Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 01 Mar 2008, 17:55

Olá a todos.

Durante as últimas duas semanas escrevi um conto e hoje terminei. Já foi revisado e já está pronto para ser mostrado a todos vocês. Ele ficou um pouco grande e por isso dividi em 4 partes, sendo que hoje estou postando a primeira.

O conto se passa no Japão e eu coloquei alguns elementos culturais japoneses no conto, para dar um pouco de arte para a história. Depois de colocar as 4 partes eu explico alguns desses elementos que coloquei, para os que possam não entender. De qualquer maneira, não prejudicarão a leitura. E peço desculpas também por quaisquer inconsistências que possam existir no texto. O conto tem uma pequena introdução, citando Stephen King, mas nada que seja muito importante na história. Só porque achei legal mesmo. Enfim, espero que gostem, porque foi feito com muito, muito carinho. Leiam e comentem.

Flw!

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Koji e a Flor de Cerejeira

Alex de M. Machado




Mas ka é a roda à qual todos nós estamos amarrados e quando a roda gira temos de forçosamente girar com ela, primeiro com as cabeças erguidas para o céu, depois girando de novo para o inferno, onde os miolos dentro das cabeças parecem ferver.

A Torre Negra VII – A Torre Negra
Stephen King



Parte Um
Boa noite, durma bem e cuide-se


O tempo nublado e álgido de uma época que estava mais para fim de inverno que para início da primavera combinava impecavelmente com os acontecimentos que iriam se suceder nos próximos nove meses. Uma tempestade de pensamentos rondava sua cabeça e o levava para longe do frio, do vento, da noite que se aproximava. O mundo a sua volta estava agora em segundo plano. Não percebia nem a forte ventania jogar seus cabelos negros por cima do rosto, tapando toda sua visão.

Ele estava já há quinze minutos ali parado, há poucos metros da cabana que ele havia ajudado a construir no verão passado. Não sabia quando nem se algum dia veria novamente essa cabana e quem estava dentro dela. E tudo por causa da maldita guerra. Por que ele precisava ir? Por que a guerra havia de existir? Se não fosse pela guerra, tudo seria melhor. A vida seria perfeita. A paz seria eterna, pelo menos para ele.

Foi obrigado a rir. Conhecia muito bem a si mesmo para perceber sua mania de sempre colocar a culpa nos outros. Ele não sabia muito bem que se realmente quisesse poderia fugir com sua amada e viver feliz para sempre? Mas, então, por que não o fazia? Nem ele mesmo sabia. Ou talvez soubesse e escondesse de si mesmo.

Deu mais alguns passos e chegou à frente da singela porta da cabana. Do que adiantava ficar pensando em todas essas coisas agora? Estava com saudades dela. Oh, e como! Ela ouviu seus passos e veio abrir a porta. Estava linda, como sempre. Ele a abraçou com tanta paixão que pensou se não estaria asfixiando-a. Sentia seu perfume, sua testa se encaixando perfeitamente embaixo do seu queixo e sua respiração aquecendo seu pescoço. Além de seu coração quase sair pela boca, tudo o que ele sentia era uma vontade quase insuportável de beijá-la.

Mas ela se desvencilhou dele antes que ele pudesse mexer um músculo. Quanto tempo ele havia ficado ali imóvel? Parece ter sido uma infinidade. E nem por isso parece ter sido o suficiente. Ela o pegou pela mão suada e o levou para dentro. Deitaram-se ao lado da lareira sem se desgrudar e ficaram ali abraçados por muito tempo antes que algum deles dissesse qualquer coisa.

Ambos estavam serenos, com olhares distantes. Como ele queria acabar com tudo isso e fugir com ela. Por que não? É claro que ele sabia o porquê. Preocupava-se com sua imagem diante de sua família e de todos do vilarejo. Apenas isso. Mas, ela não era mais importante que todos eles unidos? Será que ela estava pensando nisso também? Será que estava se perguntando também a razão de ele não ter fugido com ela ainda? Será que ela se perguntava se realmente ele a amava?

“Eu a amo”, disse ele falando pela primeira vez, quebrando o silêncio.

Ela olhou nos seus olhos, sorriu e começou a acariciar seus cabelos.

“Também o amo.”

