessou-a novamente noutro olho, que apenas estava rasgado, fazendo movimentos circulares.

A criatura havia morrido no momento em que tombara, mas Quazar fazia isso por certificação.

Ouvindo um grunhido de dentro da casa parcialmente destruída, Quazar correu para verificar o estado de Victor.

O velho estava mau. Dois cortes profundos em sua cintura, a perna esquerda quebrada, sua boca sangrando.

Quazar correu até o amigo, agarrou sua mão, lagrimas escorriam de seus olhos e ele suspirava em desespero.

- Eu vou viver – disse Victor, com palavras difíceis – Não será uma minhoca que dará fim a minha vida, minha historia –
- Por favor – Quazar estava em prantos e sua voz estava mole – Por favor...
- Não chore por mim, vá ver meus cães, não pude notar o que acontecera com eles durante o combate –
- Não... Vou ficar com você – Disse Quazar, chorando muito –

A vida é incrível. Quando se é apegado a ela, nossa força vital faz com que realizemos façanhas improváveis. O amor pode reacender a chama da vida e fazê-la perdurar.

Dois dias após o combate com o verme, Victor ainda não tinha se recuperado totalmente. O bravo guerreiro estava agora acamado, e Quazar já havia reparado toda a casa, inclusive o telhado e a parede destruída.

A carcaça do verme ainda estava do lado de fora, Quazar estudou toda a anatomia do bicho, e declarou ser possível comer sua carne.

Ela era saborosa. Muito mais gostosa do que a carne de gazela, que já estava enjoando Quazar e Victor, e bem mais nutritiva, pois, a disposição para tarefas físicas que Quazar tinha, e a velocidade de recuperação surpreendente de Victor, só poderia ser resultado da ingestão de tal alimento.

A vida estava voltando ao normal. Quazar retirara vários filés do bicho para estocar e não estragar e notara agora, que com a chegada de tal verme, um tipo de inseto comum em seu mundo natal estava por dar as caras ali. Moscas começavam a circundar as partes podres da carcaça do verme. O mau cheiro do bicho estava se alastrando, e Quazar estava apenas aguardando a total recuperação de Victor para que eles pudessem tirar dali tal estorvo.

Um mês depois, Victor estava mais forte do que um cavalo, Quazar estudara o túnel do bicho que o trouxera até aqui, averiguou que ele era longo e cada vez mais úmido e profundo. Ele e Victor estavam planejando uma expedição, para saber se tinha mais criaturas daquela, pois, se tivesse, eles teriam de mudar dali.

Fabricando lanças de madeira, bordões e escudos, os dois estavam quase prontos. Dias de trabalho se passaram, Victor havia confeccionado mochilas e eles estavam com alimento para se manterem por até três dias de exploração no túnel.

Seria uma aventura perigosa. Mas mais perigoso seria se eles não tomassem nota do interior do túnel e de seus possíveis “vizinhos”.

Já vestidos e equipados, preparados para partirem, e fazendo uma oração ao deus de Victor, os dois assustaram-se ao ouvirem a porta abrindo.

Espantados, voltando os olhos para a porta, eles mal podiam fechar a boca quando viram quem entrara.

Uma garota. Vinte e poucos anos. Cabelos longos, negros e ondulados. Lábios carnudos completavam seu lindo rosto. Uma maquiagem vulgar e desbotada, como se estivesse há dias sem ser retocada. Ela parecia bem cansada. O cheiro de suor de seu corpo mostrava que ela era viajante. Seus trajes eram indecentes. Nunca vistos nem por Quazar, nem por Victor. A garota usava um sultiã de couro negro e brilhoso, uma mini-saia ultra curta e bem reveladora, também de couro e brilhante. Meia-Calça, do tipo arrastão, cobriam suas pernas, e botas de coturno que subiam até abaixo do joelho, amarradas com cadarços trançados.

Eram vestes vulgares, que Quazar e Victor nunca tinha visto igual em seus respectivos mundos.

A garota também parecia assustada, seus olhos estavam arregalados e seus lábios tremiam muito. Quazar viu que ela tinha em sua mão esquerda um tomo. E isso fez o jovem cair sentado na cadeira.

- <Eu preciso de ajuda> -disse a garota, num idioma totalmente desconhecido-
- Santo! Ela deve ser outra viajante planar, como nós – Exclamou Quazar –
- Isso está ficando estranho, e agora, mais interessante – disse Victor com sorriso maroto nos lábios –

A expedição aos túneis do verme iria esperar. A prioridade agora era entender o que estava acontecendo e se a garota havia chegado aqui com um Aumnus Primus.

Eles acolheram a menina. O livro com ela era realmente um Aumnus Primus, porém, de capa azul escura, e os dois dedicaram os dias seguintes a ensinar o idioma de Victor a ela.

Foram exaustivos dez dias, para que Camila pudesse aprender tudo. E conforme fora aprendendo o idioma, ela foi revelando sua historia a Quazar e Victor.

Camila era uma prostituta em seu mundo. Fora atender um cliente exótico, com gosto pela morte e artes macabras. Ele pediu a ela que viesse trajada daquele modo, e enquanto ela realizava seu trabalho, seu cliente abrira o Aumnus Primus, e passara a ler para ela cada pagina. Em meio ao sexo e suor, Camila perdeu a consciência. Acordou cansada próximo dali, e viajou durante toda uma noite, antes de encontrar o casebre.

A jovem se assustou ao ouvir as teorias de viajem planar contadas por Quazar, mostrou interesse no robusto Victor, e contou historias de seu mundo para eles. Dizia ela que em sua terra, nada dessas criaturas existiam. Disse que seu mundo era avançado, com carros, aviões e toda uma tecnologia. Ouviu sobre a magia que existia no mundo de Victor, e das historias de Quazar que era oriundo de um plano sem magia, sem deuses, crenças e religiões.

