Jamaica

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Jamaica

Mensagempor Saxplr em 30 Ago 2007, 17:02

Esse é um conto que postei no fórum antigo, um dos últimos meus por lá... Vou colocar aqui para movimentar um pouco as coisas... Foi de uma fase que eu estava fazendo umas experimentações de linguagem, tanto que esse conto é na verdade um roteiro de animação adaptado.

Quase todos os tipos de comentário são muito bem vindos! Só não quero comentários pseudo-moralistas, como "os jovens de hoje são drogados", ou "quem você pensa que é para dizer que os jovens são drogados?", ou tipo "nada a ver, as pessoas pensam que a jamaica só tem maconha", ou ainda "Bom marley e maconha, a Jamaica é mais que isso!". Esses foram comentários reais que eu recebi( não no fórum, pessoalmente), de pessoas que não entenderam o meu texto.

É, sou chato assim mesmo. :cool:

Mas dou um prêmio a quem relacionar a Jamaica a uma certa cidade.

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Jamaica
Rodrigo Sax van Kampen



Uma menina de não mais que vinte anos, blusa azul do mickey, calças em estilo militar, cabelos escuros e longos sob uma boina. A rua desapercebida, a calçada de concreto nu, as roseiras de um vizinho, o poodle latindo desesperadamente para a estranha absorta.

Lua sonha em ir pra Jamaica

Três Bob Marleys ao som de Bob Marley, camisetas com a bandeira da jamaica, verde azul vermelho laranja rosa verde. A folha de maconha feliz, reggae, pequenos bracinhos folhosos agitados.

Lua nunca fumou maconha. Ela sempre quis fumar maconha mas tem medo de ficar viciada.

O cachorro de rua pela calçada sem direção e com destino certo.

O seu nome é Samantha. Mas ela nunca gostou desse nome. Começou a se chamar de Lua quando abriram uma comunidade hippie na cidade e era moda... Ela nunca foi lá.

A carteira escolar, uma aluna entediada, o vazio. A lousa grande com algumas coisas inteligíveis, o relógio na grande parede branca. Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac. Tac tic tac tic.

Lua vai às aulas todos os dias, à noite. Entrou em Administração... Não sabe o que quer cursar.

O campo de golfe, um buraco de golfe, uma bola de golfe, um taco de golfe, uma mão de menina, uma tacada, a rolada, o erro. Uma bola de golfe, um taco de golfe, uma mão de menina, uma tacada, a rolada, o acerto.

Ela costumava jogar Golfe com o Pai. Mas ele trocou o Golfe pelo Tetris.

A grama de um campo de golfe, a areia do campo de golfe, o campo de golfe, o cercado do campo de golfe.

Lua continua vindo aqui para relaxar. Ela nunca passou do buraco sete... Nunca teve paciência...

O balanço, o parquinho, areia, crianças, gira-gira, escorregador trepa-trepa. Um jovem com violão, uma baladinha, duas moças com sorrisos, dois rapazes alegres. Um aceno.

Uma menina acenando sem graça, a recusa, um passo, outro passo. Um parquinho distante. Um passou, outro passo.

Luzes coloridas. Maconha gigante. Bob Marleys ao som de Bob Marley.

Deveriam inventar uma droga que não vicia... Lua é feliz na Jamaica.



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Mensagempor Lobo_Branco em 30 Ago 2007, 22:00

Já tinha lido esse conto na antiga spell. Na época não comentei, por achar que não adicionaria nada. Bem, continuo achando que não vai adicionar nada, porém, desta vez irei tecer minha opinião.

Gostei muito, gostei da protagonista, do clima onirico, despojado, das descrições leves, soltas. O texto parece ter cor, ritmo, é quase sonoro.

Apesar da referência, não consigo imaginar alguém vendo esse texto como uma forma de dizer que jovens são drogados, ou uma redução da Jamaica. Sincera mente, quem lê e tem essa idéia, não leu realmente.

Claro, eu posso estar errado, tvz o texto nada tenha haver com uma garota "no ócio", com ânsias de viver a vida, com uma bela imaginação e presas a certas amarras sociais. Mas mesmo estando errado, não consigo imaginar alguém limita-lo aos comentários que pediu para não serem feitos.

Outra coisa que me veio a mente, tvz por ele estar associado a uma animação, foi o clipe de Gil, onde ele cantava Three Little Birds. Clipe que eu acho muito massa. :b

Bem, acho que é só isso. Sinceramente, espero ver mais de seus textos por a cá, assim como sempre espero pelos seus comentários - são de extrema utilidade para escritores que anseiam em evoluir.