Ele aproximou mais seu rosto do dela, deu um beijo na ponta do seu nariz, subiu um pouco e deu outro na sua testa. Ficaram ali em silêncio mais algum tempo, até ele se levantar.

“Não, fique mais um pouco. Ainda está cedo.”

Ele a princípio nada disse. Ficou de frente para ela, olhando-a deitada no chão.

“Já anoiteceu há muito tempo”, disse ele com toda sua mágoa estampada no rosto.

“Está bem”, respondeu ela, e também se levantou. Foi até a porta e a abriu. Tinha chegado a hora e as lágrimas começaram a cair. Porém, sorria. O sorriso bobo que ele tanto amava. E mais uma vez a impressão foi de que o tempo ali juntos havia sido insuficiente. O tempo passou, voando mais rápido que o vento lá fora. E agora já estava na hora dele partir.

Passou pelo umbral da porta e virou-se para um último beijo. E foi o menos memorável dos beijos. Ele tentava não olhar para seu rosto, porque odiava vê-la chorando, e ela mal conseguia suportar a partida daquele homem que ela conhecera ainda menino e que era, acima de tudo, o maior amigo que ela já havia tido ou que ainda teria nessa vida, independente do que o destino estivesse guardando para os dois.

Acariciou os cabelos dela uma última vez. Última vez em quanto tempo? Ele esperava que em muito pouco tempo.

“Boa noite, durma bem e cuide-se.”

“Você também”, respondeu ela enquanto ele limpava suas lágrimas com o polegar.

Enfim, virou-se e foi caminhando pela estrada, sem olhar sequer uma vez para trás para ver se ela ainda estava na porta. Não queria guardar a imagem dela chorando, e sim a imagem dela sorrindo deitada com ele. De todas as vezes que ele havia ido à sua cabana, essa fora de longe a visita mais silenciosa. E de fato não havia muito que dizer. Ambos já tinham pleno conhecimento de toda a situação e já aguardavam por aquela despedida há semanas. Mas, sempre havia uma esperança de que tudo fosse se resolver e de que ele não fosse convocado a ir para a guerra.

Estava apreensivo enquanto caminhava pelo caminho. A lua já estava alto no céu e nuvens passavam por ela em grande velocidade, tapando sua luz e escurecendo a estrada de vez em quando. O vento ainda estava forte, mas agora batia de frente no seu rosto, jogando os cabelos para trás, como se quisesse dizer para ele não continuar caminhando por aquele caminho, que não seria uma boa idéia, pois uma derrota o aguardaria em alguns meses.

Afastou esse pensamento pessimista e acelerou seus passos.
Editado pela última vez por Aleχ em 23 Mar 2008, 14:15, em um total de 4 vezes.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Lady Draconnasti em 01 Mar 2008, 19:12

Sereno e agradável. Como ainda está no começo, ainda não tenho muito o que comentar.
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Mensagempor Gehenna em 01 Mar 2008, 20:19

Fluiu bem a leitura. Se não dissesse que é ambientado no Japão (e não colocasse o título indicativo), poderia imaginar um guerreiro medieval europeu. Espero as outras partes para ver os tais elementos culturais.
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Mensagempor Cyrano em 03 Mar 2008, 10:17

Leitura tranqüila e fluida. Curioso pelos próximos capítulos...

=)
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Elara em 03 Mar 2008, 17:38

Alex,

Seu estilo de texto é carregado de elementos poéticos. Gosto disso.

Estou acompanhando.

Parabéns!

Chero.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor laharra em 04 Mar 2008, 03:05

Interessante começo, mas só conseguir imaginar uma cena do Japão oriental porque você falou antes. Senti a falta de descrições. Imagino que seja proposital, já que você se referiu aos personagens como Ele e Ela, mas ainda assim senti essa falta.

Espero a continuação :cool:
Tentando encontrar inspiração para terminar o conto abaixo:
O Som do Silêncio: Parte IV - A decisão
Reger está às vésperas de uma batalha onde decidirá seu futuro. Durante o que podem ser seus últimos momentos com a Espada e com Alyse, ele se pega pensando sobre a validade de suas aspirações. Acompanhe o conto no link a seguir:
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 04 Mar 2008, 23:54

Esse primeiro capítulo é sereno mesmo, e de fato percebo que carece de descrições. Acho que sim, depois as coisas ficam mais descritas, mas esse conto desenvolveu-se sozinho. Eu mesmo não conhecia muito do personagem quando o criei. Eu mesmo jamais tive a intenção de criar um conto ambientado no Japão. Ele apenas cresceu assim, e eu permiti qualquer investida dele, não o restringi a nada.