Rapidamente, os três já eram amigos. E em um ano de convivência, já tratavam-se como família. A expedição pelo túnel do verme ficou suspensa por todo esse tempo, e isso fez com que a natureza aos poucos fosse fechando o buraco.
Editado pela última vez por Bahamute em 25 Set 2008, 22:08, em um total de 1 vez.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor _Virtual_Adept_ em 18 Set 2008, 19:01

Tá bom, mas precisa melhorar um pouco a gramática.
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 18 Set 2008, 19:12

_Virtual_Adept_ escreveu:Tá bom, mas precisa melhorar um pouco a gramática.

Obrigado!

Vou prestar mais atenção nisso! Valeu pela dica!
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 25 Set 2008, 22:13

Olá Pessoas!

Venho aqui dar um bump no tópico, pra poder postar o terceiro capitulo do conto.
Agora ele já está se encaminhando pra metade, e em breve chegará na linha final!
Aproveitei e corrigi alguns erros do capitulo dois, fazendo uma revisão profunda (se encontrarem mais algum, por favor, me avisem!)

Espero que gostem!


Capitulo TRÊS
Virtudes


Quazar, Victor e Camila cultivaram uma forte amizade entre si. A moça, além de ser uma companhia agradável, contava varias e maravilhosas histórias. Explicava sobre as artes de seu mundo, sua musica, filmes, livros. Victor gostaria de poder conhecer as armas de disparo que ela mencionara, e Quazar queria poder contemplar os inventos tecnológicos, a eletricidade e tudo o mais.

Em seu mundo natal, a magia existia de forma tão mínima, que quase ninguém acreditava que ela realmente fosse possível. Ela se resumia apenas a rituais de umbanda e magia negra. Coisa que foi difícil de explicar para Victor, acostumado a grande quantidade de magia em seu mundo, e para o incrédulo Quazar, que achava difícil entender tal dom.

Os dias se converteram em meses e os meses em anos.

O trio estava naquele casebre há longos quatro anos. Victor estava envolvido seriamente com Camila, os dois passavam tempos juntos namorando, e Quazar fora ficando de lado. Sentiu uma ponta de ciúme no começo, mas logo entendeu que aquilo era obvio. A moça não iria querer nada com um rapaz franzino e de poucos músculos. Victor era viril, musculoso e agradável ao olhar. O protótipo de “macho”, pensava Quazar. Era obvio que a moça preferia dormir na mesma cama que ele, do que com um magrelo que nem poderia aquecê-la durante o frio.

E sempre que Victor pedia a Quazar para buscar por uvas, que ficavam longe da casa, o jovem sabia que essa era uma desculpa para Victor e Camila fazerem sexo longe dos olhos do rapaz.

Quazar passou a ter mais tempo com o Aumnus Primus e os cães de Victor, do que com os dois em si.

- Vivam para sempre, ou mais do que os costumeiros quinze anos de longevitude de sua espécie – Pedia Quazar aos dois cães, com medo de ficar sozinho naquele mundo –

O verão estava quente demais naquele ano. Aos vinte e um anos de idade, Quazar já não queria mais ficar na sombra de Victor e Camila. A forte amizade que os três tiveram no começo, quando a garota chegou aqui, estava sendo ofuscada por uma parede fina e gelada, que Victor e Camila colocaram entre eles, assim que começaram seu romance.

Victor já não saia mais para caçar com a freqüência de outrora, essa era uma tarefa de Quazar agora. Em verdade, quem mais trazia suprimentos para casa era o jovem, pois Victor e Camila, ou estavam na cama, agarrados, ou perambulando de mãos dadas pela beira do rio, ou fazendo sexo em algum lugar longe dos olhos de Quazar.

Quazar juntou em sua mochila o Aumnus Primus, umas mudas de roupas e frutas suficientes para quatro dias de viagem.

- Estou saindo, vou até aquele monumento que eu encontrei quando cheguei aqui – Disse Quazar a Victor e Camila, enquanto os três estavam sentados na mesa, desfrutando do jantar –
- Mas Quazar, por que vai sair sozinho, e se encontrar mais um daqueles vermes? – Alarmou Victor, verdadeiramente preocupado –
- Não vou encontrar. Só vimos um dele, e isso já faz mais de cinco anos. Não acho que há outro. – Respondeu Quazar –
- Há algo lhe incomodando, para sair assim? – Perguntou Camila –
- Eu sempre tive sede de conhecimento. Minha mente está começando a atrofiar de ficar aqui parado, em sete anos que tento decifrar o Aumnus Primus, eu não consegui nem avançar 20%. Algo me diz que lá terei alguma resposta. Eu volto a lhes encontrar em alguns dias. – Reiterou Quazar –

Na manhã seguinte, Quazar levantou cedo da cama. Na mesa, o café da manhã estava servido, com suco de uva e algumas frutas, bem como cozido de gazela.

Victor não estava em casa, e Camila estava arrumando algumas roupas dentro de seu baú. Era a primeira vez em muito tempo, que Victor saía sozinho, e Quazar achou aquilo muito estranho.

- Onde foi Victor? – Perguntou Quazar –
- Disse que ia buscar algo para você, para levar na viagem – Respondeu Camila, com um sorriso singelo no rosto –
- Tenho tudo o que preciso, não queria que ele saísse assim, por minha causa –
- Quazar, nós gostamos muito de você, somos uma família, nesse mundo vazio, é só nós três, então, é obvio que Victor se preocupa contigo. Eu também me preocupo. Ele só foi atrás de algo para lhe dar.

Quazar sentiu conforto ao ouvir as palavras de Camila. Camila, aos 26 anos de idade, era uma mulher de encher os olhos. Longos e encaracolados cabelos negros, pele morena, olhos castanhos e lábios carnudos. Seu corpo era belo e conservado.

A moça abraçou Quazar, seu corpo quente e macio era gostoso de abraçar, e isso trouxe lagrimas aos olhos do jovem.

- Quazar, você já namorou? – Perguntou Camila –
- Não... Vim para cá muito jovem, não tive a oportunidade –

Camila deu um sorriso, olhou nos olhos cheios de lagrimas de Quazar, e o beijou em seus lábios. Quazar não relutou, ele queria isso, queria saber como era o beijo de uma mulher, como era poder sentir seu corpo próximo.

