Inferno (Tema Adulto)

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Inferno (Tema Adulto)

Mensagempor Seth em 16 Jul 2008, 20:50

Esse é um material que eu comecei a produzir a uns três anos, dando forma a um esboço do prólogo. Eu já potei ele na Spell Forever, mas realizei algumas modificações. Espero que gostem do resultado.

Depois eu falo mais a respeito.

Prólogo

Você enxerga somente um nada, um nada de cinza e escória, sem fim, nem céu, nem terra, nem mar, somente aquele solo horroroso e estranho, nem líquido nem sólido, nem gasoso. E a o vento, um vento sombrio, que tem um cheiro distante de água, mas também de deserto e de frieza, como se de seu caminho viesse o cheiro de nuvens que estavam carregadas... -mas de gelo seco. E naquela planície cinza, de onde viria aquele cheiro? Mas você prossegue, impávido, em busca da saída. Mas não a encontra: vê, apenas, aquela luz que não vem nem do sol, nem da lua, nem nas estrelas, e aquela areia estéril, fria a cruel, naquele campo onde se plantam pedras extremamente pesadas e imóveis, como se ali estivessem desde o primeiro dia do mundo - que mundo? Você sente fome, muita fome, mas não há o que comer, a não ser as areias e as pedras, e o seu próprio corpo. Você pode resistir á fome, mas não a sede, e aquele vento seca a garganta e as lágrimas que você tem para chorar. Sua língua está assada, a garganta estraçalhada, quando um lago com palmeira e avistado... -mas é uma miragem, sem efeitos de luz ou de qualquer coisa. Por fim, depois de tempos – dias? Séculos? Milênios? Éons? Você percebe uma luz ao longe, uma luz estranha, não a do sol ou a de algo mais forte, mas sim um leve facho de um candeeiro. Você se força a caminhar... -talvez seja o fim da linha... -e depois de outro tempo sem conta chega ao lugar, depois de abrir, com uma pedra afiada, algumas feridas... -é fácil, sugar dali o sangue, que alivia, de forma lenta, a agonia da sede e até da fome... -mas seu corpo quase já não suporta mais nada, e você sabe... -Você lá encontra sim, um pouco de água, mas esta contaminada e amarga, e a chama nada mais é que uma vela, se consumindo numa pedra, aos pés do que parece um marco. Um marco feito por mãos, parece, pois é talhado na forma de um arco ogival, e nove grandes pontas de metal sobressaem de sua parte superior. Uma grande de bronze está no inferior, e dos dois lados dele existe uma cerca de pedras rudes, alta e infinita. A grade é uma porta? Para onde? E ao analisar o arco com mais cuidado, uma inscrição se sobressai a sua frente, parecendo feita a eras, e muito nova. São caracteres em uma língua antiga, que você não conhece – mas sabe! Ali está escrita a sentença mais terrível que se poderia proferir: Abandone toda a esperança quem entra aqui. Agora você sabe, e não a lágrimas, apenas há tristeza, dor e desesperança. Pois ali não é outro lugar se não um fosso. Um fosso dentre outros sete.

Você está no inferno.



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Capítulo I


- Tudo bem que você sempre tenha sido tétrico, mas nesse daí você exagerou, cara – o rosto da garota a luz das velas, bruxuleando parece ansioso... - e amedontrado. Pisco. Por um momento, por um fugaz instante parecera tão real... - mas a realidade imediata era o cheiro de sal, o marulho das ondas nas pedras, a luz azulada que surge pela entrada da caverna, e o rosto meio ansioso de minha prima. Pisco de novo. Falo:

- Não é tão ruim assim! Sei que não gosta de sangue, mas, num estado de extrema necessidade... -

- Isso é um conto! Não é realidade! Não precisa ser tão... -tão... -tão cruel! Cruel? Será que o conto – na verdade, esse ensaio malfeito de conto é cruel, em seu inocente caderno com capa de couro, com as folhas de papel branco marcadas pela escrita elegante de uma caneta azul. É cruel, mas não será um pouco... -

- Ele é horrível! Perdoe-me, mas a arte deve sempre valorizar e nascer de uma... -uma estética!

- Estética? Minha cara, segundo uma das análises da semiótica de C. S. Pierce, o que para você é anti-Estético, para mim é perfeitamente estético. As linguagens são distintas.

