É um texto que já escrevi a um certo tempo, na Spell das antigonas. Mas vou colocar aqui pra movimentar a seção. Antigamente ele se chamava "O Diabo Alucinógeno", mas acho um nome tosco.
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Alucinações na Névoa Noturna
Balbuciava frases ilógicas no escuro da noite enquanto chacoalhava a caneca de chá. Estava lá, eu, pairando, pensando na última noite em que realmente havia vivido. Atormentava-me surreal um diabo calmo, imperturbável, que nas costas carregava uma carroça cheia de drogas alucinógenas de todos os tipos. O monstro havia invadido a minha casa e agora já espreitava nos azulejos do quarto, irrompendo o silêncio e ameaçando perfurar minha garganta a qualquer vacilo.
Sob um luar agreste, viajava lento e triste, pelas memórias de Magalhães, estrela anciã que do céu me detestava, pois já não era mais aquela criança que gozava de todos os momentos. Desconcertante, o demônio então saltou e veio em minha direção. A luz de Magalhães por um segundo se apagou e o diabo, aproveitando de sua destreza, surrupiou minha alma e me despejou num enorme fosso escuro, no qual o chão inundado ricocheteava um som espesso de uma gotícula que caia constantemente na água.
Agora já era não era o som de uma goteira; era um som de gongo que me perturbava, sim! Havia evoluído e me destruía por dentro. O demônio então sorriu revelando enormes caninos que contrastavam com a penumbra escura e vazia do fosso, e eu confuso me apavorei afronte tamanha alucinação. Refleti pasmo, e Magalhães me revelou um pêndulo, que num vaivém frenético eliminava o desespero do aquém.
Discutia comigo mesmo se podia tal rodela, que pendente numa pequena e fina corda, sobrepujar as diversas leis da física e apenas ameaçar, sem anunciar a sua queda. O demônio então se aproximou e disse com uma voz tranqüila de verão:
- Ela apenas ainda não decidiu para que lado cair. Talvez isso demore séculos. Não séculos tão longos quanto aqueles em que ela decidia se iria ou não se decidir.