Camila despiu Quazar, ele estava meio pasmo com isso, e foi apenas deixando acontecer. Quando o jovem já estava totalmente nu, Camila tirou sua roupa. Ela era linda. Seios perfeitos, mamilos macios, barriga lisa e sem nenhum sinal. Era uma visão de encher os olhos.

Ela deitou Quazar na cama de Victor, e se pôs em cima dele, o jovem ficou deitado, apenas contemplando o corpo da mulher, que subia e descia sobre si.

Aquilo era prazeroso, uma sensação que ele achou não existir, pensara, como pudera ficar tanto tempo sem sentir aquilo? Agora ele começava a entender o porque de Victor passar tanto tempo com Camila.

Quando terminaram, Camila deu mais um beijo em Quazar, e sussurrou em sua orelha direita – Tome cuidado na sua viajem, vamos estar te esperando aqui –

Quazar ficou deitado mais um tempo na cama, com um sorriso bobo em sua face e mais relaxado do que nos banhos de termas que ele tinha quando era jovem.

Quazar partiu antes de Victor chegar. Ele não queria olhar nos olhos do amigo depois do que fez, ele sentia-se um pouco culpado, mas não tinha arrependimento.

Victor entrou na casa, Camila, já vestida, estava arrumando a cama em que ela e Quazar haviam usado. O homem olhou para a moça, deu uma coçada em sua barba e perguntou:

- Fez?
- Sim.
- Creio que esse será o melhor presente que poderíamos ter dado ao jovem.
- Sabe, Victor, eu era uma prostituta antes de vir para cá. Transava com pessoas por dinheiro. Mas depois que comecei a namorar contigo, não queria ter outro homem em minha vida. – Indagou Camila –
- Camila, eu também não me agrado de saber que minha garota estava na cama de outro homem. Mas o jovem, Quazar, ele já estava deprimido depois que começamos nosso romance. Ele tem mais de vinte anos, e pelos Deuses, o jovem era virgem. Nunca tinha tido nenhuma mulher em sua cama. Ele precisava disso. Foi um sacrifício válido. E eu tenho a leve impressão de que nunca mais iremos encontrar o rapaz.

Quazar havia caminhado o dia e a noite sem parar, Ele sentia uma certa euforia, e parecia não se abater pelo cansaço. “Já fiquei tempo demais parado” pensava ele, “esse mundo é vasto, e eu vou encontrar alguma coisa”.

Dez dias de viagem, e Quazar chegou até o monumento dos sete dedos. Em segredo, o jovem não havia trazido apenas o seu Aumnus Primus, ele também pegara o exemplar de Victor e Camila.

Quazar entrou no centro do monumento. Os sete dedos de pedra se predispunham a sua volta. O lugar estava imutável. Nem trepadeiras cresceram ali. Estava exatamente como ele havia deixado.

Quazar pensou por um momento, então abriu os três livros.

Estranhamente, quando os três livros estavam abertos, juntos, e no centro do portal, eles flutuaram e se envolveram em esferas de energia, igual tal Quazar encontrou seu livro no local.

- EU SABIA! – berrou Quazar –

Os três livros começaram a girar a volta do jovem, a principio, lentamente, mas aumentando a velocidade gradativamente.

Quazar sentira uma energia correndo em seu corpo, e ele sabia, de alguma forma, que ela era oriunda dos livros. Eles começavam a disparar pequenos jorros de energia branca em Quazar.

- EU QUERO CONHECIMENTO! QUERO SABER O QUE ESSES LIVROS TEM PARA ME CONTAR! – Gritava Quazar aos céus –

E em meio aos berros do jovem, nuvens negras começaram a cobrir o sol.
Um vento forte passou a soprar, levando galhos e folhas consigo, e descabelando Quazar.

Raios cortavam o céu, e trovões o iluminavam.

Os livros giravam em volta de Quazar cada vez mais rápido, e uma cúpula de energia começava a se formar em volta do jovem.

- Você trouxe os três tomos até aqui – disse uma voz trovejante, vinda dos céus – Você...
- QUEM DIZ ISSO? MOSTRE-SE, EU NÃO O TEMO! – Berrava Quazar em direção ao céu –

E, conforme os três livros giravam, cada vez mais velozes, Quazar passou a ouvir vozes, oriundas dos tomos. Pareciam pessoas conversando distantes, varias delas, falando ao mesmo tempo, deixando difícil de discernir o que estava sendo dito.

- Você trouxe os três tomos até aqui – Repetiu a voz nos céus – Você...

O vento ficou mais forte, as roupas de Quazar balançavam, o céu estava mais escuro, os raios estavam mais constantes e os trovões mais barulhentos.

- O que esses livros dizem? Por que eu fui tirado de meu lar, de minha família? Onde eu estou? – Perguntava Quazar, sempre olhando para o céu, e com os braços abertos –

Num lampejo, Quazar viu uma face gigantesca no céu, em meio a nuvens. Era um senhor barbado, cheio de rugas no rosto e de olhos opacos.

- ESSE É VOCÊ? – Perguntou Quazar –

- Você trouxe os três tomos até aqui – Tornou a repetir a voz – Você...

Os três tomos estavam girando tão rápido, que mais pareciam um borrão de luz, e nesse momento, Quazar começou a flutuar.

Ele subiu acima dos sete dedos, seus cabelos esvoaçavam. Ele olhou para baixo, e se assustou.

À frente de cada dedo, havia uma espécie de buraco aberto. Parecia uma janela suspensa no nada. Eram portais. Aqueles portais dimensionais, que levavam as pessoas de plano a plano, conforme Quazar acreditara.

Um portal em cada dedo havia se aberto, grandes o suficiente para uma pessoa passar.

E dos céus, a voz tornou a repetir, agora mais forte e alta.

- Você trouxe os três tomos até aqui, Você...

Ele podia ver mundos diferentes em cada um dos sete portais. Viu maravilhas tecnológicas em um, assim como Camila havia relatado. Viu magos e dragões em outro, como Victor havia dito. Viu seu mundo natal, viu também um mundo atrasado, com dinossauros dominando tudo. Viu um mundo tomado por maquinas, viu outro habitado por criaturas estranhas. E viu, no ultimo portal e no ultimo dedo, um mundo com uma forte carga de energia. Em que os indivíduos que ali viviam, possuíam poderes inimagináveis, capazes de alterar a realidade.