Os próximos capítulos, principalmente o 2º e 3º, são mais "pé no chão". Fico feliz que a leitura tenha fluído bem, e espero de coração que o mesmo ocorra com todos os capítulos.

Elara, meus textos ganham elementos poéticos quando permito que meu coração se intrometa no que minha razão está tentando escrever e coloque no meio do texto sentimentos inerentes a mim, dos quais alguns eu geralmente tento expressar também nos meus personagens.

Muito obrigado pelos comentários. Posto a segunda parte em breve. :b
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Ermel em 06 Mar 2008, 20:32

Não ha muito do que se falar dessa primeira parte. Eu achei um pouco pesado o silencio entre os dois, como um pequeno sentimento de nostalgia que pairou no conto o tempo todo. Como aquele friozinho na barriga incontrolavel, sabe? Enfim estarei acompanhando e melhorando minhas criticas com os futuros capitulos.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 09 Mar 2008, 01:07

Bom, estou postando hoje a segunda parte do conto. À princípio, essa parte deveria estar junta da primeira, porque ambas estão inteligadas, da mesma forma como estão a 3ª e a 4ª parte. Mas, como acabou ficando um texto longo, separei em 4 partes. Enfim, espero que gostem. É um pouco diferente da primeira parte. Espero que a mudança não prejudique a leitura. E me digam se postar a segunda parte 8 dias após a primeira é um bom intervalo.


Parte Dois
Você é formidável, sabia?



Pouco tempo depois já havia chegado ao centro do vilarejo, e inúmeras pessoas se reuniam lá, cada uma com sua tocha a arder. Quem as olhasse de longe acharia que a vila estava ruindo em chamas, e será que realmente não estaria em pouco tempo? Quem estaria aqui para impedir um ataque? Ele achava que não restaria ninguém. Afastou esse pensamento também. Que mania de pensar o pior.

“Vejam! É Koji!”, gritaram dois aldeões ao verem quem se aproximava.

Ele manteve os passos, mas logo foi obrigado a parar, pois já estavam por toda a volta o impedindo de prosseguir.

“Boa sorte, Koji!”, disse uma voz fina de algum lugar no meio do povo.

Ergueu-se na ponta dos pés para procurar quem havia dito aquilo, mas um ancião o interrompeu.

“Foi meu netinho, Hagime”, disse ele.

Koji se ajoelhou e viu o garotinho abraçado à perna do avô, sorrindo com alegria. Provavelmente não entendia ainda que as pessoas morrem numa guerra. Ou então não entendia que quando as pessoas morrem, elas morrem mesmo. Deu um sorriso de resposta, bagunçou carinhosamente o cabelo do menino e agradeceu. Ao se levantar, o ancião lhe deu um aperto de mão.

“Lute bravamente, jovem. Honre seu vilarejo e seu povo”, disse ele seriamente.

“Honrarei, senhor,” respondeu Koji, abaixando a cabeça numa mesura.

“Deixem o soldado passar,” disse um dos dois homens que o avistou primeiro.

Ele se ergueu e foi caminhando lentamente em frente, passando pelas pessoas, ouvindo murmúrios de ‘tão jovem...’, ‘ele é apenas um garoto’, ‘boa sorte, rapaz’, ‘derrote eles, guerreiro’. Não, ele não era apenas um garoto. Não era tão alto, mas era forte para sua idade, e já estava na idade em que seu pai se casou. E principalmente, sentia-se capaz de lutar por seu povo. Não lhe faltavam coragem e juízo. E iria mostrar isso no campo de batalha, por bem ou por mal.

Com muita dificuldade, livrou-se de todos eles. Já estavam começando a enojá-lo com todas aquelas mensagens de ‘boa sorte’ ou ‘coitadinho’. Não via a hora de ir embora da vila. Céus! Eles não percebiam que tudo aquilo somente piorava sua situação? Continuou andando, agora passando perto da sua casa, vendo uma janela com luz acesa e fumaça saindo pela chaminé.