- E o belo é subjetivo, ótimo, ótimo, mas seu conto me dá arrepios! Vamos embora! E ela sempre foi assim. Gentil, mas arisca... - astuta, mas ignorante... -e esse era um dos charmes que ela não perdia. Olhou para ela com um assomo de gentileza, durante muito tempo. Os olhos dela o fitaram, em tom de interrogação, mas não demorou nisso, e teve um calafrio... - e falou com aspereza:

- Vamos embora? Estou cansada – e se levantou rápida, apagando as velas no laguinho de água azulada que entrava na boca da caverna onde estávamos. Ela estava com um short curto, e logo trepou pelas rochas até a praia. Eu coloco o caderno na mochila que usava, pegou o toco de vela, e também trepo pela praia. Ela estava esperando, e parecia um pouco... - encabulada? Envergonhada? Arrependida? Fosse como fosse, na volta para a rua, em direção a cidadezinha ela pegou na minha mão, e caminharam juntos dessa forma. A mão dela é quente na minha, um pequeno ponto de realidade na frigidez do sonho de uns momentos atrás.

Eu não estava chateado, sabia que às vezes era inoportuno e ela não era exatamente a pessoa mais paciente do mundo, bem longe disso. E, no fim, ela se arrependia. Eu agora prestava a sua atenção na rua, um longo rio com pequenos paralelepípedos quentes, mas não ferventes como ficavam ao sol do meio dia. O rio corria no sentido contrário dava em uma praça, a menos de duzentos metros, onde havia outras ruas menores, em volta de um parque. Um dos poucos ônibus passou por eles, e o cobrador, um homem que parecia bem velho, olhou-me com reprovação, ao que eu sorri de forma mais discreta.

Da praça nós seguimos por uma ruazinha lateral, até uma pequena casa, um sobrado pintado de verde. A garota entrou pelo portão de ferro, e passou pelo quintal que a cercava, com mangueiras, pés de acerola e outras frutas, nenhum, porém, com frutas, pois não estava na época. Ela se virou e entregou a chave a mim, dizendo:

- Agora pegue a chave, a sua mala já está ai dentro, no quarto maior de cima. A mãe queria que você ficasse em casa – e apontou para a casa vizinha – mas você ia ficar mal instalado. E de qualquer modo, é por pouco tempo, já que amanhã a gente sobre pro sítio. Agora, repare que venho te pegar ás seis. Esteja pronto, ok? – deu um beijo de leve e saiu. Ela era um feixe de energia gritante naquela pequena cidade, a se não era. Pelo menos metade dos homens, com suas imaginações presas e libidinosas gostariam de ter aquela menina debaixo dos lençóis... - E ela sabia. Divertia-se – muito – com isso.

A casa é mais ou menos como eu me lembro na época das férias de infância, arejada e não muito grande, apesar de ser um sobrado. Ali os parentes ficavam instalados, quando a casa grande estava repleta de muitos convidados para oferecer uma boa noite de sono. Os móveis eram poucos e práticos de se limpar, e a temperatura era sempre agradável. Subo pela escada do outro lado da sala, até a suíte máster. Minha tia, claramente, tinha posto o dedo naquela arrumação: a cama de casal tinha lençóis novos, havia alguns livros numa prateleira, uma mesa, cadeiras, tv, poltrona, DVD, alguns filmes, frigobar, o ar condicionado ligado no máximo... - mais parecia um hotel, e eu um hóspede de honra. O que era irônico demais depois do que aconteceu naquela época... -

Mas não tenho mais tempo para isso. Tomo um banho rápido, faço a barba, e visto uma roupa mais arrumada, um bermudão e camiseta. O perfume sempre foi indispensável, e, atualmente, o melhor era o Kasser. A camiseta é negra, assim como a bermuda, porque com minha pele pálida demais, fico mais bonito de preto. O último detalhe são as camisinhas, porque eu sabia que seis anos de esportes, entre natação, luta e ciclismo haviam-me dotado de uma figura bem apessoada... - E ninguém era indiferente a isso, especialmente as mulheres.

As camas sempre foram, para mim, bem convidativas e àquela não era nenhuma exceção. Antes de vestir a camisa e os tênis, preferi deitar um pouco, com o ar condicionado gelando o ambiente. Eu sentia uns calafrios na área do abdômen, por causa do frio, mas aquilo me dava bastante prazer. Fui, aos poucos, mergulhando em um devaneio sobre o conto que tinha começado a escrever pensado no que minha prima havia dito.