Para cada portal que Quazar olhava, ele conseguia compreender perfeitamente as coisas que ele via. Uma enxurrada de conhecimento tomava sua mente. Era como se ele aprendesse sobre tudo, conforme olhava através dos portais.

Ele podia entender tudo, Estava mais inteligente do que nunca. E foi nesse momento que ele se viu em um plano escuro. Onde só ele existia.

Não estava mais no monumento dos sete dedos. Não estava em sua terra natal, nem em nenhum dos outros mundos que ele vira.

Era um lugar vazio, e Quazar começou a cair indefinidamente.

E enquanto caía, ele viu os três Aumnus Primus a sua frente. Os três tomos estavam abertos em suas paginas centrais, e caindo junto com o jovem.

Ele olhou para baixo, não havia chão.

Ele estava em um lugar totalmente escuro, e a única luz irradiada ali, pertencia aos três Aumnus Primus, e a ele, que estava emanando uma luz branca.

Quazar estendeu a mão em direção aos livros, e um deles, o central, veio até ele.

- O que você quer saber? – Perguntou uma voz na cabeça do jovem –
- Onde eu estou? – Perguntou Quazar –
- Em lugar nenhum – Respondeu a voz em sua cabeça -
- Como eu posso estar em lugar nenhum?
- Você está onde a realidade não existe. Você juntou os três tomos, no portal dos sete dedos –
- Estou preso aqui? – Perguntou Quazar –
- Não. Você detém os três livros, você estudou-os, decorou cada palavra deles.
- O que isso quer dizer? – Perguntou Quazar –
- Você sabe o que quer dizer, és inteligente.
- Os três livros, são chaves para mundos diferentes? – Perguntou Quazar –
- São isso, e muito mais. Você decorou cada uma das palavras, as palavras têm poder. Você só nunca experimentou pronunciá-las como tal.
- Como tal. O que isso quer dizer?
- Há mistérios ainda, que você vai precisar solucionar. Mas dê tempo ao tempo.
- Como eu saio daqui? Como eu paro essa irritante queda livre? – Perguntou Quazar –

Nesse momento, o livro que estava à frente de Quazar se fechou e foi para junto dos outros três.

Quazar continuou a cair, e enquanto caia, passou a seguir o que a voz em sua cabeça lhe dissera. Ele passou a balbuciar as palavras do Aumnus Primus, mas nada acontecia.

Irritado, ele empunhou a palavra. Gritou com vontade, como se quisesse atacar alguém com ela,

- TRANSLUXIDUS! – Gritou Quazar –

Após dizer tal palavra, um globo de luz surgiu a sua frente, o jovem ainda caía, mas ficou impressionado com tal evento. A luz se expandiu e iluminou tudo a sua volta. Quazar viu-se em um plano vazio.

- TRANSPORTADUS – Ao gritar tal palavra, em sua mente veio vários locais que ele já havia estado. Sua confortável residência, sua biblioteca, a Academia, o casebre de Victor. E após tais imagens mentais, ele pensou com carinho no casebre de Victor, no tempo agradável que passara com o amigo e com Camila –

Quando se deu conta, ele estava dentro do casebre, mas tudo estava com uma coloração azul, monocromático. Ele viu Victor e Camila deitados na cama, mas os dois não o notaram ali.

Quazar se levantou, e caminhou até a cama. Mas ele não conseguia interagir com o local. Tudo o que ele tocava, ele transpassava. Suas palavras eram inaudíveis.

- Você tem poder, o poder das palavras. – disse mais uma vez a voz em sua cabeça – Tens consigo a maior das virtudes, você lutou pelo que acreditava e pelo que queria, tens teu sonho. És dono de conhecimento jamais imaginado –

- TERRANOS – Gritou Quazar, e junto com suas palavras, toda a terra a sua volta tremeu, a cor azul monocromática deu lugar aos tons reais do local, Victor e Camila se assustaram ao ver o jovem parado ali, à frente dos dois.

- QUAZAR! – Gritou Victor, cobrindo seu corpo nu com as cobertas.

Quazar olhou para os dois, ele estava assustado e começando a compreender o dom que recebera.

O jovem mentalizou o ar, mentalizou as nuvens, e começou a levitar.

- Eu vou até você, eu preciso entender tudo isso – disse Quazar –
- Venha, eu estou te esperando – disse a voz, na mente de Quazar –

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – Berrou Victor, ao ver o amigo flutuando a sua frente e ficando transparente e intangível.

Quazar desapareceu do local, da mesma forma como apareceu.

Ele se viu parado em uma sala toda enevoada. A sua frente, um trono transparente, todo de vidro, e sentado nele, encoberto por nuvens, revelando apenas sua silhueta, havia um homem. Um gigante. Dez vezes maior que quazar, e o jovem só podia notar sua silhueta em meio às nuvens.

- O que é tudo isso? – Perguntou Quazar –
- Magia. – Respondeu, com voz trovejante, o senhor a frente de Quazar –
- Como eu posso conjurar magias, sem ao menos ter estudado ou acreditado?
- Ah, você estudou, mais do que muitos. Você estudou dia a dia a magia contida no Aumnus Primus, este tomo é fonte de poder arcano, e inconscientemente, você despertou tal dom, ao decorar cada palavra desse livro.
- Mesmo sem entender o que eu estava lendo? – Perguntou Quazar –
- As escritas arcanas são indecifráveis. E só aqueles ligado ao mana e a magia podem usar dos dons arcanos. Você tem um futuro promissor.
- O que eu sou? Um mago? – Perguntou Quazar –
- Agora sim. És um dos mais poderosos. Você decorou palavra por palavra do Aumnus Primus, e tem agora um poder em suas mãos que você jamais poderia imaginar.
- Porque eu fui levado para aquele mundo, aliás, que mundo é aquele?
- Aquele mundo acabou de nascer.
- Eu, Victor e Camila, somos alguma espécie de escolhidos por estar ali?
- Não seja tão pretensioso. Você não foi escolhido, nem Victor, nem Camila. Apenas estavam, os três, no local errado e na hora errada.
- Posso voltar pra casa agora?
- Você tem poder pra isso, mas, é isso que quer?

