E encontraram isso:
"Não é mais a mesma coisa, fazem 5 anos, 4 meses e 18 dias que não é a mesma coisa.
Foi até engraçado ver a expressão da enfermeira quando eu corri na direção oposta ao berçário quando ela disse que era uma menina. Fui para o estacionamento e tratei de sair daquele lugar. Nunca gostei de hospitais.
O que me traz pra cá, na verdade, é a consciência de que as coisas não vão voltar a ser como foram. Me angustia saber que minha vida é na verdade uma sombra da vida que eu imaginara pra mim. E eu acabaria rejeitando minha filha, mesmo que indiretamente. E isso aconteceria simplesmente porque ela é fruto não de um amor, mas de uma conveniência. Vocês sofrerão porque fui covarde ao aceitar tal destino, ao me entregar aos braços de uma mulher que é boa, mas não me toca a alma. Esperando que o carinho e respeito que tenho por ti se transformassem naquilo que eu tanto ansiava ter.
Mas não!!! Eu deveria ter aceitado os fatos. Deveria ter enxergado que desde o princípio eu não teria contato com o amor que eu quero pra mim. A esperança de que essa filha fosse me trazer conforto e alegria se mostrou infundada hoje. Ela é o retrato do meu fracasso. Olhar para ela seria terrível.
Mas vocês duas não merecem sofrer com isso. Perdão. Perdão.
Sei que é tarde para não causar nenhum mal ou mágoa. Mas dos males, o menor. E pensando nisso que decido acabar com tudo isso de uma vez por todas.
Dia 5 vence a conta da luz. Não esquece."
E depois de apertarem o taxista que trouxe o bilhete, descobriram que João havia tomado um vôo. Só Deus sabe pra onde. Nem mãe, nem esposa, nem ninguém nunca mais ouvia falar dele. Imaginam que ele esteja na Áustria.
E a menina se chama Dolores.