O Homem, O Tempo e A Morte
Homem
Onde estou? Porque tudo está parado?
O céu negro sobre minha cabeça. Prédios e pessoas cinzentas ao meu redor. Sangue espalhado pela calçada e pela rua. Carros cobertos por uma ligeira camada de cinzas. De onde? O que aconteceu?
Tento me acalmar. Levo as mãos à cabeça e sinto meu cabelo molhado. É sangue. Sangue em minhas roupas e em meu corpo.
Olho ao redor, procurando lembrar onde poderia ter me machucado, confuso por não estar sentindo dor. Arrisco-me a ficar de pé, mas minhas pernas não obedecem. Confuso, constato facilmente que estão quebradas, pelos ossos expostos.
Senti como se o ar fugisse de meus pulmões.
Vejo o céu moribundo, de profundo e fétido vermelho.
Sombras que um dia foram. Sombras que um dia serão. Mas porque apenas eu estou vendo isso? Porque apenas eu pareço estar vivendo isso?
Ouço o tique e taque de um relógio, a princípio baixo. Assustado, tento encontrar a direção do som. Parece vir do beco do outro lado da rua.
Deve ser um relógio muito barulhento para que eu o esteja ouvindo daqui...
O bater de asas de um corvo me rouba a atenção por um momento. Meu coração dispara dolorosamente, minha pele empalidece com o susto. Vejo a agourenta ave pousar na beirada de uma janela e ela é enorme. Por um momento me pergunto o que será que deram para ele comer...
O som do relógio está mais próximo. Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando vejo aquela sombra parada onde há pouco não tinha ninguém.
Veste um longo manto, daqueles que só se vê em filmes de idade média. Não consigo ver seu rosto por baixo daquele capuz descorado, apenas o relógio que pende amarrado em sua cintura e uma ampulheta grande carregada sobre o que deve ser sua mão.