Quazar ficou relutante, não sabia o que responder.

- Não é isso que quer, não é mesmo? Você quer mais, agora que sabe do poder que tem, quer poder visitar cada um dos sete mundos vistos no portal, não é?

Quazar ficou reticente, mas sabia que era exatamente isso que ele queria.

- Tome cuidado com suas ações a partir de agora...

Quazar acordou em frente ao casebre de Victor, sua cabeça doía muito, e ele estava fatigado. Quando se levantou, notou estar usando um manto azul nobre, e ao passar a mão no rosto, percebeu que sua barba estava bem comprida.

Ele entrou no casebre, e se espantou.

Deitado na cama estava Victor. Mas não o mesmo Victor de sempre, ele estava velho, careca e tinha rugas por todo o rosto. Camila, que estava sentada na cadeira ao lado da cama de Victor, também havia envelhecido muito. Mas ainda não tinha cabelos grisalhos e suas rugas eram mínimas.

- Você voltou amigo... – Disse Victor, com alivio na voz.
- Quazar! Achava que nunca mais te veríamos! – Disse Camila -
- Por que vocês estão tão velhos? – Perguntou Quazar -
- Oras, é o que dez anos fazem com a gente... – Respondeu Victor –
- DEZ ANOS?
- Você saiu por aquela porta há dez anos, retornou como um lampejo 20 dias depois, e só agora retornou.

Quazar tinha uma noção do que acontecera. O tempo corria de forma diferente no local em que ele fora conversar com o senhor da voz trovejante. Ele iria ajudar Victor e Camila, agora ele tinha poder para isso. E o que ele mais queria era experimentar.
Aquele abraço!
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Bahamute em 07 Out 2008, 19:31

Boa noite companheiros do Forum!

Venho trazer mais um capitulo desse meu conto, que agora chegou em sua metade!
A partir de agora ele já começara a traçar o caminho final e a conclusão da historia de Quazar.

Editei o capitulo anterior para corrigir algumas coisas e a idade do Quazar (que estava com um ano a menos do que o certo).

Esse capitulo também é especial, pois apresenta o primeiro mundo (e muito especial) na peregrinação multiversal.

Espero que gostem!



Capitulo QUATRO
A viajem


Duas semanas após os estranhos acontecimentos de Quazar no portal dos sete dedos, o jovem mago agora estava a praticar seus novos dons.

Dia-a-dia ele praticava os encantamentos que descobrira, e obtinha resultados satisfatórios.

Quazar também percebera que tal poder não era ilimitado. Sempre que ele conjurasse uma magia, por mais simples que fosse, ele ficava cansado. E quanto mais complexa era a conjuração, mais debilitado ficava seu corpo. Ele percebeu também, que o uso inconseqüente da magia poderia até mesmo destruí-lo, e ao notar isso, ele ficou mais cauteloso com suas magias.

Quazar ainda morava no casebre de Victor, mas decidira que não ficaria ali por muito tempo, ele agora tinha recursos para ir para onde quisesse, neste ou em outro mundo, e era isso o que ele tinha como prioridade.

Conversando com Camila e Victor, por diversas vezes Quazar perguntou-lhes se eles queriam voltar para seus respectivos mundos. Mas para sua surpresa, os dois, que agora já tinham uma vida a dois bem estruturada, não queriam sair daquele pequeno jardim do éden que eles tinham só pra eles. Camila e Victor diziam que seus mundos tinham muita maldade, bandidos, estupradores e pecados por todos os lados. E ali, onde eles viviam, nada disso era notado. Um lugar deserto, aconchegante e paradisíaco. O casal não queria nada além disso.

Mas Quazar não. Agora que ele era capacitado, o que ele mais queria era aprender sobre tudo, queria visitar o cosmos, viajar no tempo e ver passado e futuro. Queria poder ver a origem desse e de outros mundos, e parado ali, estaria apenas desperdiçando seu poder que conseguira com o Aumnus Primus.

E foi numa manhã como qualquer outra, que ele decidiu ir até o Portal dos Sete Dedos. Despediu-se de Camila e Victor, disse que agora eles iriam demorar a se reencontrar, e que ele estava indo aprender mais sobre tudo.

Quazar ponderou a palavra transportadus, e seu corpo ficou intangível, mentalizou o portal dos sete dedos, e em instantes ele se encontrava no centro do monumento.

Quazar estava trajando um manto nobre azul, sandálias de couro e tinha pendurado em seu pescoço um amuleto de safira. Seus cabelos e barba estavam compridos, e seu rosto mostra a virilidade de seus vinte e um anos.

Consigo, ele não trazia nenhum alimento, somente o seu Aumnus Primus, tomo ao qual ele não mais se separou depois dos eventos.

- Agora é só ordenar que os portais se abram, e poderei escolher por onde começar minha peregrinação multiversal. – Disse Quazar para si mesmo –

Pensou bem nas palavras, e em uma língua quase impronunciável, ele bradou aos ventos a ordem para que os sete dedos revelassem os sete mundos.

E obedecendo ao jovem mago, um a um, em sentido horário, os portais foram se abrindo. Cada um deles parecia um buraco suspenso no ar, em que se poderia atravessar e partir para uma realidade nova, totalmente diferente da qual o jovem estava acostumado a presenciar.

Os sete portais estavam abertos, Quazar olhou um a um, e decidiu começar por aquele que provavelmente era o mundo natal de Camila.

Ele estava excitado, um nervosismo o acometia e suas mãos tremiam. Ao atravessar aquele portal ele iria desfrutar de experiências novas e únicas, que outros jamais devem ter provado. Aquela seria sem duvidas a realização de toda sua vida, e ele sabia que aquele era o seu momento.

Em livros antigos, Quazar lera que outros planos existenciais eram possíveis, que algumas criaturas com dons especiais conseguiam saltar de um mundo para outro, e agora ele podia confirmar que isso era realidade, e ele, era uma dessas criaturas especiais com dons capacitados para viajar entre os cosmos.