Abraços chefe, até mais ver!
"— Nós também éramos crianças, e se eles nos deixaram órfãos, os deixamos sem filhos."(

Óglaigh na hÉireann)


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Mensagempor joao-aragorn em 31 Ago 2007, 13:51

Sax, meu caro, há quanto tempo!
Bom, o conto ficou realmente bem "sonhado", dá pra sentir o clima realista de cosias nunca realizadas e sonhos feitos de material reciclável. Honestamente, quem se ofendeu com o conto não pegou o espírito da cosia. O conto poderia se chamar Amsterdã e falar sobre N outars drogas e mesmo assim não seria estereotipação nem nada do tipo.

Bom conto rapaz, espero ver mais coisas suas por aqui
até
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Mensagempor Lanzi em 02 Set 2007, 17:45

Eu tenho o texto aqui no meu computador e já comentei ele no seu blog, pelo que eu me lembre.

Vai o palpite: é Amsterdã?
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Mensagempor Dahak em 03 Set 2007, 22:45

Hello, Sax!
Ter sua presença por aqui é um enorme prazer.

Esse trabalho que marca seu retorno difere bastante daqueles que estamos acostumados. Difere bastante mesmo.

Interessante notar que você tem várias habilidades, várias formas de se expressar. E normalmente se sai bem em todas elas.

Eu juro que gostaria de entender cada minúcia que você escreveu, mas receio não ter conseguido =/

Achei a forma de construção muito peculiar, com frases curtas, com algumas repetições (talvez ênfase) em trechos como o do campo de golf e do relógio. Não sei bem o que achar. Ás vezes pensei que fosse uma interpretação de alguém que viva essa realidade ou que convive com ela. Outras vezes pensei que poderia ser uma espécie de crítica amena. E nos pensamentos mais estapafúrdios, achei que pudesse ser um jogo de advinhação, lol.

Não nego que pensei que poderia ser um pouco de cada, ou que fosse nada disso.

Palpite de cidade?
Nenhum. Mas talvez uma megalópole qualquer.

Sax, tou super ansioso para ouvir de você explicações a respeito ;)
Fiquei bastante intrigado.

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Mensagempor Saxplr em 04 Set 2007, 13:56

Lobo_Branco escreveu:Gostei muito, gostei da protagonista, do clima onirico, despojado, das descrições leves, soltas. O texto parece ter cor, ritmo, é quase sonoro.

Acho que ritmo é a palavra chave neste conto. O problema é que ele ainda depende muito do "narrador", as frases em negrito, o ideal é que o que está escrito ali fosse passado só com imagens.

joao-aragorn escreveu:Bom, o conto ficou realmente bem "sonhado", dá pra sentir o clima realista de cosias nunca realizadas e sonhos feitos de material reciclável.

Essa é a essência do conto. Coisas não realizadas, sonhos fracos, ausência de perspectiva. Nós somos de uma geração sem sonhos, sem grandes perspectivas. Não falo isso em tom de crítica, é apenas uma observação. Precisamos nos apegar a outras coisas mais particulares, cada um de nós, pois não temos o chamado "sonho da geração".

Lanzi escreveu:Eu tenho o texto aqui no meu computador e já comentei ele no seu blog, pelo que eu me lembre.
Vai o palpite: é Amsterdã?

Não é amsterdã... MAs obrigado por passar por aqui!

Dahak escreveu:Esse trabalho que marca seu retorno difere bastante daqueles que estamos acostumados. Difere bastante mesmo.
Interessante notar que você tem várias habilidades, várias formas de se expressar. E normalmente se sai bem em todas elas.


Na verdade faz mais de um ano que eu estou nessa fase "experimental". Na verdade desde que comecei a escrever o meu livro, de fantasia, um "chão firme para eu pisar", tenho escrito contos bem diferentes do estilo, experimentando linguagens e formas. Mais para desviar minha mente daquele estilo "particular meu".

Eu discordo que saia bem em todas elas. Apenas escolho a dedo o que publico, que nem é tão bom assim. :cool:

Dahak escreveu:Ás vezes pensei que fosse uma interpretação de alguém que viva essa realidade ou que convive com ela.

Bom, ambas as coisas. Embora eu ache que tenha um pouco mais sorte que a protagonista da história, (Eu ainda tenho sonhos de me tornar um escritor), faço parte desta geração que descrevi acima. E muitas vezes tenho a sensação de que o mundo passa à minha volta sem que eu consiga aproveitar, ou ao menos me segurar em algo.

