Piratas de Supermercado

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Piratas de Supermercado

Mensagempor Speranza em 02 Mar 2008, 00:13

Parte 1 de 2

Entrou, enérgico, um jovem casal de mãos dadas, através da porta automática de vidro do supermercado. O lugar era uma meca do consumismo, fileiras monótonas de caixas registradoras, pilotadas por atendentes entediadas, em marcha alfandegária, luzes coloridas refletidas em chão polido, pessoas indo para lá e para cá, seguindo banais listas de compras como roteiros turísticos. Eles sorriram um para o outro: eles não estavam ali para isso.

Pararam, respiraram fundo, e correram em direção aos carros de compras que se esparramavam ao lado da entrada, como as ossadas de um ser marinho encalhado. Ficaram alguns minutos procurando cuidadosamente um carrinho específico, o velho 55, amigo de longa data, companheiro de muitas aventuras. Encontraram-no largado, solitário, manchado pelo tempo, juntas enferrujadas e rodinhas engasgadas. Ele trazia tantas boas memórias... eles deviam isso a ele.

Ela subiu com um pulo, rindo, e enquanto os pneus do carrinho pigarreavam na primeira curva, seguiram rapidamente por entre os corredores. Os demais compradores reagiam das mais variadas maneiras, pulavam para longe, assustados, outros balançavam a cabeça, pesarosos, questionando o ponto onde o mundo havia chegado. O jovem casal não se importava, esquivava-se displicente e resoluto. A garota, com um brilho sem fim nos olhos e os cabelos a esvoaçar, tirou um papel amassado e quadrado dos bolsos.

Enquanto o garoto, de cabeça erguida, empurrava o velho 55, a garota apontava direções como uma capitã. Seguiram estabanando-se para a seção de frutas, parando em frente a um estande de melancias. Ela saltou e ajudou-o a colocar uma inchada fruta dentro do carrinho. Depois, seguiram para a parte de ferramentas, onde pegaram dois martelos em embalagens de plastico e uma caixa de pregos. Aproveitaram que já estavam por ali, pegaram mais ou menos um metro de corda e o amarraram ao redor da melancia, como se a tivessem laçado.

Dali seguiram para o outro lado do supermercado. Uma senhora, barbarizada, deixou escapar uma interjeição obsoleta. O carrinho se enchia com mais e mais coisas, saquinhos com garfos de plástico, garrafas transparentes de água mineral, embalagens de biscoito altamente vitaminados. Pegaram uma das vassouras que dependurava-se de uma prateleira, e, colocando-a em pé no carrinho, prenderam ao fim da sua haste um lenço preto com um caveira, para que nenhum outro carrinho confundisse suas intenções. O 55 sorriu, banguela, em silêncio.

A segurança já percebia a comoção dos fregueses, e já estava muito atenta aquele casal que navegava através do mar de mercadorias como conquistadores em um maremoto. Porém, tinham recebidos ordens, desde que os dois tinham entrado e escolhido o carrinho mais antigo de todos, de esperar. Então, eles seguiam, adicionavam cada vez mais coisas. Atrás das indicações do pequeno mapa rabiscado, lançavam-se aos itens como salva-vidas mergulham aos afogados.

Encontraram uma tábua de passar, a imprescindível prancha, e mais suprimentos, lasanhas de microondas, óleo de cozinha e sabão. O carrinho, ancião, foi ficando pesado, arqueando corcundamente, e então a garota pulou fora dele para ajudar na tração. Escolheram, de forma ruidosa, uma enorme bóia colorida, aborrecendo um homem sério que estava ao lado no momento. Eles a colocaram entre risos abafados sobre a pobre melancia, que parecia não estar aguentando tamanha maratona em toda sua inflação.

Todo o supermercado já havia disfarçadamente parado para observar a intensa gincana. As famílias tentavam fingir que nada estava acontecendo, mas quando os dois jovens passavam por perto, matraqueando alto, orgulhosos, não era possível evitar. Nesse ponto, o carrinho já estava muito pesado e eles o empurravam com alguma dificuldade. Quando nele colocaram uma bolsa plástica, cheia de latas verdes e metálicas de pasta de atum, perceberam que o velho Número 55 já não suportava mais. As pessoas ao redor, vendo o sofrimento do carrinho, esperavam que eles finalmente terminassem suas compras, contudo eles estacionaram-no próximo a uma pilha de papel higiênico, retiraram com grande dificuldade a melancia amarrada, e, para a surpresa de todos, largaram-na ao chão, fazendo-a explodir com o impacto. Eles sabiam do que ele era capaz.
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Mensagempor Lady Draconnasti em 02 Mar 2008, 01:49

Lol

Bem frenético.