Quazar adentrou o portal, sentiu um formigamento forte por todo seu corpo, logo em seguida uma lufada de ar quente jogou seus cabelos para traz e ele pôde notar os revezes de uma magia de tal magnitude.

Quando atravessou o portal do mundo em que estava para o mundo a sua frente, tal qual uma pessoa atravessa uma porta, em uma simplicidade impar, ele não poderia acreditar que viajar entre planos era algo assim tão vulgar quanto atravessar uma porta.

E do outro lado, quando colocou os dois pés na terra nova, ele pode ver que estava errado em julgar vulgar a viajem planar. Quazar caiu de joelhos no chão e levou sua mão esquerda ao peito. Ele estava sem fôlego, como se tivesse corrido quilômetros sem poder descansar. Seu corpo inteiro doía como se dez homens tivessem surrado-o e ele precisava descansar.

Quazar estava em um beco, longe das pessoas que cruzavam a rua a sua frente. O portal atrás dele se fechou no exato momento em que ele pisara nesse plano, e o jovem recostou-se na parede ao lado de latões de lixo.

O lugar era úmido e fedido, e ele viu diversos ratos e baratas por toda a sua volta. “Que lugar feio”, pensou Quazar. O céu estava nublado, e devia ser por volta da metade do dia. Uma fina garoa molhava a tudo.

Levantou-se, e antes de sair do beco em que estava, espiou as pessoas que perambulavam pelas ruas. Viu suas vestes, e percebeu que causaria espanto devido as roupas que trajara. “MATERA OLVIDARE” ponderou Quazar, e suas duas mãos encheram-se de um brilho dourado, tão reluzente que pôde iluminar todo o beco em que ele estava, despertando a atenção de algumas pessoas que passavam pela rua à frente de seu beco. Quazar recebeu olhares, mas não se importou, e com isso, pessoas vieram a entrar no beco para saber a origem de tal luz dourada. Quazar voltou para o fundo do beco, e com as mãos ainda acesas num brilho dourado, tocou uma das latas de lixo - dessas latas de menos de um metro, que usamos para depositar nossos detritos – a lata inteira tornou-se ouro, e quando gritos de espanto começaram a inundar o local, Quazar decidiu que seria bom calar todos ali. “IMINIARITUS” gritou Quazar, espantando as pessoas mais próximas dele, e com tais palavras, Quazar, seus pertences e a lata de ouro sumiram.

Ele ainda estava no local. Mas agora ele estava invisível, e sabia que aquela magia não iria durar muito tempo. Mas também sabia que era tempo o suficiente para ele poder observar um pouco as pessoas e depois sair dali.

Quando ficou invisível, todos os que estavam a sua volta gritaram em espanto. Eram homens e mulheres, jovens e idosos, todos curiosos que entraram no beco, e agora corriam de lá o mais rápido que suas pernas poderiam permitir, de medo do que realmente seria aquele “ser dourado que sumiu de repente”.

Foi frustrante não poder observá-los por algum tempo, mas Quazar já esperava tal reação do povo.

Quazar sabia que o ouro era um metal valioso em muitos lugares, e que provavelmente teria valor ali também.

Agora que ninguém mais estava no beco, Quazar não viu necessidade de sair dali, e quando o efeito da invisibilidade acabou, o mago descansou por um tempo – pois as duas magias executadas eram complexas o bastante para tirar seu fôlego – e em seguida usou outra conjuração para partir toda a lata em pequenos quadrados de dez centímetros.

Com as plaquetas de ouro no bolso, Quazar amarrou seu cabelo com uma fita e saiu do beco.

Era tudo o que Camila contara e ele imaginara. Ruas extensas, carros, motos, prédios imponentes. Ele estava num mundo diferente de tudo o que ele tinha visto e tudo aquilo era mais impressionante do que Camila tinha lhe dito. As pessoas trajavam ternos, jeans, sapatos e tênis, e suas roupas pareciam ser bem mais confortáveis do que as que ele usava.

Viu pessoas falando em pequenas caixas – telefones – que elas carregavam junto a orelha, talvez fosse aqueles aparelhos de comunicação que Camila mencionara. Viu guardas e suas armas de disparo. Viu lojas com manequins nas vitrines tão perfeitos, que por vezes Quazar pensou ser pessoas imóveis que ficavam ali para serem observadas de tão belas que eram. Ele estava extasiado, queria se aprofundar mais sobre tudo e ali com certeza era um local único.

Mas não demorou muito para suas vestes começarem a chamar a atenção. Pessoas que passavam por ele não conseguiam tirar os olhos. Alguns riam, outros comentavam e o jovem não estava se sentindo muito bem.

Para a sorte de Quazar, ele saiu bem na região ao qual Camila era oriunda. Pois o idioma falado ali era idêntico ao que sua amiga falava.

Durante um tempo, quando Quazar era mais jovem e Camila era recém chegada ao casebre de Victor, ele vivia importunando a jovem para lhe ensinar palavras de seu idioma. Esse era um vicio que ele tinha, conhecer línguas, e isso se mostrou bastante proveitoso agora. Apesar de deficiente, Quazar podia compreender o idioma falado e arriscar algumas palavras. Não obstante, ele iria fazer isso para exercitar seu novo idioma.

Parado em frente a uma loja de roupas, ele vira os manequins na porta com lindos ternos negros, azuis e marrons, sabia que ali era comercializado tal veste e adentrou o local.

Ao colocar os pés para dentro da loja, que estava sem nenhum cliente, Quazar notou uma jovem senhorita atrás de um balcão de vidro. Era uma linda jovem de cabelos vermelhos, mas era um vermelho tão vivo, que parecia ser artificial. A moça estranhou o jeito como se vestia Quazar e seus olhos arregalados foram difíceis de esconder, o que deixou o jovem desconsertado por um tempo.

Quazar aproximou-se da jovem, olhou os inúmeros cabides que tinha no lugar, com camisas de manga curta e comprida, das mais diversas cores. Viu calças e sapatos, meias e gravatas. Ele iria se vestir como os outros, assim poderia perambular e aprender sem chamar a atenção.

