Deve ser um bom sinal

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Deve ser um bom sinal

Mensagempor Saxplr em 15 Jun 2008, 15:41

Escrevi ontem à noite. É o tipo de história que não merece muita revisão. É um pouco crua, mas sutil. Gostei muito dela, dizem que todas as histórias são sobre seus autores. Essa tem um pouquinho de mim. Aproveitem!
Abraços!


Deve ser um bom sinal
Uma história de amor em 3 atos

Rodrigo van Kampen

para Lívia



Ato 1


Minhas mãos estão suadas. Espero que ela não perceba. Droga, minhas axilas estão suadas, não me lembro de ter corrido nenhuma maratona. Será que ela vem? Será que entendeu direito como eu entendi? É sempre complicado marcar um encontro, porque você não fala com todas as letras, deixa tudo nas entrelinhas, como nuvenzinhas rosas para serem pescadas no ar. Mas sempre existem desencontros... Ela perguntou "quem vai" uma vez, será que ela espera mais gente? Pior, será que vem com alguém?

Acho que a vi. Meu deus, como está linda. Caramba, eu não paro de suar. Respira fundo, uuuum, dooois, uuum, dooois. Sorria, isso, sorria de volta. Ela parece feliz. Será que eu pareço feliz? Assim que parar de tremer eu me preocupo com isso.

"Oi".

Oi... Isso é coisa que se diga? Diga algo incrível, diga ‘nossa, como você está linda!’

"Oi... bonita..."

Pronto, seu idiota, você parece um robô desgovernado que perdeu metade do vocabulário em algum hospício intergalático. Ela está rindo, será que é de mim? Uma mancha de pasta de dente? Espero que não.. Ela continua sorrindo, acho que é para mim. Deve ser um bom sinal...



Ato 2


Sinceramente, eu preferia quando discutíamos o sexo dos anjos. Claro, não mudou muita coisa, ainda conversamos sobre os mesmos assuntos. Só que tudo parece tão sério agora... Todo esse papo de responsabilidade. Eu também tenho medo do futuro, mas cada coisa a seu tempo. Sei lá, parece que nem aproveitamos mais o hoje, toda aquela conversa sobre o amanhã amanhã amanhã, TCC, trabalho, escola. Acho que eu gostava mais de ouvir sobre o seu dia antigamente.

Discutir por coisas idiotas cansa. Talvez não as palavras em si, quem sabe tenhamos nos decepcionados demais. Não um ao outro, mas a nós mesmos. Parece que já não conseguimos mais ser quem éramos.

É meio estranho. Talvez incômodo. Ficar brigando contra o sono deitado na sua própria cama. Talvez o pior seja não saber direito por quê. Tem horas que acho que seria bom desencanar, fechar os olhos e dormir. Talvez não. Ok, eu sei que faço isso por ela. Meu esforço hercúleo não é contra o sono. É para lhe fazer companhia. Eu gosto de estar com ela, parece que faz com que todo o resto valha a pena. Deve ser um bom sinal...



Ato 3

A pior parte são os filmes românticos. Sinto saudades... Talvez não dela, mas das situações, de ter alguém para abraçar, para conversar. Os dias ruins são ruins para todo mundo. Só que os dias bons são piores. Nada como a agonia de uma linda noite estrelada, uma boa garrafa de vinho na geladeira, e ninguém para compartilhar. Eu sei, remoer as coisas nunca dá boa coisa, mas não consigo evitar.

Tá bom, admito, são saudades dela mesmo. A sensação terrível de olhar para a cama vazia. Eu gostava quando ela deitava na minha cama, eu a observava como um animalzinho fofo se aconchegando e tomando o seu espaço por direito. E adorava aquele olhar implorando por companhia.