Algum tempo depois ouço a porta da pequena cozinha abrindo. Quem seria àquela hora? Saio de mansinho da cama, e me coloco atrás de uma das portas do andar de cima, de onde posso ver a escada com relativa facilidade, com o celular na mão. Mas não foi preciso ligar pára ninguém, pois eu conhecia o estranho, um homem de estatura elevada, cabelos escuros e pele bronzeada. Apesar de ter um físico mais forte, eu o reconheci. Filho do caseiro da propriedade de meus tios, Jorge e eu fomos amigos durante grande parte de nossas infâncias. Depois de uns segundos, saio de onde estou e desço, decidido, as escadas para falar com ele na sala.

- Olá, Jorge. Faz muito tempo que não nos vemos! – e estendo a mão a ele, sorrindo. E o sorriso é sincero, eu gosto dele, e, realmente, é um prazer vê-lo de novo.

- Olá, Tiago. Como vai você? Soube que havia chegado à cidade, e decidi vir até aqui, pra te cumprimentar! Não te achei mais cedo, me disseram que você havia saído com a sua prima, e agora a pouco ela chegou e disse que você estava aqui no chalé. Bom, posso ver que está bem.

- Vamos sentar para conversar um pouco... - colocar a resenha em dia! – peguei - o pelo braço, e fomos para a cozinha. Na geladeira havia algumas garrafas tipo long-neck de cerveja, que eu não gosto, e de outras bebidas. Terminei ficando com uma garrafa de suco de laranja, sentei-me na escada da sala, e propus um brinde:

- Saúde!

- A nossa! – respondeu ele.

Bebemos e conversamos, ele falando do que fizera esse tempo todo. Como o pai, havia entrado para o serviço da casa, mas tendo estudado no bom colégio estadual do vilarejo, e depois feito o curso técnico em agronomia, Jorge havia se convertido em ajudante e administrador das várias propriedades da família nas zonas próximas. Era um trabalho que o aprazia, e era bem pago o suficiente para ele ter uma casa, na verdade uma chácara, onde morava com os pais, e tinha uma horta. Extraia renda também dos iogurtes e doces que sua mãe fazia das frutas e do leite. Como vim a descobrir, a propriedade era vizinha a casa da família, e vizinha ao sobrado onde eu estava hospedado. Eu também falei de mim, mas bem, menos do que ele falou de si próprio.

Passamos assim a tarde toda, e o sol estava se pondo quando eu fui para o andar de cima, colocar a camisa e os tênis. Voltei para baixo no momento que ele atendia à porta para Laura, que como sempre, entrou falando:

- Olá, Jorge! Como você está? Não te vi hoje! Muito trabalho? Você viu o Ti? – ela, como sempre, me tratando por aquele apelido de infância. Sinalizo para ele se aquietar, e saio da casa, entrando de novo pela porta da frente, atrás dela, que toma um baita susto. Ela esmurra, brincando, o meu peito, e saímos os três. Ela logo pergunta a Jorge:

- Está com a noite livre? Nós vamos sair um pouco com uns amigos! – E aquilo me deixou um pouco aflito, mas ela deve ter percebido, porque disse a mim:

- Fique tranqüilo, Sr. timidez... -todos são velhos amigos seus também, e estão curiosos para te ver de novo. E ai, Jorge? Se estiver pronto em dez minutos, te esperamos, ainda é cedo... - – Jorge vai rápido para casa e promete não demorar. Nós sentamos, e ela não demora a falar:

- Meus pais me perguntaram se você iria jantar... - mas eu disse que você ia preferir sair, e eles disseram então que amanhã de manhã você estivesse no café da manhã. A família toda vai estar presente, e querem te ver... -

- Eu me sinto mais um animal num zoológico nessas horas... -

- Há, vamos lá... -você é um leão, se é assim. Está muito bonito, carinha... - – eu corei com força, pois ela não era desses elogios, em especial para mim.



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Seth
Editado pela última vez por Seth em 15 Fev 2009, 19:48, em um total de 1 vez.
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Mensagempor Seth em 16 Jul 2008, 20:52

Capítulo II


A noite foi maravilhosa. Havia um grupo grande de adolescentes, o frescor da vida em ebulição sem fim, harmonia encontrada nos opostos, em volta da luz incerta das labaredas amarelas. Nenhum era meu “velho amigo”, e eu não esperava que fossem.