- Bom dia, em que posso ajudá-lo? – perguntou a jovem senhora de cabelos vermelhos –

Quazar entendeu boa parte das palavras, mas sentiu-se inseguro para responder como se deveria.

- Roupas... É o que eu quero – a voz de Quazar era trêmula, e ele parecia um turista que não dominara o idioma e falava com dificuldade –

A jovem notou que Quazar não era dali, pensou que ele era algum religioso, vindo da Itália, ou qualquer país Europeu.

- Você quer roupas? Só temos trajes sociais. – Respondeu –
- Trajes, sim, sim. – Respondeu Quazar –

E nesse momento, a jovem saiu de traz do balcão e colheu alguns ternos, algumas calças e camisas, e enquanto ia pegando as roupas, ia fazendo perguntas a Quazar, como de onde ele viera, se era um Europeu e porque vestira tais roupas. Quazar limitou-se a responder apenas com um sorriso, pois ele sabia da confusão que causaria por dizer sua verdadeira origem a alguém que não está preparado. Raios, até pra ele tudo aquilo ainda era difícil de acreditar!

Após escolher um terno preto, uma camisa de manga comprida azul, e sapatos de couro preto brilhante, com meias e gravas combinando, ele disse a jovem que iria ficar com as vestes, e que queria levar mais algumas camisas de cores diferentes.

Disse que sairia vestido com ele, e a jovem limitou-se a arrancar as etiquetas para passar no caixa.

Após contabilizar tudo, ela falou o valor a Quazar.

- Não tenho. O valor. – Novamente, com palavras difíceis, mas de perfeito entendimento.
- Você não tem dinheiro? É alguma pegadinha? – Respondeu a moça surpresa –
- Tenho isso, serve? Vocês. É. Tudo isso pode, de forma certa, pagar pelos vestes – Disse Quazar estendendo algumas plaquetas de ouro –
- DEUS! – Gritou a mulher - Quanto ouro!
- É suficiente? – disse Quazar, pegando mais plaquetas – Se precisar. Mais eu tenho aqui. – Respondeu Quazar –
- SIM! É! – Respondeu a moça –
- Poderia trocar essas outras, por dinheiro seu? – Disse Quazar estendendo a mão a jovem, com diversas plaquetas de ouro –
- Será um prazer! – A moça tinha um sorriso malicioso no rosto –

Ela contou às plaquetas que Quazar estendera, tirou algumas cédulas de dinheiro e moedas de seu caixa. Bem verdade, ela entregou a Quazar menos da metade do valor de tais plaquetas. E ela sabia disso, mas Quazar não. Ele não tinha a menor noção do valor do dinheiro local, e pra ele, que acreditara na honestidade da moça, só poderia agradecer por ela lhe trocar o dinheiro.

- Obrigado! Gentil. Você é! – Agradeceu Quazar –
- Foi um prazer lhe ajudar! – Novamente, a moça tinha um sorriso malicioso no rosto, e nesse momento, já estava pensando em quão sortuda era ela, por conseguir tanto ouro -
- Sabe. Você poderia, dizer-me como aprendo. Ler e escrever em vossa língua? – Pediu Quazar, com seu idioma falhado –
- Eu sabia! Você não é daqui! Um turista endinheirado! – Disse a moça, abaixando-se atrás do balcão, e pegando um pequeno cartão – Vá nesse endereço, é uma associação cristã que alfabetiza adultos –

Quazar tomou o cartão em suas mãos, viu uma linda e perfeita caligrafia no pequeno retângulo de papel. “Puxa! O escrivão daqui deve ser um ás! Que letras perfeitas!” Pensou Quazar, pois ele acreditara que a escrita ainda era artesanal, como em seu mundo, sem desconfiar dos computadores e maquinas de escrever que tal mundo continha.

- Minha jovem. Como decifrar isto? – Perguntou o confuso Quazar –
- Como sou estúpida, você não sabe ler...
- Sim, sim, aprender eu quero! – ponderou Quazar –

A jovem olhou para um relógio de ponteiro que estava na parede atrás dela, pensou por um momento, e então decidiu:

- Já são dezessete horas. Vou fechar a loja e te levo lá! – Ofereceu-se a moça –
- Oras, muito grato eu fiquei! – Respondeu Quazar –
- A propósito, me chamo Letícia, e você? – Perguntou –
- Quazar. – Respondeu o jovem mago –
- Mas que nome bonito! Com certeza é Europeu!

Quazar respondeu com um sorriso, antes de pedir mais um favor a moça.

- Poderia eu, fazer minha barba, aqui?
- Fazer a barba? Claro, use o banheiro ao fundo, lá tem espelho e água.

Quazar agradeceu com a cabeça, dirigiu-se até o banheiro, e após encostar a porta, ponderou a palavra “NAVAXTUS”, e suas mãos ficaram prateadas. Aquele feitiço deixava seus punhos tão cortantes quanto a mais perfeita lâmina, e com cuidado, ele foi usando os dedos, a principio como tesoura, tirando o grosso, e depois, antes do efeito passar, foi usando o dedo indicador como navalha, cortando os pelos rentes ao rosto.

Ao acabar, juntou todos os pelos da pia num punhado, e jogou no lixo. Olhou-se mais uma vez no espelho, agora barbeado e com os cabelos presos, ele achou que não chamaria mais a atenção.

Quando Quazar saiu do banheiro, a dona da loja, que estava terminando de fechar as pesadas portas de ferro, ficou embasbacada com o visual do jovem. Ele estava exuberante. Trajado de social, muito bem vestido e barbeado, ela ficou encantada.

- Minha nossa! – foi só o que a moça pode dizer, depois de ficar com o rosto totalmente vermelho –
- Podemos ir agora? – Pediu Quazar sorrindo –
- C-Claro...

Os dois saíram da loja, caminhavam por toda a avenida. Era um lugar muito bonito. Carros modernos, chamativos, prédios que se comparavam com as torres de seu mundo, mas em maior escala. E no caminho, os dois foram conversando bastante. A moça queria saber mais do misterioso estrangeiro, e Quazar queria exercitar seu vocabulário.