A princípio, me pareceu que se tratava de um casal de crianças, mas sei lá... não sei se crianças pegariam metade do que eles pegaram.
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Mensagempor Speranza em 02 Mar 2008, 19:14

A intenção foi bem essa, bom saber que você achou frenético, Lady!

Já algo totalmente não intencional, mas não menos totalmente legal, foi o fato de você ter achado que se tratavam de duas crianças. :D Gostei disso!

Muito obrigado, posto a segunda parte (que já está pronta) em breve!
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Mensagempor Jefferson em 02 Mar 2008, 22:58

Heya!

Gostei do texto.

Bem escrito e bem fluído.

Mas ao contrário da Lady não achei tão frenético. O início dele me fez imaginar uma coisa altamente monótona, só da metade pra la que realmente passa a impressão.

Ótimo! Parabéns!
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
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Mensagempor Elara em 03 Mar 2008, 16:47

Nhaaaaaa...

Speranza,

Nada de frenético. O conto me pareceu deveras nostálgico, como quando nós, já com quarenta e poucos anos, nos jogamos na lama para lembrar como é bom reviver a infância/adolescência, se é que me entende...

Chero!
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Mensagempor Speranza em 03 Mar 2008, 20:39

Oba, comentários!

Jefferson, muito bom saber que você achou essa primeira parte do conto bem escrita e fluída! Os dois primeiros parágrafos não são mesmo muito frenéticos: um descreve a chatice do supermercado e o outro remete ao passado do Número 55. Nos outros eu tentei acelerar o ritmo! Tem muitos parágrafos ainda devagar?

Elara, legal saber que você não achou frenético! Eu queria saber como posso "acelerar" o texto, fiquei com a sensação que a versão final talvez tenha ficado mais lenta do que queria. Você tem alguma sugestão para deixá-lo mais rápido? Talvez editar mais ferozmente os parágrafos, utilizar menos figuras de linguagem para deixar o texto mais descritivo e dinâmico, talvez? Estou totalmente aberto a sugestões, e não sou facilmente magoado! Podem mandar ver! :)

Abaixo segue a segunda parte dele!
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Mensagempor Speranza em 03 Mar 2008, 20:43

Parte 2 de 2

Com a âncora lançada, continuaram a perseguir mais coisas, agora a pé. Clipes de papel, caixas de bombons, folhetos, guardanapos e pacotes de pilhas. Seguiu-se o saque sorridentemente, até que uma das pilhagens, posta no topo da grande e torta pilha de coisas, fez o monte bambolear, estremecer... mas não cair. O mercado pareceu suspirar de alívio. Um olhou para o outro, então, e com expressões satisfeitas e grande esforço e cuidado, recolocaram a melancia sanguinolenta a bordo e foram empurrando o carrinho sobrecarregado até as caixas registradoras.

Todos abriam caminho. Alguns não podiam conceber qual seriam os objetivos e os destinos de tão variados objetos. Agora o carrinho parecia uma gigantesca lesma, arrastando-se com um peso gigante nas costas e deixando pra trás um rastro de baba de melancia, no qual os dois, divertindo-se, tentavam não escorregar. Quando finalmente chegaram até a caixa, as filas se desfizeram, todos olhando arregalados para aquele monstro em forma de monte de compras.

A operadora da caixa, uma aprendiz, dizia o crachá, engoliu em seco e se apavorou com a quantidade de coisas. Todos olhavam curiosíssimos. Lá foi ela, passando com mãos vacilantes cada um dos estranhos itens, um atrás do outro, pela maquininha detectora de preços. O supermercado interrompeu suas atividades para assistir a contagem. A tensão era tão grande que os apitos da máquina de preços pareciam o pulso de um eletrocardiógrafo.

Depois de muito tempo, o último item da lista foi passado, a estraçalhada melancia. Uma equipe de ensacadores já tinha se preparado para guardar as compras dos dois em outros carrinhos do lado de fora. O valor total da compra, no fim, brilhou em vermelho numa cifra de três algarismos. Colocaram, então, as mãos nos bolsos de suas calças jeans, e puxaram interiores brancos e vazios para fora. A operadora da caixa ficou imobilizada. Ninguém sabia o que fazer. Silêncio. Os dois olharam entre si, com sorrisos enigmáticos. Os ensacadores, imóveis.

Até que alguém, um outro cliente qualquer, ergueu uma nota. Uma nota pequena, amassada. Ele deu essa nota para seu filho, e o pequeno correu para entregar para o casal. Duas senhoras viram o gesto, e o repetiram, dessa vez com uma nota mais alta. Como uma onda, as pessoas, simpatizando com os dois, como se soprados pelo espírito da juventude, se aproximavam com moedas sortidas e pingadas, notas amassadas, trocos mal arredondados. Quando eles menos esperavam, estavam com o suficiente, na verdade, tinham até mais!