Certamente sua mãe e sua irmã estavam fazendo a janta. Fê-las prometerem que não sairiam à rua quando ele estivesse passando por ali para se encontrar com os outros soldados. A despedida já havia acontecido durante a tarde, e foi essa a primeira vez em quatro anos que ele derramou uma lágrima. Mais pela sua irmã, que não parava de chorar desde que o oficial veio até sua casa informá-lo da convocação.

Sua mãe também chorara, mas ele não conseguia tirar da cabeça a idéia de que a maior razão do seu choro era ter de criar sozinha sua filha caçula, nem que fosse por alguns meses. Ou talvez fosse o fato de ela não ter mais quem arranjasse lenha. Que horror, com essa idade e ter de voltar a cortar lenha. E o inverno não tardaria a chegar. Em menos de um ano e ele já estaria de volta, como se nunca tivesse ido embora. Com certeza as duas morreriam de frio. Homens...

Homens... Como ela podia pensar essas coisas numa situação como essa? Aliás, será que realmente pensava essas coisas? Não seria tudo sua imaginação? Também conhecia muito bem a si mesmo para saber da sua imaginação fértil. Bom, que fiquem bem. E que ela seja uma boa mãe para sua irmã. Que ela seja o pai e a mãe que ele tem sido desde que a pequena nasceu.

“Escapando sorrateiramente, não é mesmo, general Kiyoshi?”, disse alguém bem atrás dele, fazendo-o levar um grande susto, desequilibrar-se e cair sentado no chão.

“Hansuke, é você?”, respondeu ele se levantando.

“Derrubado por uma criança. Que ótimo general você está se saindo, general Kiyoshi!”, disse o garoto com escárnio. “Isso me faz refletir se não seria interessante eu ir para a guerra com você, para sempre indicá-lo o melhor caminho por onde fugir. Você sabe muito bem que, de fugas, eu entendo.”

“General coisa nenhuma. Eu sou apenas um aprendiz de soldado. E você está muito errado se acha que vou ir até lá para fugir, Hansuke”, respondeu ele com gravidade. Ambos ficaram se olhando olho no olho por alguns segundos, e então caíram na gargalhada. “Adoro seu senso de humor, sabia?”

Os dois amigos sentaram-se embaixo de uma cerejeira e ficaram conversando sobre futilidades. Era disso que Koji mais precisava naquele momento e seu amigo sabia disso.

“Achei que você não iria vir se despedir de mim”, disse Koji depois de alguns minutos, percebendo que não poderia mais ficar ali com Hansuke por muito mais tempo.

“Não poderia perder esse momento por nada. Quero vê-lo partir. Quero vê-lo carregar aquela espada muito afiada. Como eu queria usá-la, sabia? Iria com certeza me divertir muito na guerra. Quero que me conte tudo o que aconteceu quando voltar”, respondeu Hansuke; e Koji sorriu para ele, pois conhecia muito bem o amigo e sabia que ele realmente iria conseguir se divertir numa guerra.

Nesse momento, uma rajada de vento bateu na cerejeira acima deles e uma flor soltou-se e desceu lentamente em direção a Koji, mas na última hora o vento a empurrou para o lado e ela foi parar no meio da testa de Hansuke.

“Hanami, samurai! Uma flor de cerejeira”, disse ele depois de assoprar a flor e vê-la caindo no chão logo à frente deles.

“É mesmo. Flores de cerejeira”, respondeu Koji olhando para cima e vendo a árvore cheia delas, pintada de um tom rosa claro, quase tão branca como a neve. “Sabe Hansuke,” disse ele pegando a flor do chão e começando a despedaçá-la, “preocupo-me com você, com ela, com minha irmã”.

“Ela quem?”, perguntou ele.

Koji apenas ergueu e mostrou a flor de cerejeira para o amigo, cujo apenas meneou a cabeça. É claro que ele sabia de quem Koji estava falando. Por que perguntara?

“É tão ruim ir embora e deixar uma vida para trás”, continuou ele. “Sinto como se nada fosse ser como era antes, mesmo se eu voltar vivo e com meu cérebro no lugar. Dá para acreditar?”