- Quando você chegou? – Perguntou Letícia –
- Hoje pela manhã, ainda estou um pouco cansado da viagem.
- Realmente, deve estar exausto!
- Foi deveras cansativa a viagem – respondeu Quazar, limitando-se a não entregar demais o jogo –
- Sabe, é difícil de eu atender turistas na minha loja, se ela ainda fosse no centro, eu conseguiria mais, por isso, não pude te atender numa língua mais diversificada – Inglês – nossa língua “universal”... – Disse Letícia, terminando a frase com uma risada forçada –
- Uma língua universal?
- Não zombe de mim – pediu Letícia – vocês sempre se acham superior, nos chamando de terceiro mundo...

Quazar empalideceu. Terceiro mundo? Será que ela sabia de viagens planares? Será que viajar entre os cosmos era algo normal para o povo desse plano? Desse mundo? Porque talvez eles tivessem o conhecimento dos mais diversos planos, e catalogaram os mundos como primeiro, segundo terceiro...

Não, talvez não. Camila estava surpresa de ter ido de um plano a outro, e ela mesmo disse que seu mundo continha pouca magia. Que no máximo que existia eram rituais de umbanda realizado por certas civilizações.

- Terceiro Mundo? – Perguntou Quazar –
- Eu acho errado isso, digo, só porque nosso país ainda está em desenvolvimento, somos chamados de terceiro mundo. Quero dizer, só porque vocês tem uma boa economia e distribuição de renda, quem lhes dá o direito de chamá-los de primeiro mundo?
- Concordo – respondeu Quazar, agora aliviado, por notar que os paises aqui eram catalogados como mundos, devido a sua posição social –
- Você já conseguiu um quarto de hotel?
- Hotel? Quer dizer, onde passar a noite? – Perguntou Quazar –
- Sim. Não vai dormir nas ruas né? Vestido assim vai ser assaltado –
- Não, ainda não consegui, poderia me indicar algum? – Perguntou Quazar, enquanto se desviava de um ciclista que quase o atropelara.
- PALHAÇO! – gritou Letícia para o ciclista – Vá andar de bicicleta na rua, não na calçada –
- Minha nossa. Que veloz! – disse Quazar, e ficou maravilhado com aquele veiculo que escapara dos comentários de Camila –
- Sabe, eu moro em uma pensão, e lá tem alguns quartos sobressalentes para alugar, você pode passar a noite lá. – Ofereceu Letícia – se você não se importar em ficar num lugar mais simples – continuou ela, com sorriso no rosto –
- Seria um prazer, e talvez, se não for fazer nada no dia seguinte, poderia me mostrar um pouco de sua cidade – Pediu Quazar –
- Bem, amanhã é Sábado, eu costumo trabalhar até o meio dia. Mas quer saber? Amanhã eu folgo e podemos tomar café da manhã juntos!
- Seria um prazer...

Depois de um tempo de caminhada, Quazar viu um grande monumento a sua frente. Lembrava os castelos de Eurôma, mas bem menor. Viu algumas estatuas dispostas a frente do lugar, e pensou consigo mesmo, que aquela construção era totalmente diferente das demais.

- Bem, é aqui! Os padres dessa igreja ensinam adultos a ler e escrever. Eles não negarão isso a ti, só porque você tem condições financeiras de pagar pelo serviço. Eles farão de bom grado, desde que você tenha saco pra ouvir sobre céu e inferno, pecado e iluminação.
- Será bom aprender sobre religião também – respondeu Quazar –
- Se você acha... Europeu é tudo igual... – disse Letícia com sorriso no rosto, e continuou – Olha, vou até aquele bar comer alguma coisa – disse ao apontar para um estabelecimento do outro lado da avenida – e venho te pegar aqui às dezenove horas, tudo bem? –

Quazar concordou com a cabeça, e entrou na igreja.

O tempo passou. Quazar freqüentou a igreja durante uma semana, e já sabia ler e escrever perfeitamente. Ele também cultivou uma boa amizade com Letícia, e eles viviam saindo juntos, freqüentando bares, casas noturnas, cinemas e parques. Aquele mundo tinha muitos sabores que o jovem mago estava adorando experimentar.

Ele também converteu-se ao catolicismo, freqüentava a missa todos os domingos, e achava que o Deus único, que o povo daquele mundo adorara, fazia muito mais sentido do que os diversos panteões que Victor mencionara.

Quazar sempre foi um entusiasta de religiões, talvez pelo seu mundo natal não possuir nenhuma, ele sentia certa carência de uma divindade para adorar. Ele, que acreditava que o mundo não tinha nascido do acaso, e que tudo tem de ter um gatilho inicial. Mas, não abandonou sua antiga religião por completo. Achava ele que ambas as divindades poderiam ter alguma ligação.

Quazar leu a bíblia sagrada inteira, entendeu toda a história da religião daquele mundo, e viu que aquilo estava de acordo com seus princípios. Amar ao próximo como a si mesmo. Amar seus inimigos e sempre oferecer a outra face.

Se ele um dia voltasse a Eurôma, iria tentar instituir aquela religião para seu mundo.

Quazar conheceu os amigos de Letícia, e já estava gostando das “baladas” que freqüentava com tal grupo, eram dias cheios de agitação. E enquanto seus novos amigos trabalhavam para conseguir o dinheiro do fim de semana, ele aproveitava para ir de um lugar a outro sozinho.

Usava bem pouco sua magia. Tinha medo dos outros descobrirem sua origem e por isso, limitava-se apenas a Matera Olvidare, quando precisava de dinheiro, trocando sempre com Letícia as plaquetas de ouro.

Um ano cheio de realizações se passou, Quazar era fluente naquele idioma e já estava se sentindo parte daquele mundo.
Aquele abraço!
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Quazar - Capitulo CINCO-

Mensagempor Lady Draconnasti em 07 Out 2008, 20:37

Er...

Serão todos desse tamanho? Se for, eu esperarei acabar para imprimir tudo e ler.
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