Eu estava um pouco afastado do fogo, junto com Laura e Jorge, conversando banalidades. Havíamos bebido vinho - a vinícola da família sempre produzira boas safras, e Laura não sentia qualquer problema em pegar umas garrafas e gastar naquelas reuniões com os amigos – e comemos o que pôde ser assado naquelas chamas. Agora era a hora mais interessante, quando as pessoas começam a se espreguiçar, beber um pouco mais da conta e falar de tudo e de todos.

Havia um violão muito bonito, de madeira clara, nas mãos de um dos rapazes. Como acontecia com os animais, a chegada de mais um macho – no caso eu – havia gerado alguma tensão, com as fêmeas se agitando, e os outros se irritando. É sempre assim, eu já me acostumei a isso, e me divirto com as tentativas desajeitadas dos egos frágeis de se firmar.

Homens e mulheres bonitos e frios, como se fossem verdadeiros manequins, como se tudo fosse uma pintura do estilo de arte grego mais tardio, sem a genialidade anterior e com todo o rigor técnico... - Eram seres apolíneos – pobre de Apolo, inventor da Lira, obrigado a ouvir essa comparação da boca de todo o projeto de erudito - e eu sentia-me como Dionísio, a comédia do grupo, porque não era igual. Porque não gostava de academia, não tinha bíceps gigantescos, não gostava de cerveja nem de pagodes, funks, e derivados. Porque ria dos pequenos dramas domésticos, de acusações de “X é falsa, Y perdeu o namorada por causa dela”, um material comum às preocupações daquelas pessoas. Uma das maiores perguntas que faço até hoje, depois de assistir a essas reuniões é a seguinte: Nos perfis do Orkut, MSN, e outras coisas desse gênero todo mundo é excelente, divertido, amigo, etc, mas na verdade todo mundo é egoísta, e riem quando vêem o outro entrado pelo cano. “Sê compassivo com os fracos” é meramente uma licença poética na briga dos egos frágeis. Enfim, não falei muito, passei por esquisito.

Ou pelo menos foi assim até eu pegar o violão. Estava muito inspirado, toquei e cantei várias músicas, e como eu e Laura sempre tivemos boa voz, e aprendemos Música (música de verdade, aprendendo a respirar, a não forçar a voz, qual o alcance máximo até onde podemos ir, etc) no colégio, cantamos como nunca, e eu toquei algumas de minhas próprias canções, que só a Laura já havia escutado. Era muito legal ver todos embabascados enquanto a minha voz de tenor e a dela de contralto subiam, límpidas, no último acorde de alguma música romântica.

Nós estávamos, agora, nas pedras fora do alcance do fogo. Ela está com a cabeça no meu ombro, parecendo cantar como se não soubesse do que fazia - e não visse olhares hostis das outras meninas para ela. Eu por meu lado cantava com ela, mas sentindo algumas reações estranhas no meu corpo, reações muito estranhas... - O corpo dela é quente, sim, os cabelos longos com o cheiro dela, uma coisa floral, mas não artificial... - Suor, sal e flores, oh sim, eu preciso de uma música sobre ela, essa noite perfeita em sua imperfeição, as cabeças dos outros flutuando em volta do fogo, e os cabelos de todos cintilando a luz incerta, oh sim, com as estrelas celestes e a lua, dona de um bordel, sim, novamente... - Um speculum mundi realmente esplêndido, ou deveria dizer speculum homo?

Quando me dou conta de onde estou, faz frio e há de novo o marulho... - E há uma pessoa a meu lado, uma garota... - Será? Não, não pode ser, já que o cheiro dela é diferente, é mais fraco e mais artificial, mas mesmo assim gostoso. Sei que tanto ela como eu estamos despidos, e eu toco, de leve, nos cabelos que a meia luz são de uma cor prateada... - Os seios são dois pomos que servem ao meu prazer, e eu sugo, avidamente, e a concha de sua feminilidade parece convidar a ser... - O que? Desvirginada? Penetrada? Arrombada, como se diz nas gírias? O que é o sexo, o que é esse ato, mas não a tempo para isso, a besta dentro de mim é mais forte... - Não há sacrifício, não há nade de sacro. Não há o êxtase ao qual essa sensação deveria conduzir, ao menos para mim. É mero ato sem alma, mera métrica... - E o que foi meu soluço ela julgou como gemido.