Quando eles estapearam o dinheiro sobre a mesa, a caixa, agora com um sorriso tímido no rosto, contou moeda por moeda e efetuou a compra. Uma salva de palmas explodiu como uma chuva de fogos de artifício. As mercadorias, não enfiadas nos sacos, foram recolocadas no carrinho, exatamente como estavam. Passaram com o carro através das caixas registradoras e estavam descendo a rampa de saída do supermercado quando uma voz chorosa no alto-falante soou: “Boa Viagem 55”.

Com o mercado acenando adeus, eles seguiram, pra sempre, em alto mar.

(Dedicado à Nayara.)

Quem preferir ler em PDF, eu coloquei esse conto no meu 4shared: http://www.4shared.com/file/39577540/57 ... rcado.html
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Mensagempor laharra em 04 Mar 2008, 02:41

Cara, esse conto me roubou uma risada no final. Uma risada de alegria, sabe? Muito boa a forma como você fechou o texto. Um dia desses estava conversando com uma companheira aqui do fórum sobre a ilusão dos finais felizes, mas você me pegou desprevenido e eu sorri. Acho que essa era a sua intenção. :cool:

Li tudo de uma tacada só. O texto flui rápido. Para mim foi frenético (como já foi citado), tudo uma grande aventura. Me lembrou uma crônica que escrevi há alguns anos, mas o seu texto foi muito mais criativo.

Abraços e obrigado pelo bom momento, Speranza.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
http://www.spellrpg.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1067
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Mensagempor Speranza em 04 Mar 2008, 06:50

laharra, eu acredito que um sorriso sincero é toda recompensa que alguém pode querer, é o prêmio máximo que um escritor (ou desenhista, ou músico) pode esperar. Então, se eu consegui fazer você rir, isso me faz muito contente.

Eu também tenho um outro credo quanto a finais felizes: se você se permitir, tudo vai acabar bem (pelo menos em contos). Eu já escrevi algumas histórias, e dessas que tem fim (que eu me lembre, só essa e a Triunfo da Vida), as duas terminam bem. Interessante isso, porque eu me considero uma pessoa de pensamentos negativos.

Muito obrigado pelo elogio de que flui rápido e de que é frenético. Fiquei curioso quanto a sua crônica, você ainda a tem?

Obrigado pelo bom momento! :)
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Mensagempor Lady Draconnasti em 04 Mar 2008, 12:22

Nuss

Não esperava por esse final! Foi divertido, leve... E a parte que eu achei mais interessante foi a cena do caixa, onde todos terminaram solidários ao casal (e ao carrinho 55) e ajudaram a pagar.
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Mensagempor Elara em 04 Mar 2008, 14:12

Speranza,

Sobre como deixar um texto mais frenético, bem, minha especialidade não é exatamente textos frenéticos, e sim textos lentos, mas penso que, quanto mais descrições tiver um texto, mais difícil deixá-lo bem dinâmico. Claro, tudo é uma questão de prática.^^

A segunda parte me soou bem utópica. Foi um final bonito. Parabéns.

O conto teve alguma inspiração em experiência real?

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Mensagempor Speranza em 04 Mar 2008, 16:00

Lady Draconnasti, eu curto muito o final também. É bom ver alguma coisa terminar bem de vez em quando! :)

Elara, a segunda parte é bem utópica sim. O conto foi baseado em um sonho meio louco que tive, esse por sua vez baseado provavelmente numa visita que eu fiz com a minha namorada a um supermercado. O sonho original não tem fim (como a maioria dos meus sonhos), então eu tomei a liberdade de terminá-lo como eu faria se fosse o diretor.

Obrigado às duas pelos elogios e comentários!
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Mensagempor Corvo da Tempestade em 04 Mar 2008, 16:08

Muito bonito o conto.

Sabe? já fazia um tempo que não via um "happy end" :victory:
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Mensagempor laharra em 04 Mar 2008, 22:36

Speranza, depois me manda uma MP com seu e-mail que eu te mando a crônica. E esse texto Triunfo da Vida está aqui na Spell? Depois vou ver se procuro. Se não tiver, eu te passo meu e-mail depois. Flw.
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
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Mensagempor Cyrano em 07 Mar 2008, 10:01

Speranza, meu caro!

Parabéns pelo conto. Além do sorriso, senti-me um pouco emocionado com o final da crônica. A ajuda dos espectadores e o anúncio do alto-falante...

Parabéns!
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