O Reinado

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Mensagempor Sr.Personna em 13 Mai 2008, 17:39

Lucas C. Lisboa

A perda do reino foi demais para o príncipe. Passava seus dias planejando como reorganizaria suas tropas leais, invadiria o castelo e derrubaria o usurpador de seu trono.

Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.

Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.

Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.

Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.

A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.

Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.

Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.

Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.

Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.

Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.

Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.

As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.
Editado pela última vez por Sr.Personna em 15 Mai 2008, 10:51, em um total de 1 vez.
"Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
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(Lições, Lucas C. Lisboa)

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Mensagempor Elara em 14 Mai 2008, 14:54

O habilidoso poeta é também um exímio contista. Parabéns.

Deveria colocar mais textos seus por aqui.

Chero!
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Mensagempor Ermel em 16 Mai 2008, 17:39

Devo concordar, totalmente, com a Elara. O que a vontade, um sonho, de tão grande fez transbordar em belas palavras do principe. Mal consigo imagina-lo imaginar seus feitos. Soberbo!

Até!
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Mensagempor Lanzi em 17 Mai 2008, 02:27

MUITO bonito. O tempo, em futuro do pretérito, permitiu ao texto se destacar com um ar melancólico, mas belo, distante e ideal. Parecendo inclusive uma daquelas brincadeiras de criança, uma imaginação. Quantas vezes não nos pegamos imaginando? Criando histórias sobre heróis que seriam nós mesmos? O tom das descrições, suaves e altivas ao mesmo tempo, bem construídas, mas continuando vagas, de modo que qualquer um pudesse imaginar tudo isso, proporcionando ao leitor se identificar com a angústia sonhadora do príncipe.

Perfeito.
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Mensagempor laharra em 17 Mai 2008, 23:04

Inspirador. Me peguei divagando sobre algumas cenas do seriado The Tudors, que estou assistindo agora, apesar de certas aspirações diferentes.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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Mensagempor Sr.Personna em 20 Mai 2008, 12:18

Elara,
Até colocaria mas sou prosador bissexto... de vez em nunca escrevo em prosa :)

Ermel,
E a inspiração toda veio d'uma aula que o professor falava das críticas a Hegel e Espinosa por sua idealização do mundo, por suas grandes estruturas filosóficas não alcançarem o mundo real...

Lanzi,
Pegou muito bem o espírito! Capta sempre muito bem minhas pretensões :) Obrigado pelos elogios.

Laharra,
The Tudors trata da nobresa Inglesa?
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