Duas lanternas alaranjadas se acendem, em meio às pedras, enquanto dois corpos são colocados num uníssono... - incompleto, como se algo faltasse à dama, ou ao cavalheiro. Não obstante os gemidos da garota mostram que ela se entregou como nunca tinha feito para ninguém, para sentir algo de um suposto “doce prazer”... -

E nas matas em volta, sem vento, um som como um sibilo é sentido mais de uma vez, e passos macios são executados por alguma coisa... - Alguma coisa que observa com bastante curiosidade o que acontece nas pedras seja animal ou gente. E não só nas pedras, como nas brasas meio apagadas estão dois corpos jogados, ele com uma garrafa de vinho, ela em cima dele, como se fosse uma cópia grosseira do ato nas pedras, com a sua beleza estranha e incompreensível. No inferno há o círculo dos amantes da luxuria, e parece que esses dois seriam bem recebidos por lá... -

A luz das brasas no céu e na terra, as pedras parecem estar vazias, sem ninguém. Mas duas lanternas alaranjadas agora haviam acendido nas proximidades da fogueira, junto com um som muito estranho, como um grunhindo, ou um rosnar. A vegetação farfalha, e, alguma coisa cintila a meia luz. O grunhindo se faz mais alto, enquanto a jovem parece quedar-se, vendo se sangue se esvaindo junto com o sêmen de seu parceiro, que olha para os olhos da morte. Tenta vomitar, mas acaba atingido antes de emitir qualquer som. A única coisa que se pode ouvir é um grunhido mais alto, e o som de algumas aves da madrugada, agitadas.

* * *

Quando dou por mim, novamente, estou na cama do quarto do solar, com alguém – tenho bem a idéia de quem - esmurrando a porta do meu quarto. Estou seminu, só de cuecas. Onde estaria a garota?

Os barulhos prosseguem sem parar, junto com os gritos de uma voz feminina – a de Laura, dá pra sentir o cheiro dessa menina – gritando meu nome, Iacobus, Jacob, Jacó, Ti, Tiaguinho, Tiago... - paro de divagar, pulo da cama e abro a porta. Ela aparece e claramente está zangada, e num instante desata a me xingar por demorar dez minutos para abrir a porta, por estar dormindo, por não estar pronto e atrasado – ainda que sejam só sete e dez da manhã, o café as oito e a noite tenha sido muito agitada – ela está chateada. Peço a ela que pare, e me escondo no banheiro, debaixo do chuveiro, gelado. Ela desligou o gás, e um banho frio a quinze graus era bastante desagradável e mais eficiente como despertador do que as batidas de minha prima. Dez minutos depois saio do banho, visto correndo algumas roupas, e desço para a sala, onde encontro Laura mais calma, e rindo já que estou tremendo.

- Você demorou um bocado para voltar do passeio nas pedras, Tiago, onde você foi?

- Começa com “pas” termina com “sear”. Porque você desligou o aquecedor?

- Porque senão você ia demorar duas horas no banheiro. O que aconteceu nas pedras? Não me diga que você e a Carol... - – ela faz um cara de espanto.

- Você sabe a resposta. Ela gostou de mim, eu dela, e deu nisso? Qual o problema?

- Problema nenhum, mas agora vou dar mais atenção a sua história de “passear”... - Espero que tenha usado camisinha... -

- Usei. Isso é importante? Ela me encheu dizendo que toma pílulas e que tinha camisinha na bolsa Eu usei uma das minhas, já se ela tomou a pílula é outra história... - Ou melhor, se ela deixou que eu colocasse, a menina era meio que gulosa... - Minha cabeça ainda está rodando, nem sei direto como vim para cá.

- Isso é fácil. Depois de um tempo você veio amparado por ela das pedras, parecendo meio dormindo meio acordado, e ela toda safadinha. Jorge foi quem te trouxe para cá, e vamos logo? Peguei o jipe do meu pai, tá ai fora.

- Você não pode dirigir... - – começo um protesto quando fui interrompido, com sua frase mais sincera, e seu sorriso mais encantador:

- Posso quando meu tio é juiz, metade da família é de advogados, meu padrinho é policial e o único guarda da SET é apaixonado por mim. E dirijo bem. Vamos?

- Tá bem, tá bem, relação é tudo hoje em dia... - ela me atira um beijo. Mais um.

