Bem, após um tempinho sem escrever nada, posto aqui alguns mini-contos que escrevi sem pretensão alguma, hoje. Espero que gostem.
PROFECIA
Os animais se reuniram na caverna para ouvir o que a rã tinha descoberto. Formaram um círculo em volta da amiga, curiosos.
— Este é o lobo.
— Lobo? — perguntou a raposa. — Não há lobo algum em nossa floresta... E esses cordeiros?
— São metáforas, simbologia dos deuses. — retrucou a rã, visivelmente irritada com a ignorância da raposa. — Nós somos os cordeiros, o lobo é o inimigo que nos trairá e subjugará.
— Trair?
— Sim. — confirmou a rã. — Ele se erguerá e trairá a todos nós.
— Bobagem! — zombou o crocodilo.
— Os deuses não mentem! — disse. — Onde está o macaco?
Longe dali, o macaco aprendera a andar com duas pernas, evoluíra e começara a fazer planos para dominar o mundo...
NO CINEMA
Plínio convidara Vanessa para ir ao cinema, num festival de filmes mudos.
Na saída, o rapaz questionou:
— Então, que achou do filme?
Vanessa, fria:
— Senti-me verborrágica.
EM CADA HOMEM HÁ UM ABUTRE
No açougue, Sr. Rui comentava:
— Rapaz, esta é a melhor carne que já comi! O senhor. está de parabéns, açougueiro.
— Me chame de João, Sr. Rui, por favor. — disse o açougueiro, cortês. — E obrigado pelos elogios, trabalho minhas carnes com muito prazer. Aliás, se puder, recomende meu açougue para seus compadres; estarei muito grato!
Horas depois João voltou ao freezer, onde jaziam os cadáveres humanos de onde tirava seus bifes e lingüiças. Da rua podia-se ouvi-lo cortar os “presuntos” em finos filés.
— A satisfação do cliente em primeiro lugar. — dizia, enquanto exercia seu trabalho.
EM ESPELHO
José tinha grande apreço por Paulo. Vê-lo ali, estático, sem a centelha que preenchia seus olhos e o sangue que recheava seus lábios, amargurava-o e muito. Morto. Mudo para sempre. Imóvel para sempre. Nunca mais contaria bobagens e mentiras, nunca mais participaria de uma partida de vôlei, nunca mais ficaria bêbado ou arriscaria sua vida numa briga de bar qualquer.
Nunca mais.
Não admitia, mas era a criatura que mais amara na vida.
José secou as lágrimas e percebeu, com a racionalidade já retomando suas funções, o fraco que era por ser tão apegado a um clone de si mesmo.
A CARTA
Conta-se nas frias noites urbanas, quando os grupos de amigos se reúnem em bares e restaurantes para beber e contar as novidades, uma história curta e simples, mas que arrepia os mais céticos quando se percebe o quão próximo do perigo o personagem esteve.
Em Berlim, durante a Segunda Guerra Mundial, havia pouco dinheiro e mantimentos, e parecia que todos estavam famintos. Naquela época, pessoas estavam contando a história de uma jovem mulher que viu um cego tateando seu caminho através da multidão. Os dois começaram a conversar. O homem pedira um favor para ela: se ela poderia entregar uma carta no endereço do envelope? Bem, ficava em seu caminho para casa e ela aceitou.
A garota já estava de saída para entregar a mensagem, quando se virou para ver se não havia mais nada que o cego precisava. Mas ela o avistou correndo através da multidão, sem os óculos escuros e a bengala branca. Aflita, fora até a polícia, que fizera uma busca no endereço do envelope onde encontraram um fileiras de carne humana à venda.
E o que estava no envelope? “Esta é a última que estou enviando para você hoje“.
Baseado em uma lenda urbana retirada de: http://www.snopes.com.