Hansuke pensou em dizer que ‘não, não dava para acreditar. Guerras podem recompensar as pessoas com honra, glória, vitórias incríveis, mas Koji voltar com o cérebro no lugar seria um progresso exorbitante. Não, guerras não fazem milagres’, mas não disse nada disso. O amigo não estava para brincadeiras. Tudo o que disse foi que entendia sua situação.

Porém, não entendia. Era três anos mais novo que Koji e estava ainda um pouco longe de entender tudo isso, apesar de que mesmo dali a quarenta anos ainda encontraria prazer nas guerras. Hansuke sim, nascido para ser general.

“Enfim...”, suspirou Koji. “Estou indo, amigo.”

“Está certo. Acho que está na hora mesmo, senão todos os outros generais vão ficar com todo o divertimento para eles. E isso seria uma vergonha, Koji!”, disse ele tentando animar o amigo.

“Uma vergonha seria também chegar antes de todos e ser o primeiro a morrer”, respondeu Koji, e Hansuke não conseguiu conter a risada. E o mais engraçado não era a frase que foi dita, e sim a cara sisuda e preocupada com a qual ele disse isso. Mas, Koji não se importava. Estar com seu amigo e vê-lo sorrindo realmente o animava e o revigorava. “Hansuke, você é formidável, sabia?”

“Você é que é, parceiro!”

Levantaram-se e foram caminhando pela rua, para cada vez mais longe das pessoas com tochas no centro da vila. Não muito tempo depois eles chegaram ao quartel, e Koji seguiu para onde Hansuke não mais poderia acompanhá-lo. Insistir para o guarda no portão não adiantou nada. Somente uma hora depois, quando Hansuke já estava sentado no chão enlameado com o traseiro dormente, foi que o portão se abriu e os soldados e seus oficiais deixaram o quartel para ir à guerra. Koji estava lá no meio deles, embora Hansuke não pudesse vê-lo por causa do escuro e porque Koji estava longe de ser o mais alto deles.

“Koji! Acabe com eles!”, gritou ele o mais alto que pôde ao ver o grupo de soldados passar.

Antes que a guerra ou a solidão acabem com você’, poderia ter dito Hansuke para fechar com chave de ouro.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Cyrano em 10 Mar 2008, 14:50

Bom. Gostei bastante dessa parte também. Na parte 1, temos um amor apaixonante. Koji e sua amada sofrem com a separação.

Na parte dois, um amor de irmão. Seu grande amigo, apesar da separação, oferece suporte e amparo. Ansioso pelas próximas duas partes...

Engraçado, me veio algo na cabeça do nada que é meio spoiler...

SPOILER: EXIBIR
Será que vai rolar alguma coisa entre a amada e o melhor amigo de Kojie?

:queixo:


=)

Abraços!
Cyrano
 
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Dahak em 10 Mar 2008, 21:56

Hey, enfim trouxe as minhas primeiras impressões ^^"

Não sei se já comentei contigo, mas eu tendo me aficcionar por histórias orientalizadas. E não é por não achar atrativo o cenário, mas sim pela masturbação que a mídia faz com o mesmo.

Quando pequeno, adorava conhecer mais sobre a cultura e os acontecimentos do outro lado do mundo. Mas lá pela adolescência, com aquele dilúvio invasor desse tipo de material, talvez até com uma certa "vulgarização" ou perda do primor, o conceito ficou um pouco menos valioso para mim. De lá pra cá, hesito um pouco com temas do tipo.

Dito isso, tenho de dizer que sua caracterização foi muito, muito bacana, de forma que não trouxe aquele ar de mesmice para o conto.

Se não fosse pelo nome, pelos seus dizeres e congêneres, o conto passaria fácil como ambientado na Europa, por exemplo.

O primeiro título soou bastante convidativo, parecendo até uma conversa entre amigos que, inclusive, poderia acontecer pelo MSN. LOL. Ao menos eu costume me despedir assim XD

Logo no primeiro parágrafo você entra com três linhas sem nenhuma vírgula. Não incomodou, mas eu tive a sensação que a leitura seria pesada. Mas no restante você pontuou muito bem seu conto, promovendo um a leitura fluida e fácil.