Mas convivo com pessoas em situação pior que a minha. Na minha sala, entre os meus amigos, conheço pessoas sem perspectiva nenhuma. Que vão apenas vivendo um dia após o outro. Pessoas que até gostariam de emprestar uma ideologia mas não conseguem se apegar muito a ela.

Eu sei que estes meus comentários são um bla bla blá que eu mesmo odeio ouvir. Acho que cada um sabe o que vive ou o que deixa de viver. Mas são alguns pontos para entender melhor o texto.

E por fim, ninguém adivinhou a cidade. Acho que está faltando literatura para este povo! :roll:
A cidade é Passárgada. Referência batante direta.

Abraços, e muito obrigado a todo mundo que leu e aos que comentaram!
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Mensagempor Dahak em 07 Set 2007, 14:11

Sax, experimentar é sempre bom. Ás vezes descobrimos aptidões que não conhecíamos ou um gosto maior do que imaginávamos por aquilo ou aquilo outro.

Sax escreveu:Eu discordo que saia bem em todas elas. Apenas escolho a dedo o que publico, que nem é tão bom assim.


Bom, se você diz, lol
Mas ainda prefiro acreditar que você se sai bem em todos :P
Ao menos nunca tive prova do contrário!
;)

Olha, fico feliz em ouvir que ainda sonha em ser escritor. Sonhar é o primeiro passo para se conseguir algo. :)

Tais comentários sobre a realidade que fulano, ciclano, você , eu ou qualquer outro vive podem ser desgostosos mesmo. Mas de vez em quando não tem como fugir. E acho que todos nós, ao menos uma vez, pensamos que não conseguimos aproveitar o mundo, a vida ao nosso redor. Mas ao meu ver, em minha realidade, antes ter essa sensação "incompleta", que faz com que busquemos aproveitar o próximo dia melhor do que foi o passado, do que se atenuar por entre, sei lá, minha Passárgada. Ou do que achar que está tudo sempre bom.

E olha, acho que nunca acertaria a cidade, hauahauahaua
Perdi todas as aulas no cursinho referentes a tal (lembra, Joe?) e não fazia muita coisa nas minhas aulas de literatura no colégio durante o primeiro e o segundo ano. Não justifica meu desconhecimento, mas enfim, lol, explica =P

Abraço!


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Mensagempor Madrüga em 23 Set 2007, 15:00

Sax, a descrição da geração sem perspectivas é bem acertada, mas a linguagem não é lá o primor desse conto. Como você mesmo disse, é um roteiro "adaptado", mas nem parece adaptado, parece ali, ipsis litteris. Ausência de verbos, de figuras... Estamos numa época em que os textos escritos cada vez mais têm esse caráter "cinemático" de se trabalhar diretamente com imagens e pouco com recursos de narração. Parece que hoje em dia já se escreve tudo preparando uma adaptação de cinema.

Talvez sim, seu texto ficasse melhor em forma de imagens. Um curta, uma animação. A mensagem seria veiculada de modo mais eficiente com o tipo de recursos que você tentou utilizar e que, sinceramente, não têm um caráter tão experimental assim, a menos que se trate de experiência pessoal sua.

Sinceramente? Não gostei. Achei a questão óbvia e um pouco superficial, aliada a essa linguagem que não cola, não tem muito nexo. Parece mesmo um texto de internet. Quer dizer, o espírito da nossa época é vazio mesmo, é existencialista: talvez a questão merecesse um tratamento mais trabalhado.

Abraço!
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Mensagempor Saxplr em 24 Set 2007, 22:19

Seu Madruga,

Quando disse que o conto era experimental, estava me referindo a experimentações minhas mesmo. É de uma fase que eu estava testando outros formatos, tentar escrever em estilos um pouco diferentas ao meu.
Cocordo com você que a questão merecesse um tratamento mais trabalhado. e que o texto ficou superficial. Aliás, essa é a minha maior auto-crítica, mas a verdade é que não quis me dedicar tanto ao assunto e a esse texto..
Eu poderia ainda falar que a falta de profundidade acerca da questão é uma metalinguagem a respeito da falta de profundidade nas discussões da juventude, e que "parecer linguagem de internet" é uma forma de eu aproximar o texto à forma... Mas isso seria um blá blá blá de enrolações e explicações que nem eu mesmo concordo...

Grato pelo comentário!
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