Esse seria o ultimo conto para fechar uma sequência de textos.
O Primeiro foi Escarlate e Negra.
O Segundo foi Escritos Por Dedos Tortos.
O Terceiro é Um conto que tem muito para se terminar.
O Quarto foi Inqueritos da Morte.
E o Quinto e ultimo é Esse, 212.
Todos os textos viriam as ser algo para se ver por pontos vista diferentes de alguma forma, esse não é diferente.
Baseado em um cena real.
Boa leitura.
212
Respirou fundo e se jogou na sua cama do jeito que estava - calças jeans cheirando a vodka, camisa branca fedendo a cigarro e tênis preto, todo molhado pela chuva que caia do lado de fora da janela. A luz ainda estava ligada, não iria desligá-la, sabia que logo iria se levantar e tomar um banho. Olhava aquele teto tão conhecido, com todas as linhas tortas já concertadas. Sua mente havia parado ali, naquele momento infortuno que olhou para a cobertura de seu domicilio, mas seu coração ainda estava pulando.
Passou os olhos no criado mudo e viu seu aparelho de mp3, não pensou duas vezes em puxar os fones e colocá-los. Ligou-o rapidamente, e ficou escutando a musica enquanto olhava para o teto tão notório.
Sua mente parada ali, naquele pensamento grotesco. Sua visão parada naquela imagem tão transparente. Sua audição girando entorno que um ritmo variado, de tons e amplitudes diferentes. Seu tato havia encontrado algo diferente no bolso de sua vestimenta defumada, pelo ríspido odor da nicotina.
Aquele papel que se encontrava no único bolso de sua camisa. Aquele pedaço de celulose marcado em tinta preta. Os três dígitos escritos pela matéria tingida, no realce do preto e do branco, marcados em um papel de guardanapo. Aqueles números eram de maneira estranhos, pareciam ter profundidade na escritura do papel branco. Os números se misturavam e se repetiam. Colocou o papel sobre o peito, como se este sangrasse de sua pele. Como se fosse uma perfuração em seu tórax, atravessando seu coração.
Deitado ali, na cama de seu quarto, olhando para o teto, escutando musica, com sua boca aberta, com um papel sobre o peito. Assentado ali, com seu espírito incansável, o qual quer descansar. Estirado ali, com seu corpo morto, querendo se levantar. Estendido ali, com sua mente apagada, querendo tornar a se iluminar.
Piscou, pela primeira vez, mostrando que seu corpo ainda estava vivo. Piscou, pela segunda vez, fazendo sua mente desviar o foco. Suavemente sua mão abriu para pegar o papel que descansava em seu peito, e colocá-lo na mesa ao lado da sua cama.
Desligou a musica. Levantou de seu prevê túmulo. Colocou os pés no chão e aos poucos foi se despindo enquanto se dirigia ao banheiro. No caminho de sua cama até o chuveiro deixava as roupas como um guia para poder voltar. Sua mente rezava para que um corvo viesse roubar-lhe as roupas, e que o caminho para sempre estivesse perdido.
Ligou a ducha e esperou a água esquentar. Como se o vapor da água lhe revivesse, colocou seu corpo sob a água, deixando que o solvente levasse embora o veneno que invadira seu corpo. Aos pouco seu animo voltou, como se o espírito inquieto acabasse com o silêncio de sua alma. Talvez sua mente também precisasse de um banho.
Desligou o chuveiro, e por rotina pegou a toalha verde que estava estendida ali por perto. Seus olhos se fechavam por cansaço, enquanto suas pernas se dobravam de cansadas. Aos poucos seus pés foram se arrastando até seu leito, onde sua mente o levava.
Ali naquele quarto conhecido, sob o teto amistoso, e sobre sua tumba matinal, sentou-se. Olhou para o papel que atormentava sua mente, corpo e espírito. Pegou uma caneta negra que se mantinha quase intocada, e escreveu no verso do papel o numero “100”. Deitou-se sem roupa alguma e dormiu sabendo que agora corpo, mente e alma, poderiam descansar sem remorso.