A viagem foi maravilhosa. Eu não me lembrava – ou queria esquecer? Ou meu inconsciente egoístico tomara aquela lembrança de mim? – da névoa matutina descendo em espirais, o sol não quente mais brilhante, árvores de frutas e de madeira de lei, caminhos por onde ri, brinquei... - e chorei. Aqui, nas estradinhas que levavam as vinícolas, para a parte mais alta e ainda mais fria da região, para um local parado no tempo.

Isso tudo ainda é do meu avô. O velho Adriano, o primeiro Adriano. Um homem que durante mais de setenta anos havia tocado as terras da família, fundando empresas, mercearias, comprando terra e ações, enriquecendo, cada vez mais poderoso e famoso. Inculto, mas inteligente, dono de um tino comercial invejável. Pai de dois filhos do qual se orgulhava, filhos de sua esposa, e mais cinco com as amantes, criados na casa dele. Dois filhos, herdeiros: Adriano, o segundo, o mais velho, administrador capaz das ações e das empresas, um homem culto, refinado, nada parecido com seu genitor e pai de Tiago, isso é, meu pai. E Leonardo, fac-símile do velho Adriano, mas com algo do verniz de seu irmão, que administrava as vinícolas.

E apesar de diferentes, eram como unha e carne, entendendo-se as mil maravilhas, vendendo, lucrando, poupando e multiplicando a fortuna paterna. Ambos falavam inglês, italiano e francês, ambos haviam corrido o mundo, eram formados em ótimas faculdades, e deram uma educação similar para seus filhos.

Filhos de Leonardo devia haver alguns bastardos por ai, criados como empregados em alguma das fazendas: ele não queria bastardos em casa, como seu pai fez. Ele se limitava a dar uma mesada, e ao atingirem a maioridade, uma polpuda quantia. Seu único filho, chamado Edgar havia morrido na adolescência. Agora tinha apenas a filha, Laura, ao lado de Tiago, isso é, ao meu lado, dirigindo e muito bem um jipe pelo caminho para a casa sede da fazenda. E é difícil pensar em meu tio como algo menos do que um líder, do que um chefe de família.

E as mulheres? Elas pouco importaram na história da família, eram pouco mais que enfeites que os homens tinham. Amam cegamente seus esposos que as traem, governam bem a casa, e se atêm as suas tarefas domésticas. Já Laura... - O que Laura seria? Eu não sei. Ela seria como minha mãe, que tinha morrido, mas que diziam ter muita personalidade, mas... - Enfim, importa?

Como sempre, vi o portão de ferro da propriedade, agora todo eletrônico, com câmeras e dois seguranças. Entramos, e eu me recordei dos portões do inferno. Os malditos portões do inferno na porta de um Del Rey prateado, á oito anos...
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Mensagempor laharra em 17 Ago 2008, 23:39

Bom, espero que você não tenha parado por aí. Gostei da história, tem um ar misterioso em volta do protagonista, os diálogos são bem elaborados e o cenário é interessante. Quero saber o que aconteceu no Del Rey e aprender mais sobre ele :cool:

Só tenho uma coisa a apontar. Não sei se foi o fato de ter sido escrito há um bom tempo, mas há alguns erros chatos que me desconcentraram, principalmente no primeiro capítulo. O uso dos travessões nessa parte também me deixou confuso em alguns momentos.

Enfim, uma dúvida. Foi você, Seth, quem realizou um concurso de contos de 100 palavras na antiga Spell? Só curiosidade mesmo...

Abraços.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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Mensagempor Lady Draconnasti em 18 Ago 2008, 00:55

Não, quem fez o concurso 100 palavras foi o Sax ou foi o Lord Seth.
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Mensagempor laharra em 19 Ago 2008, 00:28

Hmm... Seth e Lorde Seth... Acho que agora não vou mais saber diferenciar os contos que eu li de cada um... :cool: Pensava que era a mesma pessoa.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
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Mensagempor Lady Draconnasti em 19 Ago 2008, 06:21

Não são. ^^
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Mensagempor Seth em 21 Ago 2008, 20:49

laharra:

Minha internet têm estado um pouco instável, dai a demora em responder. Me desculpe.

Bom, o primeiro capítulo eu confesso que não revisei com maior cuidado. O uso de travessões é ium vício meu, que eu tou tentando largar...

Tem continuação, depois que eu revisar.
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