Não é uma crítica a entrada do conto, mas uma recomendação mpara futuros trabalhos: cuidado com períodos longos que não apresentam uma pausa na leitura ^^"

Todo seu empenho durante a criação caiu como uma luva. O trabalho está bastante consistente e muito bem feito. Sinto-me no dever de informar que você me surpreendeu bastante com esse "primeito conto para ser conto", bastante mesmo. Sou só elogios até aqui =)

Sobre a citação, creio que é cedo para julgá-la.

Volto em outra oportunidade para trazer minhas segundas impressões, lol, referente a segunda parte =)

Abraço!


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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor laharra em 10 Mar 2008, 22:09

Muito legal a segunda parte. Deu um gosto de quero mais. Destaque para a passagem:

Ele se ergueu e foi caminhando lentamente em frente, passando pelas pessoas, ouvindo murmúrios de ‘tão jovem...’, ‘ele é apenas um garoto’, ‘boa sorte, rapaz’, ‘derrote eles, guerreiro’. Não, ele não era apenas um garoto. Não era tão alto, mas era forte para sua idade, e já estava na idade em que seu pai se casou. E principalmente, sentia-se capaz de lutar por seu povo. Não lhe faltavam coragem e juízo. E iria mostrar isso no campo de batalha, por bem ou por mal.


Só não gostei quando a narrativa mudou de foco. De Koji para Hansuke. Não gosto quando isso acontece, apesar de que você não fez de forma confusa. Ficou bem claro. Só não gosto por questão de gosto mesmo :cool:

Ah, e uma dúvida? Por que no primeiro capítulo os personagens não foram nomeados, já que essas duas partes são ligadas entre si?

PS: Oito dias está ótimo para mim.
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 10 Mar 2008, 23:17

Ermel, o silêncio dos dois é realmente uma característica dessa primeira parte. E que bom que você percebeu isso porque é algo importante.

Brigadão por acompanhar a história Cyranno. Espero não decepcioná-lo com as duas partes finais.

Dahak, me encoraja ouvir elogios seus quanto a estrutura e ao texto em si. Fico feliz com a surpresa.

laharra, que bom que gostou dessa parte. Estava realmente com medo da reação. Quanto a mudar de foco, sabe que eu também não costumo gostar? Mas, sei lá, achei que eu teria mais facilidade em dizer o que pretendia passar se mudasse o foco para o amigo dele. No final da 2ª parte, eu queria mostrar que Koji não passava de mais um em meio a vários outros soldados. Queria mostrar também que Hansuke havia ficado lá para vê-lo ir embora até o último momento. Queria criar na cabeça de que lê a imagem dos soldados caminhando e deixando suas famílias para trás, seu vilarejo, e, por último, Hansuke. Para mim era bem mais fácil passar essa idéia tendo o próprio Hansuke como foco.

Quanto a eles não terem sido nomeados à princípio, é simplesmente pelo fato de que eles REALMENTE não tinham nomes à princípio. :bwaha: Sério, eu parti de uma premissa simples, sem cenário, sem fenótipos pré determinados, sem nada, apenas personagens que passam por momentos X e possuem características psicológicas Y. Eu fui criando tudo aos poucos, escolhendo o cenário que mais combinava com a situação na qual os personagens se encontravam ou com o estado de espírito deles naquele momento.

Apesar de que à princípio eu realmente não teria como ser mais descritivo, pelo menos quanto a diálogos. Só há 2 personagens na primeira parte, e eles se conhecem há tempo o bastante para não se chamarem mais pelos nomes.

De qualquer maneira, obrigado também por acompanhar a história. Espero não decepcionar com as últimas partes.

Abraços a todos!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Elara em 11 Mar 2008, 14:43

Alex,

Não comentei na primeira parte sobre isso, mas o conto poderia ser (até agora), um prólogo para "As cartas de Iwo Jima". Está ficando realmente muito bem caracterizado.

Parabéns mesmo!

Chero!
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Koji e a Flor de Cerejeira (Parte Final)

Mensagempor Aleχ em 11 Mar 2008, 16:18

Nossa, Elara, é verdade. Acho que as duas histórias distanciam-se um pouquinho nos próximos capítulos, mas essas duas partes é verdade. E que honra seria :bwaha: . Adorei esse filme!

Brigadão pelo comentário e por acompanhar! :aham:
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