Meu deus, quanto tempo faz? Cinco, seis meses. É, foram seis longos meses. "Vai ser só um curso, vai ficar tudo bem, eu volto". Acho que foi aquela noite anterior. Se aquela noite não tivesse existido, tudo estaria bem. Merda, ainda lembro o que começou aquela discussão. Os meus óculos que ela quebrou sem querer. Os malditos óculos, que nem mandei arrumar. Terminar tudo dois dias antes da viagem foi a decisão mais estúpida. Talvez até pior do que tentar resolver tudo por e-mail.

Eu costumava reclamar que ela se preocupava demais com o futuro. Acho que dessa vez fui eu que não percebi como estava estressado com o desemprego.

Vôo 7890, é esse. Ela não espera me ver aqui, que porra eu estava na cabeça em pedir para os pais dela para vir buscá-la? Ali, atrás do tiozinho de amarelo. Está linda, alguma coisa diferente. Um ar juvenil. Ela me viu. E está com aquele mesmo sorriso do primeiro encontro. Deve ser um bom sinal...
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Mensagempor Lady Draconnasti em 17 Jun 2008, 07:27

Há quanto tempo não víamos uma obra sua por aqui, heim? Espero que não suma novamente ^^

Bom, o Ato 1 me arrancou risadas, principalmente na parte do:

"Oi".

Oi... Isso é coisa que se diga? Diga algo incrível, diga ‘nossa, como você está linda!’

"Oi... bonita..."

Pronto, seu idiota, você parece um robô desgovernado que perdeu metade do vocabulário em algum hospício intergalático.



No ato 2, mostrou o relacionamento um pouco mais a frente, quando ambos estão naquela questão de "pensar no futuro e se dedicar a ele". Já não é mais aquele conto de fadas do começo (do relacionamento e da faculdade). Você passou isso bem, sem deixar o segundo ato chato.

Ao final, a saudade. Sem comentários.

Parece que você realmente superou aquele seu problema de fazer finais apressados ^^
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Mensagempor Lanzi em 18 Jun 2008, 00:54

Cara. MUITO bonitinho! E acho que gostei especialmente pelo momento que estou vivendo. Se eu me pegasse lendo em uma fase niilista, ou o que fosse, provavelmente não gostaria. E talvez isso seja um ponto pro seu texto, há um certo requisito, que se revelou pelo menos pra mim, pra captar a boniteza.

No começo pensei que não iria gostar do estilo da narrativa "consciência". Mas foi ficando engraçado, bonitinho, fofo. Essencialmente romântico, mas de uma maneira leve.

A divisão em atos, para separar os momentos, e o estado emocional em que se encontrava o protagonista também caiu bem, assim como o mote no final de cada ato.

Muito gostoso de se ler.
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Mensagempor Captain Beefheart em 19 Jun 2008, 14:22

Muito verdadeiro, Sax, eis o mérito. Simples, conciso e verdadeiro.

O texto é muito eloqüente, consegui sentir (ou lembrar?) exatamente o que o narrador sente. Deve ser um bom sinal!
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Mensagempor Yuskeleton em 29 Jul 2008, 00:45

Saudações Sax, quanto tempo não?

Estou aqui mais para rever alguns companheiros de pena, mas já que aqui estou, vamos ao conto.

Escrever uma estória de amor em um texto curto é uma tarefa difícil. Sempre fica com complementação baixa. Mas como todos nós aqui não temos muito tempo, acho melhor ignorar essa questão.

O texto passa emoções diferentes mas com pouco contraste. O contraste maior dos sentimentos acentuaria melhor os próprios.

Como Captain Beefheart mencionou, o texto é bastante verdadeira. Apelar para um pouco de fantasia seria legal, mas isso fica de acordo com a intenção e o público (pessoa) alvo(a) do texto.

Ri bastante com o primeiro ato e no decorrer consegui captar muita sinceridade. Um texto "diet" e gostoso de ler. Acho que é só.

Cheers,

Yuskele"g"on
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Mensagempor anarcocaos em 04 Ago 2008, 19:49

Fala a verdade, é (ao menos semi) autobiográfico, né?
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